A canção da desesperança
27 de Fevereiro de 2018, 13:19
Vários compositores fizeram músicas de protesto contra a ditadura militar instaurada no Brasil em 1964, que são lembradas e cantadas até hoje, como a icônica "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", de Geraldo Vandré.
Tinhorão e a Bossa Nova: a matéria que o Estadão não publicou
24 de Fevereiro de 2018, 10:05
Tinhorão, o compositor Monarco, e Elizabeth, no lançamento da
biografia do pesquisador, na Livraria Folha Seca, no Rio, em 2010
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Em fevereiro de 2008 a jornalista Elizabeth Lorenzotti entregou ao Caderno 2, do Estadão, o texto que havia sido encomendado a ela, uma matéria que falava sobre a Bossa Nova, que então completava 50 anos, e sobre o seu crítico mais contundente, o pesquisador José Ramos Tinhorão, que comemorava seu 80º aniversário.
A matéria não foi publicada, tampouco Elizabeth recebeu um centavo pelo seu trabalho. "Me lembro de ter ido lá e perguntado se iriam ou não publicar, mas em qualquer caso, eu estava cobrando o 'frila', porque aceitaram a pauta, combinaram e etc, e o trabalho foi feito", conta a jornalista. "Me deixaram esperando de pé. Eu já tinha trabalhado naquele jornal duas vezes. Não me lembro exatamente, mas parece que o delicado substituto do editor respondeu algo como não iam publicar mesmo e nem pagar (e não deu explicação sobre o veto). Fui até o então diretor de redação, que me conhecia já do lançamento do livro sobre o Suplemento Literário, do mesmo jornal, em 2007. Muito gentil, me pediu para sentar e disse que resolveria tudo. Neste fevereiro completam-se dez anos e ainda não recebi", completa.
Uma matéria de Elizabeth Lorenzotti sobre José Ramos Tinhorão não é uma matéria qualquer. Afinal, ela é uma das pessoas que mais conhecem a obra e a história de vida desse importante personagem da cultura brasileira - é dela o livro "Tinhorão, o Legendário", publicado pela Imprensa Oficial em 2010, esgotado, muito procurado, mas encontrado apenas em sebos. Elizabeth é ainda autora do livro de poesias "As dez Mil Coisas" (Biblos/Amazon, 2011) e do e-book "Jornalismo Século XXI - o modelo @Midianinja" (E-Galaxia, 2014).
Uma década depois da recusa do Caderno 2, e quando Tinhorão completou lúcidos e festejados 90 anos de vida - e a Bossa Nova, 60 anos de canções -, a matéria de Elizabeth finalmente é publicada - ela está na sequência deste texto. A sua leitura, além de servir como introdução à fascinante aventura de vida de um dos mais valorosos guerreiros da cultura nacional, ajuda a compreender como é necessário que o Brasil debata seriamente todos os temas que envolvem o seu cotidiano - como Tinhorão vem fazendo, obsessivamente, durante décadas, na área da cultura e arte populares. (Carlos Motta)
Tinhorão aos 80 anos: “Chega de saudade”
A Bossa Nova completa 50 anos, com festas marcadas para março, nas areias de Copacabana e Ipanema, onde nasceu. E neste fevereiro, seu crítico mais polêmico e devastador, José Ramos Tinhorão, acaba de completar 80. Sem mudar de idéia, radical como sempre, proclama aos bossanovistas, rindo muito: "Chega de saudade! Cinquenta anos de admiração pela música norte-americana! Para com isso rapaziada!"
Para quem não conhece Tinhorão, vituperado à esquerda e à direita durante tantos anos, ou já se esqueceu das histórias que o cercam, é bom lembrar alguns fatos. A famosa apresentação da Bossa Nova no Carnegie Hall foi em 21 de novembro de 1962, mas já em 23 de março daquele ano, na série de matérias sobre a história da música popular brasileira, no Caderno B do "Jornal do Brasil", Tinhorão demolia: “Samba Bossa Nova nasceu como automóvel JK: apenas montado no Brasil.”
“Foi aí que começou o ódio ao Tinhorão”, ele conta.
