Quinta-feira pela manhã recebo uma informação de uma fonte segura de que a lista de Janot estava pronta, a fonte estranhava a carta enviada por Janot para a rede interna restrita aos membros do MPF, se explicando, justificando-se. A fonte comenta: “Nunca vi um PGR se justificar nestes anos todos de MP. Na hora percebi que a carta era para a imprensa e não para nós.”
Dias antes, Janot livrou do inquérito da operação Lava Jato alguns políticos, como o senador tucano Aécio Neves, mesmo com seu nome citado pelo doleiro Alberto Youssef que recebeu delação premiada para abrir o bico. Há provas envolvendo Aécio, levantadas pela denúncia feita pela promotora Andréa Bayão Pereira, em 25 de janeiro de 2012. A procuradora reuniu em sua denúncia “um arsenal de documentos da Polícia Federal e da Receita Federal que, além de atestar a veracidade, comprova a existência de um “mensalão” organizado por Dimas na empresa estatal durante o governo de FHC” como pergunta o jornalista Luiz Carlos Azenha: Será que Rodrigo Janot se deu ao trabalho de consultar os autos nos quais foi baseada a denúncia da procuradora?
A carta de Janot ao MPF e a lista ao JN
Voltemos à lista e a sua publicização na noite de sexta-feira: foi coincidência a lista dos políticos denunciados na Lava Jato ter sido publicada exatamente no horário do JN? Eis o conteúdo da carta que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot enviou aos demais procuradores do MPF:
Colegas,
Abro uma necessária pausa em meio às tribulações próprias do cargo de Procurador-Geral para dirigir a todos os membros do Ministério Público uma palavra de confiança.
Sou grato por ter, no inverno da minha longa carreira pública, a ocasião de servir ao meu País e, especialmente, à sociedade brasileira, na qualidade de Procurador-Geral da República. Quis o destino, também, que eu estivesse à frente do Ministério Público Federal no momento de um dos seus maiores desafios institucionais.
A chamada “Operação Lava Jato” chega a um momento crucial. Encaminhei, na noite de ontem, pedidos de investigação e promoções de arquivamento em relação a diversas autoridades que possuem prerrogativa de foro.
Com o inestimável auxílio de Colegas do Grupo de Trabalho baseado em Brasília, da Força-Tarefa sediada em Curitiba e da assessoria do meu Gabinete, examinei cuidadosamente todas as particularidades que envolvem este caso e estabeleci um critério técnico e objetivo para adotar as medidas necessárias à cabal apuração dos fatos.
Diante das inúmeras e naturais variáveis decorrentes de uma investigação de tamanha complexidade, fiz uma opção clara e firme pela técnica jurídica. Afastei, desde logo, qualquer outro caminho, ainda que parecesse fácil ou sedutor, de modo que busquei incessantemente pautar minha conduta com o norte inafastável das missões constitucionais do Ministério Público brasileiro.
Estou certo que, uma vez levantado o sigilo do caso pelo Ministro Teori Zavascki, o trabalho até este momento realizado será esquadrinhado e submetido aos mais duros testes de coerência.
E assim ocorrerá porque é um valor central da Democracia e do Princípio Republicano a submissão de qualquer autoridade pública ao crivo dos cidadãos brasileiros. Entendo, desde sempre, que essa lição deve ser acatada, com ainda maior naturalidade, por todos os Membros da nossa Instituição.
Não espero a unanimidade nem a terei. Desejo e confio, sim, nesse momento singular do País e, particularmente, do Ministério Público brasileiro, que cada um dos meus Colegas tenha a certeza de que realizei meu trabalho em direção aos fatos investigados, independentemente dos envolvidos, dos seus matizes partidários ou dos cargos públicos que ocupam ou ocuparam.
Busco inspiração, com essas minhas breves palavras, na Unidade do Ministério Público brasileiro, sabedor que os esforços de todos os integrantes da nossa Instituição igualam-se na disposição de servir.
Não guardo o dom de prever o futuro, mas possuo experiência bastante para compreender como a parte disfuncional do sistema político comporta-se ao enfrentar uma atuação vigorosa do Ministério Público no combate à corrupção.
Não acredito que esses dias de turbulência política fomentarão investidas que busquem diminuir o Ministério Público brasileiro, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar os seus Membros. Mas devemos estar unidos e fortes.
Ao longo de sua extraordinária história, o Ministério Público brasileiro deu mostras de sua têmpera e de sua capacidade de superar qualquer obstáculo que venha a se interpor no caminho reto a ser seguido. Guardo-me, assim, na paz de quem cumpre um dever e na certeza de que temos instituições sólidas e democráticas. Integramos uma delas.
