PSDB usa mailing list das FATECS e ETECs para campanha eleitoral
4 de Outubro de 2014, 12:04 - sem comentários aindaSoa cínica a ‘denúncia tucana’ reverberada até mesmo no Jornal Nacional de que Aécio Neves teria sido boicotado pelos Correios e sua publicidade eleitoral não teria sido entregue, quando sabemos que isso é falso como mostrou o Viomundo e também quando sabemos que tucanos fazem uso da máquina pública, sem cerimônias, seja disparando e-mails institucionais em ataques ao PT e depois pondo a culpa em “hackers”, seja usando mailing list de escolas técnicas estaduais para fazer campanha eleitoral como nas denúncias a seguir.
A lei eleitoral é clara, instituições públicas têm inclusive, em época de campanha eleitoral, que cobrirem suas marcas (logotipos seja do governo Federal, sejam dos governos estaduais). Sem falar que é crime obter informações de pessoas sem autorização delas, como no caso das email pessoais.
No entanto, alunos e ex-alunos das instituições de FATECs e ETECs, de acordo com documentos postados por eles no Facebook e também a mim encaminhados mostram que a campanha de José Serra, candidato tucano ao Senado, e de outros candidatos do PSDB à uma vaga no Congresso e na ALESP estão usando o cadastro de emails de escolas técnicas ligadas ao Centro Paula Souza para fazer campanha eleitoral.
As Fatecs são faculdades tecnológicas públicas paulistas, ligadas ao Centro Paula Souza. Aparentemente, o Serra usou o mailing list da instituição, que é “a menina dos olhos” do PSDB, para enviar carta pedindo votos a todos os alunos. O centro Paula Souza administra em todo o estado, por volta de 54 Fatecs, fora as ETECs, escolas técnicas estaduais de Ensino Médio.
Fatecs e Etecs são instituições públicas do estado de São Paulo, o cadastro de e-mail dos alunos não deve ser usado para fins de campanha eleitoral.
Exemplo de mail disparado aos alunos das Etecs e Fatecs:
De: “José Serra” <contato@joseserra.com.br>
Em: Quarta-feira, 01 de Outubro de 2014 17:18,
Para:
Assunto: O ensino que vira emprego
Eu sou José Serra, ex-governador de São Paulo. Permito-me escrever-lhe para dizer que sou candidato ao Senado, número 456, na eleição de domingo.
Se for eleito, orientarei meu trabalho em três direções:
Primeiro, o enfrentamento da crise econômica que vivemos: desconfiança dos investidores, economia estagnada, inflação reprimida, baixa competitividade e desindustrialização. Segundo, a defesa de São Paulo, estado que é discriminado dentro da federação, responsável por 42% dos tributos que a União arrecada, mas que recebe de volta apenas 10% das despesas federais. Terceiro, ampliar o financiamento federal à Saúde e implantar o voto distrital nos municípios acima de 200 mil eleitores, já em 2016.
Ao longo da minha vida pública fiz muitas coisas importantes para o Brasil e para São Paulo, como ministro, deputado, governador, prefeito. No meu site www.joseserra.com.br você poderá encontrar mais informações a esse respeito.
Uma das realizações que mais me orgulham foi o imenso impulso que dei ao Ensino Técnico e Tecnológico em São Paulo, quando fui governador (2007-2010). Como eu dizia: o ensino que vira emprego. Nós viabilizamos 72 Etecs e duplicamos o número de Fatecs de 26 para 52. Expandimos também o número de alunos das escolas e faculdades, de modo que matrículas nas Etecs aumentaram (2006-2011) de 94 para 214 mil, e, das Fatecs, de 18 para 50 mil.
Meu governo triplicou o orçamento do Centro Paula Souza, que saltou de R$ 400 milhões para 1,2 bilhão. Instituímos o Plano de Carreira do Ensino Profissional, que criou 24 mil novos cargos e a remuneração por desempenho. O reajuste médio no valor da hora-aula paga aos professores foi aumentado em 49%. Incorporamos gratificações e concedemos reajuste de acordo com o tempo de serviço para o pessoal administrativo.
Graças a isso tudo, São Paulo ocupa o papel de vanguarda no Brasil na formação de recursos humanos voltados às áreas técnica e tecnológica, tão fundamental para a competitividade e o desenvolvimento do nosso país.
Peço seu voto para ser seu senador. Meu número é 456. Se puder, mande também mensagens aos seus amigos e conhecidos pedindo votos. Meu candidato a governador é o Alckmin, 45, e a presidente, o Aécio, 45. (grifos nossos)
Muito obrigado.
José Serra
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Sou candidato a Senador para defender São Paulo e o Brasil. #Serra456 #SerraSenador
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Morador de aglomerado em BH deixa Aécio no vácuo
3 de Outubro de 2014, 17:03 - sem comentários aindaDo perfil do músico Fábio Martins, em seu Facebook, a fotos são do Jornal, O Tempo.
Política?
“Você foi um canalha, lhe faltou escrúpulos, por isto a SERRA é mal vista desta forma”…
Foi o que ouvi a pouco de militantes e ativistas do PSDB na porta da minha casa!
Cheguei do serviço e notei uma movimentação diferente pelas ruas da favela, perguntei a minha mãe o que ocorria e ela me disse que o Senhor Excelentíssimo Aécio Neves estava na praça aqui do lado e iria passar na rua de casa em passeata!
Entrei e fui descansar, quando tocou a campainha atendi era uma moça que me ofereceu uns panfletos de propaganda os quais não peguei, ela também pediu um copo com água, fui buscar e quando voltei entreguei o copo a moça e notei que o tal candidato já estava quase no portão, eis que me veio uma, acho eu, organizadora da passeata e disse: “Aperte a mão do Aécio” , e olhei pro lado já estava lá o cara com a mão estendida em minha direção.
Simplesmente ergui minha mão e um pouco antes de tocar a mão dele refuguei o movimento e o deixei com a mão no ar e disse que ele não merecia pegar na minha mão!
O rapaz ficou muito sem graça!
