Em 8 de janeiro de 2015 escrevi um post sobre João Vitor Claudiano dos Santos, leia aqui: Negro, nordestino, filho de diarista, de escola pública acerta 95% no ENEM
João Vitor, 16 anos, negro, é filho de diarista com 5 filhos, sem pai. Sua família tem renda inferior a um salário mínimo e meio, fez o Enem sem ter terminado o ensino médio, quando fez a prova, ainda faltava um ano para concluir o Ensino Médio. Ele acertou 95% das questões do ENEM. Foi matéria de capa de muitos jornais. No entanto, o Enem tem redação e ela muda a nota geral do candidato e a nota da redação só é publicada quando o SISU/MEC publica a nota dos classificados. Acertar 100% do ENEM não é garantia de aprovação, mas é bem difícil se sair tão bem nas questões das diferentes provas de área e não conseguir a nota mínima de redação para a aprovação. Por isso, para mim, o caminho de João seria a Universidade e não me preocupei mais com isso.
No entanto, de lá pra cá uma infinidade de comentários desacreditaram os feitos de João Vitor, afinal, um guri negro, cearense, filho de diarista, estudante de escola pública, para muitos conservadores não é capaz de tal feito.
Ninguém checou toda a lista do SISU, mas deram o seu veredito: “ele é uma fraude”, “é mentira”, “tem caroço neste angu”, afinal o lugar social reservado a esses meninos pelos conservadores é outro: geralmente a cadeia, ou o assassinato pela polícia e seus autos de resistência, ou pelo tráfico.
O banco da universidade pública num curso valorizado, visto socialmente como ‘difícil’ não é o “lugar” de jovens negros no Brasil para essas pessoas. É só vermos o desprezo com que esta mesma turma fala das cotas.
Vejamos alguns dos comentários que aprovei no primeiro post, alguns insistentes se manifestaram duas vezes:
Portanto, é para esses brasileiros que ao invés de se orgulharem de ver jovens negros entrando nas universidades sem mesmo terminar o ensino médio, provenientes de escolas públicas, de um estado nordestino, região igualmente desprezada e vista com preconceito por este grupo reacionário, filho de uma diarista cuja renda familiar não ultrapassa um salário mínimo e meio, que me dei ao trabalho de sentar hoje e verificar a nota de João Vitor. Mas tenho certeza que esta turma não terá o mesmo empenho em espalhar o resultado da minha pesquisa.
Uma simples busca no Google me levou à lista do SISU e com um pouco de paciência descobri que João Vitor Claudiano dos Santos foi aprovado para o curso de Física na Universidade Federal de Alagoas, Campos A. C. Simões, como mostra os prints no fim deste post.
Aos incrédulos que acham que João Vitor é uma fraude tenham a mesma paciência que tive e confiram os prints, neste link aqui.
Tenho um conselho para vocês: se acostumem com a mudanças do Brasil. Os governos Lula e Dilma ao longo de 12 anos de políticas públicas inclusivas mostram-nos que o Brasil está mudando para melhor, muitos Joãos Vitor virão.
A juventude negra, a juventude da periferia, a juventude filha de trabalhadores braçais está tendo chances e não vai desperdiçá-las. À revelia do preconceito de vocês, estes jovens negros, pobres de todas as periferias do Brasil vão tomar essas chances e vão se tornar médicos, físicos, arquitetos, engenheiros e vão se tornar procuradores, juízes, doutores queiram vocês ou não.
Quanto a João Vitor e tantos outros jovens como ele, parabéns pelo seu empenho, sucesso.
Ao João, quero ainda dizer que desde a primeira vez que o ouvi falar, me orgulhei de ser educadora, fiquei feliz com sua consciência social, de classe, sua politização, sua bela defesa da escola pública. Desejo todo sucesso do mundo para você, siga em frente, guri, o Brasil espera suas contribuições.
PS. João, se você ler este post, por favor, entre em contato, quero entrevistá-lo e um dia te dar um abraço pessoalmente.
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