Qual é a lógica dos que defendem a justiça pelas próprias mãos?
23 de Fevereiro de 2014, 17:17 - sem comentários aindaNo caso Carandiru e afins, ‘sheherazades’ devem ser o alvo
Por Bruno Paes Manso, em seu blog São Paulo no Divã
Há 22 anos, em 1992, quando 111 presos foram executados no Massacre do Carandiru, 60% dos paulistanos na época aplaudiram a ação da Polícia Militar no presídio paulista. Como tem ficado evidente nas discussões acaloradas envolvendo temas correlatos nos dias de hoje, intervenções criminosas da PM ainda recebem o apoio de parte da população.
Para aqueles que acompanham os debates sobre os direitos humanos, a expectativa, ao longo dos anos que se passaram, era de que a consolidação da democracia no Brasil pudesse produzir instituições com legitimidade para ampliar o respeito às leis e ao Estado de direito. Não foi bem isso o que aconteceu, como vemos diariamente. O que não significa que a batalha esteja perdida.
Ocorre, no entanto, que muitas vezes, a conversa sobre o tema costuma se restringir a grupos que compartilham as mesmas opiniões. Ficamos chocados com a opinião de Sheherazade e tendemos a atacá-la e processá-la – o que pode ser legítimo. O problema, porém, é que o debate depende justamente de convencermos esse lado que costumamos criticar com uma pitada de arrogância – os milhares que afirmam que Sheherazade e suas opiniões os representam.
Pode parecer utópico, mas de que adianta ganhar os convertidos, aqueles que já defendem o respeito aos direitos humanos? São pessoas fundamentais na luta política pelo controle aos abusos e desvios das autoridades. Mas a conversa com os que apoiam os crimes do Estado também deve ser desenrolada. É preciso “esticar o chiclete” e insistir nesse debate. Afinal, caro leitor, quantos na sua família, no seu prédio, no seu trabalho, na sua time line, acreditam que “a turma dos direitos humanos defende o direito dos bandidos”? Provavelmente muitos, assim como eu também conheço. Pessoas com quem tomo cerveja e tenho relações de amizade. O que dizer para elas?
Primeiro, acho que vale tentar compreender a lógica do raciocínio dos que defendem a legitimidade da justiça pelas próprias mãos. A partir de tudo o que ouvi e leio, esse senso comum parece crer que o assassinato de um suspeito ou de um bandido é um tipo de ação capaz de deixar o mundo mais seguro.
Nas matérias que tenho escrito no blog, os comentário que defendem ações de extermínio deixam isso claro: “menos um”. Nessa matemática macabra, quanto mais a PM matasse, menos bandido haveria na cidade. É como se o extermínio, num processo mágico, ajudasse a diminuir os riscos. Claro que, somado a isso, parece existir um desejo selvagem de vingança contra aqueles que escolheram a carreira criminal para conseguir seu sustento. Uma espécie de instinto de sobrevivência que existe em todos os animais, que aflora quando atacados.
Eu compreendo esses sentimentos. E luto contra meus instintos quando eles aparecem. Eu me lembro das sucessivas crises de choro, que tinha no meio da rua, nos dias que se seguiram ao assassinato do menino João Hélio, arrastado pelo cinto de segurança depois de um assalto. Meu filho tinha mais ou menos a idade dele e aquilo me desestabilizou emocionalmente. Isso para não citar casos pessoais. Eu juro que entendo essa raiva e a sensação de impotência diante de algumas barbaridades que testemunhamos.
Mas o processo civilizatório vem transcorrendo lentamente ao longo desses milhares de ano em que o homem está na terra justamente para que a gente aprenda a controlar nossos instintos. Foi assim que deixamos a selva, paramos de comer alimento cru e começamos a usar talheres. E se todas essas raivas e medos que atiçam nossos instintos podem justificar a violência dos animais, não serve para explicar o comportamentos dos humanos. Ora, nós moramos em cidades, usamos celular, mandamos torpedos, gravamos vídeos no Youtube porque aprendemos a controlar os instintos.
Tenho plena convicção de que eu, Sheherazade e seus asseclas sonhamos com mundo parecidos. Queremos poder andar em paz na rua, criarmos nossas famílias tranquilamente. Mas esse grupo que defende a justiça privada se engana quando acha que o extermínio e os abusos de autoridades pode ser o caminho.
