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Época e o apagamento da Memória das viagens de FHC e de seu instituto

20 de Agosto de 2015, 9:08 , por MariaFrô - | No one following this article yet.
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Se você fizer uma pesquisa no google sobre o ano seguinte em que FHC deixou a presidência, começou a viajar pelo mundo para dar palestras cobrando 50 mil dólares e criando um Instituto tal como fez Lula, curiosamente a matéria de Época sumiu do mapa. Ela está no motor de busca do Google, mas ao clicar no link dá página não encontrada.

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Ainda bem que tem webcache e antes que suma do motor de busca do google, vamos printá-la e registrá-la para a eternidade. A reportagem de capa de 11 anos atrás mostra como nossa imprensa é seletiva. Fernando Henrique fazer a mesma coisa que Lula faz hoje: criar um instituto e dar palestras era bacana, mas quando o ex-presidente é Lula, mesmo que seja tudo declarado e transparente é ‘ilegal’

23/04/2004 – 22:19 | EDIÇÃO Nº 310

REPORTAGEM DE CAPA

Fernando Henrique S/A

Ex-presidente viaja pelo mundo, cobra US$ 50 mil por palestra e prepara inauguração de instituto com seu nome

DAVID FRIEDLANDER E LEANDRO LOYOLA

 

Fotos: Otávio Dias de Oliveira/ÉPOCA
NOVO ENDEREÇO
FHC já trabalha em sua nova sala no instituto. Ao lado, o antigo bar do Automóvel Clube, que foi restaurado

O ex-professor, senador, ministro e presidente da República Fernando Henrique Cardoso agora é uma celebridade. Desde que deixou o Palácio do Planalto, no ano passado, FHC já faturou cerca de R$ 3 milhões dando palestras para empresários e intelectuais, no Brasil e no exterior. Está escrevendo um livro sobre seu governo, que deverá ser publicado ainda neste ano. Sua próxima grande tacada será o lançamento do Instituto Fernando Henrique Cardoso, no dia 22, em São Paulo. Montado com luxo, mas sem ostentação, o lugar foi criado para preservar na História a memória de seu governo e de sua obra acadêmica. Aos 72 anos, depois de oito anos das delícias e pesadelos da Presidência, Fernando Henrique está levando um vidão. Transforma fama em dinheiro, faz política quando bem entende e viaja duas vezes por mês para o exterior para exercitar seus dotes intelectuais. E prova que não sonha em voltar à Presidência da República.

Até agora se sabia apenas vagamente das atividades de FHC fora do governo. Ele só aparece viajando e, de vez em quando, falando de política. A novidade é que longe do público o ex-presidente virou atração no mundo empresarial e já é um dos conferencistas mais bem pagos do mundo. Cobra US$ 50 mil (cerca de R$ 150 mil no Brasil) – preço livre de impostos, hospedagem e passagem aérea, gastos que ficam por conta do cliente. No Brasil, ninguém cobra mais caro. ‘O critério foi pedir metade do que Bill Clinton (ex-presidente dos Estados Unidos) cobra’, diz George Legmann, o agente que cuida das palestras e dos direitos autorais dos livros de Fernando Henrique. Da metade do ano passado para cá, foram 22 conferências, seis delas em outros países. Contrataram os serviços do ex-presidente a AmBev, a Medial Saúde, os bancos Pátria e Santander (este em Madri), a ACNielsen e o Banco Central do México, entre outros.

INSTITUTO
No subsolo, um bunker com salas climatizadas para conservar o acervo de 330 mil peças de FHC

FHC exige uma conversa pessoal com o cliente antes da conferência. São encontros de meia hora, apenas para combinar o tema. O ex-presidente tem falado sobre globalização, educação e ética. Além dos eventos de empresas, seu mercado abrange também as universidades. No exterior elas pagam honorários fixos, entre US$ 10 mil e US$ 20 mil. ‘No Brasil eu faço de graça. As universidades aqui não têm dinheiro para isso’, afirma. FHC custa caro porque é uma raridade: tem vasto preparo acadêmico, contatos internacionais e uma extensa experiência política. ‘FHC é visto como um estudioso do Brasil, tem categoria para fazer grandes projeções e os empresários acreditam que ele pode ajudar a decifrar melhor o governo’, explica Luís Fernando Lopes, economista-chefe do banco Pátria.

