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Petrobras e estatais chinesas ficam com 60% de Libra. Total e Shell arrematam outros 40%
22 de Outubro de 2013, 8:11 - sem comentários aindaSe as expectativas do primeiro leilão do pré-sal se confirmarem, Brasil e China iniciam a partir desta 2ª feira uma parceria estatal das mais robustas.
21/10/2013, Carta Maior (Editorial)por: Saul Leblon
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
Se as expectativas do primeiro leilão do pré-sal se confirmarem, Brasil e China iniciam a partir desta 2ª feira uma parceria estatal das mais robustas, consistentes e estáveis do século 21.
O pré-sal guarda 100 bilhões de barris; a Petrobrás, só ela, sabe como tirá-los de lá; a China consome 10 milhões de barris por dia; não tem petróleo, mas dispõe de reservas de dólar da ordem de US$ 3 trilhões.
Essa contabilidade deve marcar por décadas as relações entre os dois países.
Sobretudo, tende a alargar a avenida industrializante indispensável ao trânsito de um novo ciclo de desenvolvimento no Brasil.
A ficha começa a cair entre os analistas da emissão conservadora.
De forma talvez precipitada, eles comemoraram a “falta de interesse” das petroleiras gigantes dos EUA e da Europa no primeiro leilão do pré-sal.
“Culpa do intervencionismo intrínseco ao modelo de partilha”, festejaram os centuriões dos mercados desregulados.
Escapava-lhes o desdobramento estratégico, agora explícito.
O festejado recuo da Exxon, Chevron, BP e BG do leilão de Libra abriu caminho para, em torno do petróleo nacional, Brasil e China erguerem pilares de uma sólida parceria.
Algo de que sempre se ressentiu a diplomacia soberana do Itamaraty, retomada em 2003.
Em uma das últimas entrevistas antes de deixar o posto, o então chanceler Celso Amorim, atual ministro da Defesa, localizou na relação sino-brasileira a mais importante lacuna da reordenação geopolítica realizada pelo Brasil na última década.
Precisamos dar uma forma importante ao relacionamento com a China. Não desenvolvemos um conceito pleno de como vai ser nossa relação com a China. Essa é uma autocrítica. Não deu tempo. Precisamos pensar mais profundamente nisso, disse o então chanceler, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 27/10/2010.
O conceito de que se ressentia Amorim refletia, na verdade, a falta de um poder de fogo efetivo.
Afinal, como ter os interesses soberanos do Brasil contemplados na relação com um gigante solidamente hegemônico em questões chave do xadrez mundial.
Entre elas, a escala, o planejamento estratégico, o monitoramento justo do câmbio, do comércio exterior e dos fluxos de capitais, ademais da supremacia tecnológica e industrial.
A disputa desigual redundou no sabido.
O Brasil tem na China o principal cliente para suas matérias primas, como o minério de ferro, ademais dos grãos.
A balança comercial favorece o Brasil. Mas a prova do pudim se dá na tonelagem, que evidencia uma relação econômica subalterna.
Um dado resume todos os demais.
A China compra o minério de ferro brasileiro a US$ 140/150 a tonelada. E vende trilhos ao país a US$ 850 a toneladas, para abastecer um plano de expansão da malha ferroviária de 10 mil km, até 2020.
Por que a relação colonial não se repetiria no caso do óleo do pré-sal?
Pela diferença que existe entre uma estatal, mantida como ferramenta de desenvolvimento e uma empresa privada, a exemplo da Vale do Rio Doce, focada exclusivamente na geração de dividendos aos acionistas.
Dirigida até 2011 pelo tucano Roger Agnelli, a Vale sempre rejeitou os apelos do governo Lula no sentido de destinar um pedaço desses dividendos à construção de uma planta de trilhos no Brasil (a que existia foi desativada por FHC pouco antes de privatizar a Vale, em 1997).
A Petrobras transita na pista inversa do modelo de negócio que dá as costas aos interesses da Nação, para contemplar apenas o do pregão.
Embora seja uma empresa aberta, o governo tem a maioria dos votos na gigante criada por Getúlio.
Isso muda tudo.
Explica, por exemplo, a abrangência redobrada das inversões na cadeia do petróleo e da pesquisa, a ponto de a Petrobras figurar hoje como líder mundial em tecnologia de prospecção submarina.