O cortejo seguiu e passado alguns minutos voltaram a minha porta 3 militantes do PSDB e um jornalista do O Tempo, falei algumas palavras para o jornalista que disse que tenho coragem e em seguida ouvi dos dos militantes (políticos aqui da Serra) que fui um canalha, mal educado, sem escrúpulos e era por atitudes como a minha que a Serra, comunidade onde moro toda minha vida, é tão mal vista!
Aos ativistas, militantes , sei lá o quê, que voltaram, tenho poucas palavras pra gastar com vocês, mas não poderia deixar de dizer a constatação que hoje tive: vocês não sabem mesmo o significado da palavra DEMOCRACIA.
O mesmo direito que o Senhor Excelentíssimo Aécio Neves tem de subir o morro e forjar aqueles abraçados e apertos de mão nesse povo humilde que aqui habita, tenho eu, um humilde morador de um aglomerado de BH, de não sujar minha mão nesse poço de lama,
Pois será que o canalha sou eu, vos pergunto?
O mal educado sou eu?
Será que a Serra e mal vista por atitude de resignação igual a que tive hoje?
Responda quem souber!
Sei que orgulhosamente moro no morro e sei o quanto é pura e sofrida essa gente, que não tem aeroporto na família, nem vários processos por desvio de milhões e que deseja pelo menos poder ter esperança!
Só lembrando, não tenho partido, não defendo canalha. Não voto em Dilma, Marina e hoje, mais que nunca, tenho repulsa ao PSDB e seus candidatos…
FM.
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Eleições 2014: Ideologias, eleitores, candidatos e o anarco-rebelde-liberal-capitalista
3 de Outubro de 2014, 9:28 - sem comentários aindaPor Arnaldo Ferreira Marques em seu Facebook
I. AS IDEOLOGIAS QUE SE BATEM NESTA ELEIÇÃO
Em 2014 existem 3 modelos políticos disputando o poder no Brasil.
1. Um deles está afinado com o pensamento que governa os Estado Unidos e dita (ou tenta ditar) os atuais rumos da Europa, onde é representado pela chamada Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI).
Segundo esse modelo, o cidadão deve pagar do seu bolso por tudo o que consome, incluindo aí educação e saúde.
E quem deve regular as relações de produção e consumo são os consumidores e as empresas privadas, agindo livremente.
Ou seja: essa proposta é contra o sistema no qual o Estado cobra impostos para com eles oferecer serviços gratuitos à população. E é contra que o Estado atue na produção e nos serviços. Tudo deve ser privado.
Por fim, pouco falado, mas não menos importante, é contra a ingerência do Estado nas relações trabalhistas. Ou seja: entendem que não deve haver qualquer direito trabalhista obrigatório por lei, férias, nada. Tudo deve ser negociado direta e livremente entre patrões e empregados.
No século 19, essas eram as bases do liberalismo. Desde os anos 1980 passou-se a chamar esses valores de ‘neoliberalismo’.
No Brasil, o liberalismo era a ideologia dos antigos Partidos Republicanos estaduais (PRP, PRM etc.) até 1937, e depois foi adotado principalmente pela UDN (1945-1965). UDN que foi o principal apoio civil ao golpe de 1964.
Base ideológica da Arena depois PDS depois PFL e atual Democratas, adotado por Fernando Collor em seu curto governo, o neoliberalismo acabou sendo adotado também por FHC e PSDB, partido que é seu maior defensor atualmente no Brasil.
2. Outro modelo político brasileiro é herdeiro direto do chamado “trabalhismo”.
Com raízes em Artur Bernardes e consolidado nos vários governos de Getúlio Vargas entre 1930 e 1954, o trabalhismo possui três posturas básicas: a ação ampla e firme do Estado na produção e nos serviços para acelerar o desenvolvimento industrial do país; a defesa de leis trabalhistas que forcem a distribuição de renda, quebrando a secular dominação dos empresários no país; e a postura nacionalista, de defesa dos interesses nacionais contra as aspirações das empresas e das potências estrangeiras.
São símbolos históricos do trabalhismo no Brasil a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Petrobras e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Adotado por Vargas e depois pelo antigo PTB (1945-1965) e por setores do antigo PSD (idem), o trabalhismo ressurgiu em 1980 nos novos PTB e PDT. Mas, com o abrandamento das posições ideológicas socialistas de Lula em 2002, vai ser o PT que encarnará mais de perto os ideais trabalhistas, nos governos Lula e Dilma desde 2003.
A manutenção da CLT, a recusa em privatizar a Petrobras, a apropriação da maior parte dos lucros do Pré-Sal, o investimento em grandes obras públicas como Belo Monte, Jirau e Santo Antonio, os PACs, são todas políticas dos governos petistas afinadas com princípios do trabalhismo.
3. Uma terceira proposta política se afina à chamada “nova agenda” surgida na década de 1970 e que foi se consolidando e ampliando nos últimos 40 anos.
Em suas primeiras fases, apegou-se a causas como o respeito à preservação do meio-ambiente, a crítica da sociedade consumista, o respeito dos direitos das mulheres contra o machismo e das chamadas minorias (negros, indígenas, homossexuais etc.).
À esta primeira agenda, no século 21 foram acrescentadas causas mais amplas e estruturais, pregando a mudança do sistema produtivo como um todo, com a adoção de pequenas cooperativas industriais e rurais que substituam as grandes corporações e o agronegócio.
Seus adeptos defendem a agricultura orgânica e muitos levaram os ideais de pacifismo e harmonia com a natureza até o vegetarianismo e o veganismo, criticando radicalmente toda a exploração (e o abate) dos animais.
A antiga reivindicação comunista de fim de propriedade privada é facilmente adotada por essa nova proposta.
É importante não confundir essa postura anticapitalista com o antigo comunismo.
O comunismo foi historicamente industrialista e desenvolvimentista, adotando uma postura hostil ao ambientalismo desde a consolidação da consciência ecológica.
O comunistas eram também fortemente centralizadores, criando grandes corporações de controle estatal.
Os novos grupos são radicalmente anticapitalistas, sim, mas anarquistas, não comunistas-marxistas.
Em seu anticapitalismo, essa nova proposta entende que a mercadoria (produto ou serviço passível de ser vendido e comprado) é um mal que deve ser erradicado.
Qualquer semelhança com o discurso do Movimento Passe Livre não é mera coincidência.