Artigos como este foram incluídos, em1962, no livro "Música Popular um Tema em Debate", já em quinta edição (Editora 34). “Esses artigos, escritos no calor da hora, são lidos até hoje como história. É o meu livro mais reeditado”, orgulha-se. Também faz parte do livro outro artigo, igualmente devastador, publicado na histórica revista "Senhor", edição abril/maio de 1963 sob o título “Os Pais da Bossa Nova”, com a seguinte abertura:
“Filha de aventuras secretas de apartamento com a música norte-americana – que é, inegavelmente, sua mãe – a bossa nova, no que se refere à paternidade, vive até hoje o mesmo drama de tantas crianças de Copacabana, o bairro em que nasceu: não sabe quem é o pai.”
O artigo provocou grande reação entre os jovens adeptos da bossa. Então, lembra Tinhorão, ”impossibilitados de responder ao principal ponto, um primeiro levantamento das raízes do processo de alienação cultural imposta à música popular, partiram para o lado pessoal”.
Em 1966, em um show produzido por Mieli e Bôscoli, Taiguara atirava longe o livro e dizia: "O livro do Tinhorão dura apenas cinco minutos, a bossa nova já vai fazer dez anos..." Mas tanto um como a outra já alcançaram a posteridade. O jornalista teve muitas de suas matérias escritas para jornais e revistas perenizadas em 22 livros publicados no Brasil, além de outros cinco editados em Lisboa, e hoje é um respeitado historiador da cultura popular urbana.
Tinhorão, conhecida planta ornamental tóxica, não é sobrenome, mas apelido dado por Everardo Gillon, um secretário de redação brincalhão do histórico "Diário Carioca", onde o jornalista se profissionalizou a partir de 1953. O batismo definitivo, em letra impressa, veio do chefe de redação, Pompeu de Souza Brasil, ao assinar a primeira matéria do foca. Esse santista radicado desde a infância no Rio de Janeiro, formado em Direito e em Jornalismo, foi contratado pelo jornal como copydesk (redator) dentro da primeira grande transformação da imprensa brasileira: a introdução do "lead", a abolição do nariz de cera, a padronização dos textos, a implantação do primeiro manual de redação.
Lá ficou até 1958, quando foi convidado para o "Jornal do Brasil", onde trabalhou até 1963 e depois colaborou como crítico entre 1974 e 1982. Estas as críticas que despertaram iras. Uma delas, até, foi imortalizada em letra de música que, Tinhorão presume, tenha se originado do artigo intitulado “O melhor de João Bosco é Aldir Blanc”.
Blanc, com Maurício Tapajós, em “Querelas do Brasil” fala das coisas do Brasil com S que o Brazil com Z desconhece, inclusive as venenosas, mas genuinamente nacionais, entre elas:
“Tinhorão, urutu, sucuri”.
E no verso seguinte cita as aves canoras:
“O Jobim, sabiá, bem-te-vi”.
Tom Jobim, aliás, que, conta a lenda, certa época comprou um vaso de tinhorão, colocado na porta de entrada de sua casa, onde diariamente fazia xixi.
Tinhorão passou pelo "Correio da Manhã", "O Jornal", "Última Hora", TV Globo, revistas "Veja" e "Nova". No fim da década de 70 promoveu uma reviravolta em sua vida: resolveu largar tudo, tornar-se autônomo e viver para escrever seus livros. Foi morar em uma quitinete na Rua Maria Antonia, centro de São Paulo, de 30 metros quadrados, literalmente entupida com seu preciosíssimo acervo, construído ao longo de pelo menos 30 anos.
“Tem aquele folclore de que eu dormia num colchonete na sala. E era verdade. Foi assim que curei minhas dores na coluna” lembra, bem humorado.
Já sem dispor de qualquer centímetro quadrado livre na quitinete, Tinhorão um dia pensou em vender o acervo. Mas no país chamado Brasil, se doar já é difícil, imaginem vender: ninguém queria. Pensou até em colocar à venda, em retalhos, na Avenida São João, mas não teve coragem. Até que, finalmente, obteve êxito com o Instituto Moreira Salles, que hoje abriga o fantástico acervo: 6,5 mil discos 76 e 78 r.p.m. gravados e lançados entre 1902 e 1964; 6 mil discos 33 r.p.m. entre 1960 e 1990, e mais livros, partituras, folhetos, revistas, enfim, documentos raros sobre a música e a cultura popular urbana no Brasil. Muita coisa, ele garante, nem a Biblioteca Nacional tem.