Um ladrão morto pela polícia não é um bandido a menos. São novos monstros e assombrações a puxarem nosso pé, que se multiplicam e se moldam justamente a partir de todas as distorções que acabamos produzindo.
Deixando as questões abstratas de lado, o Massacre do Carandiru é um exemplo concreto de alguns dos efeitos provocados pelos equívocos de nossas polícias e do sistema judiciário, pelos nossos medos e sede de vingança. Passados 22 anos, juntando as peças do quebra-cabeça, pode-se ver que os tiros que disparamos saíram pela culatra.
Para começar, a existência do Primeiro Comando da Capital, por exemplo, deve ser pensado a partir do Massacre. A facção passou a se estruturar em 1993, em Taubaté, poucos meses depois dos 111 mortos, justamente para lidar com esses abusos extraoficiais de nossas autoridades. A ideia dos fundadores era criar uma organização capaz de lidar com os interesses daqueles que optavam pela carreira criminal e dos seus familiares.
Abandonados à própria sorte nas prisões, descrentes das instituições e das possibilidades de uma nova vida regenerada, se fortalecer no crime e ficar longe do Estado virou uma meta a ser alcançada entre os que optam pelo crime.
A legitimidade do PCC ficou maior na proporção em que cresceu os abusos das autoridades. A truculência policial fortalece o crime, a raiva e o descrédito frente ao Estado e às autoridades, ao passo que os criminosos se tornam mais confiáveis. É como se esse apagão na concessão de direitos produzisse sombras de resistência ao Estado, cuja imagem passa a ser associada à crueldade e às injustiças. A imagem do Estado, com razão, vira a de uma espécie de pai canalha, que gasta o dinheiro da família com jogo, pinga, mulheres e espanca os filhos em casa. Essa autoridade passa a ser negada e surgem as autoridades paralelas.
Com a facção estruturada, aumentou também o cacife para pagar propinas e aliciar policiais, que cada vez mais passaram a entrar na atividade criminal. A carreira no crime, antes quase artesanal, hoje está mais sofisticada e não é a toa que os roubos e demais crimes contra o patrimônio não param de crescer. A indústria está azeitada, com a conivência de uma banda podre das polícias. Dar menos direitos aos que são suspeitos de crime significa conceder super-direitos aos policiais. Esses super-homens podem se tornar incontroláveis e voltarem-se contra nós mesmos, simples mortais.
Para concluir e não me estender demais em um assunto que demanda várias conversas, sim, eu também quero um mundo melhor e mais seguro, com menos crime. Mas a justiça privada é a lei da selva. O extermínio não vai eliminar o perigo, mas multiplica-lo e transformar nossa cidade no palco de uma batalha de todos contra todos, onde o dono da maior arma, detentor do apetite mais voraz, vai sobreviver. Não creio que é esse o mundo do sonho de Sheherazes e daqueles que ela representa. Será que esses meus argumentos fariam sentido para eles? Será que a induziria Sheherazade a pregar o respeito aos direitos humanos no SBT?
JÚRI DO CARANDIRU
Ontem, a terceira fase do julgamento do Massacre do Carandiru foi interrompida. Nos dois primeiros julgamentos, ocorridos no ano passado, os policiais foram condenados. Mas ainda aguardam recursos em liberdade. Na tarde de ontem, o ilustre advogado dos policiais, Celso Vendramini, também ex-policial militar, abandonou o plenário acusando o juiz do caso de ser parcial.
Vendramini é performático. Se apresenta dando seu cartão de visitas: “me ligue se um dia matar alguém”. No ano passado, no julgamento dos quatro policiais que foram filmados e acusados de executar uma pessoa dentro da viatura da PM em Campo Limpo (imagens passadas no Fantástico), o advogado já havia estrilado no Júri e conseguiu adiar o julgamento, que corria visivelmente desfavorável aos seus clientes.
