Coluna Econômica - 29/03/2013
Para entender o jogo da chamada confraria da Selic.
Desde 1999, quando foi instituído o sistema das "metas inflacionárias", criou-se a chamada "confraria da Selic", um conjunto de economistas, incrustrados em consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras, elaborando análises recorrentes sobre os rumos da taxa de juros e apostando permanentemente na sua elevação.
Não se trata do mercado financeiro como um todo, mas de um grupo que gira em torno das tesourarias de bancos e de grandes empresas. O sistema bancário é mais que isso. Existem os grupos que trabalham em área de crédito, do mercado de capitais, das operações estruturadas, que exigem um conhecimento mais sofisticado.
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A introdução do sistema de metas inflacionárias consagrou um tipo de análise que, alguns anos atrás, classifiquei genericamente como de "cabeça de planilha". Eram planilhas matemáticas, definindo algumas correlações mecânicas - muitas delas jamais comprovadas - entre taxas de juros e inflação, câmbio e preço de commodities, taxa Selic e nível de atividade, mudanças nos ativos internacionais e câmbio.
Enquanto a economia internacional e os mercados bombavam, subindo sempre, parecia que as planilhas funcionavam. Era um mundo sem sobressaltos, embora já inoculado pelo vírus que, a partir de 2008, explodiriam em grandes desequilíbrios.
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Nos centros mais sofisticados, a crise de 2008 sepultou esse tipo da análise-padrão. Mesmo no Brasil, os financeiros das empresas passaram a prescindir desse tipo de análise pretensamente sofisticada, por perceber sua vulnerabilidade.
Com isso, gradativamente a análise da Selic tornou-se a peça menos sofisticada e valorizada o mercado brasileiro.
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Hoje em dia, a Selic tem influência sobre uma parcela pequena da estrutura de preços da economia – basicamente sobre o setor de bens de consumo nã-duráveis alimentícios (controlado por gigantes como Gessy Lever, Nestlé e outros). A remarcação aumenta quando há perspectiva de elevação da taxa.
Em todos os demais setores – alimentos in natura, bebidas, bens de consumo durável, aluguel etc – movimentos da Selic são completamente irrelevantes.
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O problema da inflação está nas estratégias mal elaboradas do Ministério da Fazenda.
Quando optou por políticas pro-ativas, a Fazenda teria que obrigatoriamente armar-se dos instrumentos não-monetários de controle de altas pontuais de preços – especialmente estoques reguladores de alimentos e ações de convencimento sobre setores oligopolizados.
Em vez disso, limitou-se aos anúncios recorrentes de desoneração tributária a cada notícia de pressão sobre os preços. Uma tolice! Desonerações ajudam a recompor ou melhorar margens de empresas, jamais induzi-las a reduzir preços.
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Ontem, o Diretor de Política Monetária do BC, Carlos Hamilton de Araújo, insistiu que as taxas de juros são o melhor remédio contra a inflação. E repetiu a imensa tolice de que superávits fiscais – em uma economia que patina – são a melhor receita contra a alta de preços. Isso em uma economia que ainda patina.
Ajudou a jogar gasolina nas expectativas do mercado.
O quadro atual é de inflação cedendo, especialmente com a menor pressão sobre os preços internacionais de commodities. O desafio maior é administrar os discursos desencontrados da área econômica.
Desemprego atinge 5,6% em fevereiro
A taxa de desocupação no mercado de trabalho foi estimada em 5,6% para as seis regiões metropolitanas investigadas durante o mês de fevereiro, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Estatisticamente, a taxa foi considerada estável ante o mês de janeiro (5,4%) e fevereiro do ano passado (5,7%). O rendimento médio real habitual dos trabalhadores atingiu R$ 1.849,50, alta de 1,2% frente a janeiro e de 2,4% na comparação com fevereiro de 2012.
BC 01: Déficit primário totaliza R$ 3 bilhões
O setor público consolidado – governos federal, estaduais e municipais e as empresas estatais – registrou um déficit primário de R$ 3,031 bilhões em fevereiro, segundo o Banco Central. O resultado reverteu o superávit de R$ 30,251 bilhões em janeiro, e também ficou abaixo do saldo de R$ 9,514 bi apurado em fevereiro de 2012. Este é o primeiro déficit mensal desde o início da série, em 2001. Em 12 meses, o superávit primário ficou em R$ 96,641 bilhões, ou 2,16% do Produto Interno Bruto (PIB).
BC 02: Dívida do setor público chega a 35,7% do PIB
A dívida líquida do setor público (DLSP) chegou a R$ 1,593 trilhão no mês de fevereiro, apresentando um avanço de 0,4 ponto percentual sobre o mês anterior. De acordo com o Banco Central, fatores como o déficit primário, os juros apropriados no período e a valorização cambial de 0,6% no mês acabaram por afetar o resultado. Já a dívida bruta do Governo Geral foi de R$ 2,640 trilhões, equivalente a 59,1% do PIB, praticamente estável como proporção do PIB ante janeiro.
Dívida de empresas recua 12% em fevereiro
A inadimplência das empresas apresentou uma redução de 12% durante o mês de fevereiro na comparação com janeiro último, segundo levantamento divulgado pela consultoria Serasa Experian. A pesquisa também verificou um recuo de 0,7% na relação entre fevereiro deste ano e igual mês do ano anterior. Já na comparação do acumulado entre os dois primeiros meses de 2013 e 2012 mostra um avanço de 2,2% na inadimplência das pessoas jurídicas.
Projeção para inflação avança para 5,7%
A inflação mensurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no cenário de referência – Selic a 7,25% ao ano e dólar a R$ 1,95 – deve chegar a 5,7%, segundo o Relatório trimestral de inflação do Banco Central. Para 2014, a estimativa é que a inflação fique em 5,3%. Quanto ao cenário de mercado, que leva em consideração as projeções de analistas, o prognóstico para a inflação ao fim deste ano é de 5,8%, e os dados para 2014 avançaram para 5,1%.
Setor de construção permanece em queda
A atividade da indústria da construção permaneceu abaixo dos níveis considerados usuais, e completou dez meses consecutivos em desaquecimento. De acordo com a Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice de atividade em relação ao usual ficou em 46,2 pontos em fevereiro, considerado estável em relação ao de janeiro, que foi 46,4 pontos. Apesar dos dados enfraquecidos, os empresários esperam crescimento para os próximos seis meses.
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