Coluna Econômica - 15/01/2013
Disputa política x confronto, pombas x falcões. Este é o dilema da política brasileira para os próximos anos.
Há uma ebulição no cenário político brasileiro, transformações profundas com a mudança de guarda nos dois principais partidos políticos pós-redemocratização – PT e PSDB -, a busca de protagonismo por agentes oportunistas – especialmente no STF (Supremo Tribunal Federal) e mídia.
Há dois cenários possíveis no horizonte político:
Cenário de normalidade – O amadurecimento da democracia brasileira, com os partidos convergindo para o centro, ampliando-se o leque das alianças partidárias, a exemplo das democracias europeias, e disputando quem entrega o melhor produto para o eleitor (qualidade de vida, desenvolvimento, gestão eficiente etc.) e disputar o poder nas urnas. Esse desenho comporta um partido social democrata mais à esquerda (PT), outro mais à direita (PSDB), partidos médios gravitando entre um e outro e pequenas agremiações ocupando a esquerda radical e a direita radical.
Este é o cenário provável para a democracia brasileira.
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Cenário de guerra - Grupos se digladiando em torno da guerra fria, do chavismo, do bolivarianismo, do imperialismo e de outros ismos que só servem como retórica para disputas de poder.
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Não se trata de um jogo com poucos jogadores comportando-se de forma homogênea. Em cada agrupamento há uma disputa interna, na qual o cenário de normalidade ou de confronto reflete-se no resultado final.
Se prevalece o clima de paz, determinados grupos assumem a liderança. Em caso de confronto, outros grupos. Esses interesses internos acabam se refletindo no resultado final.
Para entender o jogo, é importante debruçar-se sobre a situação interna de cada agente do jogo.
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No PT, duas estrelas máximas sempre foram Lula, com seus sindicalistas e a aproximação com a Igreja, e José Dirceu, com sua visão “aparelhista”.
O papel de Dirceu foi essencial para a unificação a ferro-e-fogo das ações do PT, permitindo a vitória de Lula. No poder, no entanto, havia embates surdos entre ambos.
O “mensalão” foi o divisor de águas. Sem a competição de Dirceu, Lula passou a comandar uma mudança radical no PT, com a indicação de Dilma para presidente e de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, visando livrar o partido da herança “aparelhista.”
Dilma Rousseff segue fielmente a estratégia lulista, ao se afastar dos “mensaleiros” e definir uma divisória: entra na guerra só se tentarem atacar Lula.
A direção do partido caminha em outra direção e se fortalece em caso de tentativa de desestabilização do governo; e também na solidariedade aos líderes caídos no julgamento.
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No caso do PSDB o jogo tem menos alternativas.
O Lula do PSDB deveria ser FHC; o Dirceu, José Serra.
Mas FHC não possui a visão política nem a liderança de Lula. É o chamado homem-água que se molda ao que vê pela frente. Quando percebe que há um acirramento político, radicaliza. Quando percebe que o tempo amaina, reflui. Tendo à disposição os laboratórios dos dois maiores estados do país, na hora de pensar o novo, convoca os velhos economistas do Real.
No campo partidário, Dirceu é capaz de se sacrificar pelo partido; Serra, é capaz de sacrificar o partido por ele.
Para se adequar aos novos tempos, o PSDB precisaria tomar uma série de medidas de baixíssima probabilidade de ocorrer.
Protagonismo dos governadores
O primeiro passo seria um pacto entre os governadores Geraldo Alckmin, de São Paulo, Antônio Anastasia, de Minas. visando criar uma alternativa à direção partidária. Definir-se-ia um conjunto de ações inovadoras de políticas públicas, capazes de criar uma marca para o partido, recolocando-o no jogo político. É inacreditável o PSDB tentar se valer dos economistas do Real e esconder um Antônio Anastasia, por exemplo.
Nova inteligência
Sob a orientação dos governadores, haveria o fortalecimento do Instituto Teotônio Vilela com uma visão municipalista, trazendo para dentro Luiz Paulo Vellozo Lucas, José Aníbal, José Luiz Portella, Britto Cruz, Júlio Semeghini, os herdeiros das políticas sociais de Dona Ruth para pensar o novo e irradiar para o partido. Ao mesmo tempo, uma ação sobre a inteligência acadêmica, hoje totalmente divorciada do PSDB.
Cenário improvável
Esse cenário é pouco viável no quadro atual do partido, em que perdura uma gerontocracia incapaz de pensar o futuro e de abrir mão do poder para novas gerações. Sem uma liderança alternativa, só restará ao PSDB permanecer na pasmaceira atual, de ter como único discurso o negativismo e o antilulismo. E ver a liderança da oposição escorrer para as mãos do PSB, de Eduardo Campos.
A mídia
Outro obstáculo para a normalização política é o papel da mídia. Nos últimos anos ficou amarrada na armadilha que ela própria criou, do discurso da guerra fria e da escandalização permanente dos fatos políticos. Hoje em dia reside nesse discurso o poder maior da mídia, mas, também, o impedimento maior para que retome o papel de mediação, que deixou de ter. A fogueira só irá se abrandar lentamente.
Judiciário
A atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) no episódio do mensalão trouxe preocupações sobre os limites do ativismo político da corte. Ao condenar os réus, ajudou a fortalecer os pombos, mostrando a impossibilidade de manutenção do estilo “aparelhista” na política. Ao exagerar na retórica, na interpretação das leis e na aplicação das penas, fortaleceu os falcões, permitindo suspeitas sobre suas intenções.
Judiciário - 2
Passado o vendaval, sem os holofotes da mídia, com os egos aplacados e com a indicação de Ministros mais profissionais para a corte, é possível que o STF deixe de ser um fator de turbulência política e que cesse a fase libelú de marmanjos. Todo esse cenário dependerá basicamente do desempenho da economia este ano.
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