Não posso dizer que seu novo estouro tenha sido de má-fé. Talvez ele realmente tenha se sentido injustiçado. Quem sou eu para dizer? Mas e a Justiça? Pode simplesmente aceitar uma acusação grave como essa feita pelo advogado e adiar um Júri que já havia demorado 22 anos? Integrantes da PM já vem sendo acusados de dissimular execuções para evitarem condenações. E se agora os advogados simularem ataques de cólera para adiar os julgamentos desfavoráveis? Qual o antídoto para isso? A Justiça deve simplesmente engolir?
Ontem, em nota Maria Laura Canineu, diretora no Brasil da Human Rights Watch, se manifestou sobre o tema:
“O julgamento do caso Carandiru representa um marco na luta contra a impunidade no Brasil e a suspensão dos trabalhos relativos à terceira fase do processo — mais de 20 anos após as mortes — pode ameaçar os resultados obtidos até o momento. A Human Rights Watch acompanhou o Júri do Carandiru no primeiro e segundo dias da sua terceira fase e se surpreendeu com a notícia do cancelamento dos trabalhos em razão de suposta parcialidade do magistrado. O direito ao devido processo legal deve ser respeitado sempre e isso requer juízes rigorosamente imparciais e representação legal competente para os réus. Em nossa avaliação, não houve favorecimento à acusação, tendo tido a defesa plena oportunidade para atuar, questionando as testemunhas com liberdade e total respaldo dos presentes.”
*Bruno Paes Manso: Formado em economia (USP) e jornalismo (PUC-SP), trabalhou por dez anos como repórter no jornal O Estado de S. Paulo. Também atuou na Revista Veja, Folha da Tarde e Folha de S. Paulo. Atualmente faz pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da USP. Concluiu o mestrado e doutorado no departamento de ciências políticas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou o crescimento e a queda dos homicídios em São Paulo. É autor do livro O Homem X – Uma reportagem sobre a alma do assassino em SP, que ganhou o Premio Vladimir Herzog de melhor livro reportagem de 2006.
Aécio que defende Azeredo Mensalão Tucano é vaiado em Alagoas
23 de Fevereiro de 2014, 11:22 - sem comentários ainda“ Ética e eficiência precisam caminhar juntas. Essa é a cara do PSDB” diz Aécio Neves que também diz que é um “homem de bem” o deputado Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB, para qual o Procurador Geral da República pediu 22 anos de prisão pelo crime de Mensalão Tucano.
Aécio Neves, membro do PSDB, partido que governa São Paulo deste sempre, envolvido no maior escândalo de corrupção da história do país com o desvio de 1 bilhão dos cofres públicos em propina para empresas que fazem manutenção do metrô, conhecido como o “trensalão tucano ou propinoduto tucano”.
Aécio Neves colega de partido do governador Geraldo Alckmin, o governador da política de repressão sobre manifestações e de desocupações violentas como Pinheirinho.
Aécio Neves, amigo pessoal e político da família Perrela processados por enriquecimento ilícito, o senador Zezé Perrella (PDT-MG) e seu filho, deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG) e defendidos nada mais nada menos pelo filho do Presidente do Tribunal de Justiça, envolvidos ainda no inexplicável caso de meia tonelada de cocaína ‘sem dono’, apreendida pela polícia federal na fazenda do senador Perrela dentro do helicóptero do filho deputado Perrela pilotado por um funcionário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Será que foi por isso que o candidato da “Ética e eficiência tucanas” foi vaiado num bloco de carnaval em alagoano?
Vilela e Aécio Neves são vaiados em desfile do Pinto da Madrugada
Do Repórter Alagoas, via Alagoas na Net
23/02/2014
Presidenciável foi vaiado por foliões alagoano (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)
Como parte da estratégia dos tucanos para popularizar o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB/MG), ele esteve na capital alagoana no sábado (22) para o desfile do Pinto da Madrugada, bloco que abre as prévias do Carnaval em Alagoas. Ele sai uma semana antes do Galo da Madrugada, no Recife (PE).
Após a entrevista com a imprensa, Aécio e o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) foram vaiados pela multidão, ao serem anunciados pela locução do Pinto da Madrugada. Ambos foram empurrados pelos seguranças, para evitar a exposição.
Na entrevista, Aécio comentou a queda da presidente Dilma Rousseff na pesquisa Ibope. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (22) pelo site do jornal “Folha de S.Paulo” indica que a presidente Dilma Rousseff teria 47% dos votos e venceria no primeiro turno caso a eleição fosse hoje e ela tivesse como adversários o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Nesse cenário, Aécio teria 17% e Campos 12%. Votos em branco ou nulos seriam a opção de 18% e outros 6% responderam que não saberiam em quem votar.
