Coluna Econômica - 04/06/2013
No final de semana passada, dois jornais importantes – o Estadão e a Folha – abriram editoriais de apoio à política econômica, os primeiros em muitos e muitos meses. Neles, afiançam que finalmente o Banco Central encontrou o caminho da racionalidade econômica, ao decidir aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto. Pelo tom dos editoriais, parece que os problemas da economia foram resolvidos.
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Desde fins de agosto de 2011, o governo Dilma Rousseff montou uma operação complexa para desarmar a armadilha dos juros e dos spreads (a diferença entre o custo de captação e de aplicação dos depósitos bancários).
Primeiro, bancou a aposta de redução taxa Selic.
Também deu início a um movimento gradativo de desvalorização do câmbio, para arrefecer parte do sufoco que as importações chinesas trouxeram para a produção interna.
Ao mesmo tempo, Dilma acionou os dois bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – a comandarem um movimento de redução dos spreads.
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Os três movimentos iniciais foram bem sucedidos. No início do ano, pequenas empresas se surpreendiam com a visita de gerentes de bancos distintos, disputando sua conta através de um quase leilão de taxas de juros.
Parecia que a economia, pela primeira vez em décadas, retomava o caminho da normalidade, com o crédito farto e com taxas ainda distantes das internacionais, mas bem abaixo das taxas históricas, irrigando a economia.
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Para se adaptar aos novos tempos, os bancos deram início a um rigoroso movimento de corte de custos. E esses cortes passaram pela redução das verbas de publicidade.
Para os jornais, desenhou-se o pior cenário. Numa ponta, perda de receita publicitária; na outra, a oneração de custos com a alta do dólar puxando os preços do papel.
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Aí surgiu a oportunidade, um aumento de preços puxado pela alta das commodities. Criou-se um terrorismo econômico fantástico, impulsionado pela alta dos preços do tomate – que geraram duas capas, na Veja e na Época.
Diariamente o problema da inflação foi repercutida pelos jornais afim de criar um movimento de manada. A elevação de preços ampliou-se para outros produtos.
Na outra ponta, desde o momento em que o BC promoveu a primeira elevação da Selic – em meros 0,25 – a mudança de atitude sinalizou para todo o sistema bancário o fim da guerra de spreads. Os bancos passaram a elevar novamente o spread e a não aceitar disputas que pudessem reduzir sua margem de rentabilidade.
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As empresas e pessoas físicas que dependem de crédito pagarão mais caro. O imposto juros recairá sobre todos os tomadores de crédito da economia.
Na outra ponta, a mídia torce para que, com parte da rentabilidade recuperada, as verbas publicitárias voltem aos níveis pré-queda de juros, objetivo final de sua campanha para a "volta da racionalidade do BC".
No mercado financeiro, mais informado e mais cético, atribuía-se a mudança de postura do BC – aumentando a Selic em 0,5 ponto – ao fato do governo ter “piscado” (termo que se usa para quando o governo vacila) depois que o candidato Aécio Neves inaugurou o horário gratuito com o tema da volta da inflação.
Em qualquer caso, demonstrou-se que o presidente do BC, Alexandre Tombini, no fundo, é menor do que a sombra inicial que projetava.
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