Dennis Oliveira: Jorge Vianna joga água suja na velinha do aniversário do PT
Febbraio 11, 2014 17:00 - no comments yetJorge Vianna joga água suja na velinha do aniversário do PT
Dennis de Oliveira[1], especial para o Maria Frô
11/02/2014
Na semana em que o Partido dos Trabalhadores completa 34 anos de existência, o senador petista Jorge Vianna (AC) defende que o Senado aprove, até o final da semana, o Projeto de Lei 499/2013 chamada de “lei antiterrorismo”. O motivo: a morte do cinegrafista Santiago Andrade por conta de uma explosão de uma bomba nas manifestações contra o aumento da tarifa no Rio de Janeiro, na quinta passada.
Vianna afirma que a lei antiterrorismo vai dar um “sinal concreto” à sociedade de que crimes como o que resultou na morte de Santiago Andrade vão ser punidos “com mais de 30 anos de cadeia”.
Há muita coisa a ser apurada na questão da morte do cinegrafista, em especial, as tentativas da mídia de vincular o acusado de ter jogado a bomba com o deputado estadual do PSOL, Marcelo Freixo. A manchete do portal G1, da Globo, diz que “Estagiário de advogado diz que ativista afirmou que homem que acendeu o rojão era ligado a Marcelo Freixo”. Além do diz-que-diz, mais parecido com fofoca que com matéria jornalística, uma informação importante foi omitida: que o advogado em questão defendeu um ex-deputado condenado por vínculos com as milícias (cuja CPI foi presidida pelo próprio Marcelo Freixo).
O jornalista Gustavo Gindre, do coletivo Intervozes, lembra que muitos jornalistas tem sido mortos no Brasil, a grande maioria por policiais. Outros são perseguidos implacavelmente, como é o caso de Lúcio Flávio, do Jornal Pessoal. Estas situações não despertaram a mesma comoção como é o caso de Salvador Santiago. Por quê? A resposta é simples: porque aconteceu em uma manifestação. Independente de concordar ou não com as táticas dos black-blocs, é fato que o pensamento mais conservador se aproveita da situação para tentar criminalizar o movimento social como um todo, carimbando-o como perigoso.
Classificar como “terrorismo” tais ações é a forma mais comum para silenciar tais movimentos. Primeiro, porque o termo é extremamente “amorfo”, “amplo” que dá uma margem muito grande de interpretação. Veja-se a definição de terrorismo que está neste projeto de lei: “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade da pessoa”. Ora, o que seria “terror ou pânico generalizado”? Como isto seria medido? Por exemplo, as ações da Polícia Militar de São Paulo nas periferias poderiam ser enquadradas como “terroristas”, pois elas efetivamente provocam terror ou pânico generalizado, pois ofendem a vida e a integridade física. Ou ainda quando a mídia inventou uma epidemia de febre amarela em 2008, gerando pânico na população que correu aos postos de saúde esgotando os estoques de vacina. Estas ações vindas de estruturas do poder seriam enquadradas como “terroristas”? Provavelmente não, por conta de que a margem ampla de interpretação permitirá que tal lei seja aplicada apenas a quem ideologicamente convém.
Por isto, a ideia de terrorismo é normalmente utilizada para legitimar ações repressivas por parte dos segmentos dominantes. É assim que os Estados Unidos da América justificam suas intervenções violentas em outros países, que Israel justifica sua política de opressão aos palestinos; que vários países justificam as ações ilegais dos seus serviços secretos, que as ditaduras legitimam seus mecanismos de opressão aos opositores.
Outro senador petista, Paulo Paim, também “sensibilizado” pela morte do cinegrafista, abriu mão do seu requerimento de que o projeto de lei fosse analisado pela Comissão de Direitos Humanos. A histeria que este episódio tem causado coloca a bandeira da democracia e dos direitos humanos na parede.
O mais melancólico de tudo isto é que senadores de um partido político, nascido no período de reorganização dos movimentos sociais nos anos 1980, na ascensão de novos sujeitos sociais na sociedade civil, nas lutas pela democracia e justiça social, e que tem como lideranças, entre elas a própria presidenta da República, pessoas que já foram acusadas de “terroristas” por lutarem contra a ditadura militar, queiram ressuscitar este tipo de procedimento para lidar com os protestos sociais. Jorge Vianna mancha a história do PT na semana do 34º. aniversário do partido.
[1] Professor da Universidade de São Paulo no curso de Jornalismo (graduação) e Mudança Social e Participação Política (pós-graduação). Coordenador do CELACC (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação). E-mail: dennisol@usp.br
Leia também
Precisamos de mais sensatez nas manifestações!
