Coluna Econômica - 21/8/2013
Ex-faz tudo do Ministério da Cultura na gestão Gilberto Gil, Juca Ferreira passou como um furacão rompendo a pasmaceira da área, jogando-a do marasmo das salas de espetáculo para os cafundós do país. Seu projeto de Pontos de Cultura espalhou a boa nova da arte digital pelas comunidades mais variadas, de índios no Amazônia ao funkeiros de periferia, que se tornaram criadores da era digital, disseminando seus vídeos pela Internet.
Mais que isso, Juca juntou no entorno de Gil um grupo de pessoas que aprendeu a pensar fora do pensamento compartimentalizado e estanque, separando arte erudita e popular, militância política de esquerda e direita, tentando enquadrar a arte nos parâmetros convencionais ou em novos parâmetros.
Muitas das políticas foram construídas com ampla participação popular, resultando em uma das experiências culturais mais criativas nas políticas públicas brasileiras.
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Indicado Secretário da Cultura de São Paulo pelo prefeito Fernando Haddad, seu desafio será trabalhar a cultura metropolitana de São Paulo.
Seu primeiro passo foi proceder a um inventário dos equipamentos culturais da Secretaria. Constatou que a Secretaria dispõe de mais de cem equipamentos isolados. Existem 50 bibliotecas municipais que não conversam entre si. Não existe uma política de leitura para uma cidade com 5 milhões de analfabetos funcionais. Há casos de bibliotecas que recebem 8 leitores diários, em média.
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O segundo inventário foi das manifestações culturais da cidade.
Os principais agentes de cultura, diz ele, são praticamente invisíveis para a opinião pública. Uma de suas primeiras atitudes foi descriminalizar os dois movimentos. O mais conhecido conjunto, os Racionais, foi convidado a se apresentar na Virada Cultural.
Na periferia, Juca encontrou um mundo riquíssimo, saraus, terreiros de samba, os herdeiros de Solano Trindade montando todo tipo de manifestação cultural. Nas ruas, constatou que há um movimento de arte na rua considerada das melhores do mundo, conforme foi lhe dito por artistas alemães egressos dos movimentos de arte de rua de Berlim.
Existe um teatro poderoso, uma indústria de audiovisual potente, um movimento de bares riquíssimo. A explosão da indústria do audiovisual, aliás, foi decorrência de uma nova Lei do Audiovisual, concebida na sua gestão do MinC. Na tramitação, a lei sofreu críticas acerbas e enorme pressão, especialmente ao determinar cotas para filmes e vídeos nacionais.
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São Paulo é um desses paradoxos, à altura da antropofagia da Semana de 22 – que praticamente inspirou a contracultura baiana do final dos anos 60. É enorme, diversificada e, ao mesmo tempo, seu establishment cultura padece de um provincianismo atroz, constata Juca. Não se aceita a cultura caipira, não se reconhece parte do Brasil, importa peças da Broadway e gasta recursos da Lei Rouanet em projetos que não se desdobram em dinâmicas culturais mais profundas; em riqueza.
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Nos próximos meses, estarão definidas as demais políticas públicas da sua gestão. Pode ser que não dê em nada. Pode ser que se consiga uma feijoada cultural à altura dos melhores momentos da Tropicália – berço de influência de Juca.
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