Carta Aberta do XI de Agosto: Pedrinhas, o Maranhão e a Tragédia Carcerária Brasileira
23 de Janeiro de 2014, 18:32 - sem comentários aindaO XI de Agosto – Gestão Coletivo Contraponto fez uma Carta Aberta sobre a questão do presídio de Pedrinhas, a situação carcerária brasileira e sobre o Maranhão.
A carta foi assinada por diversos movimentos sociais – como Mães de maio, Uneafro e a Une – intelectuais e personalidades da sociedade civil.
Foto: PCO
Pedrinhas, o Maranhão e a Tragédia Carcerária Brasileira
A deflagração das 62 mortes ocorridas no presídio maranhense de Pedrinhas desde o ano passado abalou a opinião pública e foi pauta de inúmeras chamadas midiáticas nas últimas semanas. Para além do foco na crueldade dos presidiários que se pretendeu privilegiar em diversos veículos de comunicação, tornam-se imperativas reflexões mais amplas e aprofundadas sobre a calamidade da qual não escapa o atual sistema penitenciário brasileiro.
Pedrinhas, que contava com uma superpopulação de 2.186 detentos (mais de 400 além de sua capacidade de 1770) não é exceção no cenário brasileiro. O Brasil, que possui a terceira população carcerária do mundo e cujo índice de crescimento do número de encarcerados é o maior verificado atualmente, possui como marca a superlotação generalizada de suas unidades prisionais, acrescido de um sem limite de precariedades institucionais.
Nesse cenário, não é de se espantar que se repitam periodicamente massacres e tragédias dentro de tais unidades. Passados vinte e um anos do evento conhecido por “Massacre do Carandiru”, que ocasionou a morte de 111 presos, as penosas condições que assolavam a ampla maioria dos presídios brasileiros não apenas não obtiveram significante melhora, como, pelo contrário, agravaram-se. E contamos, hoje, com uma população carcerária de mais de meio milhão de pessoas, sendo que destas, mais de 1/3 sequer obteve uma condenação pelo ilícito que lhes é imputado.
Consequência disso é que a suposta função ressocializadora do sistema penitenciário, a qual paradoxalmente seria feita ao largo do convívio em sociedade, torna-se escancaradamente falha: mais de 60% dos presos primários retornam à prisão, o que significa um dos índices de reincidência mais altos do planeta. Com respostas pouco ou nada eficientes na contenção de ilícitos pelo Estado, não é de hoje, portanto, que a estrutura de um sistema criminal calcado no encarceramento das massas vem ruindo.
Em momento algum se questiona a lógica do encarceramento ou suas prováveis consequências: ao contrário, quando estas são escancaradas em episódios como o de Pedrinhas, ecoa o silêncio das autoridades, como o do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que até o momento sequer se posicionou sobre a situação. Dados da ONU mostraram que dos 550 mil presos do país, 217 mil estão presos em caráter provisório. Soma-se a isso o fato de que boa parte dos detentos condenados ao regime aberto ou semiaberto cumpre a pena em regime fechado, o que contribui –e muito– para o quadro de superlotação dos presídios.
Ao apostar na ostensiva contenção de setores marginalizados, o Estado é responsável pela produção de uma crescente população carcerária, o que inevitavelmente leva a uma também crescente demanda de criação de novos presídios. E não por mera conveniência, a privatização do cárcere surge como solução atrativa para a construção e prestação dos serviços nas unidades. Não à toa o Estado do Maranhão, chefiado por Roseana Sarney, destinou R$74 milhões de reais à terceirização ilícita de mão-de-obra nos presídios do estado em 2012.
Além do Maranhão, Estados como São Paulo e Minas Gerais já contam com unidades prisionais geridas pela iniciativa privada. O custo de um preso ou presa varia entre 2 a 4 mil reais mensais para os governos. Custo caro. O Paraná, por exemplo, desistiu do modelo adotado no presídio de Guarapuava ao constatar um aumento de quase 80% nos custos. Expor a questão em termos econômicos é importante para desfazer o mito de que a privatização das unidades prisionais acarreta diminuição de custos para o Estado, mas, para além disso, é preciso atentar para o fato de que a criação de novos presídios ou a privatização não deve ser a diretriz principal no combate à superlotação e ao caos penitenciário brasileiro.
