Chomsky: Invasão do Iraque pelos EUA é a raiz do terrorismo e o pior crime do milênio
18 de Novembro de 2015, 10:01Como sempre, Chomsky desvela o que todo discurso midiático esconde. Neste vídeo ele discute os significados de terrorismo no direito internacional e para os que são atacados diuturnamente pelos senhores da guerra. Para Chomsky o Estado mais extremo, radical e fundamentalista do mundo, a Arábia Saudita, é o principal aliado dos Estados Unidos.
De acordo com Chomsky, a própria CIA reconhece que o Estado Islâmico é resultado da invasão estadunidense no Iraque: ‘o pior crime do milênio’ praticado pelos EUA. Centenas de milhares de pessoas foram mortas, torturadas, o país destruído, 4 milhões de pessoas deslocadas e 2 milhões de refugiados, sob os olhos de todo o mundo sem qualquer reação para proteger as vítimas do Iraque.
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Ministério da Saúde: NOTA À IMPRENSA SOBRE MICROCEFALIA
17 de Novembro de 2015, 19:30Um grande aumento dos casos de microcefalia na região Nordeste, principalmente no estado de Pernambuco mobilizou o Ministério da Saúde, FioCruz e outras instituições para monitorar a situação na região. A principal suspeita até o momento seria o vírus Zika, encontrado no líquido amniótico de duas gestantes no estado da Paraíba.
Abaixo segue a nota das medidas que estão sendo tomadas.
NOTA À IMPRENSA SOBRE MICROCEFALIA
O Ministério da Saúde divulga nesta terça-feira (17) o primeiro boletim epidemiológico sobre microcefalia, cujo aumento do número de casos no país tem sido monitorado e investigado pela pasta. Até o momento, foram notificados 399 casos da doença em recém-nascidos de sete estados da região Nordeste.
O maior número de casos foi registrado em Pernambuco (268), primeiro estado a identificar aumento de microcefalia em sua região e que conta com o acompanhamento de equipe do Ministério da Saúde desde o dia 22 de outubro. Em seguida, estão os estados de Sergipe (44), Rio Grande do Norte (39), Paraíba (21), Piauí (10), Ceará (9) e Bahia (8).
A investigação desses casos está sendo realizada pelo Ministério da Saúde de forma integrada com as secretarias estaduais e municipais de saúde, com o apoio de instituições nacionais e internacionais. Comitês de especialistas apoiarão o Ministério da Saúde nas análises epidemiológicas e laboratorial, bem como no acompanhamento dos casos.
Além deste apoio, nesta terça-feira (17), o Ministério da Saúde envia a todas as secretarias estaduais de saúde orientações sobre o processo de notificação, vigilância e assistência às gestantes e aos bebês acometidos pela microcefalia. Essas informações serão constantemente atualizadas.
Ainda não é possível ter certeza sobre a causa para o aumento de microcefalia que tem sido registrado nos sete estados. Todas as hipóteses estão sendo minuciosamente analisadas pelo Ministério da Saúde e qualquer conclusão neste momento é precipitada. As análises não foram finalizadas e, portanto, continuam em andamento.
A Fiocruz, que participa das investigações, notificou nesta terça-feira (17) que o Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz concluiu diagnósticos que constataram a presença do genoma do vírus Zika em amostras de duas gestantes da Paraíba, cujos fetos foram confirmados com microcefalia através de exames de ultrassonografia. O material genético (RNA) do vírus foi detectado em amostras de líquido amniótico, com o uso da técnica de RT-PCR em tempo real.
Apesar de ser um achado científico importante para o entendimento da infecção por Zika vírus em humanos, os dados atuais não permitem correlacionar inequivocamente, de forma causal, a infecção pelo Zika com a microcefalia. Tal esclarecimento se dará por estudos coordenados pelo Ministério e outras instituições envolvidas na investigação das causas de microcefalia no país.
O Ministério da Saúde está tratando deste assunto com a prioridade e responsabilidade que o tema exige, dando transparência aos dados e às informações, com previsão de divulgação semanal do boletim epidemiológico da doença.
Na semana passada, foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional para dar maior agilidade às investigações. Trata-se de um mecanismo previsto para casos de emergências em saúde pública que demandem o emprego urgente de medidas de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública.
Também está em funcionamento, desde o dia 10 de novembro, o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COES), um mecanismo de gestão de crise que reúne as diversas áreas para responder a esse evento. O fato já foi comunicado à Organização Mundial de Saúde e Organização Pan-americana de Saúde, conforme os protocolos internacionais de notificações de doenças.
Aos gestores e profissionais de saúde, o Ministério da Saúde orienta que todos os casos de microcefalia sejam comunicados imediatamente por meio de um formulário online que, a partir desta quarta-feira (18), estará disponível a todas as secretarias de saúde.
