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A Entrevista de JB a Roberto D’Avila e as contradições entre discurso e prática

23 de Março de 2014, 6:49 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Curiosa esta entrevista de Joaquim Barbosa a Roberto D’Avila. O autorretrato que JB faz não condiz com sua prática. Curiosa também a escolha da personalidade política para estrear o programa de entrevistas da Globo.

O ministro afirma que preza a separação dos três poderes e está correto nisso, é gravíssimo quando Judiciário decide intervir no Congresso cassando um mandato, um risco imenso para a Democracia. Mas quando Joaquim Barbosa reduz a política ao moralismo, execra figuras públicas de trajetórias importantes, condena sem provas, amplia o discurso danoso para a conscientização política ele joga por terra seu próprio argumento.

Joaquim também critica o apedrejamento da vida pública, corretíssimo. Mas no início da conversa sobre o mensalão parece que Joaquim Barbosa fala de outra pessoa e não dele próprio, ele diz: foi um processo com uma “carga política intensa”, “turbinado pela mídia”. Usa exatamente essas expressões.  Mas, oh! Wait! quem foi o grande maestro do maior apedrejamento de figuras públicas durante o julgamento midiatizado da AP470? Quem foi que contribuiu para que os já despolizados repitam bordões como ‘político é tudo igual, são todos corruptos’? Quem se tornou o queridinho da mídia de uma hora para outra porque estava julgando petistas?

Joaquim Barbosa fala do desgaste físico e mental dele próprio durante o julgamento da AP 470, sobre as longas horas gastas para convencer os demais sobre o que ele sabia mais que os demais.  E o desgaste, físico, mental, psicológico dos presos políticos que form expostos a execração pública pelo relator que inclusive riu e fez piadas sobre os réus durante o julgamento? A completa ausência de qualquer respeito pelos réus talvez isso explique o descaso com que se deu a prisão daquele que sequer deveria ir preso, como o Genoino.  

O ministro afirma que as penas foram leves e convida os que criticam o rigor dele a examinar as penas aplicadas pelo STF aos cidadãos comuns, mas critica seus pares por dar habeas corpus para criminosos. Não há como não lembrar dos assassinos de irmã Dorothy, em Daniel Dantas que foram soltos pelo STF…

Joaquim Barbosa não se vitimiza quando o foco é sua origem pobre. Ele afirma que as coisas foram acontecendo ‘naturalmente’ com ele: estudar na UNB, na Sorbonne, Columbia e outras universidades de prestígio. Reconhece que raros sãos os que tem esta oportunidade sejam pobres ou ricos e a aproveitam. Quanto ao racismo ele é direto: “racismo se sente sempre“.

A propósito ontem fiz um post sobre isso, afirmando que embora Joaquim Barbosa pertença à classe social mais privilegiada do país, não há como não ser alvo do racismo em país racista. E impressiona como gente ilustrada não consegue perceber o racismo de que ele é alvo. Na entrevista ele cita a ação contra Noblat.

O ministro cita Nabuco com propriedade e complementa: “Mente, é falta de honestidade intelectual dizer que o Brasil se livrou dessas marcas (da escravidão) elas estão presentes nas coisas mais comezinhas da nossa vida social. Basta você dar uma volta nos corredores do Supremo ou de qualquer outra repartição pública, você vai perceber a repartição de papéis (sociais) e o salário corresponde aos negros, os salários mais baixos”.

Barbosa chama a atenção para aquilo que todo racista de qualquer espectro ideológico nega, e por vezes faz uso até de Barbosa, (exemplo de uma completa exceção na realidade brasileira) como exemplo: “À medida que as profissões vão aumentando de importância, os negros vão rareando” e quando é citado como exemplo para anular a sua afirmação ele reforça: “sou exemplo único, uma exceção e jamais permiti que usasse a minha presença aqui como exculpatória para o racismo brasileiro.“ 

O único ministro negro na história do Supremo tem toda a razão, ele não deve nunca ser usado como desculpas para os que negam o racismo à brasileira. Mas não menciona que mesmo com seu currículo invejável, sua formação nas melhores universidades ele pôde quebrar a cadeia invisível do racismo também por uma escolha do presidente Lula que ao meu ver se mostrou o presidente mais sensível ao combate ao racismo no país.