A ideologia “Nova Era” é basicamente adotada por jovens radicais da classe média urbana e adquire, desde o final do século 20, um caráter revolucionário, com grandes confrontos com a polícia onde são usados coquetéis molotov, bombas caseiras etc. No Brasil e no mundo, diga-se.
As recentes prisões de Sininho e sua turma expuseram à sociedade brasileira (com a incompetência de comunicação de sempre, diga-se) os ‘n’ grupos revolucionários criados no Brasil dentro da ideologia Nova Era.
A política institucional (partidos, candidatos etc.) possui dificuldades em se integrar a grupos anarquistas, e vice-versa, por motivos óbvios. Anarquistas não acreditam em eleições, nem em partidos, nem em parlamentos, nem em governos.
Mas, se é para apoiarem alguém, os “Nova Era” vão apontar para os partidos socialistas mais radicais, PSOL, PSTU, PCO.
Não o PT, que adotou o trabalhismo e assim se converteu em um odiado adversário.
II. OS ELEITORES BRASILEIROS
Desde que a democracia de massas se consolidou no Brasil, isto é, desde 1946, o eleitor brasileiro vem historicamente se dividindo em três grandes grupos (que, note-se, não esgotam a enorme diversidade do eleitorado brasileiro).
1. O grupo que pode ser chamado de “elite branca”, que une dois subgrupos bastante diferentes:
a) os descendentes dos colonizadores, quase sempre latifundiários (às vezes transmutados em banqueiros, industriais etc.), dotados de valores aristocráticos, valorizando a ascendência – o sobrenome (aquelas figuras com nome de barão que povoam as colunas sociais país afora);
b) os imigrantes recentes (final do séc. 19 em diante) e seus descendentes, geralmente de classe média e média alta, fortemente apegados à meritocracia individualista do ‘self made man’, da pessoa pobre que com muito trabalho e esforço individual consegue enriquecer na vida.
A elite branca, em geral, pende para o liberalismo e vota, portanto, nos candidatos que defendem as ideias liberais e neoliberais. Odeia o trabalhismo por “dar direitos e recursos públicos a quem não os merece” e é visceralmente anticomunista, disposta a apoiar golpes e ditaduras para impedir o “avanço vermelho”.
2. Outro grupo de eleitores pode ser chamado de “esquerda”. Os eleitores de esquerda no Brasil dividem-se entre o comunismo e o trabalhismo (repetindo a divisão internacional entre comunistas e sociais-democratas).
O eleitor de esquerda possui origens e posturas variadas, mas dois grupos se destacam: a intelectualidade de classe média e os trabalhadores politizados, historicamente organizados em sindicatos.
O voto de esquerda no Brasil é em geral trabalhista. Os partidos mais radicais passaram grande parte dos últimos 70 anos na clandestinidade e tiveram expressão eleitoral apenas em alguns momentos isolados.
3. O terceiro grupo – talvez o mais numeroso – é pouco politizado. Poderíamos chamar seus integrantes de “moralistas”.
Os moralistas costumam se pautar por ideias simples, extraídas de ideologias variadas, sem muita preocupação com a coerência.
Eles são contra os altos impostos (crítica liberal) porque sobra menos dinheiro no bolso deles. Mas são também a favor de muitos serviços públicos gratuitos, porque se beneficiam deles (política trabalhista). E, no geral, amam obras públicas. Quanto maiores (e mais caras), melhor. A menos que a imprensa martele na cabeça deles que as obras são inúteis.
Desejam uma polícia agressiva que reprima com violência máxima o bandido que ameaça sua segurança. Mas temem que a polícia violenta agrida a si ou a seus parentes e amigos.
Mais do que tudo, os moralistas aderem com facilidade à ideia de que todos os políticos são ladrões que devem ir para a cadeia.
Com esse ideário político difuso, os moralistas votam geralmente ou em que os convencer ter uma maior vocação para as obras públicas, ou em quem demonstrar maior ímpeto para caçar os ladrões na política.
Seu amor pelas obras públicas os faz votar muitas vezes, mesmo que discretamente, no político que ‘rouba, mas faz’.
A menos que surja um candidato que se proponha enxaguar o mar de lama, varrer a bandalheira ou caçar os marajás. Esses se mostraram imbatíveis. Limpeza é uma obsessão moralista.
‘Obreiros’ ou ‘xerifes’: estes são, em geral, os candidatos dos moralistas.
Apesar de flertar tanto com os liberais quanto com a esquerda, os moralistas se sentem mais à vontade entre os liberais e principalmente os liberais-populistas. São geralmente anticomunistas.
UMA NOVIDADE
4. No começo do século 21, se estrutura um novo tipo de eleitor, em geral jovem de classe média, que se filia à ideologia Nova Era.
Ele é anticapitalista, anti agronegócio, anti grandes corporações, anti grandes obras de engenharia (que impactam nas pequenas comunidades e no meio ambiente).
Geralmente é defensor da bicicleta como meio de transporte, da agricultura orgânica praticada em pequenas cooperativas etc.
Milita na defesa dos direitos dos animais, muitos são vegetarianos ou veganos.
Esse eleitor é uma novidade na cena política brasileira e os partidos políticos ainda não conseguiram dar conta de representá-los.
O Partido Verde seria o candidato mais forte, mas a versão brasileira não é radical o bastante para os Nova Era.
Há candidatos isolados, principalmente aos parlamentos, mas não um partido completo ou um candidato à presidência.
O fato de haver um forte componente anarquista no grupo não facilita nada a representação política.
A GRANDE NOVIDADE DESDE 2010
Além desses quatro grupos (três deles tradicionais, encontrados desde 1946), está surgindo um 5º grupo. Uma grande e real novidade.
5. No século 21, sem dúvida esse quadro apresentou uma crescente alteração, que se manifestou com clareza nas eleições presidenciais de 2010 e parece ser decisivo nas de 2014.
Pela primeira vez, alguns elementos do discurso moralista foram adotados de forma explícita por correntes de esquerda (a Nova Era). E vice-versa.
Ao atacar a prática da política como uma atividade corrupta, e defender o meio ambiente e os grupos considerados ingênuos e desarmados contra a crueldade do “sistema” (indígenas, quilombolas, favelados etc.), os adeptos das ideias anarquistas “Nova Era” começaram – tudo indica que involuntariamente – a seduzir o velho eleitorado moralista.
