Um continente marcado pelos contrastes e pela desigualdade. Ao mesmo tempo, um espaço para o desenvolvimento de novas - e positivas - ideias políticas, com grandes possibilidades de crescimento e posicionamento como modelo mundial. Este é o perfil da América Latina, que mais do que um conjunto de países ligados por histórias comuns, trazem o desafio de criar para a região um futuro muito diferente do passado.
Com foco nos próximos desafios que enfrentará o bloco que corta as Américas de cima a baixo - do México ao Chile - foi realizada em 11/11 a audiência pública 'Os novos desafios na América Latina - aprofundamento da democracia, desenvolvimento inclusivo e sustentável e integração regional', em atendimento ao requerimento da deputada e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), Jô Moraes (PCdoB/MG).
Participaram da mesa de debates Carlos Ominami, ex-senador e ex-ministro da Economia do Chile, Gabriel Gaspar, ex-vice-ministro da Defesa do Chile, Luís Maira, ex-ministro do Planejamento do Chile, Horst Grebe, ex-ministro da Economia da Bolívia, Beatriz Paredes, ex-senadora e ex-deputada, atualmente embaixadora do México no Brasil, os cientistas políticos e professores da Universidade de Brasília (UnB). Eduardo Viola e Roberto Goulart Menezes, Brand Arenari, diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais.
Horst Grebe abriu o debate mostrando a necessidade de se incrementar políticas científicas e tecnológicas no continente, explicando ainda que “isto não se faz sozinho”. Do seu ponto de vista, é necessária uma real integração entre os países latino-americanos além de serem repensadas as relações com outros países, como a China, por exemplo. Grebe afirmou que “a China tem uma estratégia para a América Latina, mas a América Latina não tem uma estratégia para a China”. No bojo desta afirmação o político boliviano acrescentou a necessidade de se reforçar vínculos de cooperação com a Europa, em função das similaridades culturais e econômicas.
Em relação às desigualdades, Brand Arenari destacou o desenvolvimento de políticas mais sofisticadas no Continente, para poder combate-las de forma eficaz. O técnico do Ipea explicou que a massa dos excluídos é abandonada pelas políticas de Estado, gerando o que ele classificou como uma “massa produtiva negativa”, o que ocasiona uma baixa produtividade nos setores econômicos
Abordando a necessidade de profundas mudanças políticas, a embaixadora do México e ex-parlamentar, Beatriz Paredes falou sobre as mudanças ocorridas em seu país desde 1977, quando as reformas eleitorais desmantelaram o partido hegemônico que estava no poder há décadas e tornaram o processo verdadeiramente democrático
Beatriz explicou que atualmente os partidos políticos não têm credibilidade na América Latina, reforçando que “faltam lideranças que possam dar credibilidade às instituições políticas”. A embaixadora foi categórica ao afirmar que “há uma revolução na comunicação e os políticos ainda não se situaram nisto”. Segundo seu entendimento, hoje em dia já não se necessitam de intermediários nas comunicações e a sociedade já os rejeita de todo o modo: “o povo quer fazê-la de forma direta. Os excluídos do das esferas de poder descobriram que podem fazer o que quiserem pelas redes sociais”.
Na conclusão dos debates ficou claro que a qualidade da democracia na América Latina precisa aumentar. Neste contexto, de acordo com Eduardo Viola, “a reeleição é um câncer para a democracia, uma vez que é introduzida para favorecer quem está no poder”. Para o professor, em todo o continente, o Chile e o Uruguai são os exemplos que avançaram neste sentido, tendo, por exemplo, uma ampla e real liberdade de imprensa, além do nível educacional que, como frisou, não se confunde com entendimento cívico.
Texto e foto: Cláudia Guerreiro
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