Coluna Econômica - 07/06/2013
Os dilemas da política econômica são da seguinte ordem.
Há três desafios centrais:
- Inflação.
- Crescimento.
- Contas externas.
É possível conviver com um pouco mais de inflação, um pouco menos de crescimento. Mas quando chega a hora da verdade das contas externas, o dólar explode e a economia é revirada de pernas para o ar.
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É impossível atacar as três frentes simultaneamente, porque instrumentos utilizados para uma frente afetam a outra. Por isso mesmo, a política econômica terá que encontrar um equilíbrio, jamais uma solução ótima.
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Se houver muito crescimento, a política econômica pressionará as contas externas e a inflação. As contas externas pelo fato de aumentar as importações, remessas de lucro e gastos de brasileiros no exterior. A inflação, pelo fato de, com mais consumo, os preços terem espaço para subir.
É óbvio que há limites de crescimento que não afetam a inflação nem pressionam tanto as contas externas. A questão central é encontrar o melhor ponto de equilíbrio.
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No momento, a política econômica do Banco Central tem sido a de desestimular a demanda interna. Quando decidiu aumentar novamente a taxa Selic, apesar da elevação ser insignificante na estrutura de custos do crédito, sinalizou para o sistema bancário interromper a disputa por crédito.
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O cenário para o ano, pela ata do Copom (Comitê de Política Monetária), por exemplo, aponta para um dólar na faixa de R$ 2,05. No entanto, aponta também os seguintes fatores, todos em direção contrária à estabilidade do dólar:
- Na parte internacional, prevê queda de preços de commodities e alta do petróleo pressionando ainda mais a balança comercial.
- Identificou a valorização do dólar. Como a cotação do real está atrelada ao dólar, a manutenção do valor em relação ao real significou uma valorização adicional da moeda brasileira.
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Há um quadro claro de deterioração das contas externas brasileiras. E também dificuldades adicionais de colocar no mercado títulos públicos pré-fixados de prazo mais longo.
Foi esse quadro – não contemplado na ata do Copom – que levou o Banco Central a eliminar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em operações de prazo mais longo para facilitar o ingresso de capitais externos no país.
A alegação é que, caso não acontecer esse aumento do fluxo externo, o BC teria que aumentar a Selic para conseguir colocar os títulos públicos.
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Sem mexer no câmbio, virá inevitavelmente uma crise externa dentro de alguns anos.
No plano político, tem-se uma aposta interessante.
Reajustando o câmbio, poderá haver uma pressão adicional sobre os preços, nada dramático mas algo desgastante para um ano eleitoral.
Não se reajustando o câmbio, tem-se uma crise contratada, que poderá chegar em 2014 ou 2015.
Na primeira hipótese, acaba com a possibilidade de reeleição; na segunda, acaba com um segundo governo Dilma, como acabou com o de FHC.
A estratégia mais prudente da política econômica seria:
- Promover nova desvalorização controlada do câmbio para patamares bem além dos R$ 2,05 – digamos R$ 2,60.
- Aproveitar a entrada da safras, mais a redução das cotações internacionais de commodities, para reduzir o impacto do câmbio sobre a inflação.
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