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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
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Assista ao vivo a plenária pela Democracia a partir de 17H

31 de Março de 2015, 11:11, por Desconhecido

As mais representativas entidades dos movimentos sociais brasileiros e as centrais sindicais CUT e CTB vão realizar atos nas próximas terça e quarta-feira, dias 31 de março e 1º de abril. As palavras de ordem dessas plenárias são: “Em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, da Democracia, das Reformas Política e Populares e da Petrobrás”.
O objetivo é aprofundar a unidade dos movimentos que compõem a esquerda e o campo popular, aglutinar energia para defender as conquistas sociais dos últimos anos e aprofundar a luta para ampliá-las, detendo o retrocesso pretendido por setores reacionários.
Essa luta continuará se dando nas ruas, a exemplo do que ocorreu no último dia 13 de março, e em outras frentes, com a necessária pressão sobre o Congresso Nacional – onde estão sendo gestados projetos e propostas antidemocráticos, antipopulares, recessivos e obscurantistas – e a disputa pelos rumos da política do governo federal, dos governos estaduais e prefeituras.
A esquerda se unifica e age na busca por um Brasil justo, solidário, com igualdade de oportunidades, com emprego e renda e respeito à pluralidade de sua gente.

Confira os locais, datas e horários dos atos:
31/03
São Paulo – Quadra do Sindicato dos Bancários – Rua Tabatinguera nº 192 – Centro – 17h

Você pode assistir a transmissão de São Paulo ao vivo por aqui

01/04
Aracaju – Auditório da Didática V – Universidade Federal de Sergipe – 19h
Curitiba – Auditório do Sintracon – Rua Trajano Reis, 540 – 14h

Participam das mobilizações e apoiam a pauta acima as entidades e coletivos:

CUT – Central Única dos Trabalhadores
FUP – Federação Única dos Petroleiros
CTB – Central Dos Trabalhadores do Brasil
UNE – União Nacional Dos Estudantes
MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
CMP – Central dos Movimentos Populares
MAB – Movimento dos Atingidos Por Barragens
LEVANTE Popular da Juventude
FETRAF – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
FDE – Fora do Eixo Mídia Ninja
MMM – Marcha Mundial das Mulheres
Plebiscito Constituinte
Jornada Nacional de Lutas da Juventude
Plataforma Operaria Camponesa da Energia
Juventude REVOLUÇÃO
UBM – União Brasileira de Mulheres
FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
CONAM – Confederação Nacional de Associações de Moradores
UNMP – União Nacional por Moradia Popular
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
Centro de Estudos da Mídia Alternativa “Barão de Itararé”
Juventude 5 de Julho
Movimento Nacional de Luta pelo Socialismo

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Como perdoar aqueles que, sem lamentarem seus crimes, orgulham-se de tê-los cometido

31 de Março de 2015, 7:06, por Desconhecido

Para quem não sabe quem é o velhinho dos selfies na Paulista do dia 15/03, cito um trecho do jornalista Fernando Molica

Por último, vale registrar: o Carlos Alberto Augusto, vulgo ‘Carteira Preta’ e ‘Carlinhos Metralha’, o ex-delegado do Dops que discursou na manifestação, levou para a Avenida Paulista um cartaz em que dizia querer ser ouvido pela Comissão da Verdade. Pena que só diz isso agora, quando os trabalhos da comissão foram encerrados. O relatório diz que ele foi convocado a depor, mas não foi localizado. Na hora de prestar contas à história, ele tratou de não aparecer. Segue trecho do relatório sobre ele:

Carlos Alberto Augusto (1944-) Delegado de polícia. Serviu no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP), sendo conhecido como “Carteira Preta” e “Carlinhos Metralha”. Integrou a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Teve participação em casos de detenção ilegal, tortura e execução. Convocado para prestar depoimento à CNV, não foi localizado. Vítimas relacionadas: Carlos Marighella (1969); Eduardo Collen Leite (1970); Antônio Pinheiro Salles e Devanir José de Carvalho (1971); Soledad Barrett Viedma, Pauline Reichstul, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva, Eudaldo Gomes, Evaldo Luiz Ferreira de Souza e Edgard de Aquino Duarte (1973).

