Para congressistas, Temer terminará o mandato
September 7, 2017 10:19Do Congresso em Foco:
O presidente Michel Temer conseguiu reverter de maneira significativa a expectativa das principais lideranças do Congresso quanto ao desfecho de seu governo. No fim de maio, dias após a divulgação das delações do grupo J&F, apenas 24% da cúpula do Legislativo apostava que Temer concluiria o mandato. Dois meses depois, esse índice saltou para 56%. Já o percentual dos que acreditavam que o presidente será afastado do Palácio do Planalto despencou de 62% para 31%.
Os números fazem parte da terceira rodada de pesquisa do Painel do Poder, produto criado pelo Congresso em Foco para monitorar de forma sistemática e com fundamentação científica as percepções e os humores daqueles que mandam no Congresso Nacional. Nesta edição foram ouvidos, ao todo, 55 parlamentares, respeitando-se a proporcionalidade em cada Casa, entre governistas e oposicionistas e as divisões regionais.
Esses congressistas foram escolhidos pelo papel relevante que ocupam no Legislativo. Entre eles, há líderes partidários, membros das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, presidentes de comissões e influenciadores das principais bancadas temáticas, como os defensores dos interesses dos produtores rurais, dos direitos humanos, os sindicalistas e evangélicos.
Se o futuro parece mais animador para Temer, a avaliação de seu governo só piorou entre os líderes do Congresso. Numa escala que varia entre 100 graus negativos e 100 graus positivos, a “temperatura” do Executivo ficou em 18,1. No final de maio, esse indicador era de 22,9. Já na pesquisa feita em março, havia ficado em 28,9, patamar já distante da nota positiva máxima (+ 100).
A melhora na expectativa de continuidade do governo Temer ocorreu depois de o presidente se livrar da investigação por corrupção, objeto de denúncia do procurador-geral da República, e da divulgação de números mais animadores da economia brasileira no último trimestre, como a ligeira queda na taxa de desemprego (0,2%) e a reversão da tendência de baixa na economia (crescimento de 0,2%), em comparação com o período anterior.
Na rodada de maio, os parlamentares ainda estavam sob o impacto da gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer, na qual o chefe do Executivo demonstra aprovar o relato do seu interlocutor sobre o suborno de autoridades e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba.
Dos parlamentares ouvidos na terceira rodada do Painel, 64% pertencem a partidos da base governista. Em termos de regiões geográficas, 33% deles representam estados do Sudeste, 27% são do Nordeste, 22% do Sul, 9% do Centro-Oeste e 4% do Norte.
Desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad), o Painel do Poder tem caráter inédito tanto pela concepção metodológica quanto pela variedade de aplicações que permite. Estão entre elas a aferição das tendências predominantes nas duas casas legislativas quanto ao relacionamento com o governo federal, a avaliação de políticas públicas e de temas específicos da pauta parlamentar e a influência de grupos organizados no Congresso Nacional. Permite ainda atender a demandas específicas de organizações que precisam ter maior clareza quanto a questões em debate no Legislativo que podem impactar seus interesses ou negócios.
Brasileiro gasta mais com cartão de crédito
September 6, 2017 14:47Em cada dez usuários de cartão de crédito no Brasil, quatro (39%) aumentaram o valor da fatura em julho, segundo dados apurados pelo Indicador de Uso do Crédito do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Para 33% dos consumidores ouvidos, a fatura se manteve estável na comparação com o mês anterior à pesquisa, enquanto 24% conseguiram diminuir o valor cobrado. Segundo a sondagem, o valor médio das faturas em julho foi de R$ 883.
O levantamento revela que o brasileiro está utilizando o cartão de crédito para fazer, principalmente, compras básicas e de primeira necessidade. Produtos de supermercados (62%), remédios e itens de farmácia (49%) e combustível (30%) encabeçam a lista dos produtos mais adquiridos via cartão. Outras compras também realizadas recentemente no crédito foram a aquisição de roupas, calçados e acessórios (29%), idas a bares e restaurantes (28%) e recargas para celular pré-pago (20%).