Além disso, a inserção das penitenciárias na lógica de mercado se converge em mais uma forma de desumanização do detento, contribuindo para o quadro de violações de direitos individuais. A grande aprovação da sociedade à severidade punitiva faz da prisão o local em que se materializa não só a punição, como a vingança. E, nas sistemáticas violações aos direitos humanos, torna-se palco de exceção à legalidade.
A invisibilização constante das situações de barbárie presenciadas no cotidiano das cadeias, em que os setores marginalizados seguem sendo o alvo preferencial de nossa política de segurança pública, tem como pano de fundo a demonização de um perfil idealizado do agente criminoso. Quem encarna a figura do “bandido” pertence à parcela da sociedade que só entra no sistema jurídico enquanto réu, reincidente, criminoso; e não como sujeito de direitos.
Negros compõem 60% da população carcerária brasileira, 58% são de jovens entre 18 e 29 anos e 77% não passaram do ensino fundamental, o que mostra o presídio como verdadeiro mecanismo de detenção criminalização da população pobre, jovem e negra. Nesse sentido, cabe ressaltar a dificuldade dos mais pobres em ter acesso à assistência jurídica, quadro que também concorre para a ocorrência de rebeliões internas com vistas a exigir melhores condições para o cumprimento das penas.
O sistema carcerário brasileiro é inegavelmente falido, inflado, e incapaz de suportar a grande demanda e de realizar os seus propósitos de ressocialização.Muito pelo contrário, tais ambientes hoje são, na realidade, berços e oportunidades de aperfeiçoamento de esquemas criminosos.Muito embora o cenário seja de esgotamento, o que se observa é uma cruzada cada vez maior por mais encarceramento e um injustificável recrudescimento da máxima segundo a qual “bandido bom é bandido morto”. Questões nevrálgicas como o excesso de presos em caráter provisório, a privatização de presídios e a política de drogas são apenas alguns pontos nos quais deve se debruçar qualquer um que queira propor soluções para o novelo de problemas que a política de encarceramento do Brasil virou.
Maranhão: um caso particular
A tragédia em pedrinhas adquire também contornos especialmente diferenciados por se tratar do Maranhão. Esse estado possui o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a menor expectativa de vida e as mais altas taxas de mortalidade infantil dentre todos os estados brasileiros.Dentre as principais causas para tamanha tragédia social, podemos destacar o fato de que ele é governado desde 1965 por uma oligarquia liderada pelo ex-presidente da República José Sarney. Mesmo com a derrota eleitoral daquele grupo em 2006 para Jackson Lago, o grupo oligarca conseguiu se manter no poder a partir da cassação do então governador pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) num processo político totalmente questionável.
Vale ressaltar que desde que iniciou sua carreira política, José Sarney apoiou praticamente todos os governos de nosso país. Foi presidente do Senado durante a ditadura militar, presidente do partido governista ARENA e, também, vice-presidente de Tancredo Neves, chapa oposicionista, em meados dos anos 1980. Apoiou posteriormente os governos civis de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, presidindo o Congresso Nacional nestes períodos.
Dentre as principais características da oligarquia Sarney destaca-se o poder econômico e midiático.José Sarney é proprietário da Rede Mirante de Televisão, que reúne seis afiliadas da TV Globo, além de emissoras de rádio e jornais.Essa propriedade cruzada de meios de comunicação é um dos principais motivos de sua força política. Uma das principais características de seu período na presidência da República inclusive foi a distribuição de concessões de rádio e televisão para seus aliados em todo o país. Assim, figuras como Jader Barbalho, Antônio Carlos Magalhães e Edson Lobão tornaram-se donos de emissoras de TV naquele período.
O Maranhão é um exemplo emblemático da necessidade de transformações mais estruturais em nosso país.É prova inequívoca da necessidade de uma Reforma Política que a partir do financiamento público de campanha rompa com o domínio do poder econômico nos processos eleitorais. Também nos mostra a necessidade de democratizarmos as concessões de rádio e TV, bem como a necessidade de proibição da propriedade cruzada de meios de comunicação, que cria enormes concentrações e impérios midiáticos cuja funcionalidade é claramente manipuladora e autoritária.
