Ao terminar o debate eleitoral ontem na Band fiquei me perguntando sobre o balão de ensaio Marina Silva. Até Aécio que levou várias invertidas da presidenta Dilma se saiu melhor que Marina.
Marina trabalha no senso comum, utilizando-se de vários chavões, para além dos impropérios políticos que dispara despolitizando tudo. Chico Mendes deve ter dado muitas voltas no túmulo. Foi tão chocante a sua afirmação de que o ambientalista e líder dos seringueiros, assassinado pelo agronegócio, era ‘elite’ como Neca Setúbal, a herdeira do Itaú, que em três anos desempregou nada mais nada menos que 16 mil pessoas. Que na mesma hora vários memes circularam pelas redes sociais, como este aqui:
Marina mordia e assoprava PT e PSDB, repetia cansativamente um discurso de ‘vamos dar as mãos e partidos não importam’. Este discurso estapafúrdio de Marina deseduca politicamente os eleitores ao negar a política, como bem disse Erundina sobre ela. Marina quer fazer crer aos eleitores que não existe sociedade de classes num país que ainda de tantas desigualdades. Na lógica de Marina é bem fácil chamar Chico Mendes de elite a Neca Setúbal de educadora e igualá-los.
Marina por vezes (e claro dando recado ao grupo do capital financeiro que a apoia) foi mais neoliberal que Aécio Neves e pastor Everaldo juntos, o que é um feito e tanto para o eleitor atento que ouviu as barbáries dita por este mercador da fé ou que já conhece de longa data o projeto neoliberal e privatizador dos tucanos. Marina deu uma banana aos ambientalistas ao dizer que a licença da hidrelétrica de Girau saiu devido a ela.
Marina você se pintou de laranja Itaú, resta saber se você convencerá os incautos.
Já Dilma, foi nos Trends Topics mundial e ficou em segundo lugar no TT brasileiro.
A atual presidenta teve vários momentos altos. Como sempre, impressiona a capacidade de Dilma de ter os números e dados na ponta da língua. Para um eleitor que realmente quer analisar os candidatos ela mostra que sabe do que fala.
Em um de seus momentos altos, ela respondeu as bobagens de Marina com um quase: “Fia, governar um país complexo como o Brasil não é fazer discurso”.
Dilma também levou a nocaute Aécio Neves ao responder a pergunta sobre a Petrobras: falou da quase falência da empresa na gestão tucana de FHC, na qual até plataforma petrolífera afundou, falou da tentativa de privatização da Petrobras pelos tucanos usando inclusive a vira-latice tucana de tentar mudar o nome da empresa brasileira para soar mais familiar aos estrangeiros: Petrobrax. E fechou com chave de ouro quando disse que foi nos governos petistas que a PF ganhou autonomia para investigação e que nem no governo Lula e nem no dela se engavetava investigações como na era FHC, onde o Procurador da República foi apelidado de Engavetador Geral, já se que não se fazia nenhuma investigação dos malfeitos durante os governos do tucano FHC.
Aécio tentou ainda colar a crise econômica e de novo foi desmentido com dados da realidade: maior geração de empregos e inflação zero em julho.
Num outro momento Dilma ainda fez um golaço explicando o que a mídia e o PSDB desinformaram todos os dias: na pergunta reacionária de Aécio, Dilma explicou o decreto de participação popular. Fechou, usando ainda de ironia: “Candidato se consulta popular é bolivarismo, a Califórnia é bolivarista.”
Todos os candidatos queriam pressionar Dilma e a cada pergunta ela conseguia usar o tempo para mostrar dados e restabelecer a verdade sobre o programa Mais Médicos, sobre investimentos na área de energia, na área da educação, mobilidade urbana, saúde e suas inúmeras políticas econômicas.
Luciana Genro e Eduardo Jorge (mais divertido) conseguiram fazer bons debates sobre descriminalização do aborto, descriminalização das drogas, democratização das comunicações. Uma pena que o debate esquentou tarde da noite e muitos já deveriam ter ido dormir.
O ponto fraco do debate de ontem foi reservado aos jornalistas. Boa parte deles velhos babões, com o suprassumo do reacionarismo de Bóris Casoy. No entanto, nem este senhor com as ideias no formol prosseguiu falando muito depois de findar o debate como se fosse ele próprio um candidato, conseguiu tirar o desempenho de Dilma. Bóris reconheceu que ela se saiu bem nos debates e que despejou na cara de todos eles os fabulosos números de realizações de seu governo.
Uma concessão pública como a TV Band começar um debate tão importante às 22H e terminá-lo a 1H da madrugada, horário que a imensa dos trabalhadores brasileiros já estavam dormindo e retirando a chance da população brasileira ver candidatos discutindo suas propostas, somando-se ainda o show de horror de perguntas reacionárias e desinformadas feito pelo jornalismo naftalina da Band nos mostram o quão urgente é democratizar este monopólio da mídia.
Análise: Presidente joga no ataque usando montanha de dados
Por: Cláudio Couto, Estadão
27/08/2014| 03h 00
É difícil que eleitores renitentes tenham mudado seu voto após o debate desta terça-feira, 26. Contudo, para os que vacilam, houve atrativos. Num jogo que privilegiou os três principais contendores, que tocaram a bola entre si e foram priorizados pelos jornalistas, a presidente se destacou.
Dilma mostrou-se bem mais desenvolta do que há quatro anos, demonstrando que a experiência presidencial lhe proporcionou um bom treino verbal – decerto aprimorado por comunicólogos. Mas não foi apenas no teatral que a presidente se destacou. Logrou apresentar dados positivos de seu governo, listando números que sabia de cor estocando seu adversário favorito – o PSDB – sem se tornar antipática. Impôs ao debate a tônica de sua campanha: apresentar dados que desmintam as avaliações negativas sobre sua administração. Jogou no ataque e fez vários gols. Ao final, administrou.
Aécio, por sua vez, embora longe de uma performance desastrosa, não se destacou. Diríamos que jogou para empatar. Porém, num momento em que as pesquisas indicam estar ele uns quatro tentos atrás do adversário mais próximo, que continua atacando, jogar pelo empate não é a estratégia mais produtiva. Questionou Dilma sobre temas já exaustivamente tratados pelos jornais, dos quais não era mais possível extrair trunfos. Fez o óbvio, mesmo ao corretamente defender o legado de Fernando Henrique – o que os tucanos anteriores se envergonharam de fazer.
Já Marina, embora menos acabrunhada que Aécio, também não se destacou. Quem assistiu apenas ao começo do debate deve ter-lhe achado confusa. Melhorou com o passar do tempo e teve seu melhor momento numa resposta a Luciana Genro, do PSOL, que lhe questionava sobre seus assessores econômicos. Ao ser equiparada à “velha política” de PSDB e PT disparou contra a velha política de esquerda, que se acha dona da verdade. Boa jogada, mas já era tarde e o conjunto da performance pode ter desapontado eleitores conquistados na última semana. Talvez por nervosismo, atrapalhou-se ao menos três vezes ao conjugar o verbo “perder”. Ato falho?
*Cláudio Couto – É PROFESSOR DA FGV SÃO PAULO
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