A Pauline Reichstul, apontada no relatório como uma das vítimas do ‘Carlinhos Metralha’, era irmã de Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso.

O futuro sem perdão

Por: Sandra Helena de Souza, O Povo

29/03/2015

Dentre tantas devastações que acometem a alma humana uma provoca, sem dúvida, um sofrimento psíquico terrífico: a impossibilidade de perdoar, quando nada mais pode ser feito para reparar, material ou moralmente, o dano sofrido, independente de sua extensão. O perdão não elimina a justiça da pena, nem autoriza reconciliação pantomímica, o perdão situa-se além de bem e mal: é reconhecimento da minha falha humanidade através da falha alheia reconhecida, que me ensina também a perdoar-me para viver o futuro. Isso vale para relações pessoais tanto quanto institucionais, para indivíduos e para a nação.

Mas como perdoar aqueles que, sem lamentarem seus crimes, orgulham-se de tê-los cometido, afrontam as vítimas e suas memórias, justificam abertamente seus feitos, sem remorsos, dispostos a retomar de onde foram obrigados a parar de praticá-los? É certamente o pior dos mundos, onde alguns indivíduos se encontram moralmente encalacrados, e onde, seguramente, atola-se mais uma vez o país.

Um vídeo produzido pela Revista Trip, que acompanhou os manifestantes do 15/3/15 em São Paulo, de título ‘Por favor, chamem o alto Comando’ nos brinda com cenas tão bizarras que seriam hilárias caso ignorássemos o potencial de barbárie que elas desfraldam perigosamente à nossa volta. Os jornalistas ficaram na cola dos manifestantes que pedem ‘intervenção militar’, um crime de lesa-democracia a céu aberto, travestido de ‘liberdade de expressão’. Constante, firme e já tornado público desde o março último quando da passagem dos 50 anos do Golpe, com gente cada vez mais jovem, esse espectro bestial ainda suscita apenas desdém e escárnio em boa parte dos bem-pensantes, tanto apoiadores como opositores do atual governo. ‘São apenas um pequeno bando de lunáticos’, já ouvi por aí. ‘Inofensivos’. Não creio.

Já não se pode alegar ignorância nem mesmo dos imberbes defensores de tanques e coturnos. E soa, ao mesmo tempo, improvável (não impossível) qualquer quartelada à moda antiga. Mas é curioso perceber que à timidez dos efeitos políticos da Comissão Nacional da Verdade tenha se seguido, como um seu corolário bastardo, a desavergonhada onda de selfies com um assassino confesso e torturador, defronte ao Masp – caricatura emblemática do movimento que vai adquirindo consistência pública, galvanizando as cavernas mais fétidas de nosso imaginário social, e uma cada vez mais desabrida auto apologia dos que, pouco a pouco, se sentem confortáveis para saírem de suas cloacas.

Não senhoras e senhores, eles não são poucos e bem sabem o que fazem. Ocupam universidades, parlamentos, forças policiais retrógradas e religiosos ultra-conservadores, das quais, vejam só, um parlamentar do PSol carioca é uma espécie de ícone. O perturbador: atraem mentes fundamentalistas jovens e até ‘gladiadores da fé’ já desfilam por aí. É uma ameaça real às duras conquistas civilizatórias que alcançamos.

É preciso ver o que cada um de nós tem a ver com isso. Esses velhos criminosos jamais vão dizer que lamentam. Enquanto esperávamos, deram cria. Sem tréguas combatê-los, os que são de luta. Sem descanso. E sem perdão.
*Sandra Helena de Souza: Professora de Filosofia da Unifor souza.sandraelena@gmail.com

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Nilce Aravecchia: CPI dos trotes: o que as Universidades têm a dizer?

29 de Março de 2015, 13:41, por Desconhecido

Embora a CPI dos estupros nos campi da USP tenha sido um avanço ao silêncio ensurdecedor das faculdades diante das denuncias de violência, mal começou o ano já houveram denúncias dem vários casos de violência sexual na USP. Na FAU cresce a intolerância e perseguição aos “trans”, com pichações e ameaças no banheiro.

