Coluna Econômica - 10/04/2013
O principal argumento dos defensores da alta da Selic é que seria a única maneira de atacar de forma generalizada a inflação através da redução da demanda e do nível de emprego. Com menos atividade econômica, haveria desestímulo às altas de preços.
O argumento é falso por inúmeras razões.
O ponto principal, é que a Selic é absolutamente ineficaz para o controle da demanda agregada.
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Meio ponto ou mesmo um ponto na taxa, ou mesmo 3 ou 5 pontos a mais, não têm nenhuma influência nem sobre crédito ao consumidor nem sobre os estoques das empresas.
Se se quiser atuar sobre o crédito, há formas muito mais eficientes e muito mais baratas para o Tesouro (e, obviamente, muito menos rentáveis para os especuladores).
Tome um bem de consumo financiado por 24 meses a uma taxa de 4% ao mês. Se custar R$ 1.000,00, cada prestação sairá por R$ 65,58.
Se a Selic aumentar em meio ponto e essa alta for integralmente repassada para o custo do financiamento, a nova prestação será de R$ 65,86. Alguém deixaria de tomar financiamento por conta de um aumento de 28 centavos?
Suponha que o Banco Central reduzisse o prazo máximo de financiamento para 18 meses. O valor da prestação saltaria para R$ 79,00.
Suponha que a Selic aumentasse em 20 pontos (!). O valor da prestação iria para R$ 76,26, ainda assim inferior à mera redução de 6 meses no prazo de financiamento.
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No caso de capital de giro, suponha uma empresa que tome recursos a 2% ao mês, por prazos de 3 meses. Com o repasse da Selic, haveria um aumento de 0,04% no custo de carregamento dos estoques. Se fosse repassar para os preços, a alta não chegaria a 0,01%.
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Onde a Selic funciona? Apenas no campo psicológico, das expectativas - ou, em palavras mais chãs, da especulação.
Funciona assim:
A confraria da Selic bota a boca no trombone sobre a suposta perda de controle da inflação. A mídia reverbera.
Cria-se a ideia de que o governo é leniente com a inflação. E a única maneira de demonstrar cuidado seria aumentar a Selic.
Algumas grandes empresas de varejo são influenciadas por esse clima. Mesmo sabendo que a Selic não interfere em nada nos dados reais do mercado, tratam de aumentar os preços porque não sabem qual será o comportamento de outros agentes. É aquela história: alguém grita "fogo" no cinema. Tenho certeza de que não há fogo. Mas se não sair correndo poderei ser atropelado pelos que não sabem que não existe fogo.
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A maneira de romper com essa chantagem seria acabar de vez com o sistema de metas inflacionárias como balizador da inflação (por esse sistema, o BC precisa aumentar a Selic toda vez que o mercado acredita que a inflação subirá acima da meta).
Tem que abrir a discussão sobre a ineficácia da Selic e sobre a eficiência maior de outros instrumentos tradicionais de política monetária - as tais medidas prudenciais, o compulsório etc.
Mas o BC, que demonstrou coragem e determinação quando apostou na queda da Selic em agosto de 2011, não parece disposto a arriscar saltos maiores - ainda que inevitáveis.
Delfim Netto, que sabe de tudo, já alertou: se ceder à chantagem do mercado agora, não terá como enfrentar chantagens futuras.
IPCA em 12 meses estoura teto da meta
A taxa oficial de inflação estourou o teto da meta estipulada pelas autoridades. Em 12 meses, a variação registrada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 6,59%, acima dos 6,31% relativos aos doze meses anteriores, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A variação em de março atingiu 0,47%, ficando abaixo da taxa de 0,60% registrada em fevereiro. No primeiro trimestre do ano a variação situou-se em 1,94%, acima do resultado de 1,22% de 2012.
Fluxo cambial começa abril com déficit
O fluxo cambial iniciou o mês negativo. No período de 1º a 5 de abril, o déficit referente ao saldo da entrada e saída de dólares do país foi de US$ 61 milhões, segundo o Banco Central (BC). Em março, o fluxo cambial fechou positivo em US$ 391 milhões. O resultado contabilizado foi consequência do fluxo comercial, cujo saldo negativo ficou em US$ 186 milhões, enquanto o fluxo financeiro ficou positivo em US$ 125 milhões. O fluxo cambial no ano está negativo em US$ 2,160 bilhões.
Preço da construção civil oscila 0,18%
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) subiu 0,18% em março, ficando bem abaixo do total de 0,73% contabilizado em fevereiro, segundo dados divulgados pelo IBGE em parceria com a Caixa Econômica Federal. Em 2013, considerando-se o período de janeiro a março, a alta está em 1,10%, contra 1,21% em igual período de 2012. O resultado dos últimos doze meses foi de 5,55%, inferior aos 5,69% registrados do período anterior.
Emprego industrial fica estável em fevereiro
O total do pessoal ocupado na indústria brasileira apresentou variação nula (0,0%) em fevereiro ante o período imediatamente anterior, segundo a série livre de influências sazonais divulgada pelo IBGE. O indicador caiu 1,2% no índice mensal frente a fevereiro do ano passado, 17º resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto, repetindo a taxa negativa observada em janeiro. O número de horas pagas aos trabalhadores da indústria variou 0,1% frente a janeiro.
Governo vai controlar inflação, diz Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo não vai poupar medidas para conter a inflação, ao mesmo tempo em que ressaltou que o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem “desacelerado” ao longo dos meses. Para o ministro, a situação dos alimentos deve melhorar nas próximas semanas com o começo da safra agrícola. O ministro salientou que a trajetória de queda da inflação continuará ao longo de 2013, e que o governo está atento ao aumento de preços.
Argentina congela preços de combustíveis
O governo argentino congelou preços dos combustíveis por seis meses. Trata-se da terceira medida de controle da inflação anunciada este ano. A medida já foi publicada no Diário Oficial, e determina que até outubro serão mantidos os preços de 9 de abril. Anteriormente, o secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno, fez um acordo com supermercados e redes de eletrodomésticos para manter os preços estáveis até março, e o acordo foi renovado por mais dois meses.
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