Bruno Torturra: “A morte de Santiago nos faz mais cegos”
Lei antiterrorismo e ação conjunta de governos sinalizam mais repressão
Quarta, 12/02, às 14 horas: Marcha do MST denuncia paralisação da Reforma Agrária
Febbraio 11, 2014 16:16 - no comments yetMarcha do MST denuncia paralisação da Reforma Agrária
Imprensa MST (via mail)
Abertura do VI Congresso em Brasília, 10/02/2014. Foto Conceição Oliveira
Caminhada inicia às 14h desta quarta-feira (12) e deve chegar à Esplanada dos Ministérios. A ação faz parte do VI Congresso Nacional do MST, que teve início ontem e vai até sexta-feira (14).
Mais de 15 mil participantes do VI Congresso Nacional do MST realizam uma marcha em Brasília (DF) nesta quarta-feira (12). A caminhada terá início às 14h no ginásio Nilson Nelson, onde ocorre o IV Congresso Nacional do MST, e terá como destino a Esplanada dos Ministérios.
O ato vai denunciar a atual estagnação da Reforma Agrária no Brasil. Para o Movimento, este é um dos piores períodos da Reforma Agrária: apenas 7.274 famílias foram assentadas em 2013, a partir da desapropriação de 100 áreas, em 21 estados. Dados do Incra apontam que foram assentadas 30 mil famílias, número superestimado, já que inclui áreas de regularização fundiária na Amazônia.
Durante todo o governo Dilma, apenas 176 desapropriações de terra foram realizadas, desempenho que só perde para os três anos do período Collor, quando 28 áreas foram desapropriadas.
O volume de acampados reafirma a necessidade de acelerar a Reforma Agrária no Brasil: mais de 150 mil famílias vivem atualmente em acampamentos, das quais 90 mil integram o MST.
Para a integrante da direção nacional do MST, Itelvina Masoli, a marcha irá sintetizar a insatisfação dos agricultores Sem Terra. “Já estamos cansados de negociações. Nossa pauta está amarelada, pois não avança”.
Na avaliação da dirigente, o Estado prioriza o modelo de desenvolvimento do capital e do agronegócio. “É o pior governo para a Reforma Agrária. Muitos acampamentos estão há anos sem solução.”
Ato Político
Na tarde de quinta-feira (13), durante o VI Congresso Nacional do MST, artistas, políticos e pesquisadores participam do Ato Político pela Reforma Agrária, a partir das 18h. Está confirmada a participação de diversos senadores e governadores, e entre eles Roberto Requião, senador paranaense (PMDB), Tarso Genro, governado do Rio Grande do Sul (PT), e Ivan Valete, Deputado Federal (PSOL/SP) e o Rui Falcão, presidente nacional do PT.
Intelectuais, personalidade e organizações de esquerda estarão presentes no ato. A cantora Beth Carvalho, antiga apoiadora do MST, também confirmou participação.
Stédile: Oito bilhões (valor de empréstimo para construir os estádios) representam 14 dias de juros pagos aos bancos pelo Brasil
Febbraio 11, 2014 13:07 - no comments yetLíder do MST considera ‘erro político’ fazer mobilização durante a Copa
Por Vitor Nuzzi, da RBA
06/02/2014 18:48
Para Stédile, protestos são justos e vão continuar, mas a competição faz parte da cultura brasileira e é ‘bobeira politizar certos períodos’
São Paulo – Um dos coordenadores nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile afirma não ser contra a Copa do Mundo no Brasil, por mais razão que tenham os protestos contra os gastos para a organização do torneio e pela presença da Federação Internacional de Futebol (Fifa). “Acho que é um erro político colocar todos os erros (do país) na reforma dos estádios. Oito bilhões (de reais) representam duas semanas de juros que o país paga para os bancos.” A estimativa oficial mais recente dá conta que o valor com obras em estádio chegará a R$ 8,9 bilhões.
Para ele, é importante fazer mobilizações o quanto antes. O pior momento seria justamente durante a competição, que vai de 12 de junho a 13 de julho. “O povo quer ver a Copa do Mundo. A Copa faz parte da nossa cultura, e acho que seria um erro da moçada achar que isso (protestos) vai granjear apoio popular.”
Mas, segundo Stédile, não significa que é um momento de trégua. “Acho que Copa é que nem carnaval. Alguém vai marcar mobilização durante o carnaval? É besteira politizar certos períodos”, afirma.
Ao mesmo tempo, o coordenador do MST lembra que a entidade integra uma plenária com mais de 100 entidades. “Aqueles problemas estruturais (moradia, transporte, educação) estão latentes, e a juventude vai voltar a se manifestar. A juventude é um termômetro, é como se ela medisse a febre antes dos outros. Mas ela não tem um programa de mudanças. Quem tem de apresentar esse programa são os movimentos sociais organizados.” Ele lembrou que as centrais sindicais já organizam uma manifestação para 9 de abril.
Precisamos de mais sensatez nas manifestações!
Febbraio 11, 2014 11:04 - no comments yetPrecisamos de mais sensatez nas manifestações!