O texto da professor Nilce Aravecchia chama a atenção para a necessidade de um debate mais institucionalizado sobre essas questões dentro da própria universidade.

trote

Na foto montagem: intolerância no cartaz da Faculdade de Medicina na Unicamp; solidariedade num cartaz em apoio a aluna vítima de tentativa de estupro na Poli-USP (9.10.2013); o cartaz da ALESP da CPI que investigou estupros e outras violências nos trotes da USP  e trote racista e misógino na Faculdade de Direito da UFMG em 2013 .

CPI dos trotes: o que as Universidades têm a dizer?

Nilce Aravecchia*, especial para o Maria Frô

29/08/2015
No ano que passou a sociedade foi surpreendida por uma série de notícias a respeito dos atos de violência sexual envolvendo os alunos da Faculdade de Medicina da USP. Desde então, pôde-se ver a publicização cada vez mais intensa dos casos de abuso na mídia tradicional, em blogs e nas redes sociais, até a temática ganhar a discussão política institucional, com a abertura de CPI na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Acertadamente, a CPI tratou de forma ampla os casos de violência associados ao consumo abusivo de bebidas alcoólicas, os trotes de ingresso, e as festas estudantis em geral. Entretanto, os ecos dessa discussão parecem estar bem longe de serem ouvidos pelos interessados diretos.

O ano iniciou novamente com as Universidades Públicas figurando nas páginas policiais da grande mídia, e com protestos indignados nas redes sociais, em manifestações individuais ou de pequenos coletivos. No cotidiano universitário, passado pouco mais de um mês do ano letivo, não cessam notícias de casos de violência sexual que não vêm a público.

Também é preocupante a perseguição cotidiana a toda forma de sexualidade distinta dos cânones sociais, sendo os grupos “trans” os que mais tem sofrido com o preconceito e a agressão muitas vezes covarde, porque anônima, mas cada vez mais declarada.

Não parece mero acaso que o aumento desses tipos de agressão tenha ocorrido simultaneamente ao cerceamento de direitos de ir e vir no espaço público com o fechamento dos campi, à presença da política militar e à proibição do consumo de bebidas alcoólicas nas instituições.

As festas estudantis que, nas Universidades Públicas, ocorriam na maior parte das vezes em escala quase doméstica, ao saírem dos campi se profissionalizaram, alcançaram dimensões gigantescas, tomando status de “micaretas” e sendo rapidamente incorporadas como locais estratégicos para as fabricantes de cerveja e de outras bebidas alcóolicas. É sabido (sempre dito nas conversas informais e agora veiculado nas redes sociais) que as patrocinadoras despejam seus caminhões de bebida para as versões “open bar” das festas universitárias. Esses contextos certamente potencializaram o consumo de bebidas, e muitas vezes esse consumo vem associado às drogas.

É necessário assumir que os crimes relacionados às festas universitárias foram sendo tratados com conveniente hipocrisia até que a internet e a coragem de alguns envolvidos dessem novo tom às narrativas e a seus desdobramentos. Provavelmente, as vítimas têm se sentido mais protegidas para denunciar.

Entretanto, no cotidiano da USP, a temática ainda não mereceu a devida importância, em que pese os discursos do Reitor manifestando sua disposição em apurar os fatos, e de sua presença na CPI da ALESP. Os debates sobre o assunto são muito tímidos, e a discussão nos conselhos e nas comissões universitárias restringem-se aos momentos mais críticos, quando as medidas administrativas mostram-se inevitáveis.

Há duas semanas encerrou-se a CPI, cujo relatório detalha centenas de casos de estupro, de humilhação em trotes, e de abuso no consumo de álcool e de drogas nas unidades da USP, da Unesp, da Unicamp e da Ufscar. As investigações dessa Comissão, ao menos no que diz respeito aos Campi da USP na Capital, foram pouquíssimo comentadas, merecendo parcos debates nos tradicionais ambientes de defesa dos direitos humanos. A discussão não se propaga de forma mais intensa nem mesmo nos diretórios acadêmicos ou em outras instâncias de representação discente.