Tinhorão sempre peregrinou pelos sebos. É em um deles, aliás, o Metido a Sebo, na Vila Buarque, que ele passa três vezes por semana e onde costuma encontrar os amigos e dar entrevistas: uma extensão de sua casa.
Ele prossegue: “Os professores querem só o que está dentro da biblioteca da Universidade. Eu ando em sebos há 40 anos, tenho de descobrir muitas coisas. Por isso hoje, muita gente mama na bibliografia do Tinhorão”, reclama.
Embora mestrado em História Social pela USP ("A Imprensa Carnavalesca no Brasil: um Panorama da Linguagem Cômica", Hidra, 2000), o modo de a academia olhar para Tinhorão não mudou: ele é sempre chamado de “jornalista”. Mas a verdade é que se trata de um historiador da cultura popular urbana, que começou sua pesquisa quando a academia não se preocupava com essas questões.
Ele escreve em média um livro a cada dois anos – trabalha com prazer, mesmo aos domingos e feriados – e nos seus 22 publicados no Brasil até agora, contabiliza 2.845 citações de livros, artigos em periódicos e documentos (impressos e manuscritos). “Está tudo documentado. Para me contestar é preciso contar outra história e isso nunca aconteceu.”
Sempre foi fiel ao seu método, o materialismo dialético. Entende que a História é a crônica dos homens no mundo, ou seja, de suas relações com a natureza e com os outros homens. Das relações de produção derivam-se as relações sociais entre os homens que resultarão no sistema capitalista, na divisão em classes. Cada classe tem suas idéias básicas admitidas como boas, ou sua ideologia.
Transportando-se tal princípio para a música, teatro, literatura, etc, esta produção também projetará uma ideologia. Numa sociedade de classes, o que se chama cultura é uma cultura de classes. Que ninguém se engane. Encha-se de esperança ou dispa-se totalmente dela ao adentrar sua obra: esta é a visão que orienta Tinhorão em sua produção intelectual, e está explicada em detalhes na introdução de "Cultura Popular Temas e Questões" (Editora 34).
É esta a visão do mundo que o leva a afirmar: "Se você não produz alta tecnologia, também não pode produzir inovações no campo cultural. Seria uma discrepância: como você é original em cultura e não em tecnologia?"
A emocionante
24 de Fevereiro de 2018, 10:05
Que Chico Buarque é um craque na poesia, poucos discordam. Não fosse um compositor popular, certamente estaria entre os mais celebrados poetas do Brasil. Não é à toa que a sua prosa também é excelente.
Impressiona também, em sua obra, o seu ecletismo. Chico cantou as várias formas do amor, abordou a solidão, foi nostálgico, revelou um lirismo arrebatador que nunca se confundiu com a pieguice. E, quando o país mais precisava, foi um crítico mordaz e implacável dos ditadores de plantão.
Mas algumas de suas canções se superam, por juntarem elementos de todas essas suas facetas de criador genial.
É o caso de "Construção", que dá nome ao LP de 1971, um de seus melhores. Lá estão, além de "Construção, "Deus Lhe Pague" , "Cotidiano", "Desalento", "Cordão", "Olha Maria", "Samba de Orly", "Valsinha", "Minha História" e "Acalanto".
"Construção" é uma espécie de síntese da poética de Chico Buarque. Reúne crítica social, lirismo, rigor técnico, a angústia humana, a inquietação filosófica...
Os versos, ancorados em palavras proparoxítonas, se encaixam perfeitamente numa melodia de poucas células, hipnótica. O arranjo do maestro Rogério Duprat, com os metais estourando, dá o toque final à obra-prima, um caleidoscópio de sensações, um quebra-cabeças cujas peças se encaixam perfeitamente para formar não uma, mas várias figuras.
