A indústria da fé cresce no mundo todo, no Brasil é um excelente negócio: pastores ganham salários altíssimos, viram show man com cultos espetáculos que enchem estádios, constroem templos réplicas de templos de Estado sionista e cobram ingressos para visitações, elegem bancadas no Congresso (que retiram do Plano Nacional de Educação a questão do combate ao preconceito de gênero, racial e o combate a homofobia), tem canais de tvs, gravadoras, fazem megashows, recolhem dízimos de milhões de trabalhadores e tudo isso sem recolher um centavo de imposto aos cofres públicos.
Se já não bastasse os fundamentalistas no interior de suas igrejas consolidando preconceitos contra a população LGBT, contra o direito das mulheres sobre seus corpos, tratando como se fosse uma questão do âmbito da fé o grave problema de saúde pública que é a mortalidade altíssima de mulheres pobres em sua maioria negras devido ao aborto clandestino. Agora eles querem não apenas o legislativo, mas tomar de assalto o Estado Brasileiro.
Políticos missionários, orientados por bíblia até para decidir se escreve ou não sua biografia, que atribui a cura de suas doenças não ao acesso de tratamentos caros com remédios importados, querem trazer as práticas fundamentalistas de suas igrejas para o Estado.
O Estado brasileiro é laico, nossa Constituição permite a prática de todas as religiões, mas assegura que nenhuma delas tenha poder sobre o Estado para dominá-lo e suplantar outras religiões ou impor seus dogmas a todos cidadãos independente da fé.
Seria um ótimo exercício aos fundamentalistas mais caricatos do neopentecostalismo se eles imaginarem uma mãe de santo presidenta fazendo-os seguir os preceitos do terreiro. Ou que se pusessem no lugar de cativos africanos ou povos indígenas à época da Companhia de Jesus. Talvez assim conseguissem perceber que tentar evangelizar a fórceps aqueles que não comungam de sua fé não é uma boa ideia.
Selecionei cinco vídeos. Assistam todos, por mais que choquem aqueles que sabem que sem separação da Igreja e Estado voltamos para tempos sombrios onde Estado de mãos dadas com a Igreja queimavam pessoas em praça pública, sob acusação de serem bruxas, demônios etc; transpuseram oceanos escravizaram 11 milhões de africanos e justificaram a escravização como uma forma de libertação dos infiéis ou pagãos que passaram a ‘conhecer a palavra de Deus’, destruíram civilizações inteiras na América e na África por meio da espada e da cruz e até os hereges: é bom que os neopentecostais estudem um pouco de história e saibam que ex-católicos que se transformaram em protestantes eram tratados como hereges e poderiam sofrer as mesmas sanções de “infiéis” e “pagãos”. E isso só foi possível porque Estado e Igreja se fortaleceram mutuamente contra seus inimigos, todos que não compartilhavam da fé do rei. No caso dos reis ibéricos, o catolicismo.
Mas se quiserem podemos ficar no nosso próprio tempo e ver como Estados fundamentalistas alimentam ódios entre povos, justificam genocídios e controle sobre todos os cidadãos em seus próprios territórios orientados não por constituições ou por leis democráticas, mas a partir da alienação, exploração da fé e controle sobre a mente das pessoas; explorando seus problemas pessoais para justificar a mistura entre religião e Estado.
No campo da fé pessoal Marina pode acreditar em qualquer coisa, o que não pode é deixar que 4 tweets de Malafaia mude seu programa de governo. Isso nos leva a seguinte questão: quantos tweets da Exxon Mobil seriam necessários para Marina privatizar o pré-sal do povo brasileiro?
Aliás, falando na influência de Malafaia sobre Marina, até mesmo Ana Paula Valadão, que hoje é cabo eleitoral mais pop de Marina, parece ser mais decidida para enfrentar Malafaia do que a própria candidata. Em maio de 2011 quando STF aprovou a união homoafetiva, Malafaia surtou no twitter e começou a convocar todos os popstar do mundo gospel para atacar o STF. Ana Paula Valadão não o obedeceu:
Mas vamos aos vídeos.
Vídeo 1: trata-se do testemunho da candidata missionária, Marina Silva. Nele, embora ela relate que teve acesso a tratamento de saúde e remédios caríssimos importados dos Estados Unidos, ela atribui a sua cura não a eles, mas devido ao ‘chamado’ que ela atendeu de Deus. Fico me perguntando, por que ela não dispensou os remédios importados dos Estados Unidos…
No segundo vídeo, a pop star Gospel, Ana Paula Valadão. Uma dos cabos eleitorais mais ruidosos de Marina, que imagino não demora muito a desembarcar da candidatura com a queda das intenções de votos nas pesquisas, porque tal como Agripino Maia, esses show man e show woman apreciam a proximidade do poder e não titubeiam em se aproximar mesmo daqueles que veem como inimigos. No momento Ana Paula usa de seus shows para fazer comício para a candidata Marina. Não é de se estranhar, num contexto onde até o velório de Eduardo Campos virou comício, com selfie em caixão e tudo.
No terceiro vídeo, novamente um espetáculo, Ana Paula faz em sua pantomima uma ameaça direta ao Estado Laico:
“Nós declaramos que iremos sim, iremos sim, iremos sim, invadir a política, para que a nossa invasão, venha mudar a história.”
Detalhe para o símbolo do brinco da pastora-cantora-atora-atual cabo eleitoral de Marina Silva.
No quarto vídeo a pastora-cantora-atora-atual cabo eleitoral de Marina Silva mostra mais uma técnica do teatro religioso midiático neopentecostal. Merece uma tese de estudos semióticos o pastiche de símbolos que disputam o imaginário nesta peça: uniforme militar (pode ser desde o do exército brasileiro aos do US Army, ignorem a citação à Deutscher Gruß do vídeo tosco); bandeiras, associação de evangelização como um ato de guerra, bíblia como arma, enfim, assistam e se virem.
Finalmente, o 5º vídeo: selecionei-o porque mostra um pouco as consequências do risco de um Estado sem laicidade. Trata-se de um programa de rádio que debate religiões afro, os debatedores lembram as declarações polêmicas de Marina que saiu em defesa do político pastor Marcos Feliciano. Feliciano é aquela figura de triste lembrança, autor de declarações racistas e homofóbicas, que chegou a assumir a Comissão dos Direitos Humanos no Congresso, o que fez com que houvesse mobilização popular que culminou em sua queda.
No programa de rádio, Átila Nunes critica a defesa de Feliciano feita por Marina. A atual candidata à presidência da República desta vez pelo PSB, vaga obtida após a morte de Eduardo Campos, acusou os críticos de Marco Feliciano de “preconceituosos contra evangélicos”. Nunes lembra aos ouvintes que a então candidata ex-petista, ex-partido verde e à época tentando criar a Rede, não sofria ataques por ser evangélica. Átila diz: “Fico imaginando Marina Silva presidente da República que defende Marcos Feliciano, daqui a pouco a senhora vai defender o Marcos Pereira, aquele que foi preso por estupro. Isso é o quê? Para garantir o voto dos evangélicos? Para garantir a formação de seu partido, a Rede?”
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