O resultado do que parece quase ser uma brincadeira de surdos e de cegos é que o autoritarismo preconceituoso capilarizado na sociedade toma cada vez mais o espaço universitário, que por excelência, deveria ter papel protagonista numa direção civilizatória.
O discurso raivoso, que se tornou corriqueiro e que não tem pudores de se mostrar nas redes sociais, rapidamente vai se transformando em ação contra as chamadas “minorias”, inclusive no interior das universidades públicas.

A Universidade é o lugar privilegiado para o conhecimento, exatamente porque pode se colocar na contramão dos sistemas sociais vigentes e não pode se restringir a ser um microcosmo a reproduzir o que acontece na sociedade. Mesmo porque, visto por esse ângulo, esse autoritarismo preconceituoso, manifestado em machismo, misoginia, homofobia, transfobia, e demais atitudes relacionadas ao preconceito, ao ser reproduzido e incorporado em espaços universitários, projeta-se novamente para a sociedade de maneira perversa, potencializando-se e se legitimando pelos fatos engendrados no interior dessa Instituição.

Parece já passada a hora da Universidade colocar essa discussão em pauta de forma ampla, institucional e sistemática, envolvendo docentes, funcionários e alunos. É necessário amadurecer uma reflexão sobre os vínculos estreitos entre violência e repressão. A médio e longo prazo o debate acadêmico tem potencial para se irradiar socialmente, combatendo a intolerância e o preconceito que estão no cerne de toda a prática violenta. É possível até que se desdobre na revisão de ações e de regras institucionais que representaram o cerceamento de direitos nos espaços universitários e que tem cada vez mais se revelado ineficazes, ou mesmo geradoras de mais violência cotidiana.

A Universidade, como instituição, deve assumir seu papel na propagação de uma cultural de paz, pois tem poder de incidir para além de seus muros. É sua responsabilidade debater em profundidade o assunto, com o objetivo de frear a onda conservadora e preconceituosa que vem ameaçando a boa convivência dentro e fora dos campi.

*Nilce Aravecchia é professora da FAU USP

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Exemplo didático de como se opera o racismo na linguagem midiática

28 de Março de 2015, 10:52, por Desconhecido

Foi o Alexandre Haubrich, do Jornalismo B que printou as duas notícias e viu o recorte de classe. Mas esta linguagem midiática traz mais que isso.

jornalismob_recorte-de-classe-recorte-de-raça-G1

Certamente haverá leitores que não verão racismo, porque afinal não se fala da cor dos bandidos em nenhuma das matérias. O racismo naturalizado é eficiente exatamente por causa destas artimanhas. Uma dica pra você, portanto: quando o bandido é de classe média ele geralmente é branco e nunca é chamado de bandido se tiver a pele clara, os cabelos lisos, como neste primor de chamada, onde a vítima negra continua sendo depreciada ao ser chamada de ‘infrator’ e não de adolescente que é e os bandidos brancos – de classe média- continuam sendo tratados com todo cuidado por ‘jovens’, ‘rapazes’: Jovens que amarraram infrator em poste são detidos por tráfico – Rapazes de classe média são suspeitos de vender drogas na Zona Sul.

Fiquei curiosa com o linguajar do Globo-Ceará e fiz algumas buscas. Nem precisei gastar muito tempo para achar outras chamadas iguais. Na busca descobri algo interessante: em todas vemos a insistência em dizer que o ‘traficante’ não tinha antecedentes criminais. Esta é uma forma de dizer que todos são potencialmente suspeitos, todos são ‘classes perigosas’. Assim quando a polícia em seus auto de resistência eliminá-los e descobrirmos que não tinham antecedentes criminais, o argumento dos familiares das vítimas sobre este aspecto será diminuído, justificando o fato de 70% dos jovens assassinados pelas PMs nas periferias brasileiras serem negros.

A quem exatamente se referem esse todos que são tratados como suspeitos mesmo não tendo antecedentes criminais? Aos jovens de classe média com 300 kg de maconha? Aos Perrela com 400 kg de cocaína pura?