Ora, os adeptos da “Nova Era” são anarquistas anticapitalistas, mais radicais em sua utopia socioeconômica do que os comunistas mais radicais.
Mas como falta, historicamente, qualquer precisão ideológica aos moralistas, esse processo de interação Nova Era & moralistas fez surgir a figura do anarco-rebelde-liberal-capitalista.
Esse ser estranho saiu às ruas em junho de 2013 e assustou os “nova era” autênticos (cabendo então a célebre frase: “Criei um monstro!”).
A massa de moralistas se une assim pela primeira vez à parte mais “moderna” da esquerda em busca de candidatos que superem o “simples” embate capital x trabalho (liberais x trabalhistas); apequenem o papel (e o custo) dos políticos no Estado e na sociedade; e introduzam a “santidade na política” – sempre tão suja – ao adotar uma agenda de ações boníssimas em prol das plantas, dos animais, dos indígenas etc.
Um fenômeno novo, muito novo.
III – SOBRE DILMA, MARINA E AÉCIO
Nos dois primeiros tópicos, falei como vejo as ideologias predominantes no cenário político do Brasil e os principais perfis dos eleitores brasileiros.
Nesta reta final da campanha, resta falar dos três candidatos que encabeçam as pesquisas.Sem dúvida a candidatura que necessita menos explicação, nos limites dos tópicos anteriores, é a de Dilma Rousseff. Quem os leu, viu que classifico o neopetismo de Lula pós-2002, e seu prolongamento com Dilma, como trabalhista.
Com tudo o que o termo trabalhista implica: defesa dos direitos do trabalhador (CLT), desenvolvimentismo (as grandes hidrelétricas, PAC, conteúdo nacional na Petrobras/Pré-Sal etc.) e nacionalismo (principalmente o Pré-Sal nas mãos da Petrobras, mas também repúdio à espionagem de Obama, posição independente na ONU, no G-20, nos BRICS etc.).
Não se trata, obviamente, de um mar de rosas ou uma perfeição angelical. Dilma é criticada à direita e à esquerda.
1. A crítica à direita e seu candidato
Pela direita, é a cantilena ouvida desde os tempos da UDN, pelo menos. Os direitos do trabalhador encareceriam a produção, provocando aumento de preços internos e minando a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Seria populismo. O nacionalismo barraria o investimento externo e atrasaria o país ao insistir no uso de tecnologias inferiores, ao invés de importar o que há de mais moderno. O desenvolvimentismo erraria ao manipular um mercado que deve ser deixado livre para investir apenas onde quiser.
Por trás dessas ideias, o preconceito férreo de que o povo brasileiro – a arraia miúda de pele escura – é fadado ao ócio, ao álcool, aos vícios, e sem leis duras e rédea curta não trabalha nem produz.
E também o preconceito pétreo de que a modernidade sempre estará lá fora, produzida nos países “sérios”, frios e disciplinados.
Aqui na Bananalândia de tempo quente e peles escuras, estamos condenados a importar alta tecnologia e multinacionais, simplesmente devemos nos conformar com isso.
As teorias racistas europeias do século 19 entranharam-se nas elites brasileiras (e foram reforçadas pelos imigrantes que chegavam) e nada parece limpá-las da alma elitista tupiniquim.
Seria desperdício deixar de citar, neste ponto do texto, que o candidato que encarna esses preconceitos, ou melhor, que representa os grupos sociais brasileiros ligados a essas ideias de liberalismo, mas também de inferioridade e submissão, é Aécio Neves.
Mas Dilma também atrai críticas à esquerda. Os textos anteriores já apontaram os caminhos.
2. A crítica à esquerda e seus candidatos
As correntes esquerdistas mais identificadas com o comunismo clássico criticam em Dilma a timidez na reforma agrária, a falta de iniciativa para taxar as grandes fortunas, o incentivo dado ao agronegócio (isto é, ao latifúndio de monocultura exportadora) e a conivência com os bancos privados (que batem recordes sucessivos de lucratividade).
Os mais radicais criticam o sistema de concessão do Pré-sal (que compartilha ao menos uma parte das reservas com as multinacionais) e a não reestatização das empresas privatizadas por FHC, a começar pela Vale.
As correntes ‘Nova Era’ criticam a insensibilidade de Dilma para com os movimentos sociais mais “de raiz”, como os movimentos de sem teto e os indígenas. Denunciam também o desenvolvimentismo petista como nefasto, ao investir em megaobras que causariam grande impacto social e ambiental. A hidrelétrica de Belo Monte é, para eles, o grande símbolo do equívoco desenvolvimentista do PT.
Dilma também incentivaria a produção e o consumo de automóveis, quando deveria investir em transporte coletivo e em meios alternativos de locomoção, como a bicicleta.
A corrente mais próxima do marxismo clássico tem sua candidata principal na figura de Luciana Genro, do PSOL.
As correntes ‘Nova Era’ se dividem entre dois candidatos.
Um com perfil urbano, cosmopolita, mais ligado ao espírito “Grünen” (os Verdes alemães dos anos 1970), Eduardo Jorge do PV. É o ambientalismo clássico, em forte ligação com a contracultura (aquilo que as pessoas costumam chamar de “hippie”).
A outra candidata seria Marina Silva, que está no PSB, mas lidera um movimento próprio, a Rede. Marina tornou-se um fenômeno em 2010, ressurgiu com a morte de Campos e merece um capítulo à parte. Será a IV e última seção deste texto.
IV – TRABALHISMO: SUCESSOS E LIMITES
1. O sucesso histórico do trabalhismo
A experiência mundial dos últimos 40 anos dá a razão ao trabalhismo.
Os países que decolaram economicamente nessa época e proporcionaram uma condição de vida melhor ao seu povo – Japão, Coreia do Sul, China – aplicaram pesadas políticas estatais desenvolvimentistas. Ao mesmo tempo, países com bons indicadores sociais possuem leis trabalhistas ainda mais detalhistas e amplas que a CLT brasileira.