“Os dados sugerem que o brasileiro está recorrendo ao crédito para compras do dia a dia, inclusive mantimentos. Se ele não pagar a fatura integral e acabar optando pelo rotativo ou parcelamento, vai arcar com uma taxa de juros que pode chegar até a 500%, em média”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Os dados apurados revelam que 42% dos consumidores brasileiros recorreram a alguma modalidade crédito em julho, sendo que a mais utilizada é o cartão de crédito, mencionado por 37% das pessoas consultadas. Em segundo lugar aparecem o cartão de loja e o crediário com 13% de menções. Completam o ranking o limite do cheque especial (6%), empréstimos (4%) e financiamentos (4%). O porcentual de brasileiros que não recorreram às compras a prazo ou empréstimos de recursos financeiros no último mês de julho soma 58% da amostra.
De forma geral, o Indicador de Uso do Crédito registrou 27,4 pontos em julho. O resultado ficou próximo da média dos seis meses anteriores, situada em 27,2 pontos. O indicador varia de zero a 100 pontos e busca medir o uso das principais modalidades de crédito pelos consumidores brasileiros. Quanto mais próximo de 100, maior o número de usuários e de frequência no uso das modalidades.
Em julho, entre os consumidores que tentaram obter crédito em loja, 61% tiveram o pedido negado, sendo que a razão principal foi a inadimplência (9%). Outras alegações foram a renda insuficiente (3%) e a falta de comprovação de renda (3%).
Quando questionados sobre a dificuldade de contratar empréstimos e financiamentos, a maior parte (40%) opina que é difícil ou muito difícil, enquanto apenas 18% avaliam como fácil ou muito fácil. Outro 21% assumem uma opinião neutra a respeito do grau de dificuldade na obtenção de recursos de terceiros.
Outro dado de destaque é que entre os consumidores com empréstimos e financiamentos, 34% admitiram atrasos ao longo do contrato e 19% disseram estar no atual momento com parcelas pendentes de pagamento, o que totaliza 53% desses consumidores com dificuldades para honrar os compromissos.
Um país informal
September 5, 2017 16:39Ronnie Aldrin Silva
O aumento da informalidade deu um salto no último trimestre analisado, uma vez que tinha crescido 0,6% no país do segundo trimestre de 2016 ao primeiro de 2017, ou seja, em apenas três meses cresceu seis vezes mais do que nos três trimestres anteriores somados.
Tal crescimento vai na contramão das estatísticas de retomada de crescimento que o governo apresenta. Além do setor público, a tímida retomada da inserção de trabalhadores no mercado de trabalho está se dando por empregos sem carteira assinada e trabalho autônomo. Dos empregos gerados no último trimestre, 65,1% se deram por estas duas modalidades de inserção. Se somar o percentual dos novos empregos públicos (33,1%), chega-se em 98,2% dos empregos gerados. As categorias de empregados no setor privado com carteira assinada e trabalhadores domésticos com carteira assinada passaram por uma redução no número de seus trabalhadores de 5,8% e 3,3%, respectivamente.
Ao olhar regionalmente, percebe-se que a região Sul foi onde a informalidade menos cresceu (1,8%). Nas demais regiões o crescimento foi similar e acima da média brasileira, variando de um crescimento da informalidade de 3,9% no Nordeste a 4,4% no Norte, sendo esta última a região que mais sofreu com a inserção precária no mercado de trabalho.
Se no período do segundo trimestre de 2016 ao primeiro de 2017, treze estados tinham apresentado aumento da informalidade, no segundo trimestre de 2017 este número ampliou para 22 estados da federação. Os Estados onde a informalidade mais cresceu neste último trimestre foram Sergipe (16,1%), Amapá (15,8%), Espírito Santo (13,5%), Distrito Federal (10,6%) e Amazonas (9%). Apenas os estados de Santa Catarina (-4,2%), Tocantins (-3,9%), Rio de Janeiro (-3,0%), Mato Grosso do Sul (-2,0%) e Piauí (-1,1%) apresentaram redução no número de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada. (Fundação Perseu Abramo)
Todo poder ao alcaguete!
September 5, 2017 11:18Carlos Motta
Mais que o presidente da República, mais que qualquer um que se julgue autoridade, o poder real está com o alcaguete, que até outro dia era uma figura execrável, repudiada por todos - e até mesmo pela marginalidade.
"Fecharam o paletó do dedo duro
Pra nunca mais apontar
A lei do morro é barra pesada
Vacilou levou rajada na ideia de pensar
A lei do morro é barra pesada
Vacilou levou rajada na ideia de pensar
A lei do morro é ver ouvir e calar
Ele sabia, quem mandou ele falar
Falou demais e por isso ele dançou
Favela quando é favela, não deixa morar delator"
Assim cantou Bezerra da Silva ("Dedo Duro"), num dos inúmeros sambas que gravou abordando esse detestável personagem.