Estejamos unidos. Sigamos o nosso caminho. Sejamos fiéis ao nosso País.
Paciência e confiança!
Forte abraço,
Rodrigo Janot
É uma carta curiosa, uma carta que pretende conquistar a simpatia de todos os procuradores afinados ou não com a condução de Janot à frente da PGR. Este ano Janot termina seu mandato, se tem em vista a releição, é prudente fazer política de boa vizinhança com seus pares. E se considerarmos os boatos que correm pelo MPF de que o arquivamento das denúncias contra Aécio contrariaram os 8 membros que investigavam o atual senador tucano, Janot precisa mobilizar o espírito corporativo dos procuradores para a defesa da instituição da reação da sociedade diante de suas decisões, como a de arquivar denúncia contra Aécio, por exemplo.
Um meme do arquivamento das denúncias contra Aécio
O meme que circula no Face parece saber do disse-me-disse que corre no MPF:
A SECOM dos holofotes
Há outro aspecto curioso com a chegada de Janot na PGR em 2013: em janeiro de 2015, a jornalista Cláudia Lemos, foi substituída na Secretaria da Comunicação da PGR por Raul Pilati.
O referido jornalista trabalhou no Correio Braziliense, Estadão, Globo, Gazeta Mercantil, CNI, MS como informa sua bio do Twitter (@RaulPilati).
Ele também foi diretor executivo da In Press Porter Novelli em Brasília, fundida posteriormente com a Oficina da Palavra e que se tornou a In Press Oficina, uma agência de publicidade com alcance internacional.
Pilati tem ainda em seu currículo artigos escritos para o site oficial do PSDB, veja por exemplo aqui e aqui.
Chama a atenção algumas publicações de Pilati no Twitter, especialmente alguns de seus comentários e retweets:
Em janeiro de 2015 Raul Pilati deixa o cargo de diretor de corporate affairs na In Press Oficina, empresa fruto da fusão da In Press Porter Novelli com a Oficina da Palavra, no Distrito Federal. Durante seis anos Pilati dividia seu trabalho entre os escritórios de São Paulo e Brasília, conduzindo projetos de assessoria de imprensa, public affairs, relações governamentais e relações públicas (veja aqui e aqui)
Pilati defende a ideia que a comunicação pública tem de ter estratégias e há tempos presta serviços de comunicação para o judiciário, ele foi por exemplo, coordenador da Revista dos Magistrados da Justiça do Trabalho.
Não tenho dúvida que é preciso que as instituições públicas tenham uma boa comunicação, mas segundo Pilati já passou a era da máxima de que “juízes só se comunicam nos autos”, Gilmar Mendes, por exemplo, deve ser seguidor das ideias de Pilati.
Pilati assume a SECOM da PGR em janeiro de 2015 inaugura a era na PGR de uma comunicação pública publicitária, dos holofotes, dos impactos no JN, aquela comunicação do espetáculo que Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e outros ministros do Supremo tanto apreciam: cada fala, comentário jocoso, conflito entre advogados um fash, uma capa de revista, uma manchete de jornal e transmissão ao vivo pela tevê.
Algumas questões
As mudanças na comunicação da SECOM com a entrada de Rodrigo Janot que vinculou a SECOM diretamente ao seu gabinete explicaria o texto cuidadoso com a imagem pública do PGR aos demais procuradores? E a lista da Lava Jato divulgada pelo JN antes mesmo de ser divulgada nos canais da SECOM da PGR?
A política de procuradores e magistrados só se comunicarem nos autos já sabemosque é “antiquada” na visão do Secretário da SECOM-PGR, ex-diretor de mega agência de publicidade. Isso explicaria o especial Lava Jato no site da PGR? Isso explicaria o desprestígio da comunicação pública pelas “barganhas na comunicação mercadológica”?
A carta dos funcionários da SECOM- MPF
Partindo da própria função da SECOM que garante em sua Apresentação que a ‘informação é um direito de todos’, há outras coisas que gostaríamos de ver explicadas, parece que a era da comunicação publicitária na SECOM não agrada sequer os funcionários da COMUNICAÇÃO PÚBLICA da PGR, como podemos ver na carta que recebi hoje e que foi protocolada no dia 6 de março pelos servidores da SECOM do MPF endereçada a Janot.
Quando recebi a carta dos servidores da comunicação do MPF fiquei bastante impressionada com as similidades entre os problemas que eles apontam e a análise que venho fazendo desde quinta-feira quando recebi a carta de Janot enviada aos procuradores.
Confiram:
PS. Resolvi cortar as assinaturas para não expor os jornalistas signatários.
Sobre as relações de Aécio Neves com a lista de Furnas e suas gordas comissões para o Caixa 2 de campanha de vários políticos consultar:
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