Coluna Econômica - 13/06/2013
Um dos grandes desafios políticos desses tempos é a maneira como política e mídia conviverão com o novo cidadão em rede. Ainda não existem fórmulas, experiências de organização que, por bem sucedidas, possam ser multiplicadas.
O governador gaúcho Tarso Genro tem sido um dos políticos que mais se debruça sobre o tema (sem nenhuma afinidade com Tarso no campo político e ideológico, outro pensador relevante é o ex-presidente José Sarney).
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Tarso não tem dúvida sobre o futuro da mídia, mas tem dúvidas consistentes sobre o futuro dos partidos. Considera que o modelo que vigorou até hoje - partidos com sua teia de diretórios representando interesses homogêneos da opinião pública - está falido. E há um ciclo político que se fechará com Lula e Dilma, da geração que se formou dentro do velho modelo dos conflitos políticos e de classe.
Na Internet todas as classes sociais, todas as tendências políticas se misturam. O cidadão global é atomizado, diz ele. Exerce sua individualidade, mas torna-se ativista em cima de qualquer tema. Os aliados na defesa das políticas sociais não são os mesmos que se juntam na defesa dos direitos dos gays, ou do aborto.
Na sua convivência com os jovens agitadores virtuais, Tarso identificou grupos mais radicais. Mas, principalmente "uma gurizada totalmente fora dos partidos e sindicatos", que se reuniam à noite no Parque da Redenção, com pic-nic, música e lampião.
Como dar conta dessa diversidade?
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As primeiras experiências para captar esse novo cidadão foram em cima do orçamento em geral. Os gaúchos puderam votar pela Internet e, depois, nas reuniões presenciais que ocorrem periodicamente nas principais cidades do Estado. Havia o receio de que as consultas online esvaziassem as presenciais, mas ocorreu o contrário.
Na consulta popular sobre o orçamento, 1.215 votaram nas obras, para hierarquizar os investimentos. No caso de trânsito, houve consulta pelas redes sociais. Para este ano, espera-se mais de 1,3 milhões de participação online.
O modelo estimulou também as plenárias presenciais - para decidir sobre as obras locais - que estão com 20 a 30% a mais de audiência.
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Quando assumiu, Tarso Genro montou o Gabinete Digital, espelhando-se nas experiências de seu colega pernambucano Eduardo Campos. Foi montado um portal com os principais indicadores da economia e da gestão do Estado.
Pelo sistema, o governador tem acesso ao andamento de todas as obras e projetos realizados com recursos estaduais.
Arredondado o modelo, o sistema será aberto, agora, à população, completando o ciclo de Sistemas de Participação Popular.
O cidadão terá acesso aos mesmos dados disponibilizados para o governador. Cada obra terá um código de barras. Fotografada, jogará no smartphone do cidadão todos os dados referentes àquela obra. Saberá, em tempo real quais as obras em andamento, os problemas enfrentados. Poderá enriquecer o banco de dados com fotos georreferenciadas de obras.
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Recentemente, Tarso ouviu comentários indicando suas experiências como desbravadoras de novos caminhos. Uma veio do embaixador da França no Brasil; outra, dias atrás, do sociólogo espanhol, Manuel Castels, o mais renomado especialista no fenômeno das redes sociais.
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