Se você fizer uma pesquisa no google sobre o ano seguinte em que FHC deixou a presidência, começou a viajar pelo mundo para dar palestras cobrando 50 mil dólares e criando um Instituto tal como fez Lula, curiosamente a matéria de Época sumiu do mapa. Ela está no motor de busca do Google, mas ao clicar no link dá página não encontrada.
Ainda bem que tem webcache e antes que suma do motor de busca do google, vamos printá-la e registrá-la para a eternidade. A reportagem de capa de 11 anos atrás mostra como nossa imprensa é seletiva. Fernando Henrique fazer a mesma coisa que Lula faz hoje: criar um instituto e dar palestras era bacana, mas quando o ex-presidente é Lula, mesmo que seja tudo declarado e transparente é ‘ilegal’
23/04/2004 – 22:19 | EDIÇÃO Nº 310
REPORTAGEM DE CAPA
Fernando Henrique S/A
Ex-presidente viaja pelo mundo, cobra US$ 50 mil por palestra e prepara inauguração de instituto com seu nome
DAVID FRIEDLANDER E LEANDRO LOYOLA
Fotos: Otávio Dias de Oliveira/ÉPOCA
|
|
NOVO ENDEREÇO
FHC já trabalha em sua nova sala no instituto. Ao lado, o antigo bar do Automóvel Clube, que foi restaurado |
O ex-professor, senador, ministro e presidente da República Fernando Henrique Cardoso agora é uma celebridade. Desde que deixou o Palácio do Planalto, no ano passado, FHC já faturou cerca de R$ 3 milhões dando palestras para empresários e intelectuais, no Brasil e no exterior. Está escrevendo um livro sobre seu governo, que deverá ser publicado ainda neste ano. Sua próxima grande tacada será o lançamento do Instituto Fernando Henrique Cardoso, no dia 22, em São Paulo. Montado com luxo, mas sem ostentação, o lugar foi criado para preservar na História a memória de seu governo e de sua obra acadêmica. Aos 72 anos, depois de oito anos das delícias e pesadelos da Presidência, Fernando Henrique está levando um vidão. Transforma fama em dinheiro, faz política quando bem entende e viaja duas vezes por mês para o exterior para exercitar seus dotes intelectuais. E prova que não sonha em voltar à Presidência da República.
Até agora se sabia apenas vagamente das atividades de FHC fora do governo. Ele só aparece viajando e, de vez em quando, falando de política. A novidade é que longe do público o ex-presidente virou atração no mundo empresarial e já é um dos conferencistas mais bem pagos do mundo. Cobra US$ 50 mil (cerca de R$ 150 mil no Brasil) – preço livre de impostos, hospedagem e passagem aérea, gastos que ficam por conta do cliente. No Brasil, ninguém cobra mais caro. ‘O critério foi pedir metade do que Bill Clinton (ex-presidente dos Estados Unidos) cobra’, diz George Legmann, o agente que cuida das palestras e dos direitos autorais dos livros de Fernando Henrique. Da metade do ano passado para cá, foram 22 conferências, seis delas em outros países. Contrataram os serviços do ex-presidente a AmBev, a Medial Saúde, os bancos Pátria e Santander (este em Madri), a ACNielsen e o Banco Central do México, entre outros.
INSTITUTO
No subsolo, um bunker com salas climatizadas para conservar o acervo de 330 mil peças de FHC |
FHC exige uma conversa pessoal com o cliente antes da conferência. São encontros de meia hora, apenas para combinar o tema. O ex-presidente tem falado sobre globalização, educação e ética. Além dos eventos de empresas, seu mercado abrange também as universidades. No exterior elas pagam honorários fixos, entre US$ 10 mil e US$ 20 mil. ‘No Brasil eu faço de graça. As universidades aqui não têm dinheiro para isso’, afirma. FHC custa caro porque é uma raridade: tem vasto preparo acadêmico, contatos internacionais e uma extensa experiência política. ‘FHC é visto como um estudioso do Brasil, tem categoria para fazer grandes projeções e os empresários acreditam que ele pode ajudar a decifrar melhor o governo’, explica Luís Fernando Lopes, economista-chefe do banco Pátria.
