No domingo, minha fala insistente no debate do #48HDemocracia foi sobre o comportamento do eleitorado paulista, aquele que trocou seu voto pela seca nas torneiras, por aperto no metrô e trens sucateados e superfaturados, por mais repressão nas periferias, pelo sucateamento da USP, pela repressão às greves, pelo não repasse de verbas recebidas do governo federal pra instituições como a Santa Casa que chegou inclusive a fechar.
Argumentei por diversos momentos que compreender o eleitorado do “túmulo das utopias” não é para principiantes.
Leio sobre o estarrecimento de Marilena Chauí. Minha ex-professora querida que me desculpe. Não estou estarrecida.
Se por um lado Laura Capriglione tem toda a razão à crítica que faz ao PT genérico de São Paulo, por outro, todo mundo que anda pelas periferias da cidade tem plena consciência do nível de despolitização e reacionarismo presentes nela. É um embrutecimento produzido é bem verdade, pela ausência de políticas públicas durante duas décadas de governo tucano, mas especialmente devido à esquerda ter abandonado estas periferias, ter abandonado a formação política do povo. Aliado a este quadro desastroso temos uma mídia que blinda o PSDB de todas as formas, como diz o professor Ignacio Delgado: “São Paulo sedia a maior parte do complexo midiático de sustentação do pensamento conservador no Brasil, custeado por generosos contratos como os governos tucanos, que acaba por ter papel decisivo nas disputas eleitorais no estado.”
Acima o mapa eleitoral do primeiro turno das eleições presidenciais em vermelho os estados brasileiros onde a presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff saiu vitoriosa, em azul onde Aécio recebeu mais votos que Dilma e em Amarelo onde Marina Silva venceu Dilma e Aécio.
Dilma venceu em MG, no RJ e no RS, FHC dirá que mineiros, gaúchos e fluminenses são ‘desqualificados’?
FHC em entrevista a UOL afirmou que eleitores de Dilma são menos informados: “Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados” e ainda: “há “uma coincidência entre os mais pobres e os menos qualificados”. E não há um único jornalista neste complexo midiático tucano que recorra ao mapa eleitoral da apuração do 1º turno e contraponha FHC, dizendo-lhe:
Olha, ‘príncipe da sociologia’, na capital do estado de São Paulo, onde os tucanos governam há 20 anos e onde em 25 anos só houve 3 administrações petistas, sendo que a última não completou ainda dois anos, seu candidato Alckmin venceu em Itaquera, São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo e Cangaíba (bairros pobres da Zona Leste) e na Capela do Socorro, outro bairro pobre da Zona Sul.
Nesses bairros, eleitores pobres, em sua maioria pretos e pardos trocaram seus votos por mais violência, mas repressão policial, menos água nas torneiras, menos educação de qualidade, já que nos dois anos que Serra ocupou o cargo de governador e nos quatro de Alckmin a educação paulista teve seu pior resultado nas avaliações do próprio governo do estado de São Paulo.
Os eleitores pobres de São Paulo trocaram seus votos por superlotação nos trens e metrôs superfaturados no maior escândalo de corrupção do país, com desvio em propinas de mais de meio bilhão e que só sabemos, porque foi denunciado no Ministério Público da Suíça, pois em São Paulo, CPIs são enterradas e o MP não investiga nenhuma denúncia contra os tucanos ou as arquiva.
Os eleitores dos bairros pobres também trocaram seu voto pelo sucateamento da USP, pela repressão às greves, enfim, pelo desgoverno tucano que há 20 anos domina nosso estado. Mesmo assim, FHC despreza os seus votos em suas declarações.
Também não houve nenhum jornalista para informar FHC que enquanto na Bahia, o estado nordestino onde Dilma teve maior votação, ela recebeu 4.292.325, em São Paulo, feudo tucano blindado pela mídia, Dilma recebeu 5.927.503, mesmo com o intenso bombardeio anti-PT que chega ao cúmulo de criticar corredores de ônibus e ciclovias e se dependesse da elite paulista mandava cassar o prefeito por devolver o território da cidade para a população.
Já no estado onde nasceu Aécio Neves e no qual ele foi governador e senador, Dilma VENCEU com 4.829.513. Dilma venceu ainda no Rio de Janeiro onde Aécio ficou em 3º lugar e olhem que o Rio é a ‘casa’ de Aécio! Dilma também venceu no Rio Grande do Sul.
Fernando Henrique Cardoso também dirá que os gaúchos são “menos informados”, “menos qualificados”?
O que está por trás da fala de FHC é o que pensa a elite anti-petista deste país, que sempre deixou as regiões Norte e Nordeste de lado, como se elas não fizessem parte do Brasil.
Os governos Lula e Dilma ao contrário investiram pesadamente no Norte e Nordeste para diminuir as desigualdades nacionais. Há mal intencionados e ou desinformados que dizem que esses investimentos significaram redução de investimentos em São Paulo ou que estavam vinculados a política de curral eleitoral. São Paulo concentra 33% do PIB do país e também muita desigualdade, sua capital na última década e na contramão do que ocorreu em todo o Brasil, ampliou a desigualdade: de cada 100 reais produzidos na cidade, os ricos (1% da população) ficam com 20 reais. Há uma década atrás ficavam com 13,00. Dilma perdeu para Marina em Pernambuco e só em 2014, a presidenta republicana que temos repassou para o estado de Pernambuco governado então pelo pré-candidato à presidência, Eduardo Campos, que faleceu no último 13 de agosto em acidente aéreo, mais de 650 milhões. Dilma aumentou em 50% o repasse do governo federal ao estado se comparado ao último governo Lula, saltando de 4,61 bilhões para 6,87 bilhões no governo Dilma.
O que está por trás da fala de FHC é que os governos Lula e Dilma provaram que é possível recuperar a economia do país sem desempregar, ao contrário, gerando emprego. Que foi possível reconstruir o Estado privatizado pelos tucanos e desenvolver o país fazendo o Brasil saltar da 15ª economia para a 6ª economia do mundo, tudo isso, acabando com a fome, colocando jovens pobres nas universidades, levando médicos onde nunca houve atenção básica, ampliando a geração de energia e a infra-estrutura do país de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sem abandonar nenhuma unidade da federação, a ponto de prefeitos tucanos apoiarem a presidenta Dilma, como podemos ver no discurso do prefeito do PSDB de Rio Grande da Serra (SP) no trecho da reportagem da Folha de São Paulo em 2/07/2014:
O que está por trás da fala de FHC é negar que o mesmo estado que elege Alckmin, Serra e deixou Aécio em primeiro lugar nas eleições presidenciais, elegeu também Tiririca.
O que que está por trás da fala de FHC é o nojento e recorrente preconceito sudestino contra nordestino, explorado sempre nestes tempos de disputas eleitorais pelos projetos mais reacionários e excludentes, como podemos constatar nos porta-vozes tucanos na mídia, concentrada, monopolizada e partidarizada:
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