Cerca de R$ 237 bilhões serão investidos por ela até 2017.
Os alvos: pesquisa, produção do pré-sal e a construção simultânea de três refinarias, de modo a agregar valor ao óleo extraído do fundo do oceano.
O retorno mais que compensa ao país.
Os próximos 30 anos vão marcar o estirão produtivo e de encomendas do pré-sal.
Os encadeamentos das inversões em produção, refino, serviços e tecnologia somam valores da ordem de US$ 700 bilhões em investimentos.
Significa dizer que o Brasil ganhará novo peso econômico, tecnológico e geopolítico.
Peso este precificado desde já nas negociações com a China que precisa garantir seu abastecimento no século 21.
Estamos no umbral de uma parceria ancorada em investimentos bilionários, de retorno garantido, que envolve tecnologia sofisticada e matéria-prima escassa no mundo.
O Brasil detém dois dos três vértices desse triângulo. A China tem o capital e a sede de petróleo.
Mudou a condição do jogo.
E o Brasil tem o mando de campo neste caso.
A regulação soberana do pré-sal destina à Petrobrás o monopólio da operação: só ela retira o óleo do fundo do oceano, do qual o país continua sendo o único dono.
Mais que isso.
A Pré-Sal Petróleo S.A vai gerir toda a administração estratégica dos campos do pré-sal.
Terá para isso 50% dos votos no comitê gestor de cada campo.
Caberá ao comitê decidir, por exemplo, o custo equivalente em barris da exploração do petróleo.
Uma vez fixado, define-se a sua contrapartida: o petróleo excedente (ou seja, que excede ao custo de exploração).
É sobre esse “excedente” que incide a parte do governo no volume total extraído dos campos: a “partilha” do pré-sal, que será de 41,5%, no mínimo.
Não por acaso, o piso do leilão desta 2ª feira ( 21/10).
Há, ainda, os royalties, elevados de 10% para 15% na regulação do pré-sal.
A PPSA controlará toda essa contabilidade, com poderes incontestáveis. Em caso de impasse no comitê gestor, ela detém o voto de Minerva.
Cabe-lhe, ademais, o poder de veto sobre decisões que possam ferir o interesse nacional.
Quais decisões?
Por exemplo, controlar o ritmo da exploração; controlar o volume de petróleo exportado; controlar o índice de nacionalização dos equipamentos e encomendas requeridos em cada etapa do processo.
Esse poder dosador dá ao Estado a possibilidade de transformar o ciclo do pré-sal num impulso industrializante de características inéditas na história do desenvolvimento brasileiro.
Quais sejam: altamente planejados em suas metas em encadeamentos; com taxa de retorno plenamente previsível e assegurada e dotados de desdobramentos políticos e sociais soberanamente definidos – caso das transferências do fundo social à educação e à saúde.
A essa singularidade do modelo de partilha vem se agregar agora a parceria de empresas estatais de um país afeito ao planejamento e à disciplina dos planos estratégicos.
Se bem sucedida a parceria, ademais de tonificar a estrutura industrial brasileira, terá repercussões sensíveis no imaginário político e social do país.
O conjunto tem consistência e horizonte para regenerar a combalida imagem do interesse público como planejador e gestor direto do desenvolvimento da Nação.
Até hoje, a insaciável fome chinesa por matérias primas exerceu no Brasil um efeito duplamente regressivo e paradoxal.
Ao projetar uma demanda firme por produtos não manufaturados, desloca o investimento local para atividades primárias.
Com a indiscutível competitividade de sua exportação manufatureira, sufoca a atividade fabril no país.
O conjunto explica em boa parte a cordilheira de obstáculos que o Brasil precisa superar para deflagrar um novo ciclo de desenvolvimento consistente e inclusivo.
Por uma dessas ironias da história, o pré-sal abre a possibilidade de que isso ocorra agora, justamente, através de uma parceria de gigantes estatais do Brasil e da China.
O leilão desta 2ª feira é o pontapé desse jogo histórico.
Nota:O texto acima foi escrito antes do leilão desta 2ª feira. O título foi atualizado após o desfecho do certame, que confirmou o potencial de uma parceria estatal majoritária em Libra, formada das participações da Petrobras (40%) e das empresas chinesas (20%).