Lula e Dilma provaram o acerto dessas medidas – ao menos no médio prazo – com a melhora consistente de todos os índices sociais brasileiros desde 2002. A fome diminuiu quase a zero, o emprego formal aumentou, o consumo das famílias de baixa renda alcançou o nível de uma classe média modesta (o que para o Brasil é notável), a universidade tornou-se mais acessível, o desenvolvimento da Região Nordeste avança a níveis chineses.
Mas também é verdade que há limites nesse trabalhismo vitorioso. Como ficou exposto em junho do ano passado.
2. O Desafio das Jornadas de Junho de 2013
Lula criou, é verdade, um Ministério das Cidades. Que avançou pouco, porém.
Nem Lula nem Dilma tocaram na falência da cidade brasileira, falência não financeira, mas estrutural. A cidade brasileira está em colapso há mais de 30 anos. Atacada desde cima pela elite com uma especulação predatória e uma política social de apartheid, e desde baixo pelos pobres que praticam ocupações desordenadas e igualmente predatórias em nome de um “direito à moradia” legítimo, porém mal elaborado e mal conduzido.
As chamadas “Jornadas de Junho” de 2013 nada mais foram que o grito de agonia do cidadão urbano diante do colapso da cidade brasileira. Pouca gente entende isso.
Essa bomba permanece armada, e não são BRTs ou VLTs pontuais que a desarmarão. Dilma terá entendido?
3. Os movimentos sociais postos de lado
Por outro lado, o perfil tecnocrático de Dilma – e a brutal incapacidade de comunicação de seu governo – diminuíram ainda mais o papel dos movimentos sociais na administração federal petista.
No contexto das políticas desenvolvimentistas do PAC e afins, indígenas, sem-teto, estudantes viram-se entregues à própria sorte, muitas vezes tratados com o desprezo de sempre por governos locais, latifundiários e empreiteiras, sem que a União agisse de forma firme para ouvi-los e negociar com eles em situação de igualdade.
Os direitos dos homossexuais foram esquecidos pelo governo federal para agradar as bancadas conservadoras aliadas no Congresso.
Muita gente não se conforma com isso. Com razão.
4. A criação de um pré-consenso Nova Era
Os ideais Nova Era se espalham pela sociedade pós-pós-moderna – cada vez mais saturada de artificialismo e tecnologia – como poeira em um dia ventoso.
Pessoas apolíticas mais e mais têm simpatia pelos alimentos orgânicos, militam pelos direitos dos animais e se aproximam do vegetarianismo e mesmo da alimentação vegan.
O desenvolvimentismo petista, sujo de óleo e da lama da histórica corrupção brasileira (que o PT não criou nem incentivou, mas tolerou), soa para essa massa apolítica como algo século 20 demais, “Plano Quinquenal” demais, “Brasil Grande” demais para a nossa pós-pós-modernidade.
Este é o quadro dos últimos anos no Brasil. Desesperados urbanos, militantes dos movimentos sociais e apolíticos Nova Era clamam por uma terceira via. Nem o neoliberalismo tucano, nem o desenvolvimentismo petista.
E eis que surge Marina Silva.
V. MARINA E A TERCEIRA VIA QUE NÃO É (FINAL)
Afinal, quem é Marina Silva?
Para alguns, uma bugra crente ignorante, iludida pelos tubarões da política nacional.
Para outros, uma figura moralmente superior, que soube ver os defeitos e a corrupção do trabalhismo petista e pode superá-los. Uma defensora da natureza e da honestidade.
Que verdades há nessas duas imagens? Pouca ou nenhuma.
1. Origem muito pobre em um estado muito pobre
Marina nasceu em fevereiro de 1958 e teve infância e adolescência pobres, muito pobres, num seringal de um dos estados mais isolados e pouco desenvolvidos do Brasil, o Acre.
Doenças e migrações marcaram essa fase de sua vida.
Órfã de mãe aos 15 anos, doente, em busca de tratamento e de uma vida melhor acabou mudando-se em 1974 para a capital acreana, a (até hoje) modesta cidade de Rio Branco. Terminou sendo acolhida pelo bispo local, Dom Moacyr Grechi.
2. Marina católica de esquerda
Dom Moacyr Grechi era na época um dos expoentes da Teologia da Libertação, sendo um dos criadores da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista.
Nos anos 1970, plena ditadura militar, com os partidos de esquerda na clandestinidade, a vertente esquerdista da Igreja católica era a grande força de resistência popular em locais como o Acre, onde – situação reforçada pela ditadura – ainda imperava a lei da bala e do mais forte.
Marina, que já devia acompanhar a ação da Teologia da Libertação em seu distante seringal – onde decidiu-se tornar-se freira – , teve então uma formação completa nessa ideologia de esquerda cristã.
Integrou-se ao grupo de esquerdistas que procuravam resistir aos abusos dos latifundiários acreanos. Ficou amiga de Chico Mendes.
3. Marina militante
Em um estado como o Acre, a luta de esquerda misturava conceitos marxistas e ambientalistas, dado que era flagrante como os empresários e invasores destruíam tanto as pequenas comunidades que viviam na floresta como a própria floresta, introduzindo pastos e plantações que mudavam completamente o ecossistema local.
Com o passar do tempo, a Igreja brasileira recuou de sua posição esquerdista, sob pressão do novo papa conservador, João Paulo II (eleito em 1978). Ao mesmo tempo, com a Abertura, os movimentos de esquerda do Brasil iam se libertando das amarras da ditadura, a partir de 1979.
Marina acompanhou esse movimento da Igreja, que recuava, e dos novos partidos, que avançavam.
Analfabeta até a adolescência, Marina cursou o Mobral. Mais tarde, aos 26 anos (1984), formou-se em História pela Universidade Federal do Acre.
Em meados dos anos 1980, Marina era professora e militante de esquerda, integrando uma das correntes mais radicais da esquerda do PT.
4. Marina na política partidária.
Marina entrou para o jogo político eleitoral em 1986, candidatando-se a deputada federal pelo PT. Não foi eleita.
Em 1988 se elegeu vereadora – a mais votada – pelo PT em Rio Branco.
Não é, portanto, uma novata na coisa. Conhece os meandros de um legislativo, as negociatas e negociações há 26 anos. Uma vida.