"Construção", lançada há quase meio século, segue atual, instigante e provocadora. E evoca um personagem que, vergonha das vergonhas, ainda existe aos milhões neste pobre Brasil.
No vídeo, o argentino Fito Páez a interpreta num show no México, desafinando algumas vezes, mas prestando um emocionado tributo a Chico Buarque, um dos maiores compositores populares não só do Brasil, mas de todo o mundo.
https://www.youtube.com/watch?v=lQJfzGJ6L9A
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Uma canção para o Brasil
24 de Fevereiro de 2018, 10:05
A canção "Bella Ciao" é o hino mundial antifascista, conhecida por todos os que desejam a liberdade, em qualquer parte do mundo. Há várias versões sobre o seu nascimento. Uma delas diz que era o canto das trabalhadoras rurais temporárias italianas, as "boias-frias" de lá, no fim do século XIX. Já modificada, serviu como protesto contra a Primeira Guerra Mundial e depois foi usada foi como um símbolo dos "partigiani", os guerrilheiros do movimento de resistência ao fascismo, na Segunda Guerra Mundial. Desde então, dá para dizer que "Bella Ciao" esteve presente em todos os movimentos a favor da democracia ocorridos no século passado e neste século 21.
É uma canção simples, com versos igualmente simples, mas comoventes - versos que evocam o sacrifício que muitas vezes os seres humanos são obrigados a fazer para se verem livres da opressão.
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
Questa mattina mi son alzato,
ed ho trovato l'invasor.
O partigiano, portami via,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
O partigiano, portami via,
che mi sento di morir.
E se io muoio da partigiano,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E se io muoio da partigiano,
tu mi devi seppellir.
E seppellire lassù in montagna,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E seppellire lassù in montagna,
sotto l'ombra di un bel fior.
E le genti che passeranno,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E le genti che passeranno,
Mi diranno «Che bel fior!»
«È questo il fiore del partigiano»,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
«È questo il fiore del partigiano,
morto per la libertà!»
(Acordei de manhã
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
Acordei de manhã
E deparei-me com o invasor
Ó partisan, leva-me embora
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
Ó partisan, leva-me embora
Porque sinto a morte a chegar.
E se eu morrer como partisan
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E se eu morrer como partisan
Tu deves sepultar-me
E sepultar-me na montanha
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E sepultar-me na montanha
Sob a sombra de uma linda flor
E as pessoas que passarem
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E as pessoas que passarem
Irão dizer-me: «Que flor tão linda!»
É esta a flor
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
É esta a flor do partisan
Que morreu pela liberdade)
A ditadura militar tira as máscaras
19 de Fevereiro de 2018, 8:49- Pois é, Camaradas, a derradeira ditadura militar voltou.
- Sim, sim, e com ela a repressão, prisões e torturas.
- Pois é, a direita não sabe agir de outro jeito.
- Claro. E isso demanda um outro comportamento de nossa parte. Precisamos zelar por nossa segurança pessoal, dos companheiros e do povo.
- Não há duvidas. Teremos que ir para uma semi-clandestinidade, pelo menos.
- Clandestinidade não seria o termo correto, pois clandestino é quem toma o poder e se vale da violência para mantê-lo.
- Sim, isso mesmo. Só me referi a um termo muito usado pelas gerações anteriores que lutaram contra as ditaduras.
- Entendo. Mas agora a questão é que teremos que ter mais cuidado e passar a nos encontrar ao vivo. Esta será a nossa forma de comunicação nestes tempos cabeludos. O famoso ponto. Ok?
- Beleza. Entendido. Me passa o teu zap pra marcamos nosso primeiro ponto?
Apiiiita o juiz, fecham-se as cortinas...
Solidariedade ao Rio de Janeiro; xô, vampirão!
19 de Fevereiro de 2018, 8:37
Depois de um inédito carnaval repleto de manifestações contrárias ao governo federal, o temeroso ocupante da Presidência da República determinou uma intervenção federal no Rio de Janeiro – com total aquiescência do governador “Pé de Vírgula”.
