Coluna Econômica - 11/7/2013
Bíblia do mercado financeiro mundial, o jornal The Wall Street Journal publicou uma bela reportagem sobre a maneira como os bancos centrais do mundo se armam para impedir bolhas financeiras.
Embora apresentadas como novidades, as medidas em nada diferem das ferramentas tradicionais de política monetária. Identificam-se bolhas e atua-se diretamente sobre elas. É o que o mercado batizou de medidas “macroprudenciais”, utilizadas com sucesso pelo Banco Central (BACEN) no início do governo Dilma.
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Essas formas de atuação visam minimizar o uso dos juros como elemento de contenção da demanda. Na verdade, o modelo de metas inflacionarias – adotadas pelos Bancos Centrais do mundo inteiro – obedeciam muito mais a uma orientação ideológica do que à busca de resultados práticos.
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Por exemplo, se existe uma bolha no mercado de financiamentos de veículos, o que é mais eficaz: aumentar os juros da economia como um todo ou atuar expressamente sobre os financiamentos de veículos, reduzindo os prazos ou exigindo maior valor na entrada? É evidente que o caminho “macroprudencial” é o mais adequado.
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Em países de economia avançada, utilizava-se o sistema de metas inflacionarias como uma ferramenta de desregulação da economia, impedindo as atuações pontuais dos Bancos Centrais nos mercados especulativos.
Para consolidar o modelo, instituíram-se falsas verdades sobre o uso dos instrumentos de política monetária, como a de que um instrumento (no caso os juros) só devem perseguir um objetivo (o controle da inflação). Com isso, deixavam-se de lado outros objetivos centrais de política econômica, como a preservação do nível de atividade econômica e de emprego.
No caso brasileiro, os efeitos foram muito piores, porque impactando diretamente a dívida pública.
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Esse arcabouço institucional desarmou as autoridades bancarias e levou à grande crise de 2008. E, com ela, ao seguinte paradoxo: os Bancos Centrais precisam reduzir os juros para reativar as economias nacionais; ao mesmo tempo tem que atuar contra bolhas especulativas que surgem em todo ambiente de muita liquidez e juros baixos.
Foi esse quadro complexo que tem levado os Bancos Centrais a abandonarem a ortodoxia e estimularem cada vez mais as medidas “macroprudenciais”.
A reportagem do Wall Street Journal traz vários exemplos bem sucedidos dessa estratégia.
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Curiosamente, o BACEN, que antecipou-se a esses movimentos e adotou medidas “macroprudenciais” eficientes, aparentemente recuou, quando voltou a apostar na elevação da taxa SELIC [*].
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Há duas justificativas para isso. Uma, de ordem econômica: o índice de disseminação dos aumentos, que andava meio generalizado. Mas a verdadeira razão é bem reveladora de como políticas econômicas são discutidas em nichos privilegiados sem expor as verdadeiras razões por trás das medidas.
No caso da SELIC, a preocupação maior do BACEN é com a reversão da política monetária norte-americana, o aguardado aumento de juros que, em um primeiro momento, provoca um “overshooting”, atraindo dólares do mundo todo e provocando oscilações no câmbio de diversos países.
Esta é a razão primordial para o aumento da SELIC. O resto é apenas para pisar no tomate.
[*] Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC)
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Blog: www.luisnassif.com.br
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