Basta de racismo, no trabalho e na vida!
30 de Abril de 2014, 18:35 - sem comentários ainda
- Basta de racismo, no trabalho e na vida!
Por: Maria Júlia Reis Nogueira* e Vagner Freitas* CUT
30/04/2014
A banana que um torcedor atirou no jogador brasileiro Daniel Alves, do Barcelona, foi apenas mais um dos atos de racismo contra jogadores negros. A reação do jogador, que descascou e comeu a banana, no entanto, repercutiu em todo o mundo e se tornou uma das notícias mais comentadas nas redes sociais.
Com seu gesto, Daniel Alves contribuiu decisivamente para trazer a tona um problema social e estrutural que buscamos combater todos os dias que é o preconceito racial entranhado no futebol e em muitas outras instâncias das sociedades.
MEME adaptado do blog do Braian, a imagem não faz parte do post original.
No futebol isso fica mais claro por causa de gestos como o do espanhol, mas a rotina dos/as trabalhadores/as negros/as que não estão sob os holofotes da mídia, é muito mais perversa e pouco comentada em redes sociais ou matérias de jornais.
No mercado de trabalho, mesmo ocupando 48,2% dos postos, a média salarial dos negros é 36,1% menor que a registrada entre não negros. Ainda que tenham nível de estudo similar ao dos brancos, os negros perdem na batalha por melhores salários. Um trabalhador negro com nível superior completo recebe na indústria da transformação, em média, R$ 17,39 por hora, enquanto um não negro chega a receber R$ 29,03 por hora, segundo o DIEESE.
Os negros também são as maiores vítimas de assassinatos no Brasil (70%). A cada três assassinatos registrados no país, dois vitimam negros, segundo o IPEA.
A escravidão foi substituída por relações de subordinação social por causa do racismo. A falta de emprego e de reconhecimento social fez com que os negros ficassem às margens da sociedade.
A mensagem que a CUT quer deixar neste 1º de Maio é que preconceito e racismo se combatem com políticas de inclusão, leis punitivas realmente duras e de fácil aplicação e com muita educação. Não podemos tolerar o racismo e a melhor forma de combater o preconceito é acabar com todas as suas manifestações em nossa sociedade.
*Maria Júlia Reis Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo,
*Vagner Freitas, presidente nacional da CUT
“Um lugar ao sol” ou sobre a elite, a privacidade, a natureza, a naturalização da desigualdade em suas coberturas
30 de Abril de 2014, 8:07 - sem comentários aindaNão tenho muita paciência para o discurso da elite. Há momentos que é inacreditável o que dizem sem a menor cerimônia.
Mas há alguns aspectos neste discurso vazio que me chamaram a atenção neste documentário integralmente feito com a fala de moradores de coberturas das grandes cidades brasileiras, São Paulo, Rio, Recife…
O primeiro deles é a preocupação com a privacidade (quando lhes convêm, porque se for para entrar numa lista vip eles fazem questão de se identificarem como moradores de cobertura).
Há uma moradora que justifica a preocupação com a privacidade porque ela se irrita com o som das panelas da cozinheira e vê a importância de habitar uma cobertura para lhe poupar deste som irritante.
Num país de imensa desigualdade, onde uma das moradoras critica o governo por olhar a violência não como caso de polícia, mas como caso de política da má distribuição de renda, enfim, da imensa desigualdade dos estilos de vida dos que estão em suas torres de marfim e não têm a menor consciência política ou mesmo solidariedade em relação aos que estão sendo retirados de seus barracos pra se construir coberturas, a preocupação com a privacidade ganha mesmo o centro da vida daquelas pessoas.
A desigualdade é naturalizada no discurso desta elite, ela não tem nada a ver com mais valia, com o controle financeiro e dos meios de produção por uns poucos que exploram muitos. Ela é vista como um dado da natureza e, o privilégio desses poucos como uma questão de mérito deles: “Eu tenho uma p´re-disposição de liderança genética’ ou’na sociedade você tem mulheres que andam com bolsa Louis Vuitton e outras com saquinho de plástico na mão“, simples assim, isso não tem nada a ver com as relações sociais e produtivas da sociedade capitalista na qual vivemos. quando questionado sobre o que é poder, a resposta do empresário de boates para políticos, artistas e empresários casados endinheirados, Oscar Maroni, responde: ‘poder é um prazer muito bom’
A segunda coisa que me chama a atenção é o status do jardim e das piscinas nas coberturas, há recorrência no discurso desses moradores de como é importante estar perto do céu, ver a cidade de suas ilhas, ter seus jardins privados, seus aquários gigantes com cascatas, suas estátuas de cachorro…
A terceira a preocupação de se mostrarem ‘cultos’, mesmo que a relação com a academia passe pelo lustro necessário ao estilo de vida dos moradores de cobertura: “o direito é meu hobby”. Em sua auto-imagem a elite brasileira se mostra amantes das artes, ‘politizada’, com capacidade de liderança, assistencialista. Alguns mostram um lampejo de consciência social “pô velho, onde eu vivo (a cobertura) não é a realidade do Brasil”.