Não absolutamente: o céu é do avião como diz Aécio, o helicóptero é dos Perrela, mas quase meia tonelada de coca não é de ninguém e todos estão livres. O “todos” se refere sempre aos habitantes de bairros pobres, favelas e comunidades, como no print abaixo, onde o bandido pobre,  possivelmente negro com 15kg de maconha mora na favela Garibaldi ou como o de 10 kg de maconha que vive em outro bairro de baixa renda em Fortaleza.

mais ceará

Como aponta o professor Wagner Iglesias ao ver a comparação entre as duas chamadas: “Nada de novo no front. Quando é branco, olho claro, cabelo liso, loiro etc. é “jovem de classe média”. Quando é negro, pardo, cabelo crespo, pobre etc. é “traficante”. Ai depois vem aquele pessoal falar em “gente bonita”, por um lado, e pedir “redução da maioridade penal”, por outro.”

Poderíamos aí recorrer ao enorme corolário de coisas ditas pela turma adepta da ideologia Bolsonaro:

Os direitos humanos para ‘bandidos’  devem ser aplicados para os ‘jovens de classe média carioca da primeira manchete?

“Bandido bom é bandido morto vale pra ‘jovens de classe média carioca com 300 kg de maconha ou a pena de morte é apenas para o bandido nordestino, cearense com  99,999% de chances de ser da cor preta que carrega 30 vezes menos a quantidade de maconha que os ‘jovens de de classe média’?

Mas vivemos no Brasil, onde o diretor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel escreve livro intitulado “Não somos racistas” e governador do PT na Bahia justifica chacina cometida por policiais como gol de placa.

 

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Ladislau Dowbor: O direito ao ódio parece superar todos os outros

27 de Março de 2015, 11:44, por Desconhecido

Um texto magistral de Dowbow “Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta.”

Homo ignorans
Pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos bancos, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo.

Por: Ladislau Dowbor, Carta Maior

27/03/2015
401(K) 2012 / Flickr

O homo sapiens todos conhecemos. Inclusive a maior parte da teoria econômica e das teorias das transformações sociais se baseia numa compreensão otimista de que o homem absorve conhecimentos, confronta-os com os seus objetivos racionalmente entendidos, e procede de acordo. Quando erra, analisa os erros e corrige a sua visão para não repeti-los.

Naturalmente, é agradável pensarmos que somos, conforme aprendi na escola, animais racionais, racionalidade que nos separaria confortavelmente dos animais. As minhas dúvidas aumentam proporcionalmente à minha idade, o que significa que são elevadas. Pensar que somos mais do que somos é uma atitude muito difundida. A bíblia já abre com o tom adequado: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, o que implica por virtude dos espelhos que somos semelhantes nada mais nada menos que a Ele. O tamanho desta pretensão, e o fato de passar tão desapercebida e natural, já mostra a que ponto a nossa racionalidade pode ser adaptada ao que é agradável, mas não necessariamente ao que é verdadeiro.

Pensar na dimensão irracional da nossa inteligência, ou nas raízes interessadas e ideologicamente deformadas do que nos parece racionalmente verdadeiro, é muito interessante. Fazemos uma construção racional em cima de fundamentos profundamente enterrados na confusão de paixões, medos, ódios e sentimentos contraditórios. Quanto maior o preconceito – no sentido literal, raiz emocional que assume a postura antes do entendimento – maior parece ser a busca do sentimento de superioridade moral.

Devemos lembrar como foram denunciados e massacrados ou ridicularizados os que lutaram pelo fim da escravidão, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos de organização dos trabalhadores, pelo voto universal, pelos direitos das mulheres? A imensa batalha que foi chegar ao intelecto dos dominantes que um povo colonizar outro não dá certo? Hoje é a mesma luta pela redução das desigualdades, pelo fim da destruição do planeta, pela democratização de uma sociedade asfixiada por interesses econômicos. Aqui precisamos de muito bom senso e generosidade. Ou seja, emoções e indignações sim, mas apoiadas na inteligência do que acontece no mundo e visando o interesse maior de todos, e não no interesse particular de defesa dos privilégios.

Aqui realmente é preciso de muita ignorância, ou seja, desconhecimento (voluntário ou não), para não se dar conta dos desafios reais. O aquecimento global é uma ameaça real, mas a direita tende a negar, como se o termômetro e os gazes de efeito de estufa fossem de esquerda. O desmatamento generalizado do planeta está levando a perdas de solo fértil em grande escala, quando iremos precisar de mais área de plantio. A vida nos mares está sendo esgotada pela sobrepesca e em 40 anos, segundo o WWF, perdemos 52% da vida vertebrada no planeta. É um desastre planetário espantoso, mas não aparece na mídia comercial. Os dados sobre a inviabilização ambiental do planeta são hoje amplamente comprovados. Há controvérsias, nos dizem. Mas é questão de opinião ou de conhecimento dos dados?