Nos últimos tempos, o temeroso pôde conspirar contra a Presidenta eleita, aplicar o plano econômico defendido pela coligação derrotada nas eleições, empossar como Ministro da Justiça e, posteriormente, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, um advogado supostamente aliado à organização criminosa PCC, e, ainda, sugerir a compra de um político encarcerado, cujas articulações foram decisivas para o intento golpista de ascensão ao Poder Executivo Federal.
Após o ápice das manifestações populares carnavalescas contrárias aos ditames do golpista, ocorridas nesta semana, particularmente em terras fluminenses, eis que ele reage de forma rabugenta e vingativa, impondo o comando do Exército sobre a segurança pública no Rio de Janeiro.
Diante disso, é necessária a ampliação das manifestações de resistência contra o “vampirão” e os artifícios jurídicos utilizados por ele, cujos efeitos poderão promover o extermínio das parcelas menos abastadas da população, devido ao aumento da miséria e da violência.
A comunicação e a revolução
17 de Fevereiro de 2018, 23:09- Precisamos deixar as redes digitais e ir para a ação de rua, mobilização e organização da base.
- Concordo plenamente, camarada! Nas redes é só chorume, ninguém houve ninguém.
- Pois é, não tem o olho-no-olho. Além disso, nos expomos muito, facilitando o cruzamento de dados por parte de quem nos vigia.
- É. É isso aí. Já desativei minha conta no telegram.
- Legal. E as contas do face, zapzap, insta, etc?
- Aí fica difícil. Como a gente vai se comunicar?
Fecham-se as cortinas. Apagam-se as luzes. O povo levanta e vai pra casa. Afinal, amanhã vai ser outro dia de trabalho e a vida não está fácil pra ninguém.
Horário de verão determina no domingo 18/02
15 de Fevereiro de 2018, 10:48Horário de verão termina às 00:00h deste domingo, 18/02
Moradores de 10 estados e DF devem atrasar o relógio em 1 hora, ou seja, de meia noite para 23h!
Mesmo localidades como Curitiba, que não tiveram verão até o momento, precisam atrasar seus relógios...
A mídia, a educação e os golpes nos povos do mundo
14 de Fevereiro de 2018, 9:24Por João Escosteguy Filho, professor do IFRJ, Campus Pinheiral.
Em janeiro de 2018, o SEB comprou o AZ (colégio e curso pré-vestibular do Rio de Janeiro) por 45 milhões de reais.
SEB, ou Sistema Educacional Brasileiro, detinha o antigo COC (Colégio Oswaldo Cruz), um gigante do setor privado da educação nascido em 1986, em São Paulo, e vendido em 2011 para a Pearson PLC.
A Pearson PLC é uma multinacional com sede em Londres, criada em 1844 e que, dentre outras, é dona do Financial Times e de metade do The Economist.
Em 2009, a The Economist afirmou, em artigo, que a "má qualidade da educação brasileira" é o grande fator de entrave para o desenvolvimento do país.
A mesma revista, em 2012, colocou o Brasil em penúltimo lugar em educação num ranking de 40 nações. Esse estudo foi encomendado pela... Pearson PLC.
A mesma que comprou o COC, que era da SEB, que comprou o AZ.
A mesma que é dona de metade da... The Economist.
Liguem os pontos.
Vamos para outro lado da questão:
O fundador da SEB, que vendeu parte imensa da empresa para a Pearson PLC, se chama Chaim Zaher.
Chaim Zaher é amigo pessoal do ministro da Educação, Mendonça Filho, e também da secretária executiva do MEC, segunda em comando, Maria Helena Guimarães de Castro.
Chaim Zaher sugeriu a Mendonça Filho levar o Prouni e o Fies ao ensino secundário. No qual o SEB é um gigante.
Mendonça Filho, nosso ministro, já afirmou que o Ensino Médio brasileiro precisa de "mudanças urgentes".
Maria Helena Guimarães de Castro, segunda em comando, já afirmou que custeio das universidades públicas é insustentável. E que é preciso sintonizar o Brasil com o resto do mundo (desconfio do que isso significa...)
Para Maria Helena, o fundador do SEB, Chaim Zaher (aliás, seu amigo pessoal de mais de 25 anos), é um sujeito dedicado, inteligente, batalhador e "tem feito um trabalho muito importante na educação".
