Muito mais que um rolezinho
Por Yuri Soares*, especial para o Maria Frô
Desde o final de 2013 temos acompanhado um crescimento do fenômeno dos rolezinhos e da polêmica que os acompanha.
Os rolezinhos são eventos sociais convocados via redes sociais onde a juventude periférica se encontra em shoppings para diversão, paquera, conversar com os amigos, dentre outras atividades típicas dos jovens.
São Paulo tem sido a capital dos rolezinhos, o que não é surpreendente, pois é a cidade com a maior população e economia do país.
Muita gente errou feio ao analisar este fenômeno, o primeiro equívoco veio dos próprios lojistas, administradores de shoppings e entidades representativas dos comerciantes. Estes, ao analisarem os rolezeiros pela ótica do preconceito social e racial, fecharam as portas literal e simbolicamente a este público que buscava consumir seus produtos e a mística de seus espaços.
Boa parte da classe média, assídua frequentadora destes templos do capitalismo desde sempre, achou que “bárbaros” estavam invadindo seu império, seu espaço artificial de beleza e paz. Boa parte da imprensa neste primeiro momento corroborou esta visão.
De outro lado, impulsionados pela reação preconceituosa dos comerciantes e de parte da classe média tradicional, setores da esquerda começaram a ver um princípio de luta de classes onde não havia nada disto, enxergando uma suposta disputa possível de um movimento basicamente hedonista.
Como sempre, à direita e à esquerda, não faltou moralismo, mensagens como “façam rolezinhos nas bibliotecas” ou criticando a busca por consumo das classes populares foram comuns nas ruas e nas redes sociais.
No entanto, nos últimos dias o que vimos foi uma inflexão do discurso da imprensa, que passou a ressaltar o poder de compra dos organizadores dos rolezinhos e o seus estilos musicais e estéticos.
Quanto ao futuro, os rolezinhos escancaram duas tarefas para a nossa sociedade, a primeira é combater o racismo profundo que trata de forma tão diferentes os rolezinhos das classes populares dos Flash Mobs das classes A e B.
A outra é a necessidade de criarmos espaços de lazer para esta juventude, não na lógica de criar guetos para mantê-los longe, mas para que eles tenham o que a juventude das classes A e B já tem há muito tempo: opções. Os jovens dos rolezinhos vieram pra ficar, e a maior ilusão possível é querer que eles deixem de frequentar os shoppings.
Em uma resposta aos recentes acontecimentos o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que irá abrir os Clubes da Comunidade, administrados pela prefeitura, para a realização de bailes funk e outras festas. O prefeito também vetou na íntegra um projeto de lei que previa a proibição da utilização de vias públicas para realização de bailes funk e demais eventos musicais não autorizados pela Prefeitura.
Estas respostas iniciais do prefeito Haddad são um bom indicativo do caminho que precisamos seguir, oferecendo mais espaços para os jovens e menos falso moralismo, preconceito e repressão.
Precisamos criar em todas as cidades espaços onde a juventude possa se encontrar, se divertir e construir suas identidades e culturas.
*Yuri Soares Franco
Historiador pela Universidade de Brasília – UnB, atualmente é Secretário-Executivo do Conselho de Juventude do DF.
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