Por Yuri Soares*, Página 13
11/02/2014
Foto: Agência O Globo
Após a morte de um cinegrafista atingido por um rojão é imperativo abrirmos um debate sério e profundo sobre os rumos que os atos tem tomado.
Primeiramente defendo que os culpados pela morte do trabalhador sejam devidamente punidos após julgamento dentro dos trâmites legais. Não se pode contemporizar e transigir quanto a isso. Argumentar que a polícia mata muito mais (o que é verdade) não justifica, pois se começarmos a fazer contas assim sairemos todos perdendo.
Também precisamos debater a sério o fato de que a tática Black Bloc tem desacumulado para o avanço das lutas sociais no Brasil. O fato de atuarem mascarados permite todo tipo de infiltração, assim como a falta de organização política, por tratar-se de uma tática e não um coletivo, o que gera diversos equívocos.
Cada vez mais a tática Black Bloc deixa de ser uma tática de autodefesa de manifestações para se tornar um fim em si mesma, como um tipo de “propaganda pela ação”, em que a estética radical da ação direta ocupa o espaço político das organizações sociais e populares e seus fóruns deliberativos, o trabalho de base de longo prazo e a formação política.
A ausência de pautas políticas definidas também contribui para o estado caótico da base social que compõe os atos: há desde anarquistas e esquerdistas até setores conservadores, unificados apenas pelo discurso de serem contra tudo. O ápice desta falta de foco é o discurso “Não vai ter Copa”, que já nasce isolado da ampla maioria da sociedade e que não dialoga com os verdadeiros problemas do Brasil e do mundo. Como disse recentemente o dirigente do MST João Pedro Stédile, “os oito bilhões de reais (dos estádios) representam duas semanas de juros que o país paga para os bancos”.
No entanto essa discussão precisa ser feita também com os manifestantes que adotam a tática Black Bloc, sem criminalizar o conjunto destes, pois este tipo de criminalização coletiva termina acumulando para o discurso daqueles que pretendem marginalizar o conjunto das lutas e movimentos sociais. Não podemos culpar todas as pessoas de determinada identidade coletiva pelos erros de alguns indivíduos.
Cabe também registrar a infame tentativa de criminalização do deputado estadual do Rio de Janeiro Marcelo Freixo pela grande imprensa ao tentarem sem nenhuma prova associá-lo à morte do cinegrafista. Os barões da mídia já estão tentando utilizar a morte do trabalhador na construção do seu discurso reacionário. O deputado, reconhecido por sua atuação contra milicianos, deve receber toda a nossa solidariedade frente a esta campanha sórdida.
Para o futuro, nem o discurso do medo, que busca fortalecer a repressão e esvaziar as lutas e as ruas, defendendo que as “pessoas de bem” se escondam em casa e a barbárie policial para cima daqueles que estiverem nas ruas, e tampouco o discurso do “quanto pior melhor” que acredita no caos para subverter a ordem irão solucionar os nossos problemas.
Vivemos em momentos complicados em que “soluções” supostamente fáceis e que são muito erradas surgem aos montes. Somente com sabedoria poderemos construir um outro mundo necessário e possível.
Mais do que nunca precisamos de muita calma nesta hora, evitar a defesa da barbárie e do caos e apostarmos na construção coletiva organizada, em que as pautas e táticas acumulem forças para a transformação da sociedade!
A família do jornalista merece todo nosso apoio. Espero que os governos e o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro façam o possível para dar todo o suporte que eles precisarem.
Por: *Yuri Soares, Historiador e Professor pela Universidade de Brasília.
Leia também
Bruno Torturra: “A morte de Santiago nos faz mais cegos”
Lei antiterrorismo e ação conjunta de governos sinalizam mais repressão
Nota de pesar da Consulta Popular sobre a morte de Santiago
Nota de pesar da Consulta Popular sobre a morte de Santiago
Febbraio 11, 2014 10:14 - no comments yetNota de pesar da Consulta Popular
10/02/2014 – 22:03
Cinegrafista Santiago, morto durante as manifestações no Rio de Janeiro. Foto postada por amigos no Facebook.
A Consulta Popular vem manifestar seus mais sinceros pêsames à família do cinegrafista Santiago Ilidio Andrade, assassinado no decorrer de uma manifestação pública no Rio de Janeiro e sua consternação à sociedade brasileira.
A espiral de violência originada da repressão ao direito de manifestação vem engolfando seguidamente forças populares que cedem às provocações e geram, elas próprias, novos estímulos ao descontrole.Que o sangue inocente derramado possa trazer comedimento onde a objetividade política não foi capaz.
Consulta Popular, 10 de Fevereiro de 2014
Leia também
Bruno Torturra: “A morte de Santiago nos faz mais cegos”
Lei antiterrorismo e ação conjunta de governos sinalizam mais repressão