Junto com Chico Mendes (assassinado em 1988), ganhou fama mundial como defensora da floresta e dos povos da floresta.
Em 1990 foi eleita deputada estadual no Acre.
Em 1994 Marina foi eleita senadora pelo Acre. Tinha 36 anos, era a mais jovem senadora da história brasileira e seguramente uma das de origem mais pobre.
O mandato dos senadores é de 8 anos. Em 2002, Marina se reelegeu (com mandato até 2010).
Como senadora, Marina combateu principalmente os inimigos que conhecia do Acre: empresas e latifundiários que assumem uma postura predatória em relação à natureza. Defendia a natureza e as pequenas comunidades que vivem em simbiose com a natureza.
Por isso Lula a convidou para assumir o ministério do Meio Ambiente de seu governo, em 2003.
5. Marina ministra x desenvolvimentismo lulista
Parecia perfeito: uma ministra petista histórica, que ingressara no partido em 1984, reconhecida internacionalmente como uma grande ambientalista. Diga-se que no exterior ela encarnava o que se pensa da mulher brasileira “típica”, exótica, não branca, “da floresta” (um ambientalista como Carlos Minc não se enquadra no estereótipo gringo de “brasileiro” e é naturalmente menos cotado lá fora).
Mas Marina se chocou contra o desenvolvimentismo de Lula e parte de sua equipe. Onde ela queria proteção a aldeias de indígenas e ribeirinhos, o governo lulista queria lagos de hidrelétricas. Onde ela queria bagres protegidos, Lula queria indústrias para empregar operários que seriam líderes sindicais e futuros presidentes da república.
(aqui eu peço licença ao Arnaldo para inserir um link Seringueiro diz que florestas públicas foram privatizadas por 70 anos de uma entrevista do Luiz Carlos Azenha que recentemente este no Acre e um vídeo menos idílico desta imagem de Marina Ambientalista).
Essa postura combativa antidesenvolvimentista atraiu os olhares da turma Nova Era.
Marina parecia ser a candidata há anos esperada e que o antigo Partido Verde (PV) nunca conseguiu emplacar.
E as coisas se encaminharam da melhor forma possível para os Nova Era: Marina se encheu da prioridade que Lula dava ao desenvolvimentismo. Pediu demissão do ministério em 2008 e saiu do PT.
A ambição de Marina era ir além. Em 2010, ela se apresentou como candidata à presidência da república pelo PV.
6. Marina candidata – 2010 / 2014
Em 2010, Marina Silva atraiu o voto Nova Era, a candidata simpática contra os transgênicos, contra o desmatamento, contra a energia nuclear, a favor da natureza.
Os eleitores apolíticos ou apartidários cansados (enjoados) com a troca de farpas, já muito desgastada e irritante, entre PT e PSDB – mensalão, mensaleiros, mineiros & privatistas – também se animaram com Marina.
Os quase 20% de votos válidos na eleição presidencial de 2010 consagraram Marina como a nova força política do país.
Mas ao subir ao olimpo da política nacional, Marina atraiu os holofotes e aspectos menos divulgados de sua biografia começaram a aparecer.
7. Os limites de Marina
Marina se apresenta desde 2010 – ou assim é entendida por alguns, dá no mesmo – como a terceira via política, nem tucana nem petista.
Mas só pensa assim quem não entende qual é a essência do neoliberalismo tucano.
O fato é que dois aspectos surgiram claros no perfil político da Marina candidata à presidência.
a) Marina, desde 1994, tornou-se evangélica praticante, membro da igreja pentecostal Assembleia de Deus.
Esse dado – a priori sem muita importância (a maioria dos políticos possui uma crença religiosa e não há problema nenhum nisso) – ganha relevância diante do crescimento da chamada “Bancada da Bíblia” no Congresso Nacional, e na consolidação de partidos evangélicos, dominados por pastores, em todos os níveis da política nacional. Esses partidos praticam uma política agressiva de impor suas concepções morais a toda a sociedade.
Diante desse quadro real e preocupante, que atenta contra o Estado laico, Marina começou a ser intimada a dar sua opinião sobre questões morais, principalmente envolvendo a homossexualidade.
E nunca convenceu na defesa do Estado laico e na igualdade de direitos a todas as orientações sexuais.
Preocupante.
b) Mais importante ainda, Marina parece ter desvinculado completamente a defesa do ambientalismo da crítica ao capitalismo liberal.
Tanto por seus assessores explícitos, quanto pelo seu discurso, Marina abraçou os ideais neoliberais de flexibilização das leis trabalhistas e de liberdade às grandes empresas agirem no mercado financeiro.
É como se, para ela, salvando-se os bagres e os ribeirinhos, a CLT não tivesse qualquer importância. Um Lula em negativo, um oposto. Geralmente o oposto não é a solução. A soma de 8 com 80 é 88 na matemática, mas na vida é zero.
A postura de Marina diante do Pré-Sal é ainda mais preocupante, dado que vai ao encontro do que se pode chamar de “ambientalismo imperialista”, no qual ONGs de países ricos que exploram ao máximo seus recursos naturais impõem aos países em desenvolvimento preceitos que, ““““““coincidentemente””””””, beneficiam as indústrias dos países centrais ricos.
São essas ONGs que demonizaram a forma de produção de energia menos poluente do planeta – as hidroelétricas, quando sabemos que a hidroeletricidade é um modal de tecnologia dominada por países como o Brasil, enquanto tecnologias de energia solar e eólica são dominadas apenas por Europa e EUA.
Interessante que nós devamos nos sacrificar abandonando o Pré-Sal e fragilizando a Petrobras (mesmo sem usar essa expressão), enquanto a Exxon, Shell, British Petroleum, Repsol, Total, Sinopec etc. crescem sem parar mundo afora.
8. Conclusão: Marina ambientalista neoliberal
Marina foi de 8 a 80. Horrorizada pelo que considera ser um desenvolvimentismo predatório, assumido pelo PT, adotou um ambientalismo que, para ser o mais abrangente possível, aliou-se ao neoliberalismo.
Isso não é terceira via.
Isso é o jogo do neoliberalismo internacional, vertente ambientalista.
Por isso que, para mim:
MARINA NÃO.
