Coluna Econômica - 19/12/2012
É curiosa a maneira como o mercado imobilizou durantes anos o Banco Central. Dizia-se que seria impossível a política do “câmbio sujo” – isto é, do BC interferir no câmbio através de medidas administrativas.
Principal formulador da política corrosiva da apreciação cambial, o próprio Gustavo Franco, quando presidente do BC, desdenhava os que duvidavam do poder de fogo do BC.
Depois, quando aumentaram as pressões pela desvalorização, endossou espertamente essa posição. Dizia-se que, como a arbitragem cambial se dava nas bolsas internacionais, qualquer medida restritiva, internamente, não teria efeitos sobre as cotações.
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Do ano passado para cá, o BC procedeu a um desvalorização controlada do dólar, passando de R$ 1,70 para a faixa dos R$ 2,00.
Ontem, tomou um conjunto de medidas para impedir o aprofundamento da desvalorização.
A partir de quinta-feira, as instituições financeiras serão obrigadas a recolher (na forma de depósito compulsório) 60% do valor da posição de câmbio vendida que exceder US$ 3 bilhões. Antes, o limite era de US$ 1 bilhão.
Ampliando as posições “vendidas”, o BC espera que o mercado supra a necessidade de dólares, impedindo sua alta.
Anunciada a medida, o dólar voltou aos R$ 2,10, o teto informal fixado pelo BC para a “banda suja” do câmbio.
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Esse movimento é importante devido aos últimos episódios envolvendo o STF (Supremo Tribunal Federal).
Na quarta-feira, por 5 votos a 4, o STF decidiu que caberia a ela o ato de cassar parlamentares condenados. A Constituição delibera que ao Supremo cabe condenar; ao Congresso, cassar.
Com a condenação à prisão dos parlamentares, dificilmente o Congresso deixaria de cassar seus mandatos. Assim, a decisão dos cinco do Supremo, de impor seu poder sobre o Congresso, criou as bases para um choque entre instituições.
Essa posição de confronto foi radicalizada pelo notável oportunismo do Ministro Luiz Fux, que surfou na onda de ativismo do Supremo para beneficiar seu estado na questão dos royalties. Proibiu o Congresso de colocar veto às sanções presidenciais na pauta de urgência.
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Este é o componente novo da política econômica. As medidas do BC e da Fazenda visam responder não apenas às demandas econômicas, mas às pressões políticas provenientes desse novo protagonismo do Supremo.
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Agora, entra-se no período natalino e na pasmaceira dos primeiros dias do ano, permitindo baixar a poeira.
No horizonte econômico, há sinais de melhoria nas expectativas dos agentes econômicos e sinais – embora ainda tênues – de que a série de medidas implementadas este ano começa a reanimar a economia.
Pesquisa da Deloitte mostrou que ampla maioria dos empresários acreditam em desempenho melhor do PIB em 2013 – pior do que 2012, de qualquer modo, seria impossível. Mas quase metade tem investido em inovação.
Os últimos pacotes de concessões, além disso, vieram com alterações significativas, melhorando o apetite dos investidores.
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Em algumas semanas estará afastado o fantasma da crise política, armada pelos cinco do Supremo. E os primeiros resultados da economia, aparecendo, ajudarão a enterrar as fissuras
No próximo ano, a entrada de Ministros mais responsáveis reduzirá o poder desestabilizador dos cinco do Supremo.
BC: Balanço de pagamentos tem superávit
O balanço de pagamentos apresentou superávit de US$ 369 milhões em novembro, ao passo que o déficit em transações correntes somou US$ 6,3 bilhões no mês e US$ 45,8 bilhões no ano, até novembro, patamar ligeiramente inferior ao registrado no mesmo período de 2011, quando a variação foi de US$ 46,5 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Banco Central. Nos doze meses encerrados em novembro, as transações correntes acumularam déficit de US$ 51,8 bilhões, ou 2,3% do PIB.
IPC-S avança em cinco capitais
Cinco das sete capitais pesquisadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o cálculo do IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) ampliaram suas taxas na segunda semana de dezembro. A cidade de São Paulo registrou o acréscimo mais forte, com o indicador subindo de 0,44% para 0,63%, enquanto a variação apurada no Rio de Janeiro subiu de 1,09% para 1,19%. As únicas cidades que reduziram suas taxas foram Recife (de 0,70% para 0,65%), e Belo Horizonte (de 0,50% para 0,48%).
Volume de cheques sem fundos tem retração
A devolução de cheques no país representou 1,96% do total de documentos emitidos durante o mês de novembro, abaixo dos 2,19% de devoluções verificados em 2011, segundo a consultoria Serasa Experian. Esta foi a primeira queda observada na variação anual em 21 meses. Para a consultoria, o resultado sinaliza uma tendência de normalização gradual dos níveis de inadimplência com cheques no país, a ser verificada ao longo de 2013.
Setor de construção reduz atividade
O nível efetivo da atividade da construção ficou abaixo do usual para os meses de novembro pelo sétimo mês consecutivo, atingindo 46,3 pontos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O baixo nível de atividade efetiva comparativamente ao que ocorre em novembro foi comum a todos os portes de empresas, enquanto o indicador referente ao nível de evolução ficou em 49,1 pontos em relação a outubro. O número de empregados na indústria também caiu em novembro, com 47,6 pontos.
BC tenta incentivar captação de recursos
O Banco Central (BC) publicou circular que altera o recolhimento compulsório. Pela nova regra, toda vez que a posição vendida de câmbio exceder US$ 3 bilhões, 60% do excedente serão recolhidos como depósito compulsório. Ao definir o limite de US$ 3 bilhões, o BC retornou à regra de janeiro de 2011. Em julho do ano passado, o BC tinha reduzido o valor de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão. A nova regra vale a partir de 20 de dezembro.
Fluxo cambial tem déficit de US$ 4,2 bilhões
O fluxo cambial (referente a entrada e saída de dólares do país) mostra que retiradas superaram as entradas até o último dia 14 de dezembro, em US$ 4,215 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). O saldo negativo veio tanto do fluxo financeiro (investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações), com US$ 1,648 bilhão, quanto do comercial (operações relacionadas a exportações e importações), com US$ 2,567 bilhões.
Blog: www.luisnassif.com.br
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