Coluna Econômica - 20/06/2013
Vou pegar o carro no estacionamento. O manobrista está exultante: "O Haddad e o Alckmin voltaram atrás e reduziram o preço das passagens. O povo venceu".
No elevador, desço com uma vizinha, dona de uma empresa de sistemas. Pergunto como viu a manifestação. Ela tinha ido. Comenta que a PM só atua contra manifestante e pouco contra baderneiros.
A amplitude das manifestações é inédita. É o chamado grito engasgado no ar.
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Paradoxalmente, alguns meses atrás o prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, foi o primeiro a pensar em alternativas para o transporte urbano. Aqui mesmo expus a proposta. Mas, até as manifestações do Movimento do Passe Livre, aparentemente não era prioridade em nenhuma instância de poder, nem na área federal, nem nos estados. A ideia ficou à espera do momento.
A proposta básica consiste em um sistema de subsídios cruzados. Numa ponta, haveria a elevação de tributos sobre combustíveis para os carros que circulam nas regiões metropolitanas. Os recursos seriam utilizados para desonerar os transportes coletivos.
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Há um conjunto de virtudes nessa proposta.
Uma, de ordem distributivista, tirando do dono do veículo para o passageiro de ônibus.
Outra, de ordem urbanística, penalizando o veículo individual, em um momento em que as ruas não comportam mais o crescimento do trânsito.
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Ideias existem. No caso das regiões metropolitanas, há a necessidade premente de medidas radicais em favor do transporte público e da inibição do transporte individual.
Mas, de norte a sul, havia o receio de afrontar o estabelecido, de se colocar contra o dono do veículo, mais influente do que o passageiro de ônibus.
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Por outro lado, nos últimos anos a prioridade total da política econômica consistiu no atendimento das demandas empresariais, na isenção de impostos para veículos, bens de consumo. O cidadão ganhava por consequência, na condição de consumidor.
Trata-se de uma prática recorrente de política econômica. Governantes agem preponderantemente em cima das pressões imediatas.
Nem os culpe. Gestões públicas são tão complexas, há um emaranhado tal de interesses envolvidos, que a prioridade sempre acaba sendo de quem tem maior poder de vocalização.
Desde tempos imemoriais do capitalismo, o circuito da vocalização de interesses é o mesmo: nasce dos grupos econômicos, é defendido pelos grandes veículos de massa e pressiona as autoridades públicas.
O Movimento do Passe Livre finalmente colocou o cidadão no centro das políticas públicas, rompendo com o circuito tradicional de mídia.
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Trata-se de um movimento inédito. Nos últimos anos, diversas políticas sociais mudaram a face do país, permitindo a inclusão social, a consolidação de uma nova classe média, a explosão de um novo mercado de consumo.
Mas foram movimentos, embora virtuosos, de cima para baixo.
Desta vez, é o próprio cidadão que se torna protagonista. Apropria-se das redes sociais, sem nenhum comando centralizado. Apenas o grande caldeirão em que as conversas vão se entrelaçando, formando consensos aqui e ali até ganhar massa crítica.
A partir daí, a história foi reescrita. Haverá muita cabeçada de lado a lado, até se consolidar o novo modelo. Mas o novo cidadão veio para ficar.
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