O blog Maria Frô, orgulhosamente estreia a coluna de Lelê Teles.
Lelê prima por crônicas ácidas, politizadas que divertem e instigam o debate.
Espero que os leitores do blog apreciem a verve de nosso novo cronista.
Por Lelê Teles
13/11/2014
OH, POSIÇÃO
Carecou quem imaginou que Aécio, ao ser fragorosamente derrotado nas urnas e desmentido nacionalmente pelos mineiros que o rejeitaram, iria ficar em um cantinho lambendo as feridas.
Aécio fez sua entrada triunfal no Congresso, sempre com as câmeras a postos, sorridente, vibrante, falastrão.
Tão feliz estava com a derrota que mais parecia que ele tinha entrado na campanha para perder.
E tudo indica que fará da tribuna um palanque, faca nos dentes, o corpo tomado pelo efeito da injeção para cavalos, olhos fixos e vidrados.
Mas como diria fulano, política é como nuvem, você olha agora tá de um jeito, daqui a pouco tá de outro. E o vento começa a soprar na nuvem aeciana anunciando que os Alckminstas estão chegando.
Geraldo e Perillo fizeram o desafio do balde de gelo e derramaram água fria na cabeça do mineiro, disseram em uníssono: a eleição acabou, tá na hora de desmontar os palanques, governo não briga com governo, quem governou sabe disso.
Ou seja, disseram pra Aécio, me inclua fora dessa.
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ATEÍSMO AGORA DÁ CADEIA
Causou estranheza à nação o episódio em que a agente de trânsito, Luciana Silva Tamburini, acabou sendo condenada a pagar uma multa de 5 mil lascas por ter tido o disparate de dizer que juiz não é Deus.
O estranhamento se deu pelo fato de que há muitos juízes e a nossa tradição monoteísta diz que há apenas um Deus. Mas o monoteísmo é o que há de mais fresco, ou de mais novo, no mundo das divindades, o politeísmo sempre foi a regra.
Embora sempre haverá os Prometeus, aqueles que querem se misturar aos mortais. Mesmo a nossa involucionária Bíblia mostra que em Sodoma os filhos dos deuses quiseram, em algum momento, fornicar com os filhos do homem.
Veja que satanagem.
Coube a Lewandowski o papel do Deus que entrega o fogo aos homens. Dowski disse, do alto do STF – que não por acaso é um anexo do Panteão da República – que nenhum juiz é Deus.
Aí eu te pergunto, e por que não condenaram o eminente magistrado a pagar as mesmas 5 mil lascas ao demiurgo carioca? Porque Lewandowski pode até não se considerar Deus, mas os colegas o consideram.
E os deuses são, além de solidários, intocáveis.
Veja o nosso Barbosa, o deus negro, blasfemam os meros mortais que ele fez lá uma maracutaia pra adquirir um apê em Miami, porém nada o aconteceu. Aposentado, do cargo e não da divindade, deveria já ter entregue o apê funcional que habita, nem entregou nem o molestaram.
Mais do que as costas quentes, esses cabras têm o corpo fechado.
Foi Gilmar Mendes – aquele que é a cara do deputado d’A Praça é Nossa – quem melhor definiu a distância que há entre eles e os mortais ao dizer que um juiz jamais se submete ao crivo de um Zé-ninguém da esquina.
Veja o lugar de fala do cabra, como diria Foucault.
É por isso, por essas telúricas excentricidades – além das ostentantes verbas indenizatórias para dar palestras no exterior, auxílio paletó de Miami, auxílio moradia, auxílio creche, do bolsa juiz em uma palavra – que os nossos tribunais são tão suntuosos quanto as catedrais.
Hoje, qualquer rabulazinho estagiando já se sente um arcanjo.
Se você não quer cometer pecados e com isso evitar problemas (já estamos em 5 mil lascas), nunca se esqueça, toda vez que você passar na frente do STF, ou de qualquer tribunal, por favor, se benza.
Eu, de minha parte, na condição de mero dactilógrafo, sempre faço essa oração ao cruzar uma corte:
Há Deus?
Ah, Deus.
Adeus.Palavra da salvação.
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ARTICULANDO A PESSIMÍDIA
Estarrecidos ficamos todos, nós os ingênuos, com a carta que Marta enviou à Presidenta.
Quer dizer, enviou uma ova.
Como vimos, a destinatária era a mandatária-mór, mas o destino da missiva foi a internet. Veja que coisa.
Com isso, a ainda petista inaugurou uma nova era na forma de enviar cartas: quer ficar de mal de um amigo, mande uma carta, não pra ele, mas pra internet, porque você sabe, através da rede tudo acaba chegando ao destino, o destinatário, mas não sem antes passar pelo bisbilhote dos curiosos.
Novos tempos, novas formas.
Vai pedir demissão do emprego, nada de mandar cartas diretamente para o chefe, nem imêio, porque ambos podem extraviar-se pelo caminho. Publica na rede, o documento acabará chegando, inexoravelmente, no colo do chefão.
Foi o que fez Madame Suplicy com a sua carta virtual. Sabendo que a presidenta não se encontrava no país, Marta poupou esse trabalho ao carteiro.
Porém, se a forma não foi a mais ortodoxa, imagina o conteúdo.
Incorporando o filho, Supla, a senadora calçou as botas longas, arrepiou os cabelos, rasgou as calças nos joelhos e saiu distribuindo botinadas nas canelas da presidenta.
Willian Bonner, do alto de seu punkismo, leu trechos inteiros da carta da Marta no JN. Pela forma suave com que Bonner lia, dava a impressão que era essa a real finalidade da missiva.
Mas por que diabos madame resolveu, de uma hora para outra, ser deselegante? Não sei, sou um mero dactilógrafo. O que sei é que Marta, como o filho, é punk de boutique, e o que fazem ambos é pura encenação.
A carta, na verdade, é um santinho de lançamento de sua candidatura à prefeitura de Sampa, no longínquo 2016.
Marta caiu atirando e se saiu bem, porque agora tem pela frente duas claras possibilidades: ou passará para a ala dos ressentidos, juntando-se a Cristovam Buarque, Heloísa Helena e Marina Silva; ou adotará o punkismo sabotador e entrará para o clube das Meninas do Jô e, assim, terá passe livre para achincalhar o governo, sobretudo na área econômica, e articular para a pessimídia.
*Lelê Teles é jornalista, roteirista do programa Estação Periferia – TV Brasil e TV Aperipê.
Apresentador do programa de música africana Coisa de Negro – Aperipê FM.
Colunista do jornal sergipano Folha da Praia.
Editor do blog de Análise do Discurso Midiático FALA QUE EU DISCUTO
Poesia Blog do Lelê Teles
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