O SEB também tem universidades privadas. O Pearson PLC, idem.
Liguem os pontos.
Vamos avançando.
A Pearson PLC também comprou, em 2013, a Wizard, o Yázigi e o Skill (todos os três cursinhos de inglês). E também era dona, até 2017, da Microlins e da SOS computadores (cursos profissionalizantes).
O Novo Ensino Médio tornou inglês disciplina obrigatória. E tornou a educação profissionalizante um "itinerário formativo" nos moldes da profissionalização das décadas passadas (isto é, descolada de qualquer concepção integral de ensino).
Pelo modelo do MEC, quem faz ensino profissionalizante não faz Enem. Ou faz com muito mais dificuldade.
Basta ligar os pontos.
Adiante:
A relação SEB-Pearson PLC é só a face mais recente de um processo mais amplo.
Desde 2011, já haviam sido vendidos o pH, o Pensi e o Elite. Todos cursos-colégios do Rio de Janeiro. Rede privada.
O pH foi comprado pela Abril Educação. Que depois se tornou o grupo Somos Educação. Que também é dono do sistema Anglo, da rede ETB (escolas técnicas do Brasil), e também das editoras Ática, Scipione e Saraiva. Essas editoras fazem livros didáticos.
A venda de livros no Brasil representou, em 2017, algo em torno de 5,2 bilhões de reais. Metade desse valor foi de livros didáticos e compras pelo governo.
Os livros didáticos precisam seguir orientações do MEC. Que promoveu a Base Nacional Comum Curricular, o Novo Ensino Médio e reformulou o Enem, alterando, com isso, a dinâmica desse mercado editorial.
Liguem os pontos.
A Abril Educação, como o nome indica, é parte da Editora Abril.
A Abril não apenas publica o Guia do Estudante (que inclusive faz rankings de universidades), mas também as revistas Exame, Veja, e Você S/A.
Todas as três são grandes defensoras da privatização da educação. Todas as três louvam o mundo empresarial da educação, formado, dentre outros, pelo Somos, pelo SEB e por demais conglomerados.
Os pontos, aqui, já viraram uma estrada.
Vamos que vamos:
O Pensi e o Elite foram comprados pelo grupo Eleva.
O Eleva é parte de um fundo de capital chamado Gera Venture. Esse fundo tem como principal investidor (isto é, na prática, o big boss) o banqueiro Jorge Paulo Lemann.
Lemann é apenas o homem mais rico do Brasil. Dono de uns 20 bilhões de dólares.
É também dono da Heinz, do Burguer King, da Budweiser, dentre outras.
Para inúmeras publicações, o Eleva é dono de algumas das "melhores escolas do país".
Por que melhores? Porque estão entre os melhores colocados no ranking do Enem.
Para nossa mídia, estar bem colocado no ranking do Enem é sinal de sucesso educacional.
O Pensi e o Elite ficam normalmente entre as primeiras colocações no Rio de Janeiro no ranking do Enem.
O Pensi e o Elite, dentre outros, forjam seus resultados no ranking do Enem reunindo "elites" de alunos que só entram nas redes a partir do último ano do Ensino Médio.
A mídia hegemônica costuma achar que isso, porém, é sinal de sucesso. E deseja esse modelo para o Brasil.
Liguem os pontos.
Quase finalizando:
Isso que descrevi acima não contempla nem perto de tudo que rola nesse mundo.
Nem mencionei, por exemplo, o Kroton, maior grupo educacional do mundo (do MUNDO).
Vocês não acham bizarro que o Brasil, sempre extremamente criticado pela sua educação, sempre extremamente criticado nos rankings educacionais internacionais, seja o lar da maior empresa privada de educação DO MUNDO?
O Kroton foi fundado em Belo Horizonte. E já tentou comprar a Estácio de Sá e o próprio SEB. Ambos os negócio só não foram pra frente porque o CADE, à época, embarreirou.
Liguem os pontos!
Concluindo:
Enquanto as principais discussões educacionais giram em torno do "Escola sem Partido" e congêneres (e são discussões, de fato, fundamentais), esse movimento de gigantes vem, nos últimos 10 anos, promovendo uma nova face do imperialismo e do privatismo na educação.