O Datafolha entrevistou 2.614 pessoas em 161 municípios na quarta (19) e quinta (20), com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
- Ruim para Dilma, ruim para Governo. Estamos vivendo o final de um ciclo no Brasil. Eu acredito que a cada dia que passa há uma percepção clara que é preciso uma coisa nova, ética e eficiência precisam caminhar juntas. Essa é a cara do PSDB. Pelo menos do PSDB que eu represento, disse.
Segundo Aécio, os tucanos não estão preocupados com a entrada do mensalão na campanha. Esta semana, o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB) renunciou. Segundo o Ministério Público, Azeredo integrou um esquema de desvio de verbas públicas em 1998, quando era governador de Minas, para bancar sua candidatura à reeleição:
- Tem certeza que o PT quer puxar este debate [do mensalão]? Eu não acredito. Mais uma vez: o PSDB acha que quando houver uma denúncia que deve ser investigada, que seja investigada e os acusados possam se defender. E que decisão judicial seja cumprida. Não existem mais presos políticos. Há políticos presos.
Aécio teve uma conversa com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Disse que o encontro entre ambos ajuda a ter “alianças muito sólidas e naturais” entre PSDB e PSB:
- O PSB, presidido por Eduardo, e o PSDB, presidido por mim, têm alianças muito sólidas e naturais em boa parte dos estados brasileiros, e não vamos trabalhar contra essas alianças no plano nacional nessas eleições, mesmo tendo o PSB uma candidatura e o PSDB outra candidatura. Vamos permitir que as coisas naturais continuem acontecendo, disse.
A conta da violência em SP é de Alckmin, mas o governo federal não pode ser omisso diante da brutal violência que cerceia o direito de ir e vir
23 de Fevereiro de 2014, 8:38 - sem comentários aindaE por favor não venham desqualificar Maringoni por ser do PSOL, ele é muito mais duro nas análises sobre a ação dos black bloc que eu mesma. São palavras dele: “A esquerda não pode, em hipótese alguma, ser condescendente com as ações dos Black Blocs”.
Print do UOL
NATURALIZAÇÃO DA EXCEÇÃO
Por: Gilberto Maringoni em seu Facebook
Na toada em que caminhamos, o pior legado da Copa não será a coleção de arenas de duvidosa serventia posterior.
Não serão as obras de mobilidade que se revelam pura realidade virtual.
Não será a privatização dos aeroportos.
Não será o uso e abuso dos dinheiros públicos em negócios privados.
O pior legado da Copa será a naturalização da exceção.
O que se viu na noite de sábado em São Paulo é parte disso.
Pode-se deplorar a palavra de ordem “Não vai ter Copa”.
Pode-se torcer o nariz pelo fato de existirem protestos contra a Copa.
Mas não se pode ficar indiferente a uma repressão brutal, que buscou intimidar a população desde o início da tarde na capital paulista.
(Duas horas antes da manifestação, a estação de metrô São Joaquim, distante 2,5 quilômetros da praça da República, onde haveria o ato, tinha sua plataforma de embarque em direção ao centro ocupada por cerca de 200 policiais).
A responsabilidade pela injustificável selvageria, com mais de cem prisões e agressões a ativistas, jornalistas e advogados, é do governo do estado, comandado por Geraldo Alckmin, do PSDB e apoiador do Opus Dei.
Embora não tenha responsabilidade direta neste episódio, o governo federal se mostra, lamentavelmente, omisso.
São Paulo é um ente federado. Mas não é outro país.
O ministro da Justiça – aquele senhor que afirmou não ter participado do IV Encontro Nacional dos Estudantes, em 1977, selvagemente reprimido pela Polícia Militar, por ter tido “medo” – não pode ficar calado quando o direito constitucional de ir e vir e de reunião é pisoteado.
Não pode ter medo de Geraldo Alckmin.
Ajuda indiretamente na criação desse clima de exceção o fato de o governo federal colocar como prioridade o endurecimento da legislação sobre manifestações públicas.