Ao falar de Lula, Joaquim Barbosa diz que recusou várias vezes convites do presidente para acompanhá-lo em suas viagens à África. Segundo Barbosa isso não era comum no Supremo (talvez porque o Supremo antes do presidente Lula nunca viu o rosto de um negro como Ministro), o outro motivo alegado é por ele é de que isso era estratégia de Lula para fazer marketing. Acho que Barbosa aqui faz alusões que não pode provar e desconhece o compromisso de Lula com o combate ao racismo. A primeira lei sancionada por Lula assim que assumiu seu primeiro mandato foi a 10639/03, fruto de uma luta histórica que estava há dez anos no Congresso. O governo Lula estabeleceu 10 políticas públicas voltadas pra educação da população negra e foi o governo que mais se aproximou do continente africano estabelecendo relações positivas entre estados africanos e o Brasil. O governo brasileiro montou fábrica de AZT em Moçambique, tem inúmeros projetos relacionados à saúde e a segurança alimentar em diferentes países do continente com apoio do Ministério da Saúde e Embrapa. Barbosa se contradiz quando confessa que ficou chateado a não ser convidado por Dilma pra ir ao enterro de Mandela. Por mais que tenha sido deselegante por parte da presidenta Dilma não formular o convite, diante de tantas recusas que ele mesmo afirmou durante o governo Lula e após seu comportamento enviesado durante o julgamento da AP 470, creio eu que Barbosa deu justificativas para o comportamento da presidenta. 

É curioso que Barbosa admire Getúlio e Napoleão como estadistas, embora saiba que ambos durante um período governaram em regime de exceção, expressa sua admiração a Napoleão e faz reservas a Getúlio e aos que o admiram por ser ditador.

Enfim, não dá para passar 50 minutos sem expor suas contradições e elas estão visíveis nesta entrevista. É inegável a formação sólida de Barbosa, mas ela não foi capaz de evitar em Barbosa, uma série de estereótipos sobre o país e o que acho mais danoso no discurso e postura de Barbosa, seu reducionismo da política ao campo moral.

Vale a pena assisti-la. Vídeo aqui.

Joaquim Barbosa descarta candidatura nas eleições de 2014

Presidente do STF admitiu, no entanto, que pode disputar no futuro.
Barbosa foi entrevistado pelo jornalista Roberto D’Avila, da GloboNews.

Do G1, em São Paulo

23/03/2014

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa descartou que será candidato nas eleições de 2014, em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, que estreou na madrugada deste domingo (23) um programa semanal na GloboNews.

“Por enquanto, não”, disse o ministro ao entrevistador, acrescentando que deve ficar no Supremo até novembro deste ano.

“Recebo inúmeras manifestações de carinho, pedidos de cidadãos comuns para que me lance nessa briga, mas não me emocionei com essa ideia”, relatou Barbosa.

O ministro, no entanto, admitiu que pode lançar candidatura no futuro. “Eu disse recentemente em uma entrevista que não descartava a hipótese de me lançar na vida política, mas não para essas eleições de 2014”.

A entrevista de 48 minutos foi pontuada ainda pelos mais diversos temas, desde a infância em Paracatu (MG), o dia a dia da época em que morou na França, onde fez seu doutorado, até questões recentes como corrupção, eleições, racismo e mensalão.

A popularidade de Barbosa cresceu após sua atuação no julgamento do mensalão, no qual foi relator. O nome do ministro chegou a aparecer em algumas pesquisas de opinião para as eleições do ano que vem para presidente.


Fonte: http://mariafro.com/2014/03/23/42948/

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