O que se viu em Pedrinhas serviu para reacender discussões de fundo sobre como o domínio político e econômico das oligarquias é um ponto fulcral de todo o quadro de desigualdade que culmina com a seleção da clientela do direito penal. Repensar As desigualdades sociais e a política carcerária brasileira é quebrar a sazonalidade das tragédias que se repetem nas penitenciárias ao longo da história recente do nosso país, para que Carandirú e Pedrinhas sejam retratos de um passado superado pelo sistema prisional brasileiro.
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HADDAD REPUDIA AÇÃO TRUCULENTA DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO NA CRACOLÂNDIA
23 de Janeiro de 2014, 18:20 - sem comentários aindaFoi de imediato: o prefeito Haddad reagiu prontamente a total falta de respeito, quebra de protocolo entre os poderes estadual e municipal, desrespeito de um ente federado por outro e respondeu em nota a ação desastrada da Polícia Civil, à revelia da prefeitura e do comando da Guarda Civil Metropolitana.
Prefeito Haddad na Cracolândia ao lado de uma dependente atendida pelo programa Operação Braços Abertos
Nota sobre operação na Cracolândia
De Secretaria Executiva de Comunicação
23/01/2014 às 19:29:00
A administração municipal foi surpreendida pela ação policial repressiva realizada hoje na região da Cracolândia pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil.
A Prefeitura repudia esse tipo de intervenção, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral contra uma multidão formada por trabalhadores, agentes públicos de saúde e assistência e pessoas em situação de rua, miséria, exclusão social e grave dependência química. A “Operação de Braços Abertos” é uma política pública municipal pactuada com o governo estadual, que preconiza a não-violência e na qual a prisão de traficantes deve ser feita sem uso desproporcional de força.
Agentes da Prefeitura trabalham há seis meses para conquistar a confiança e obter a colaboração das pessoas atendidas. A administração reafirma seu empenho na solução deste problema da cidade e manifesta sua preocupação com este tipo de incidente, que pode comprometer a continuidade do programa. E expressou essa posição diretamente ao Governo do Estado.
Secretaria de Comunicação
Prefeitura de São Paulo
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Imagens da Proteção, do Bem-estar, da Justiça e da Segurança Pública de São Paulo
FNDC no Fórum Mundial de Mídia Livre
23 de Janeiro de 2014, 17:47 - sem comentários aindaFNDC participa do Fórum Mundial de Mídia Livre
Por FNDC Com informações de FMML
A entidade terá representação no Seminário Internacional que acontece de 23 a 26 de janeiro, em Porto Alegre, junto ao Fórum Social Temático
O Seminário é parte do processo de construção do 4º Fórum Mundial de Mídia Livre, que será realizado em 2015, e dará início à construção colaborativa da Carta Mundial da Mídia Livre. Além da proposta – que se pretende referência para os movimentos sociais na área de comunicação -, o evento contará com rodas de conversas relacionadas à mídia livre e painéis de debates na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Além da participação nos debates, o FNDC, por meio de seu Comitê Gaúcho, realizará coleta de assinaturas do Projeto de Lei da Mídia Democrática.
O encontro tem a previsão de palestras e debates que abordarão os temas da mídia livre relacionada às temáticas da mulher, dos movimentos sociais, da mídia pública, das manifestações de junto e redes sociais. A Coordenadora Nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, participará da roda de conversa “Movimentos Sociais e Mídia livre”, no dia 24, às 14 horas, e o Comitê Gaúcho do Fórum também marcará presença.
A Carta Mundial da Mídia Livre será elaborada colaborativamente como movimentos sociais de todo o mundo, com o objetivo de refletir propostas e anseios dos meios de comunicação livres. Outro objetivo do evento será debater e trabalhar para a apropriação tecnológica pelos movimentos na luta pelo espaço de debate e informação.
As propostas resultantes de atividades e debates do Seminário serão submetidas à aprovação da plenária, para encaminhamento das próximas jornadas. A Tunísia sediará o próximo seminário de elaboração da Carta Mundial, assim como acolherá a IV edição do Fórum Mundial de Mídia Livre, no contexto do Fórum Social Mundial 2015.
Dentre as entidades brasileiras, já confirmadas estão: Alquimidia, Ciranda, Imersão Latina, Intervozes, FNDC, Mocambos, Midia Ninja, Fora do Eixo, Mulher e Mídia, Soylocoporti, Pontao Eco/UFRJ, e vários coletivos, pontos de cultura, mídias alternativas e compartilhadas, pesquisadores e ativistas da comunicação.