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Gabriel Kogan: Crise hídrica em SP não é natural, mas sim resultado de um governo incompetente
2 de Outubro de 2014, 11:00 - sem comentários aindaPor Gabriel Kogan*, em seu Facebook
Gostaria de desmistificar alguns pontos sobre a crise hídrica em SP, assunto que tangencia minhas pesquisas acadêmicas.
1- “Não choveu e por isso está faltando água”. Essa conclusão é cientificamente problemática. Existem períodos chuvosos e de estiagem, descritos estatisticamente. É natural que isso ocorra. A base de dados de São Paulo possibilita análises precisas desde o século XIX e projeções anteriores a partir de cálculos matemáticos. Um sistema de abastecimento eficiente precisa ser projetado seguindo essas previsões (ex: estiagens que ocorram a cada cem anos).
2- “É por causa do aquecimento global”. Existem poucos estudos verdadeiramente confiáveis em São Paulo. De qualquer forma, o problema aqui parece ser de escala de grandeza. A não ser que estejamos realmente vivendo uma catástrofe global repentina (que não parece ser o caso esse ano), a mudança nos padrões de chuva não atingem porcentagens tão grandes capazes de secar vários reservatórios de um ano para o outro. Mais estudadas são as mudanças climáticas locais por causa de ocupação urbana desordenada. Isso é concreto e pode trazer mudanças radicais. Aqui o problema é outro: as represas do sistema Cantareira estão longe demais do núcleo urbano adensado de SP para sentir efeitos como de ilha de calor. A escala do território é muito maior.
3- “Não choveu nas Represas”. Isso é uma simplificação grosseira. O volume do reservatório depende de vários fluxos, incluindo a chuva sobre o espelho d’água das represas. A chuva em regiões de cabeceira, por exemplo, pode recarregar o lençol freático e assim aumentar o volume de água dos rios. O processo é muito mais complexo.
4- “As próximas chuvas farão que o sistema volte ao normal”. Isso já é mais difícil de prever, mas tudo indica que a recuperação pode levar décadas. . Como sabemos, quando o fundo do lago fica exposto (e seco), ele se torna permeável. Assim a água que voltar atingir esses lugares percola (infiltra) para o lençol freático, antes de criar uma camada impermeável. Se eu fosse usar minha intuição e conhecimento, diria que São Paulo tem duas opções a curto-médio prazo: (a) usar fontes alternativas de abastecimento antes que possa voltar a contar com as represas; (b) ter uma redução drástica em sua economia para que haja diminuição de consumo (há relação direta entre movimento econômico e consumo de água).
5- “Não existe outras fontes de abastecimento que não as represas atuais”. Essa afirmação é duplamente mentirosa. Primeiro porque sempre se pode construir represas em lugares mais e mais distantes (sobretudo em um país com esse recurso abundante como o Brasil) e transportar a água por bombeamento. O problema parece ser de ordem econômica já como o custo da água bombeada de longe sairia muito caro. Outra mentira é que não podemos usar água subterrânea. Não consigo entender o impedimento técnico disso. O Estado de São Paulo tem ampla reserva de água subterrânea (como o chamado aquífero Guarani), de onde é possível tirar água, sobretudo em momentos de crise. Novamente, o problema é custo de trazer essa água de longe que afetaria os lucros da Sabesp.
6- “O aquífero Guarani é um reservatório subterrâneo”. A ideia de que o aquífero é um bolsão d’água, como um vazio preenchido pelo líquido, é ridiculamente equivocada. Não existe bolsão, em nenhum lugar no mundo. O aquífero é simplesmente água subterrânea diluída no solo. O aquífero Guaraní, nem é mesmo um só, mas descontínuo. Como uma camada profunda do lençol freático. Em todo caso, países como a Holanda acham o uso dessas águas tão bom que parte da produção superficial (reservatórios etc) é reinserida no solo e retirada novamente (!). Isso porque as propriedades químicas do líquido são, potencialmente, excelentes.
7- “Precisamos economizar água”. Outra simplificação. Os grandes consumidores (indústrias ou grandes estabelecimentos, por exemplo) e a perda de água por falta de manutenção do sistema representam os maiores gastos. Infelizmente os números oficiais parecem camuflados. A seguinte conta nunca fecha: consumo total = esgoto total + perda + água gasta em irrigação. Estima-se que as perdas estejam entre 30% e 40%. Ou seja, essa quantidade vaza na tubulação antes de atingir os consumidores. Água tratada e perdida. Para usar novamente o exemplo Holandês (que estudei), lá essas perdas são virtualmente 0%. Os índices elevados não são normais e são resultados de décadas de maximização de lucros da Sabesp ao custo de uma manutenção precária da rede.
8- “Não há racionamento”. O governo está fazendo a mídia e a população de boba. Em lugares pobres o racionamento já acontece há meses, dia sim, dia não (ou mesmo todo dia). É interessante notar que, historicamente, as populações pobres são as que sempre sentem mais esses efeitos (cito, por exemplo, as constantes interrupções no fornecimento de água no começo do século XX nos bairros operários das várzeas, como o Pari). A história se repete.
9- “É necessário implantar o racionamento”. Essa afirmação é bem perigosa porque coloca vidas em risco. Já como praticamente todas as construções na cidade têm grandes caixas d’água, o racionamento apenas ataca o problema das perdas da rede (vazamentos). É tudo que a Sabesp quer: em momentos de crise fazer racionamento e reduzir as perdas; sem diminuição de consumo, sem aumentar o controle de vazamentos. O custo disso? A saúde pública. A mesma trinca por onde a água vaza, se não houver pressão dentro do cano, se transformará em um ponto de entrada de poluentes do lençol freático nojento da cidade. Estaremos bebendo, sem saber água poluída, porque a poluição entrou pela rede urbana. Por isso que agências de saúde internacionais exigem pressão mínima dentro dos canos de abastecimento.
