Coluna Econômica - 02/04/2013
Trava-se um jogo pesado em torno da taxa Selic.
O aumento da Selic é ruim para a economia, para as grandes empresas anunciantes de jornais, para o emprego e para os investimentos. Beneficia a tesouraria, especialmente dos grandes bancos de investimento que deverão desempenhar papel relevante na reestruturação de capital de grupos de mídia.
São perfeitamente mensuráveis os ganhos desses grandes grupos com meio ponto a mais de Selic . Apenas isso pode explicar o terrorismo reiterado em relação à inflação, sustentando manchetes diárias e até identificando "sinais de hiperinflação" em um índice que está em 6,5% ao ano e tende a cair nos próximos meses.
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O futuro grande impasse econômico é de outra ordem: a produção interna não consegue acompanhar o aumento do consumo devido, fundamentalmente, ao fator câmbio.
Tem-se um mercado de trabalho aquecido, salários ainda crescendo, mas o aumento do consumo sendo absorvido por exportações, gerando déficits crescentes nas contas externas. A médio prazo, tem-se um quadro insustentável.
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As empresas investem em função dos seguintes fatores:
1. Demanda assegurada.
2. Taxa de retorno superior ao custo de oportunidade.
O objetivo maior do aumento da Selic seria (teoricamente) reduzir o consumo. Quebraria o primeiro pilar para novos investimentos.
O efeito colateral seria elevar o custo de oportunidade, levando as empresas a eliminar todos os investimentos que não apresentem perspectivas de rentabilidade superiores às da Selic.
Mais ainda.
O efeito imediato do aumento da Selic seria atrair dólares especulativos, apreciando mais o câmbio, barateando mais as importações e, consequentemente, acelerando ainda mais a deterioração das contas externas.
Em suma, tem todas as contraindicações e nenhuma indicação positiva. Se o caminho fosse, de fato, desaquecer o consumo, o Banco Central dispõe de um arsenal muito mais efetivo e sem contraindicações - como restrições ao crédito e aumento do compulsório.
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A criação do grande mercado de consumo interno criou uma enorme oportunidade e um imenso risco. A oportunidade será a de abrir espaço para a oferta interna de bens e serviços, completando o ciclo de consumo-investimento da economia. O risco é da produção não acompanhar o consumo, gerando desequilíbrios externos e o esgotamento do modelo econômico.
Apenas uma grande desvalorização cambial resolverá esse nó górdio.
De um lado reduzirá o consumo de produtos importados, preservando o espaço para os produtos nacionais. Haverá uma queda inicial no poder de compra dos salários que será compensada, no momento seguinte, pela recuperação da produção e do emprego internos.
Seguirão alguns meses de inflação, que terão que ser enfrentados de forma severa até os preços de estabilizarem e o país rumar para novo patamar. Ai se terá entrado definitivamente na rota do crescimento sustentado.
Mas certamente não será tarefa para um ano pré-eleitoral.
O país atravessou 8 anos de FHC, 8 anos de Lula e, provavelmente, 4 anos de Dilma, com o câmbio demolindo a estrutura industrial.
Como candidata favorita à sua reeleição, seria conveniente que, desde já, o governo Dilma começasse a incluir o câmbio na estratégia do segundo mandato.
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