Coluna Econômica - 29/7/2013
Para o segundo semestre, espera-se um desaquecimento do mercado de crédito e um ritmo menor do nível de atividade. Mas o Relatório de Política Monetária do Banco Central, divulgado ontem, mostra um quadro muito melhor do que aquele delineado nas manchetes dos jornais do Rio e de São Paulo.
O estoque de crédito cresceu 1,8% em junho em relação a maio e 16,4% nos últimos doze meses. Trata-se de desempenho robusto, porque já em cima de uma base elevada de crédito.
O recuo do crédito para pessoas físicas ocorreu em modalidades com juros elevados, como cheque especial e crédito pessoal. E em crédito para veículos, mas aí refletindo a pausa no mercado, após as promoções com IPI reduzido.
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Chama atenção o comportamento das taxas de juros e dos spreads bancários (a diferença entre o que o banco paga para captar e o que cobra para emprestar). Apesar da elevação de 1,25% na taxa anual da SELIC (a taxa básica de juros da economia), o aumento no custo médio do crédito foi de apenas 0,7% no ano no mercado de crédito livre.
E o spread bancário recuou 0,4 ponto percentual, ficando em 10,9 pontos percentuais em junho, menor patamar da série, que começou em junho de 2011. Significa que, apesar da sinalização do Banco Central, ao elevar a SELIC, os bancos mantém a competição no crédito.
Apesar da elevação do crédito, observou-se uma queda da inadimplência. Os atrasos superiores a 90 dias caíram 0,2 pontos percentuais no mês e 0,4% em 12 meses, ficando em 3,4% do saldo total dos crédito com recursos livres e direcionados.
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É curioso comparar esses números com o padrão de cobertura dos jornais.
Na UOL, o destaque foi para a alta dos juros no crédito pessoal. “Juros do crédito pessoal sobem e chegam a 73% ao ano, em média, diz BC”. No texto, o destaque para a informação de que é a maior taxa média registrada desde o “distantíssimo” mês de março de 2012.
Observe que, se houve aumento nas taxas de juros do crédito pessoal, mas redução na concessão de crédito (e na inadimplência) significa que houve renegociação das dívidas, com os bancos oferecendo linhas mais baratas de crédito.
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De qualquer modo, não se espere para o segundo semestre grande contribuição do crédito para manutenção do nível de crescimento do consumo.
Segundo o Ministro Guido Mantega, haveria um refluxo na alta da inflação, permitindo a recomposição do poder aquisitivo e do crédito.
Não é assim. A mera redução no ritmo de alta dos preços não recompõe poder aquisitivo: apenas impede uma queda maior. Além disso, o ritmo menor de crescimento do PIB tem inibido aumentos reais de salario.
A desvalorização cambial dos últimos meses não recompôs a competitividade da indústria, frente aos importados; e em muitos setores há uma pressão de custos e da própria elevação dos salários.
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Tem-se no horizonte algumas nuvens ainda não definidas. Uma delas, o ritmo de crescimento da economia chinesa, essencial para a manutenção de níveis satisfatórios de receita cambial com commodities. Outra, a política monetária norte-americana, ainda vacilando entre a suspensão ou não da recompra de títulos públicos.
Mesmo assim entra-se no segundo semestre com o sistema financeiro sólido, o nível de endividamento controlado, as aventuras fiscais contidas.
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Já divulgado em TIE-Brasil
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