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É difícil pra um menino brasileiro sem consideração da sociedade crescer um homem inteiro…

18 de Setembro de 2013, 8:35 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Estou cada dia mais fã do Emicida.

E esta parceria com a Elisa Lucinda é de uma beleza ímpar:

Milionário do sonho (Elisa Lucinda)

É o que eu digo e faço, não suponho, sou milionário do sonho
É difícil para um menino brasileiro, sem consideração da sociedade,
crescer um homem inteiro, muito mais do que metade
Fico olhando as ruas, as vielas que ligam meu futuro ao meu passado e vejo bem como driblei o errado, até fazer taxista crer que posso ser mais digno do que um bandido branco e becado
Falo querendo entender, canto para espalhar o saber e fazer você perceber que há sempre um mundo, apesar de já começado, há sempre um mundo pra gente fazer, um mundo não acabado
Um mundo filho nosso, com a nossa cara, o mundo que eu disponho agora foi criado por mim, euzin, pobre curumim, rico, franzino e risonho, sou milionário do sonho
Ali vem um policial que já me viu na TV espalhar minha moral
Veio se arrepender de ter me tratado mal
Chegou pra mim sem aquela cara de mau: Fala, mano, abraça, mano
Irmãos da comunidade, sonhadores e iguais, sei do que estou falando
Há um véu entre as classes, entre as casas, entre os bancos
Há um véu, uma cortina, um espanto que, para atravessar, só rasgando
Atravessando a parede, a invisível parede, apareço no palácio, na tela, na janela da celebridade, mas minha palavra não sou só eu, minha palavra é a cidade
Mundão redondo, Capão Redondo, coração redondo na ciranda da solidariedade
A rua é noiz, cumpadi
Quem vê só um lado do mundo só sabe uma parte da verdade
Inventando o que somos, minha mão no jogo eu ponho, vivo do que componho, sou milionário do sonho
Vou tirar onda, peguei no rabo da palavra e fui com ela, peguei na cauda da estrela dela
A palavra abre portas, cê tem noção?
É por isso que educação, você sabe, é a palavra-chave
É como um homem nu todo vestido por dentro, é como um soldado da paz armado de pensamentos, é como uma saída, um portal, um instrumento
No tapete da palavra chego rápido, falado, proferido na velocidade do vento, escute meus argumentos
São palavras de ouro, mas são palavras de rua
Fique atento
Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim: Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra quê? Ruim pra quem?
Infeliz do povo que não sabe de onde vem
Pequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturas
Pobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguém
Não vem que não tem, com a palavra eu bato, não apanho
Escuta essa, neném, sou milionário do sonho
Por isso eu digo e repito: Quem quiser ser bom juiz deve aprender com o preto Benedito
O mundo ainda não está acostumado a ver o reinado de quem mora do outro lado da ilusão
A ilusão da felicidade tem quatro carros por cabeça, deixando o planeta sem capacidade de respirar à vontade, a ilusão de que é mais vantagem cada casa, mais carro que filho, cada filho menos filho que carro
Enquanto eu com meu faro vou tirando onda, vou na bike do meu verbo tirando sarro
Minha nave é a palavra, é potente o meu veículo sem código de barra, não tem etiqueta embora sua marca seja boa, minha alma é de boa marca, por isso não tem placa, tabuleta, inscrição
Meu cavalo pega geral, é pegasus, é genial, a palavra tem mil cavalos quando eu falo
Sou embaixador da rua, não esqueço os esquecidos e eles se lembram de mim, sentem a lágrima escorrer da minha voz, escutam a música da minha alma, sabem que o que quero pra mim quero pra todo o universo, é esse o papo do meu verso
Mas fique esperto porque sonho é planejamento, investimento, meta, tem que ter pensamento, estratégia, tática
Eu digo que sou sonhador, mas sonhador na prática
Tô ligado que a vida bate, tô ligado quanto ela dói, mas com a palavra me ergo e permaneço, porque a rua é nóiz
Portanto, meu irmão, preste atenção no que vende o rádio, o jornal, a televisão Você quer o vinho , eles encarecem a rolha, deixa de ser bolha e abre o olho pra situação
A palavra é a escolha, a escolha é a palavra, meu irmão
Se liga aqui, são palavras de um homem preto, samurai, brasileiro, cafuzo, versador, com tambor de ideias pra disparar
Não são palavras de otário, já te falei, escreve aí no seu diário:
se eu sou dono do mundo, é porque é do sonho que eu sou milionário!

Ficha técnica
Voz: Emicida e Elisa Lucinda
Gravado no C4 por Luis Lopes e Gabriel Bueno

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Veja também:
Emicida responde polêmica com poesia: “Mulheres devem ser livres, soltas no mundo, jamais pra virar brinquedo de vagabundo”


Fonte: http://mariafro.com/2013/09/18/40149/

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