E reforça a diretriz do mandatário paulista a presidenta da República afirmar que colocará o exército nas ruas para coibir protestos.
O golpe de 1964 completa meio século neste ano.
A campanha das Diretas, que acabou com a ditadura, faz vinte anos.
O que menos precisamos é ter, num regime democrático, a banalização da exceção.
Quem ganha com isso não é o setor da sociedade que foi às ruas há duas décadas.
São os trogloditas que aplaudiram os tanques em 1964.
E que estão aí, vivos, lépidos e fagueiros.
Leia também
Ex- homem de Serra e atual secretário da gestão de ACM Neto lamenta não haver mais pelourinho para cobrar dívidas dos soteropolitanos
23 de Fevereiro de 2014, 6:17 - sem comentários aindaEm São Paulo a proposta de aumento redistributivo de Haddad, em que ricos pagariam mais e pobres pagariam menos ou seriam isentos foi parar no STF e Barbosão ficou do lado da Fiesp e o prefeito foi derrotado e consequentemente os milhões de paulistanos pobres sem acesso a bens públicos que os recursos do IPTU podem promover vão pagar a conta.
Em Salvador, a oposição afirma que em alguns casos o aumento do IPTU na cidade chega a 1.000%. É o maior aumento do país. A OAB local entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o aumento. Mas o problema para os coxinhas e para os equivocados da esquerda radical é o PT. Parabéns aos envolvidos em Salvador que reanimaram o Carlismo para que este importasse de São Paulo um homem de Serra que tem saudades do Pelourinho.
Dica da leitora Mariana Trindade:
Mauro Ricardo diz que INFELIZMENTE não há mais Pelourinho para cobrar dívidas
Por Renato Rovai na Revista Fórum
22/02/2014
Mauro Ricardo, homem de Serra, e atualmente secretário da Fazenda da Prefeitura de Salvador na gestão ACM Neto, deu uma entrevista, na noite de ontem, no programa Se Liga Bocão, da Rádio Itapoan FM da Bahia, para defender o aumento do IPTU na cidade e criticar a inadimplência baiana. Entre outras coisas disse:
“Antigamente se botava as pessoas no pelourinho pra poder pagar as suas dívidas. INFELIZMENTE hoje não é mais assim. Hoje é a Justiça. É a Justiça quem define e o prazo é o prazo estabelecido pela Justiça.”
Você pode ouvir o áudio na Revista Fórum.
Segundo a oposição de Salvador, em alguns casos o aumento do IPTU na cidade chega a 1.000%. É o maior aumento do país. A OAB local entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o aumento.
Para quem não sabe quem é Mauro Ricardo vale uma breve explicação. É homem de carreira em gestões públicas do PSDB e trabalhou nos governos de FHC e Aécio e mais recentemente nas gestões Serra e Kassab na prefeitura de São Paulo. Foi no seu período à frente da Secretaria de Finanças da cidade que a máfia do ISS, desbaratada na gestão Haddad, nadou de braçadas.
Num dos telefonemas grampeados da máfia, Ronilson Bezerra, um dos fiscais presos por conta do roubo que pode ser de mais de 500 milhões, disse a seguinte frase.
“É um absurdo. Paula, tinha que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo.”,
Há claros indícios de que ele se referia a Kassab e a Mauro Ricardo.
O pelourinho a que Mauro Ricardo se refere é um poste de madeira ou de pedra, com argolas de ferro, onde praticamente apenas negros eram amarrados e chicoteados em praça pública.
Pra dizer o mínimo, Mauro Ricardo prefere açoites ao invés de Justiça. E provavelmente principalmente para negros e pobres que devem ser a ampla maioria dos inadimplentes que não têm condições de pagar o abusivo imposto que ele quer impor Salvador com o aval do grande ACM Neto.
Confira o áudio na Revista Fórum
Denuncismo, arrogância, falta de estratégia política e despolitização nas ruas e nas redes, a direita agradece
23 de Fevereiro de 2014, 5:46 - sem comentários aindaO denuncismo da rede por uma certa ala da esquerda e/ou de ativistas de alguns movimentos sociais está pior que a fábula Pedro e o Lobo. O problema é que quando o Lobo aparece encontra a sociedade toda desarticulada sem condições de reagir.
