Coluna Econômica - 09/7/2013
Democracia digital é um projeto inevitável, mas ainda em formação. É impossível governar um país apenas através de assembleias e votos diretos.
Com todos seus defeitos, a democracia representativa garantiu políticas de inclusão e os direitos das minorias. São avanços civilizatórios que dificilmente teriam ocorrido em eleições plebiscitárias.
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São curiosos os conceitos abarcados pela democracia. O povo se manifesta apenas nos períodos eleitorais. Eleitos presidente, governadores, parlamentares, o jogo político torna-se restritivo.
Nas disputas políticas, os poderes econômicos participam através da influência na mídia, do financiamento de políticos e da contratação de lobbies. O contraponto é feito por partidos de esquerda (que também têm seus grupos econômicos aliados), sindicatos, organizações sociais. Fora das eleições, poucas vezes há a manifestação do cidadão individual, desorganizado.
No campo da economia do setor público, não há diferença entre orientações partidárias: há apenas os dirigentes mais ou menos sérios e seus pactos econômicos nebulosos.
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No caso brasileiro, a não obrigatoriedade da prestação de contas aos associados e/ou eleitores promoveu a descaracterização das instituições, seu alienamento em relação aos cidadãos. Além disso, a exploração permanente da escandalização como arma política, acelerou a perda de representatividade dos diversos poderes.
Tudo isso é fato e explica os desdobramentos brasileiros do fenômeno mundial da mobilização da opinião pública pelas redes sociais.
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Tem-se a questão premente dos poderes constituídos se abrirem para o escrutínio dos cidadãos, através das redes sociais. Mas um enorme conjunto de obstáculos ao exercício da democracia direta.
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Por isso mesmo, o caminho inicial da democracia digital passa pelo chamado “accountability” – a obrigação de um dirigente público de prestar contas aos cidadãos. Será a tendência inevitável em todo o setor público – e seria conveniente que estados e municípios, órgãos federais e de controle, começassem a se preparar para os novos tempos.
Essa é a única certeza: cada vez mais serão abertos os porões de todos os poderes.
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A hipocrisia é um dos ingredientes centrais dos modelos políticos. É através da hipocrisia que partidos abrem mão de princípios por alianças que lhes garantam o poder; que grupos econômicos impõem leis, portarias, políticas para interesse próprio, em nome de um suposto interesse comum; que criam-se imagens de figuras públicas supostamente impolutas – que se valem desse patrimônio artificialmente construído para benefício pessoal.
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Agora mesmo, fica-se sabendo que um filho do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ministro Joaquim Barbosa, em 2010 ganhou emprego da casa de show beneficiada pelos patrocínios da Visanet; que outro filho conseguiu emprego em programa da rede Globo, que tem demandas expressivas no Supremo.
Menciono-o apenas como exemplo máximo da última tentativa de criação política do cavaleiro sem mácula.
Nesses tempos de redes sociais, a democracia digital ainda demorará um tanto. Mas a hipocrisia começa a ser varrida pelo transbordamento das informações, dos diques da mídia convencional.
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