Fernando Henrique fica incomodado quando o assunto é dinheiro. Notório pão-duro, ressalta que recebe apenas aposentadoria proporcional como professor da USP e que ex-presidente não tem pensão. Tergiversa quando alguém pergunta sobre os honorários das palestras e não conta quem está bancando o Instituto Fernando Henrique Cardoso. A compra de um andar e dois subsolos que pertenciam ao Automóvel Clube, no Centro de São Paulo, custou R$ 900 mil e a reforma já ficou em cerca de R$ 3 milhões. Para implantar o instituto e depois mantê-lo, FHC calcula que precisa de R$ 30 milhões. Tem cerca de R$ 15 milhões, boa parte arrecadada entre empresários que admiram o que ele fez no governo. Alguns desses contribuintes formaram um grupo que doou R$ 1 milhão por cabeça. O dinheiro chega em parcelas mensais na Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que administra o fundo. ‘O rendimento mensal será usado para sustentar o instituto ao longo do tempo’, explica José Expedito Prata, diretor do IFHC, que estima os custos em R$ 150 mil por mês.
Calé/ÉPOCA
|
|
ROTINA
FHC com Neves (à dir.) e Márcio Cypriano, do Bradesco: empresários tietes |
PRESTÍGIO
Conferência com Stanley Fischer e Paul Volker |
A idéia do instituto foi inspirada no que fazem os presidentes americanos. Uma equipe de historiadores cuida das 330 mil peças do acervo do ex-presidente. São documentos da Presidência, de seu tempo no Senado, livros, presentes e arquivo pessoal, guardados num subsolo que parece o cofre-forte de banco, com controle de temperatura e umidade. A idéia é preservar a memória do ex-presidente para que sua história possa ser consultada no futuro. Além disso, uma equipe de assessores vai coordenar a realização periódica de seminários nacionais e internacionais para discutir temas da atualidade. No futuro, todo o material e o dinheiro do fundo serão doados à Universidade de São Paulo (USP).
A inauguração do instituto será uma festa grandiosa. Se todos os convidados vierem, vai ser preciso chamar o Exército para cuidar da segurança: estão confirmadas as presenças de figurões da política mundial como o ex-presidente americano Bill Clinton, o francês Lionel Jospin, os portugueses Mário Soares e Antonio Guterrez. De Clinton, ele é muito próximo. No ano passado, Alberto Neves, presidente da Compuware no Brasil, assistiu a uma palestra de Clinton nos Estados Unidos. Na saída, deu a sorte de poder trocar algumas palavras com o ex-presidente americano. Ao dizer que era brasileiro, ouviu o seguinte: ‘Tem um homem que eu admiro muito no Brasil. É inteligente, íntegro e honesto’. Neves pensou logo em Pelé, mas Clinton completou: ‘É o ex-presidente Fernando Henrique’. Há duas semanas, num evento de empresários em Comandatuba, na Bahia, Neves relatou a história a FHC.
Calé/ÉPOCA
|
INTERVALO
Na semana passada, almoço de negócios em Nova York |
Na semana passada, enquanto sua esposa, Ruth, viajava com as netas para Buenos Aires, FHC embarcou para Nova York. Participou de reuniões na Fundação Rockefeller, na ONU e deu aula na Universidade de Princeton. FHC viaja duas vezes por mês para o exterior, onde passa boa parte de seu tempo. Lá fora, anda a pé ou de metrô. No Brasil, circula com carro oficial e motorista destinado pelo governo a ex-presidentes. Tem ainda três seguranças e dois assessores que são coordenadores do instituto.
Está protegido e bem assessorado, mas não tem mais ajudante-de-ordens para as coisas mais comezinhas. Foi forçado a aprender como receber e mandar e-mails (quem fazia isso era a secretária e dona Ruth). Fez menos progresso com o celular, que continua na mão do segurança.
The post Época e o apagamento da Memória das viagens de FHC e de seu instituto appeared first on MariaFrô.