Passa por foto falsa de banheiros escolares e chega a estupro de liderança do Rio dos Macacos.
A quem servem denúncias fakes, sem provas ou que não foram ditas pelas vítimas que sofrem constantes abusos reais por parte da polícia, de militares, de ruralistas e de toda a sorte dos que detêm o poder econômico neste país? Ao velho banditismo praticado por ruralistas, por políticos safados, por milicos violentos ou aos povos constantemente vítima da violência e dos desmandos destes agentes?
A quem serve o movimento teimoso do #naovaitercopa que não é reconhecido sequer por aqueles que dizem representar?
Cadê a principal bandeira, a de Reforma Política, que ganhou força com as jornadas de junho na pauta do #nãovaitercopa? Cadê os manifestantes do não vai ter Copa nas plenárias do Plebiscito Popular ou nas do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação?
Ir para as ruas sem articulação com um contingente policial superior aos manifestantes, com a população fora dos movimentos enxergando-os como “assassinos de cinegrafistas” é no mínimo inconsequência. E não, isso não significa que a polícia tem direito de agir como age e isso não significa que governadores que não controlam suas polícias ou governadores truculentos que dão ordem para a repressão não devam ser responsabilizados. Isso também não significa que o governo federal, especialmente o ministro da Justiça deva ser omisso ou abrir a boca pra dizer bobagens. Isso também não significa que os Vianna possam dar continuidade no Legislativo à sandice da funesta Lei Anti-terrorismo.
Mas voltemos ao que está ao nosso alcance, ao menos aqueles que tem efetivo compromisso com as lutas sociais. Espalhar fotos fakes nas redes como se fossem relatos pessoais ou pôr palavra na boca de vítimas que elas não proferiram em blogs respeitáveis a meu ver só diminuem a força de movimentos sérios.
Quanto ao #NãoVaiTerCopa, está na hora de reconhecer que o debate que queriam propor sobre a Copa, debate legítimo que questionam remoções no Rio, em São Paulo, por exemplo, pegou um caminho político pra lá de equivocado.
Chamar uma manifestação na semana que antecede o carnaval, com boa parte dos jovens que saíram às ruas em junho brincando em blocos carnavalescos, sem nem saber que meia dúzia de gatos pingados sairiam em protesto contra a Copa, não me parece nada inteligente.
A chamada #nãovaitercopa desta vez não vai contar com a solidariedade nem de movimentos sérios como o #MST, que se agregou às jornadas de junho que luta por reforma agrária, que acabou de apanhar numa marcha pacífica em Brasília, que é sempre solidários aos movimentos sociais do campo e da cidade. Se ao menos o debate fosse colocado com um mínimo de politização, mas não, os manifestantes do #nãovaitercopa parecem ter fugidos todos da escola. A polícia militar, sob comando dos governadores, desce o cacete e a moçada grita “Dilma a Ucrânia é aqui”.
Perdeu-se a grande chance de fazer um debate sobre o país:
#copapraquem? #naoVaiTerDuasSemanasDeJurosQueCorrespondemATodoValorEmprestadoPeloBNDESParaConstruçãodeEstádios, mas nada, este movimento se reduziu a um bando de teimosos incapazes de fazer uma mínima análise de conjuntura. Alô Venezuela!
Não analisar conjuntura, colocar a própria vida e a dos demais em risco e não conseguir sequer deixar claro para a população que dizem representar é arrogância misturada com inconsequência. São arrogantes em tentar representar aqueles que dizem representar e nos quais os representados não se reconhecem. É preciso fazer uma autocrítica.
O entulho da ditadura militar- as polícias militares- e seus governadores de políticas truculentas agradecem. Com exceção de Sérgio Cabral, Alckmin continua ileso. Trensalão tucano, com rombo de um bilhão nos cofres públicos, secretário de transporte de Alckmin chamando usuários de metrô de “safados”, Alckmin e sua prática Pinheirinho prosseguindo com a remoção de pobres na porrada e leiloando (como fez Kassab) áreas de terrenos públicos em bairros de elite pra especulação imobiliária com a anuência do braço que defende apenas seus interesses de classe na Justiça, que autoriza desocupação em área sub judice!