A última é como eles são pavões, a ponto de não perceberem as leituras críticas que os espectadores farão de suas falas. Eles se dizem ‘humildes’, mas se as nuvens cobrirem Marte, eles alugam um avião para furar as nuvens. Eles se sentem superiores por ter o privilégio de olhar o mundo de cima: “nós podemos falar com Deus mais facilmente daqui (da cobertura)”. No entanto, para garantir, trazem a tecnologia de Israel para fazer a segurança de suas coberturas com sensores de movimento por toda casa, com alarmes em todas as portas, transformando suas coberturas num grande panóptico com mais de 50 câmaras…
O jogo sujo de tirar texto de contexto na fala de Lula sobre o julgamento do “mensalão”
29 de Abril de 2014, 14:45 - sem comentários aindaO vídeo abaixo tem pipocado na Internet com a interpretação de que Lula renegou seus companheiros de vida política. E o Jornal da Cultura tucanamente insistiu no erro.
Um amigo querido, Carlos Faraco, com formação linguística, autor de livros didáticos de Língua Portuguesa e Gramática, fez análise de discurso pra desconstruir a narrativa caluniosa e de má-fé sobre a fala de Lula. Reproduzo sua análise e informo, ele não é eleitor do PT:
Por Carlos Faraco, via mail
Quem ouve com a mínima atenção, observa que ele não renega coisa alguma.
O ex-presidente apenas afasta da conversa (“não se trata de gente da minha confiança”) o dado “gente da minha confiança”, que não cabia no desenvolvimento do raciocínio que ele estava para concluir e que a entrevistadora interrompeu.
Como aconteceu no dia a dia com todos nós em nossa comunicação, por exemplo:
“– Paulo, no seu testamento você não pode se esquecer de colocar seu filho único, que….”
– Não, não. “Não se trata” de meu filho único, trata-se de pensar na divisão correta dos bens.”
Obviamente, no exemplo anterior não se pode afirmar que o pai rejeitou o filho ou vai tirá-lo do testamento. Ele apenas quis dizer que para o raciocínio dele não importava esse dado. Fim.
Foi nessa dinâmica argumentativa, sem sombra de dúvida, que Lula fala “não se trata de gente da minha confiança”.
A interpretação pretendida, para incriminar Lula, neste caso está completamente fora de cogitação. As ilações sobre o caráter dele, construídas a partir dessa interpretação enviesada, são gratuitas e não deveriam se compartilhadas, porque são injustas.
Bestas feras do Congresso querem que a escola não eduque para a igualde de gênero e combata o racismo
29 de Abril de 2014, 6:22 - sem comentários aindaÉ um absurdo um Congresso como o que temos. Como é que pode num país racista, violento, onde a política é protagonista do genocídio negro e a violência contra a mulher está no grau de feminicídio, em que os assassinatos de homossexuais chegaram às raias da crueldade explícita elegermos estes filhos de chocadeira que legislam contra o povo, que ousam interferir em políticas públicas de combate à violência contra a população negra e contra mulheres e homossexuais?
Reforma Política já! Pra expulsar estas bestas feras do Congresso, mobilização dos educadores e da sociedade não bestializada pra formarmos verdadeiros cidadãos e não bestas feras que atrasam a chegada do Brasil num verdadeiro processo civilizatório, humanista e que entenda que negros, mulheres, homossexuais são sujeitos de direitos. Defesa do Estado Laico, minha gente, antes que estas bestas feras nos transforme numa sociedade fundamentalista que resolva apedrejar-nos em praça pública.
A sugestão da matéria é de Dani Bado.
Lobby conservador retira igualdade racial e de gênero do Plano Nacional de Educação
Sarah Fernandes, da RBA
Falta decidir se Fies, Prouni e Pronatec serão financiados com os 10% do PIB | Foto: Lucio Bernardo Jr/ Câmara dos Deputados
A comissão especial que analisa o Plano Nacional de Educação na Câmara aprovou nesta terça-feira (22) o texto principal do documento, deixando para quarta-feira (23) a votação dos destaques. A maioria dos parlamentares presentes cedeu ao lobby dos pastores-deputados Marco Feliciano (PSC-SP), Marcos Rogério (PDT-RO) e Pastor Eurico (PSB-PE) e aceitou retirar a diretriz que propõe a superação das desigualdades educacionais, “com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”, um dos pontos mais polêmicos do projeto.
Assim, fica mantida a redação do Senado, que determina a “promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação”. Parlamentares mais conservadores entendiam que a ênfase na igualdade de gênero e orientação sexual permitiria a adoção de materiais didáticos e atividades escolares que incentivassem a homossexualidade. Os mais progressistas defendiam que o trecho busca promover o combate à homofobia e ao preconceito contra as mulheres.
A assessoria de imprensa de Feliciano havia informado, na última quinta-feira (17), que o deputado não abriria mão de retirar do texto as questões de gênero, raça e identidade sexual. O tema já fizera com que a votação fosse adiada por duas vezes apenas neste mês. No último dia 8, Feliciano e Marcos Rogério apresentaram requerimentos pedindo o adiamento da votação para “estudar melhor” a proposta referente à promoção da igualdade.