Já os internacionais, confirmaram: Magali Yakin, Norma Fernandes, Argentina; Cheima Ben Hmida,Tunísia; Viriato Tamele, Moçambique, , Diana Segnor, Senegal, Mohamed Leghtas,Marrocos ; Erica Campelo, França,; Antonio Pacor Itália , Chistian Shroeder, Alemanha. Também confirmaram participantes do FST, do FME e do Conexões Globais, comprometidos com a defesa da mídia livre.
Conexões Globais
Durante o a semana, de 24 e 25 de janeiro, também acontecerá o Conexões Globais, evento que busca promover e intensificar o diálogo entre os diferentes atores da sociedade em rede, tratando de temas como democracia 2.0, Marco Civil da Internet, soberania na rede, cultura digital e mobilização social na era da internet. Acontece na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre e reunindo ativistas, comunicadores, gestores públicos, artistas e diferentes pessoas e grupos que constroem o novo, no Brasil e em diferentes pontos do mundo.
Programação e Informações FMML
Programação (atualizado em 20/01/2014)
23 a 26 de janeiro de 2014
Exposição Memorial da Mídia Livre
Local – Térreo da Usina do Gasômetro
24 de janeiro – sexta-feira (Rodas de Conversa)
Sindicato dos Jornalistas
Rua dos Andradas, 1270 sala 133
Porto Alegre9h – Roda de conversa: Mulheres livres e mídias livres
Queremos avançar nas perspectivas de apropriação tecnológica pelas mulheres e coletivos de mulheres que furam o cerco da grande mídia, assim como pelos trabalhos de autoria comunitários. A apropriação das mídias livres, a apropriação da autoria pelas mulheres, como se dá? Convidamos as mulheres ligadas à mídia livre para construírem conosco uma rede articulada para dar visibilidade a nossas práticas e a construir uma pauta de debates voltada para o protagonismo das mulheres no fórum.11h – Roda de conversa: Mídia livre e apropriação tecnológica
O uso das mídias sociais durante as Jornadas de Junho foi fundamental para a organização e a difusão das manifestações em todo o Brasil. Só que muitas das mídias sociais mais usadas são desenvolvidas com tecnologia proprietária e controladas por grandes corporações, sujeitas a todo o tipo de interferência e até censura. Quais alternativas livres e seguras os movimentos sociais dispõem atualmente e qual a visão dos movimentos que se apropriaram da comunicação a serviço das ruas em 2013 e perspectivas para 2014.14h – Roda de conversa: Movimentos Sociais e Mídia livre
A roda vai discutir a criminalização e a representação dos movimentos sociais na mídia; a importância da garantia de uma mídia livre e plural para o exercício da liberdade de expressão e do direito à comunicação do conjunto dos setores sociais; a luta pelo fortalecimento das rádios comunitárias, pela aprovação de um marco civil da internet, por um novo marco regulatório das comunicações no Brasil.16h – Roda de conversa: Mídia pública como território para a mídia livre
A mídia pública participa de um novo território de luta por democracia na América Latina e está em busca de novos modelos e dinâmicas que consolidem seu papel na promoção do direito à comunicação e da liberdade de expressão. A mídia pública pertence à sociedade e para cumprir sua missão requer canais de aproximação com os temas de interesse da população e seus movimentos e também de participação social na gestão de suas diretrizes, temas caros ao movimento social por uma mídia livre. A roda de conversa tratará do atual esforço de integração entre mídias públicas e estatais da América Latina, com a presença da jornalista e pesquisadora argentina, Magali Yakin, que acompanha o processo da União Latinoamericana de Agências, e também do atual momento de renovação do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação EBC, que está com edital aberto para o preenchimento de cinco vagas da sociedade civil, com a presença de integrantes atuais do colegiado.Dia 25 de Janeiro – sábado (painel e plenárias)
Local: Auditório Dante Barone
Assembleia Legislativa do RS9h30 – Abertura
10h – Painel
Redes, ruas, mobilizações e mobilidade