Enquanto isso, a turma do #nãovaitercopa recheando as cadeias e outro entulho da ditadura militar, a Rede Globo, que impôs sua bandeira contra a PEC37 durante as jornadas de junho, agora arrasta o nome de Freixo para lama.
A cereja do bolo está nas páginas da velha mídia hoje.
Print da página da UOL.
O álbum da UOL, por exemplo, opera a mesma mágica conforme o sabor de seus interesses eleitorais.
A legenda da foto dada pelo UOL chama a atenção. Nela, os manifestantes, que durante as jornadas de junho eram denominados de ‘vândalos’ pela velha mídia, esta que pedia em seus editoriais mais repressão por parte de Alckmin às manifestações, quando conseguiu impor a sua pauta reacionária às manifestações enterrando a PEC 37 transmutou os ‘vândalos’ em ‘manifestantes’. Depois quando a mesma Velha Mídia se tornou alvo dos manifestantes, esses se tornaram, nas páginas da Velha Mídia, novamente “vândalos”. Agora, em ano eleitoral e na campanha uníssona dos porta-vozes tucanos do monopólio midiático (mesmo que o governo federal como todos os demais sustentem este não jornalismo com gordas verbas publicitárias) para desgaste da presidenta e futura candidata à reeleição e que nas pesquisas de intenção de votos vence no primeiro turno, os ‘vandalos’ novamente são “Ativistas” na velha mídia, mesmo que estejam quebrando portas de lojas, mesmo que a polícia e sua repressão desmedida não poupe sequer os jornalistas.
A jornalista Jéssica Souza que é pró manifestações e crítica ao governo Dilma e a realização da Copa denuncia em comentários do Facebook que a orientação da grande mídia para seus profissionais ontem foi a de que esquecessem as prisões de jornalistas e não prestassem queixas.
Ou seja, a polícia em um contingente maior que os manifestantes que não precisa de mascarados para barbarizar na repressão, que está sob comando do governo Alckmin, sai intacta, Alckmin sai intacto e a conta é de Dilma. O velho barbudo continua atual, a história se repete: a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.
Parabéns aos envolvidos.
DESESPERO
Moradores de áreas que serão leiloadas por Alckmin protestam no Palácio dos Bandeirantes
Sem tempo para alternativas judiciais, moradores de terrenos travam frente da sede do governo e exigem audiência com o governador
Por Rodrigo Gomes, da RBA21/02/2014
São Paulo – Cerca de 70 moradores dos 42 terrenos que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) pretende leiloar nos bairros de Campo Belo e Brooklin, zona sul da capital paulista, estão protestando neste momento em frente ao Palácio dos Bandeirantes, na altura do 4.500 da avenida Morumbi, pedindo a suspensão dos leilões e uma audiência com o governador para discutir formas de as famílias permanecerem nas casas.
Segundo o assistente social Geilson Sampaio, que acompanha as famílias, somente a Polícia Militar conversou com os manifestantes e não há perspectiva de término para o ato. “Eles estão dando uma canseira na gente. Mas nós não vamos embora. Queremos respostas”, afirmou. As famílias iniciaram sua marcha até o Palácio dos Bandeirantes às 7h de hoje (21).
O protesto é visto pelas famílias como uma das últimas alternativas de impedir os leilões. No último dia 12, a Justiça paulista autorizou os leilões, mantendo uma decisão do ex-presidente do Tribunal de Justiça Ivan Sartori, que avaliou risco financeiro ao Estado caso eles não fossem realizados.
O governo alega que a ação é necessária para capitalizar a Companhia Paulista de Parcerias, empresa do governo estadual responsável por empreendimentos em conjunto com a iniciativa privada. A Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, que organiza o processo, defendeu que as áreas estavam vazias. O que foi desmentido por reportagem da RBA, que encontrou 42 famílias vivendo em 22 locais.
A Defensoria Pública ingressou com ação civil pública para impedir os leilões em agosto do ano passado. Naquele momento eram 60 áreas. A Justiça concedeu liminar suspendendo os leilões. E continua mantendo essa decisão após três tentativas do governo de derrubar a liminar. Porém, a decisão do ex-presidente, mantida pelo Órgão Especial do TJ, se sobrepõe à liminar.
O primeiro leilão está marcado para a próxima quarta-feira (26).