“Nós reproduzimos aquilo que está na Constituição Brasileira, mas com uma linguagem mais recente. O constituinte de 1988 não abordava o tema da identidade sexual como ela é abordada hoje. A Constituição diz que deve-se promover o bem de todos sem discriminação de sexo, de raça, de nenhuma natureza. E a educação brasileira tem de atacar, de forma sistêmica, toda desigualdade”, resumiu o relator do PNE na comissão especial, o deputado federal Angelo Vanhoni (PT-PR), em entrevista à RBA.
Bolsonaro comemora após aprovação | Foto: José Cruz/Agência Brasil
A diretriz sobre financiamento, outra polêmica do plano, será votada amanhã. No texto principal, os deputados aprovaram 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública, contrariando a redação do Senado, que não especificava se o montante seria para a educação pública, o que daria espaço para incluir aí as instituições privadas, filantrópicas e comunitárias. Falta decidir se o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec) serão contabilizados no montante.
“O plano não foi concebido, e conceitualmente não está estruturado, para relegar as escolas filantrópicas, comunitárias e particulares a um papel menor. Pelo contrário, garante a elas o papel complementar ao sistema de ensino público. Mas a prioridade é a escola pública”, afirmou Vanhoni.
O Plano Nacional de Educação é um documento que estabelece metas para a área nos próximos 10 anos. Foi elaborado a partir da Conferência Nacional de Educação, realizada em abril de 2010, na qual diversas organizações da sociedade civil levantaram propostas para melhorar a qualidade da educação brasileira.
O texto principal aprovado mantém metas já acordadas entre parlamentares, como a erradicação do analfabetismo, oferta de educação integral em metade das escolas públicas, a formação de 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano e a equiparação do salários dos profissionais da educação básica com demais profissionais de escolaridade equivalente.
Vagner Freitas, presidente da CUT, para Eduardo Campos: Banco Central independente? De quem, caro candidato?
24 de Abril de 2014, 11:31 - sem comentários aindaBanco Central independente? De quem, caro candidato?
Vagner Freitas, presidente da CUT
24/04/2014
A corrida eleitoral teve início e as “propostas” dos candidatos começam a ser apresentadas para o debate público. Algumas têm sido oferecidas como inovadoras. Na verdade, nada mais são do que o velho, o ultrapassado, com uma roupagem nova.
A sugestão que chamou atenção essa semana foi a de garantir “autonomia legal” para o Banco Central (BC), apresentada pelo candidato a presidência, Eduardo Campos, do PSB. Segundo ele, essa seria uma “carta forte na mesa”, que criaria uma “relação de confiança com os agentes econômicos”, porque o problema da política macroeconômica seria de falta de confiança na equipe econômica.
O que chama a atenção é o olhar restrito a toda complexidade da conjuntura interna (pressão do sistema financeiro por ganhos vultosos, entre outras) e externa (crise econômica mundial).
Segundo os teóricos defensores desse modelo, o fato dos Bancos Centrais serem subordinados aos governos (não esqueçamos: governos eleitos pelos cidadãos), gera uma pressão indevida sobre as decisões do Banco, pressões que podem ser “populistas” e com efeito deletério sobre a inflação, gerando expectativas negativas sobre o futuro do País e prosseguindo, com consequências negativas para o crescimento.
Assim, quanto mais autônomo for um Banco Central, menor seria a taxa de inflação que, por consequência, garantiria um patamar adequado de taxa de desemprego (taxa natural), evitando a pressão sobre os reajustes salariais e, portanto, também reduziria o impacto sobre os preços.
No entanto, na experiência internacional não existe uma regra única e inflexível para essa questão. Os principais bancos centrais do mundo dão a membros de seus comitês níveis variados de poder – e não poder ilimitado. No caso do BC brasileiro, com as atuais regras, ele já goza de bastante autonomia, pois define sozinho tanto as metas de inflação quanto a taxa de juros.
É importante alertar quanto ao perigo de conceder a alguns indivíduos a liberdade para acionar sem qualquer restrição instrumentos tão poderosos como são os de intervenção monetária, com impactos para todos os cidadãos. A política monetária deve ser coordenada com as demais políticas econômicas e sociais, com o objetivo não apenas de combater a inflação, mas também de garantir o bem estar da sociedade, dentre eles, a garantia do emprego. Isso é de responsabilidade do governo eleito. BC faz parte do governo, suas ações devem estar articuladas com as demais políticas – e não com os desejos do mercado financeiro e suas expectativas de ganhos.
Para essas questões, existem outras formas de resolução. Primeiro, ampliar a composição do Copom com representantes da sociedade. Segundo, regulamentar o Artigo 192 da Constituição Federal, com a democratização e controle social do Sistema Financeiro Nacional, mas também definindo as atribuições e funcionamento do Banco Central. Finalmente, para o controle efetivo da inflação é preciso expandir a visão, e pensar em medidas para além do controle via juros, a mais perniciosa das medidas de controle da inflação.