No plano social é mais impressionante ainda: até o Fórum Econômico em Davos escuta e divulga as pesquisas da Oxfam, do Banco Mundial e das Nações Unidas, dos inúmeros institutos de pesquisa estatística em todos os países sobre a desigualdade crescente da renda. Pior, temos agora os dados da desigualdade do patrimônio acumulado das famílias – 85 famílias são donas de mais riqueza acumulada do que 3,5 bilhões de pessoas na base da pirâmide social – gerando tensões insustentáveis. Mas em Wall Street enchem a boca e declaram “greed is good”. Sobre esta desigualdade de patrimônio uma das principais fontes é o Crédit Suisse, que tem boas razões para entender tudo de fortunas familiares. Nem os dados da própria direita parecem convencer a direita, se não confirmam os seus preconceitos.

Vamos tampar os olhos e fazer de conta que acreditamos que é possível manter a paz política e social num planeta onde 1,3 bilhões não têm acesso à luz elétrica, 2 bilhões não têm acesso a fontes decentes de água, e 850 milhões passam fome? Tem sentido acreditar no bom pobre¸ que se resigna e aceita, quando hoje até no último degrau da pobreza há uma consciência do direito a ter uma escola decente para o filho, saúde básica para a família? Aqui já não são apenas os olhos e os ouvidos que estão tapados, e sim a própria inteligência. O homo ignorans raciocina com o fígado.

E porque toda esta riqueza acumulada no topo não serve para as reconversões tecnológicas que nos permitam salvar o planeta, e para financiar as políticas sociais e inclusão produtiva capaz de reduzir as desigualdades? Basicamente porque está situada em paraísos fiscais, aplicada em sistemas de especulação financeira, sequer orientada para investimentos produtivos tradicionais. Os 737 grupos que controlam 80% das atividades corporativas do planeta são essencialmente grupos financeiros. Fonte? O Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. São recursos que não só se aplicam em especulação financeira em vez de financiar investimentos produtivos, como migram para paraísos fiscais onde não pagam impostos. O Economist estima que sejam 20 trilhões de dólares, um pouco menos de um terço do PIB mundial.

O Brasil tem cerca de 520 bilhões de dólares em paraísos fiscais, da ordem de 25% do PIB. O HSBC que o diga. Mas no Brasil a grande vitória é a eliminação da CPMF que cobrava ridículos 0,38% sobre movimentações financeiras. No Brasil pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos grandes intermediários financeiros, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo. Em particular quando comete o pecado de melhorar a condição dos pobres. Ainda bem que temos a corrupção para canalizar a atenção e os ódios. O uso produtivo dos recursos não seria mais inteligente?

Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes apontamos rumos básicos no documento Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, não são ideias que faltam: falta muita gente que tampa o sol com a peneira dos seus interesses se dar conta dos desafios reais que enfrentamos. Aliás, o norte é bem simples: toda política que reduz as desigualdades, protege o meio ambiente, e tributa capitais improdutivos contribui não para salvar um governo, mas para nos salvar a todos. E um país do tamanho do Brasil tem como trunfo fundamental, nesta época de turbulências planetárias, a possibilidade de ampliar a base econômica interna através da inclusão produtiva.

Confesso que ando preocupado. Parece que quanto maior a bobagem declarada, maior o sentimento de superioridade moral. E o ódio, esta eterna ferramenta dos preconceituosos, é um sentimento agradável quando se consegue encobrir o interesse com um véu de ética. Nesta nossa guerra permanente entre o frágil homo sapiens e o poderoso e arrogante homo ignorans, a olhar pelo mundo afora, e pelos gritos histéricos de extremistas por toda parte – sempre em nome de elevados sentimentos morais e com  amplas justificações racionais – o direito ao ódio parece superar todos os outros. Pobre Deus, nosso semelhante.

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