Alfredo Pereira dos Santos
Não é na adversidade que se conhece o caráter de um homem. Se quereis conhecer o verdadeiro caráter de um homem, DÁI-LHE PODER.
Eu não sei quem é o autor dessa frase, mas já a incorporei ao meu repertório, pois a acho profundamente verdadeira. Ademais, ela vale não apenas para pessoas, mas também para países e instituições. Nesse sentido é bastante significativa a frase do Bertrand Russell, segundo a qual “a igreja protestante não fez tanto mal quanto a católica porque é muito menor e muito menos poderosa”.
No que se refere a países, estou convencido de que a França não fez tanto mal quanto a Alemanha porque nunca teve o poder militar e econômico por esta desfrutado. Não obstante, o histórico da presença francesa na Argélia não pode depor a favor de uma nação que se diz civilizada. Diga-se de passagem que militares norte-americanos e argentinos foram instruídos nas técnicas da tortura pelos militares franceses, em função do know-how por estes adquiridos na Argélia.
Presentemente estou lendo uma biografia do general Charles de Gaulle, de Alexander Werth e cujo título é, justamente, “De Gaulle” e algumas observações aqui feitas se baseiam neste livro.
A ocupação da Argélia pelos franceses constitui uma história de violações, atentados e horrores contra os muçulmanos.
Entre 1958 e 1962, que representa os anos da minha passagem da adolescência para a vida adulta, eu acompanhei toda aquela história, sem lhe dar muita importância e sem saber muito bem o que estava acontecendo. Mas muito nomes me eram familiares, como o de De Gaulle, Ben Bella, Mendes-France, entre outros, porque eram frequentemente citados pelos jornais. Perto da minha casa, no Rio de Janeiro, havia um cinema, o ART-PALACIO, entre as ruas Santa Clara e Constante Ramos (existe ainda?) onde a tônica era o cinema francês e italiano, com algum Bergman eventual, e eu me lembro de uma espécie de documentário com notícias da França e da guerra.
Está sendo muito bom para mim ler esta biografia do De Gaulle, pois está lançando muita luz sobre o que era, no passado, uma paisagem enevoada e obscura. Há muitas décadas os muçulmanos vem sendo massacrados. Em 1962 uma média de 10 mil europeus estavam retornando à França e diante da inevitabilidade da “perda” da Argélia os fanáticos terroristas, que queriam uma “Argélia Francesa”, resolveram adotar uma política de “terra arrasada”, destruindo a superestrutura da Argélia, devolvendo aos argelinos a Argélia de 1830, anterior ao desembarque dos franceses. Somente entre 26 e 30 de maio de 1962, quarenta escolas foram destruídas em Argel por meio de incêndios e explosões. A biblioteca da Universidade de Argel e dezenas de outros edifícios públicos foram reduzidos a cinzas.
Nesse momento estou na página 281 do livro, que tem um total de 399. Mas para mim já foi o bastante para reafirmar que, em matéria de valores morais a chamada civilização cristã nada tem de superior à muçulmana ou a qualquer outra. Não foram os muçulmanos que lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki nem bombas de napalm em crianças vietnamitas.
A leitura do livro também me permite reafirmar que sem estudo aprofundado da História não se pode fazer julgamento isento de nada, principalmente quando esse julgamento se baseia nas grandes redes de comunicação atuais, que deturpam os fatos, quando não mentem, descaradamente.
1Um comentário
O "terrorismo de estado" praticado diuturnamente pelos EUA
Arnaldo C.
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