Sim: é preciso recuperar o conceito de imperialismo.
Não se trata apenas de negócios. Se trata, também, de uma profunda alteração nos sentidos da educação pública no país.
80% dos alunos do Brasil pertencem às redes públicas.
Esse negócio bilionário não está aqui apenas para alcançar os demais 20%.
Porque, não se enganem, a menina dos olhos de todos esses grupos é a rede pública mais robusta. Especialmente universidades estaduais e federais, IF, Faetec e similares etc.
Prestemos atenção à UERJ. Ali é um grande laboratório do desmonte que será seguido por ataques desses grupos.
A grande batalha da próxima década na educação será contra o privatismo.
Impossível entender qualquer discussão sobre educação no Brasil, hoje, sem levar em conta esse gigantesco movimento de bastidores.
(Não coloquei links para as informações para não sobrecarregar o texto de referências. Mas basta uma pesquisada na rede para confirmar todos os dados aí.)
EDIT: Dois outros aspectos que, acho, merecem ser mencionados.
1) Esse mega-movimento do mercado educacional não seria possível sem o acompanhamento da construção de um consenso que elogia, defende, valoriza esse movimento. Quanto mais defendermos, em escolas públicas, essa lógica como a "correta", mais estaremos oferecendo ao carrasco não só nosso pescoço, mas o pescoço de uma concepção verdadeiramente libertária de educação.
Em outras palavras: o que movimenta esse mercado é também um consenso (cuja construção depende muito também da mídia hegemônica) que permite a naturalização do absurdo. Quando o absurdo fica naturalizado, seu combate se torna bem mais difícil.
2) Como construir, então, uma alternativa? Uma visão contra-consensual? Contra-hegemônica? Certamente NÃO SERÁ a partir de uma visão progressista muito forte hoje, que defende, dentre outras coisas, questões culturais isoladas do contexto sócio-econômico.
Digo isso pois, apesar de entender a imensa importância desse viés mais culturalista, entendo que essa lógica educacional privatista tem suficiente espaço para acomodar esse elemento de crítica cultural.
Não podemos esquecer um dado fundamental: UM DOS PRIMEIROS ALVOS DO ESCOLA SEM PARTIDO, MAIS DE 10 ANOS ATRÁS, FOI, JUSTAMENTE, O SISTEMA COC. As apostilas eram consideradas muito esquerdistas. Outro alvo do escola sem partido foi o SISTEMA ANGLO, a partir da atuação de um professor que foi mega perseguido por ser muito "petralha" em sala.
Estou falando de DEZ-DOZE ANOS ATRÁS.
A luta contra os retrocessos mais culturais (como o Escola sem Partido) precisa vir acompanhada da luta contra esse imperialismo privatista. Senão vamos apenas trocar a frigideira pelo forno.
EDIT 2: Leonardo Custodio de Jesus me alertou que a Pearson já vendeu a Microlins e a SOS. Mas isso não muda nada do que escrevi, porque: 1) Essa venda se deu após todo o processo que descrevi (a transação se deu em meados de 2017; as fontes que vi eram anteriores a isso); 2) A interpretação geral ainda se sustenta, já que o grupo Prepara, que comprou essa fatia, está na mesma lógica. Mas agradeço, Leo, a indicação! Incorporei no texto.
EDIT 3: Fiz algumas mudanças pontuais no texto para corrigir questões pontuais de interpretação (SEB e COC, por exemplo, não são a mesma coisa; o COC era parte do SEB, que é, portanto, maior que o COC). O significado e a interpretação geral, porém, continuam os mesmos.
EDIT 4: Fui convidado a ampliar o texto para publicação em um grupo. Aproveitei para incorporar mais alguns aspectos que vasculhei pela rede.
Para ficar em uma: o Somos, dono do pH, pertence ao fundo Tarpon.
Um dos sócios do fundo Tarpon (e presidente do Somos), Eduardo Mufarej, é também fundador do movimento Renova Brasil.
O movimento Renova Brasil é, atualmente, o grande articulador da campanha do Luciano Huck à presidência... Esse buraco é bem fundo mesmo.