Palestrantes apresentam sua visão geral do que foi 2013 e qual foi a grande contribuição da comunicação para isso, abrindo a palavra. Em pauta, a crise de protagonismo, corrida digital, novos parâmetros para debate – como a comunicação atuou em 2013 e porque nada será como antes. O painel e procurará dimensionar, em várias óticas, perspectivas e experiências diferenciadas, o que aconteceu no Brasil nos últimos 7 meses para os participantes internacionais do Fórum, além de iniciar leituras do que pode ser 2014.14h – Painel
A Carta Mundial da Mídia Livre: instrumento de luta global por outra comunicação
Decidida no III FMML, na Tunísia, em 2013, a construção de uma Carta Mundial das Mídias Livres começa em Porto Alegre, e seguirá por etapas regionais até sua aprovação novamente na Tunísia, em 2015. O documento de produção compartilhada apontará os princípios e lutas comuns da comunicação que ajudem a aproximar lutas locais do movimento internacional das mídias livres, e vice-versa, fortalecendo processos em diferentes dimensões, e que sirva de referência para os movimentos sociais que vão se integrando à luta mundial pelo acesso à comunicação como um direito. Participarão ativistas do FMML de diferentes países, trazendo contribuições para o início da jornada internacional de escritura da Carta. O processo visa contribuir também como referência para o Fórum Social Mundial, na relação entre as lutas globais e os temas da comunicação.16h – Plenária
Yuri Soares: Muito mais que um rolezinho
23 de Janeiro de 2014, 17:33 - sem comentários aindaMuito mais que um rolezinho
Por Yuri Soares*, especial para o Maria Frô
Desde o final de 2013 temos acompanhado um crescimento do fenômeno dos rolezinhos e da polêmica que os acompanha.
Os rolezinhos são eventos sociais convocados via redes sociais onde a juventude periférica se encontra em shoppings para diversão, paquera, conversar com os amigos, dentre outras atividades típicas dos jovens.
São Paulo tem sido a capital dos rolezinhos, o que não é surpreendente, pois é a cidade com a maior população e economia do país.
Muita gente errou feio ao analisar este fenômeno, o primeiro equívoco veio dos próprios lojistas, administradores de shoppings e entidades representativas dos comerciantes. Estes, ao analisarem os rolezeiros pela ótica do preconceito social e racial, fecharam as portas literal e simbolicamente a este público que buscava consumir seus produtos e a mística de seus espaços.
Boa parte da classe média, assídua frequentadora destes templos do capitalismo desde sempre, achou que “bárbaros” estavam invadindo seu império, seu espaço artificial de beleza e paz. Boa parte da imprensa neste primeiro momento corroborou esta visão.
De outro lado, impulsionados pela reação preconceituosa dos comerciantes e de parte da classe média tradicional, setores da esquerda começaram a ver um princípio de luta de classes onde não havia nada disto, enxergando uma suposta disputa possível de um movimento basicamente hedonista.
Como sempre, à direita e à esquerda, não faltou moralismo, mensagens como “façam rolezinhos nas bibliotecas” ou criticando a busca por consumo das classes populares foram comuns nas ruas e nas redes sociais.
No entanto, nos últimos dias o que vimos foi uma inflexão do discurso da imprensa, que passou a ressaltar o poder de compra dos organizadores dos rolezinhos e o seus estilos musicais e estéticos.
Quanto ao futuro, os rolezinhos escancaram duas tarefas para a nossa sociedade, a primeira é combater o racismo profundo que trata de forma tão diferentes os rolezinhos das classes populares dos Flash Mobs das classes A e B.
A outra é a necessidade de criarmos espaços de lazer para esta juventude, não na lógica de criar guetos para mantê-los longe, mas para que eles tenham o que a juventude das classes A e B já tem há muito tempo: opções. Os jovens dos rolezinhos vieram pra ficar, e a maior ilusão possível é querer que eles deixem de frequentar os shoppings.
Em uma resposta aos recentes acontecimentos o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que irá abrir os Clubes da Comunidade, administrados pela prefeitura, para a realização de bailes funk e outras festas. O prefeito também vetou na íntegra um projeto de lei que previa a proibição da utilização de vias públicas para realização de bailes funk e demais eventos musicais não autorizados pela Prefeitura.
