Coluna Econômica - 19/03/2013
Desde a grande crise dos anos 80, a indústria brasileira andou de lado. Foi arrebentada pela inflação renitente dos 80, pela abertura irresponsável dos 90, pelos juros e câmbio dos 90 e 2000.
Os efeitos mais deletérios foram o desaparecimento da produção em setores relevantes, a baixa inovação e a não participação nas cadeias produtivas globais.
É uma visão correta sobre a indústria até agora, mas que não capta os novos ciclos que estão se iniciando. O país não está parado e um dos pontos focais de reindustrialização e capacitação das empresas é a Petrobras.
Uma das estratégias relevantes – e já com resultados concretos – foi a montada em torno do pré-sal, o Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), capitaneado pela Petrobrás.
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Na segunda-feira passada, o programa Brasilianas.com, da TV Brasil, entrevistou Paulo Alonso, coordenador executivo do Prominp, e Cláudio Makarosky, presidente da Câmara de Óleo e Gás da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos).
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Estão sendo plantadas raízes sólidas em torno do pré-sal, de maneira a transformar a produção local em paradigma para a indústria petrolífera mundial.
No início, o Prominp visava a promoção de mão de obra. Tornou-se um fórum em torno dos quais se juntaram todas as entidades representativas da indústria – Abimaq, Abdib (Associação Brasileira da Indústria de Base), Abinee (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica).
Como explicou Paulo Alonso, o grande ganho do pré-sal não serão as exportações de petróleo, mas de equipamentos e inteligência.
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Os desafios do pré-sal tornaram a inovação peça central do programa. As profundidades dos poços, a distância da costa criaram novos desafios, exigindo pesquisas amplas de novos materiais, novos modelos de construção e novos sistemas.
Um dos passos importantes foi a obrigatoriedade do conteúdo nacional nos equipamentos.
Para quem enxerga o pré-sal do ponto de vista puramente financista, o conteúdo nacional foi tratado como decisão paternalista que poderia tirar a competitividade da Petrobras.
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Depois da rodada 7 do pré-sal, todos os contratos incluem a obrigatoriedade de conteúdo nacional.
Depois, com os epecistas (as empresas que integram os fornecedores) foram mapeados todos os elos da cadeia e identificados fornecedores locais.
No caso dos estaleiros, por exemplo, foram analisados não apenas os planos de suprimentos, mas entrevistados todos os fornecedores e subfornecedores da cadeia de cada estaleiro, antes de assinar o contrato.
As análises basearam-se nos estudos de referência sobre a indústria brasileira, produzidos por universidades, câmaras setoriais do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e da própria CNI (Confederação Nacional da Indústria). E todos os produtos locais precisaram se enquadrar no Plano de Negócios e Gestão da Petrobras.
A análise do conteúdo local
As aquisições são balizadas por um banco de dados de compras da empresa, com fornecedores nacionais e internacionais. Quando não se tem o produto no país, compra-se no exterior, como foi o caso dos sistemas digitais de controles distribuído de automação industrial para refinarias. Onde há escala, estão sendo estimuladas empresas estrangeiras a entrar em parceria com empresas nacionais.
As missões comerciais
No caso de sistemas de segurança, controladores lógicos programados, por exemplo, já existem fornecedores com 80% de nacionalização e preços competitivos. Nos casos de produtos sem produção interna, recorre-se a road-shows internacionais, nos quais a Petrobras mostra seu Plano de Negócios, as oportunidades abertas pelo pré-sal, em cima das 28 sondas, 48 plataformas e 89 navios que serão construídos.
A missão na Inglaterra
A busca da inovação dá-se de suas maneiras. A mais rápida é a associação com fornecedores do exterior que detenham know how e queiram parceria. Em recente missão no Reino Unidos, a Petrobras levou a demanda de naves e peças, conversou com 140 empresas. 40 delas já vieram duas vezes ao Brasil, atrás de parceiros. A intermediação é feita pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo, que congrega todos os fornecedores.
As parcerias
O caminho mais longo – e mais consistente – é o da parceria com universidades e institutos de pesquisa. Cinco multinacionais instalaram seus institutos de pesquisa na ilha do Fundão, com investimentos de R$ 500 milhões cada. Estão trabalhando em parceria com universidades e institutos de pesquisa brasileiros e capacitando seus fornecedores. O investimento é fundamental para quem possam se capacitar com conteúdo nacional e nas novas tecnologias.
Os pilotos
Há as chamadas pesquisas blue-skies, futuristas. Como o desenvolvimento de sistemas que, no futuro, não exigirão mais plataformas. Tudo será feito no fundo do mar, na boca do poço. E inovação pontuais, em que a empresa define a demanda, identifica o fornecedor e engenheiros de ambas as partes e da universidade parceria, desenvolvem conjuntamente a inovação em pleno sistema. Aprovada, é incorpoada.
As novas competências
Com esse trabalho, recuperou-se a expertise nacional de baleeiras, guindastes offshore, áreas de automação e de tecnologia limpa, eletrônica, acionadores elétricos de válvula sem fio. Em alguns casos, já se tem tecnologia inovadora, como nos acionadores sem fio de válvula e nos sistemas de rotação de bombas através de levitação eletromagnética – possivelmente tecnologia incorporada dos enriquecedores de urânio desenvolvidos pela Marinha.
Email: luisnassif@ig.com.br
Blog: www.luisnassif.com.br
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