E Bezerra sabia das coisas da malandragem e do povo, conhecia a alma profunda das periferias.
Hoje, para espanto quase geral, o delator é aclamado como herói, não importa se ele, antes de ser um X-9, era um ladrão que passou a vida toda roubando os cofres públicos, corrupto ou corruptor, e que para se livrar da cana pesada, entregou os comparsas, ou pior, falou aquilo que a meganhagem, suas excelências, os doutores - seja lá quem for -, queriam que ele falasse.
Apodrecendo numa prisão imunda, sem ter sido julgado, sem perspectiva de ser libertado, com seus carcereiros todos os dias passando a ele o roteiro do que deve dizer para o "meritíssimo", o sujeito entrega a própria mãe, é capaz de dizer que fulano de tal incendiou Roma ou que sicrano bolou o plano de derrubada das Torres Gêmeas.
Da mesma forma, são poucos os que resistem a uma oferta de ver sua pena de 40 anos de prisão ser reduzida a uns dois, três anos, para serem cumpridos em sua mansão, com o único inconveniente de ter de usar um aparelho eletrônico em seu tornozelo, se disserem que beltrano, apesar de sua aparência de coroinha de missa dominical, é na verdade um vilão mais terrível que o professor Moriarty dos livros de Sherlock Holmes.
Afinal, nestes tempos de Brasil Novo, palavra de cagueta é lei.
Há uma fila de candidatos a Silvério dos Reis ou Judas Iscariotes.
Portanto, todos nós devemos ter muito cuidado com tudo o que fizermos no dia a dia, mesmo as coisas mais triviais.
Se for atravessar uma rua, dê preferência aos carros.
Trate os policiais como se fossem a encarnação dos reis Luíses da França.
Não ria nem fale alto em locais públicos.
Não dirija devagar nas estradas e sempre ultrapasse na contramão na faixa contínua.
Em resumo: não chame a atenção, seja anônimo, não se destaque em nada, não tenha opinião sobre coisa nenhuma e, se for forçado a dar algum palpite, que seja o mais idiota possível, revelador de sua notável ignorância e mediocridade.
Lembre-se sempre: em cada esquina, em cada canto, em cada mesa do bar, do restaurante, do trabalho, atrás de cada porta, num banco da praça, ou no volante do carro que parou ao lado do seu no semáforo, pode estar um dedo-duro.
E, a apoiá-lo em suas delações, a transformá-las em "colaborações" para o bem da Justiça, para o combate do câncer da corrupção, para a salvação do páis, está um doutor daqueles tão distintos e bem apessoados que dá a impressão que suas camisas e seu terno foram comprados em Miami, coisa fina, nada comparável a qualquer um desses tantos que se veem por aí em lojas de shopping centers .
Delatores e doutores, um time imbatível!
Com eles, não há perigo de a saúva acabar com o Brasil.
Um quadro de grave estagnação
September 4, 2017 9:57Marcelo P. F. Manzano
Mas ao contrário do que pode sugerir à primeira vista, em realidade os números divulgados pelo IBGE revelam um quadro bastante preocupante que aponta para elevada contração do principal componente da demanda agregada: os investimentos (FBCF) caíram 0,7% no trimestre, fazendo a taxa de investimento declinar para o menor nível desde o ano 2000 (15,5%).
Outra constatação nada alentadora e que em grande medida explica a baixíssima taxa de investimento é o desempenho da produção industrial, que registrou queda tanto na comparação com o primeiro trimestre de 2017 (-0,5%) quanto naquela que considera o mesmo trimestre de 2016 (-2,1%). Ainda pela óptica da oferta, na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano, nem mesmo a agricultura ajudou (0,0%) e apenas o setor de serviços, com crescimento de 0,6% foi capaz de garantir um mínimo impulso à economia.
No cômputo geral, portanto, o que se deve ter em mente é que a economia brasileira não apenas permanece estagnada, “sobrevivendo por aparelhos” – notadamente a injeção de recursos do FGTS e a demanda externa favorável –, mas que persistem algumas indicações qualitativas muito preocupantes, visto que os componentes cruciais da economia (a indústria, pela óptica da oferta, e o investimento, pela óptica da despesa) seguem em trajetória cadente. (Fundação Perseu Abramo)