Fernando Henrique fica incomodado quando o assunto é dinheiro. Notório pão-duro, ressalta que recebe apenas aposentadoria proporcional como professor da USP e que ex-presidente não tem pensão. Tergiversa quando alguém pergunta sobre os honorários das palestras e não conta quem está bancando o Instituto Fernando Henrique Cardoso. A compra de um andar e dois subsolos que pertenciam ao Automóvel Clube, no Centro de São Paulo, custou R$ 900 mil e a reforma já ficou em cerca de R$ 3 milhões. Para implantar o instituto e depois mantê-lo, FHC calcula que precisa de R$ 30 milhões. Tem cerca de R$ 15 milhões, boa parte arrecadada entre empresários que admiram o que ele fez no governo. Alguns desses contribuintes formaram um grupo que doou R$ 1 milhão por cabeça. O dinheiro chega em parcelas mensais na Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que administra o fundo. ‘O rendimento mensal será usado para sustentar o instituto ao longo do tempo’, explica José Expedito Prata, diretor do IFHC, que estima os custos em R$ 150 mil por mês.

Calé/ÉPOCA
ROTINA
FHC com Neves (à dir.) e Márcio Cypriano, do Bradesco: empresários tietes
PRESTÍGIO
Conferência com Stanley Fischer
e Paul Volker

A idéia do instituto foi inspirada no que fazem os presidentes americanos. Uma equipe de historiadores cuida das 330 mil peças do acervo do ex-presidente. São documentos da Presidência, de seu tempo no Senado, livros, presentes e arquivo pessoal, guardados num subsolo que parece o cofre-forte de banco, com controle de temperatura e umidade. A idéia é preservar a memória do ex-presidente para que sua história possa ser consultada no futuro. Além disso, uma equipe de assessores vai coordenar a realização periódica de seminários nacionais e internacionais para discutir temas da atualidade. No futuro, todo o material e o dinheiro do fundo serão doados à Universidade de São Paulo (USP).

A inauguração do instituto será uma festa grandiosa. Se todos os convidados vierem, vai ser preciso chamar o Exército para cuidar da segurança: estão confirmadas as presenças de figurões da política mundial como o ex-presidente americano Bill Clinton, o francês Lionel Jospin, os portugueses Mário Soares e Antonio Guterrez. De Clinton, ele é muito próximo. No ano passado, Alberto Neves, presidente da Compuware no Brasil, assistiu a uma palestra de Clinton nos Estados Unidos. Na saída, deu a sorte de poder trocar algumas palavras com o ex-presidente americano. Ao dizer que era brasileiro, ouviu o seguinte: ‘Tem um homem que eu admiro muito no Brasil. É inteligente, íntegro e honesto’. Neves pensou logo em Pelé, mas Clinton completou: ‘É o ex-presidente Fernando Henrique’. Há duas semanas, num evento de empresários em Comandatuba, na Bahia, Neves relatou a história a FHC.

Calé/ÉPOCA
INTERVALO
Na semana passada, almoço de negócios em Nova York

Na semana passada, enquanto sua esposa, Ruth, viajava com as netas para Buenos Aires, FHC embarcou para Nova York. Participou de reuniões na Fundação Rockefeller, na ONU e deu aula na Universidade de Princeton. FHC viaja duas vezes por mês para o exterior, onde passa boa parte de seu tempo. Lá fora, anda a pé ou de metrô. No Brasil, circula com carro oficial e motorista destinado pelo governo a ex-presidentes. Tem ainda três seguranças e dois assessores que são coordenadores do instituto.

Está protegido e bem assessorado, mas não tem mais ajudante-de-ordens para as coisas mais comezinhas. Foi forçado a aprender como receber e mandar e-mails (quem fazia isso era a secretária e dona Ruth). Fez menos progresso com o celular, que continua na mão do segurança.

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Fonte: http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/08/20/epoca-e-o-apagamento-da-memoria-das-viagens-de-fhc-e-de-seu-instituto/