10- “Precisamos confiar na Sabesp nesse momento”. A Sabesp é gerida para maximizar lucros dos acionistas. Não está preocupada, em essência, em entregar um serviço de qualidade (exemplos são vários: a negligência no saneamento que polui o Rio Tietê, o uso de tecnologia obsoleta de tratamento de água com doses cavalares de cloro e, além, da crise no abastecimento decorrente dos pequenos investimentos no aumento do sistema de captação). A Sabesp é apenas herdeira de um sistema que já teve várias outras concessionárias: Cantareira Águas e Esgotos, RAE, SAEC etc. A empresa tem hoje uma concessão de abastecimento e saneamento. Acredito que é o momento de discutir a cassação dessa outorga, uma vez que as obrigações não foram cumpridas. Além, é claro, de uma nova administração no Governo do Estado, ao menos preocupada em entregar serviços público e não lucros para meia dúzia apenas.
Enfim, se eu pudesse resumir minhas conclusões: a crise no abastecimento não é natural, mas sim resultado de uma gestão voltada para a maximização de lucros da concessionária e de um Governo incompetente. Simples assim, ou talvez, infelizmente, nem tanto.
*Gabriel Kogan é Mestre em “Urban Water Studies” pela TU Delft, Holanda
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E-mail da Prefeitura tucana de Botucatu ataca petistas referindo-se ao PT como “quadrilha”
2 de Outubro de 2014, 8:56 - sem comentários aindaHoje pela manhã militantes petistas reclamavam no Facebook de campanha atribuída aos tucanos que induzem o eleitor ao erro:
Na imagem printada de um perfil do Facebook, a candidata petista (13) aparece com o número 45, número do PSDB.
Militantes petistas se organizam para que os eleitores denunciem a fraude junto ao MPF
Em matéria do jornal de Botucatu, reproduzida também na versão online, a denúncia de que órgãos da imprensa da cidade receberam um mail remetido pelo endereço eletrônico da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Botucatu, administrada por tucanos, convidando a imprensa para a inauguração do “Bom Prato“, (restaurantes a preços populares para população em situação de vulnerabilidade social construídos pelo governo do estado, também administrado pelo PSDB) com ataques ao PT e campanha pró Aécio Neves, o candidato tucano nas eleições presidenciais. A Secom municipal de Botucatu alega que houve invasão de hackers no site da prefeitura.
E-mail da prefeitura ataca os petistas em Botucatu
Por: Aurélio Alonso, no JCNET
02/10/2014
Secretaria de Comunicação de Botucatu alega suposta invasão por hackers a endereço eletrônico do município; texto chama o PT de “quadrilha”
O e-mail da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Botucatu (100 quilômetros de Bauru) distribuiu na quarta-feira (1) à tarde um convite à imprensa para inauguração do Bom Prato com o texto “chegou a hora de levarmos Aécio para o segundo turno pra tirar essa quadrilha que atende pelo nome do PT no poder”. A prefeitura nega que a mensagem ofensiva partiu dos computadores do órgão. Ela suspeita de invasão de hackers para incriminar o governo municipal.
O JC recebeu a mensagem às 15h52 com o logotipo da prefeitura assinado Secretaria Municipal de Comunicação. No e-mail havia as mesmas letras do material que é enviado diariamente além dos números dos telefones da repartição.
O vereador Lelo Pagani (PT) declarou no início da noite de ontem que é um “absurdo” o material distribuído com ataques ao partido. “É uma invasão de hackers para atacar a oposição? Complicado inverter essa situação. É muito suspeito esse material distribuído antes da eleição”, questionou o petista.
Hoje o partido pretende pedir à Justiça Eleitoral de Botucatu para apurar se houve crime eleitoral e se há envolvimento de algum servidor público municipal. “É preciso apurar para saber de quem é a responsabilidade”, afirmou.
Lelo também pretende levar o caso à Câmara de Botucatu na sessão de segunda-feira. Será solicitada informações ao Executivo se foi atitude de hacker ou falha de alguém querendo fazer campanha eleitoral.
“A propaganda eleitoral está sendo feita. É muito fácil usar de uma artimanha dessa numa atitude muito suspeita e depois alegar que invadiram o site. Hacker não entra para denegrir quem está na oposição”, ressaltou.
Invasão de hacker?
O secretário municipal de Comunicação, Carlos Alberto Pessoa, informou no final da tarde em nota que a prefeitura foi supostamente alvo da ação de hackers.
Ele confirmou que recebeu telefonemas de várias pessoas que receberam o convite acompanhado de mensagem estranha veiculando propaganda discriminatória, mas negou que tenha partido da administração.
Pessoa disse que será aberta sindicância para apurar os fatos. “A Prefeitura Municipal de Botucatu adotará as providências necessárias para a devida apuração dos fatos, bem como para aumentar a segurança da sua rede de informática”, declarou.
O portal da prefeitura foi desativado de forma preventiva para a conservação da integralidade dos dados e informações, retornando minutos mais tarde, segundo a Secretaria de Comunicação.
Horas depois, a assessoria distribuiu o mesmo convite, mas com a informação para desconsiderar o teor da mensagem anteriormente distribuída. Segundo Pessoa, as declarações ofensivas não correspondem a verdade. “Nem é a opinião da atual Administração, a qual, inclusive por dever institucional é apartidária, imparcial, democrática e não comunga com as posições pessoais ou de segmentos,” declarou em nota.
O secretário afirmou que o site da prefeitura por duas vezes já foi atacado por hackers.
O convite é referente ao lançamento na sexta-feira do Programa Bom Prato no câmpus da Unesp.
Site já foi atacado
A página oficial da Prefeitura de Botucatu na Internet já sofreu invasão por grupo de hackers denominado “Anonymous Brasil” em 17 de março de 2012. A invasão teria ocorrido por volta das 23h até a madrugada do dia seguinte.
Na ocasião a prefeitura de Botucatu informou que anulou suas ações e reforçou as medidas de proteção. Segundo Jorge de Campos Junior, chefe da divisão de Informática de Botucatu em entrevista ao JC, no menu de apresentação da cidade o grupo postou mensagem do filme “V de Vingança”. “A imagem foi postada no menu e não na página principal. Não identificamos os autores da tentativa de invasão”, disse.
A prefeitura não registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil. “Contra quem vamos acionar? Não sabemos”, explicou Campos Jr. na ocasião à reportagem.
Depois em 27 de março deste ano o site da Prefeitura Municipal de Botucatu foi invadido por hackers, que colocaram diversas mensagens ofensivas ao prefeito João Cury (PSDB). Os responsáveis não foram identificados pelo ato.
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