Publicado em 01/11/2012 por Urariano Motta*
Recife (PE) - Os funcionários do BB no Recife passam momentos de angústia nestas horas. Eles denunciam que nas áreas de logística e operações do Banco do Brasil iniciou-se uma grande reestruturação, que atinge especialmente Pernambuco, com a migração de postos de trabalho, serviços e renda para a região Sudeste.
Das informações recebidas por este colunista destaco:
No Banco do Brasil temos no Recife dois grandes centros que coordenam e centralizam serviços dos demais Estados do Nordeste. Na área de logística temos o CSL – Centro de Serviços de Logística, que é responsável pela realização de licitações, compras, administração de contratos e obras de engenharia, entre outras atividades. Na área de suporte operacional temos o CSO – Centro de Serviços de Suporte Operacional, que executa, entre outros serviços, análise de operações de crédito e cadastro de clientes das agências, controle contábil, serviços de malote e compensação.
Na reestruturação prevista haverá, nos dois Centros acima citados, redução de postos de trabalho e a absorção de grande parte das atividades por centros que serão criados na da região Sudeste – dois em Belo Horizonte, dois em Curitiba e dois em São Paulo.
Também com esta migração, os valores que são pagos aos prestadores de serviços, e que superam a cifra de 100 milhões no Nordeste, passarão a ser administrados pelo centro que absorverá os serviços no Sudeste.
Daí que perguntamos:
- Qual o motivo de mais uma centralização de atividades na região Sudeste, indo na contramão da política do Governo Federal, que tem trabalhado no sentido de equalizar o potencial das regiões?
- Não seriam as regiões Norte e Nordeste merecedoras de ter pelo menos um grande centro de serviços do Banco do Brasil, pois apenas três capitais do Sul/Sudeste ficarão com cerca de seis grandes centros?.
Ao que comento. Historicamente, a tendência de empresas estatais, como se fossem independentes, como se fossem livres de seguir a orientação do governo, é agir conforme o mercado, e com isso dirigem os seus investimentos para o Sul e Sudeste do Brasil. Mas aqui ocorre uma oposição à nova política brasileira, que se dirige contra a centralização no Sudeste, desde o governo Lula até a presidenta Dilma. Ou seja, em quistos de Brasíliarealizam autêntico fogo amigo, atirando contra uma política econômica que tem tido sucesso. O Recife, Pernambuco, o Nordeste, respiram hoje um ar novo, de reconstrução, de inserção em um Brasil respeitado em todo o mundo. Mas o núcleo de estatais como o BB não vê ou não quer ver.
Para variar, esse estar de costas para o governo brasileiro volta com o velho jargão dos tempos de FHC:
“Há um conjunto de ações com o objetivo de aumentar a eficiência operacional, melhorar a dinâmica da gestão e manter a liderança no mercado”.
Na tradução dos sindicatos bancários isso quer dizer um novo “pacote de maldades”, com demissões, transferências, aposentadorias forçadas e sobrecarga de trabalho para os últimos moicanos que ficam.
Quem passou por pacotes de reestruturação, de melhora de eficiência operacional, de melhor dinâmica, em resumo, por todo o jargão dos iluminados da hora, sabe o que isso significa: traições, chantagem, covardias, pressão, jogo sujo, amostras grátis do pacote da pequenez humana.
De repente, começam a prosperar os murmúrios, os comentários de que “aí vem coisa, vem novidade por aí”. Então se ouvem com redobrada atenção os que têm acesso a informações ocultíssimas, sigilosas, verdadeiros segredos de Estado. “Alguém me contou, eu soube que...”. Depois vêm os analistas, melhor dizendo, os que incorporam esse papel, que, pelo pânico instalado, são ouvidos em estado de unção religiosa, ainda que cometam os maiores absurdos.
Daí que o sindicato bancário foi ao senador Humberto Costa, que prometeu pressionar a direção do BB. Já o governador Eduardo Campos, para quem o Nordeste é solução, receberá os trabalhadores do Banco em audiência. Enquanto isso, os funcionários, postos como objetos descartáveis, pedem socorro até a este desimportante escritor:
“Basta de silêncio e cortina de fumaça, pede-se uma ação contundente de repúdio às intenções de mais um plano de reestruturação. Eles não se importam que tenham de esvaziar muitos estados em favor de apenas três, e o mais grave, mexendo de forma perversa com a vida e as condições de trabalho de milhares de funcionários em todo o Brasil”.
Para esses trabalhadores em clima de terror segue a minha solidariedade.
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Urariano Motta* é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife(Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, eOs corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997).
Enviado por Direto da Redação
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