Estas respostas iniciais do prefeito Haddad são um bom indicativo do caminho que precisamos seguir, oferecendo mais espaços para os jovens e menos falso moralismo, preconceito e repressão.
Precisamos criar em todas as cidades espaços onde a juventude possa se encontrar, se divertir e construir suas identidades e culturas.
*Yuri Soares Franco
Historiador pela Universidade de Brasília – UnB, atualmente é Secretário-Executivo do Conselho de Juventude do DF.
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O que Alckmin tem a dizer sobre sua polícia sobrepor poderes e jogar uma ação da prefeitura no Lixo?
23 de Janeiro de 2014, 15:22 - sem comentários aindaAlguém é ingênuo em achar que Secretaria de Segurança Pública desconhece a operação Braços Abertos? Pois hoje à tarde a polícia civil que está sob ordens do governador tucano Geraldo Alckmin invade a região conhecida como Cracolândia, área foco da operação Braços, durante as ações da prefeitura do petista Fernando Haddad. Segundo matéria dos jornais, funcionários da prefeitura ficaram no fogo cruzado de bombas, balas de borracha. Isso foi uma ação no mínimo ilegal, uma clara afronta à primeira tentativa efetiva de tratar os dependentes de crack.
Até onde os tucanos irão pra destruir toda e qualquer ação de Haddad?
O que Haddad pretende fazer como o prefeito que teve seu poder desrespeitado?
O jornalista Bruno Torturra observa:
Sobre a ação violenta da PM hoje na Cracolândia.
Apurando melhor, a coisa só piora.
Nem a prefeitura, nem a Guarda Civil foram avisadas sobre a ação do governo que ocorreu no início da tarde. A PM começou uma operação para prender usuários. Utilizou bombas e balas de borracha toda vez que havia algum tipo de resistência. Assistente sociais e agentes do programa “De Braços Abertos” foram pegos no meio do fogo cruzado. Agora há pelo menos 8 hospitalizados, vítimas da violência policial.
Funcionários da prefeitura e responsáveis pelo programa, incluso o secretário de segurança da cidade, estão perplexos.
Resumindo: violência física, atropelamento institucional, e sabotagem política clara.
Isso não pode passar batido.
Em ação surpresa, Polícia Civil reprime com bombas dependentes na Cracolândia
Reportagem do ‘Estado’ testemunhou confronto que surpreendeu até secretário de Haddad que estava no local
Por: Bruno Ribeiro e Laura Maia de Castro – O Estado de S. Paulo
23/01/2014
SÃO PAULO – Policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Policia Civil, fizeram uma operação nesta quinta-feira, 23, sem comunicar a Prefeitura nem a Polícia Militar, na Cracolândia, região central de São Paulo, palco da Operação Braços Abertos, aposta do prefeito Fernando Haddad para reabilitar os dependentes de crack.
Por volta de 15h, cerca de dez viaturas cercaram os dependentes de crack que não estão inseridos no programa assistencial e estavam concentrados na Rua Barão de Piracicaba. Os policiais civis atiraram balas de borracha e jogaram diversas bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo na multidão, que correu a esmo e revidou jogando pedras. O quarteirão estava lotado de dependentes.
Agentes da Secretaria de Saúde e de Assistência Social, que também não sabiam da ação, ficaram no fogo cruzado. A ação ocorreu pouco tempo depois de policiais civis à paisana terem feito uma prisão de um dependente no local. Nesta primeira ação, uma dependente acabou ferida na cabeça com bala de borracha.
A reportagem apurou que a avaliação inicial da Prefeitura é que o programa Braços Abertos, que contava justamente com a ausência de repressão dos dependentes, foi prejudicada e terá dificuldades para prosseguir.
O Estado estava no local na hora da ação e viu a surpresa de guardas-civis, oficiais da PM e até do próprio secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto. Hoje completa uma semana que os dependentes que aderiram ao programa começaram a trabalhar e a equipe estava fazendo um balanço do período.
Foi possível testemunhar a prisão de ao menos cinco pessoas que foram também agredidas pelos policias civis ao serem obrigadas a entrar na viatura.
Entre os dependentes, o clima foi de revolta. Muitos gritavam desesperados, chorando diante da ação surpresa. “Que hotel que nada, eles querem é matar a gente”, disse uma dependente grávida que corria da polícia.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, que ainda não se manifestou.
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