O leilão de Libra trouxe ainda uma surpresa que preserva a margem de manobra brasileira no processo de exploração e produção do maior campo de petróleo descoberto no mundo desde 2008.
Duas petroleiras privadas, Shell e Total, arremataram outros 40% do consórcio. Juntas, elas não ameaçam a supremacia estatal sino-brasileira. Mas criam uma margem de manobra que salvaguarda a Petrobras do risco de se tornar refém do poderoso parceiro asiático.
A presença significativa das múltis anglo-holandesa e francesa, ademais, esfarela o jogral conservador, cujos veículos corneteavam, nesta 2ª feira, a urgente revisão do modelo de partilha, por seu "fracasso" em atrair a participação do capital estrangeiro no ciclo do pré-sal.
Como se vê, trata-se de um jornalismo fraco, a serviço de interesses fortes.
As críticas ao leilão do campo de Libra
22 de Outubro de 2013, 6:21 - sem comentários ainda
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A Pressão Atrapalhando as Concessões
18 de Outubro de 2013, 5:46 - sem comentários ainda
Coluna Econômica - 18/10/2013
Os problemas com a modelagem das concessões devem-se exclusivamente à pressa com que o processo está sendo conduzido.
Na logística, não se pode pensar cada projeto individualmente. Determinada ferrovia depende de determinado porto para ser viável; determinada rodovia depende do entroncamento ferroviário; e assim por diante.
A modelagem de concessões tornou-se uma balbúrdia, sem definição clara de papéis. Há diversos ministérios e agências reguladoras montando seus próprios projetos isoladamente. A coordenação deveria ser da Casa Civil, mas falta conhecimento técnico e sobra pressa política por lá.
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De fato, há pelo menos três personagens centrais trabalhando de olhos na agenda política de 2014 e com um sentido de urgência incompatível com a agenda técnica: a Miinistra-chefe da Casa Civil Gleize Hofmann, candidata ao governo do Paraná; o Ministro dos Transportes César Borges, candidato na Bahia, e a presidente da República Dilma Rousseff, candidata à reeleição.
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Poderão ser bem sucedidas quatro ou cinco concessões de rodovias que já dispõem de demanda firme.
Nas ferrovias, começam os gargalos. O governo decidiu dividir a concessão entre o operador da ferrovia e o operador de transporte. O princípio é bom: permitir o livre trânsito de diversas empresas pelo mesmo caminho. Mas a inovação trouxe diversas dúvidas não equacionadas: se der problema no trilho, quem é o responsável, quem faz a manutenção ou quem carregou demais no vagão?
Para minimizar a incerteza em relação à carga transportada, o governo decidiu que a estatal Valec irá adquirir parte relevante da carga e revender a terceiros. Mas não há confiança na capacidade financeira e legal da companhia de bancar a compra. *** Anos atrás foi montado um documento central, o PNLD em cima de 1.200 projetos existentes. O planejamento correto seria avaliar todos os fluxos de cargas existentes, estimar o custo atual de transporte, depois comparar com os projetos em estudo para definir os prioritários, aqueles que significassem maior redução de custo. Não foi feito.
A estimativa de fluxo de determinada obra depende da maneira como serão planejadas obras interligadas. Quando não se tem clareza sobre o conjunto das obras, cada obra individualmente sai prejudicada.
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A pressa tem produzido ruídos consideráveis. Cada problema levantado pelo setor privado é resolvido de afogadilho, sem pensar nas consequências.
O governo estava em negociação com as empresas quando foi lançado o edital do entroncamento de Açailândia. Os empresários questionaram a velocidade média exigida, de 80 km/hora. Antes de discutir, Casa Civil e Transportes dispararam na frente, atropelando acordos e querendo redução da velocidade para 60 km/h - voltando aos padrões ferroviários do século 19.
A esperança do setor é a EPL (Empresa de Planejamento e Logística) montar essa integração, restaurando as funções do extinto GEIPOT. Foram feitas contratações, estão sendo montadas equipes, encomendados trabalhos externos para definir as novas metodologias. Mas só estará operando para valer a partir do ano que vem.
Por isso mesmo, as expectativas do setor são para daqui a três anos, não agora.
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