Sobre as gestantes, é importante que elas mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico. O Ministério da Saúde reforça ainda a orientação de não consumirem bebidas alcoólicas ou qualquer outro tipo de drogas, não utilizar medicamentos sem orientação médica e evitar contato com pessoas com febre ou infecções.
É importante também que as gestantes adotem medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doença, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.
A microcefalia não é um agravo novo. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Na atual situação, a investigação da causa é que tem preocupado as autoridades de saúde. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que habitualmente é superior a 33 cm. Esse defeito congênito pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como as substâncias químicas, agentes biológicos (infecciosos), como bactérias, vírus e radiação.
CASOS EM INVESTIGAÇÃO NOS SETE ESTADOS QUE TIVERAM AUMENTO INUSITADO DE MICROCEFALIA
ESTADO | N° DE CASOS/2015 |
PERNAMBUCO |
268 |
SERGIPE |
44 |
RIO GRANDE DO NORTE |
39 |
PARAÍBA |
21 |
CEARÁ |
9 |
PIAUÍ |
10 |
BAHIA |
8 |
CASOS DE MICROCEFALIA NOTIFICADOS NOS ANOS ANTERIORES NOS SETE ESTADOS
UF | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 |
Piauí | 1 | 0 | 4 | 4 | 6 |
Ceará | 8 | 4 | 9 | 5 | 7 |
Rio Grande do Norte | 2 | 2 | 4 | 0 | 1 |
Paraíba | 6 | 2 | 3 | 5 | 5 |
Pernambuco | 7 | 5 | 9 | 10 | 12 |
Sergipe | 3 | 1 | 2 | 0 | 2 |
Bahia | 12 | 13 | 7 | 14 | 7 |
CASOS DE MICROCEFALIA NOTIFICADOS NOS ANOS ANTERIORES NO BRASIL
2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | |
Brasil | 153 | 139 | 175 | 167 | 147 |
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Sem a comoção do mundo ocidental, nos últimos dois anos EI matou mais de 100 mil muçulmanos
17 de Novembro de 2015, 14:56Não é só Paris, países de maioria muçulmana sofrem gravíssimos atentados inclusive no interior de suas mesquitas. Parem de tratar islamismo como sinônimo de terrorismo. Segue uma breve lista de alguns atentados do Estado Islâmico ocorridos em 2015 que nos ajudam a compreender a crônica e a indignação de Lelê Teles.
11/01/2015 – Paris, França: ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo deixou 12 pessoas mortas
20/02/2015 – Derna, Líbano: Três carros-bomba mataram ao menos 40 pessoas em Derna.
20/03/2015 – Sana, Iêmen: 137 mortos num atentado dentro de uma mesquita
19/04/2015 Líbia: Dezenas de cristãos foram mortos, alguns decapitados.
22/05/2015- Arábia Saudita: Mais de 20 pessoas foram mortas e 120 ficaram feridas em um ataque suicida ligado ao “EI”
17/06/2015 – Sana, Iêmen: uma série de ataques com carros-bomba na capital mataram ao menos 30 pessoas.
26/06/2015- Tunísia: um atirador disfarçado de turista em um resort no Mediterrâneo matou ao menos 38 pessoas – a maioria de turistas britânicos.
1/07/2015 – Península do Sinai, Egito: terroristas do EI mataram dezenas em ataques simultâneos na Península do Sinai.
20/07/2015 – Suruc, Turquia: ataque a um centro cultural, deixando ao menos 32 mortos
24/09/2015- Arábia Saudita: ataque suicida que deixou 15 mortos, sendo que 12 deles eram membros da força de segurança saudita.
06/10/2015 – Iêmen: uma série de ataques de homens-bomba em duas das maiores cidades do país matou 25 pessoas. Menos de duas semanas antes, um outro atentado no país também deixou mais de 20 mortos após a explosão de bombas em uma mesquita.
31/10/2015 – Balneário de Sharm el-Sheik, Egito: grupo afiliado ao “EI” reivindicou um ataque que derrubou um avião de uma companhia aérea russa. O Airbus 321 decolou da região turística egípcia com destino a São Petersburgo, na Rússia. As 224 pessoas que estava a bordo morreram.
12/11/2015 – Beirute, Líbano: duplo ataque suicida destruiu uma área comercial da cidade, bem na hora do rush, deixando 43 mortos e mais de 200 feridos. Foi o pior ataque à cidade em anos.
13/11/2015 -França: 6 ataques quase simultâneos na região central de Paris deixou ao menos 120 mortos e centenas de feridos.
SERÁ QUE VAI TER CHARGE DO CHARLIE HEBDO?
Por Lelê Teles
acordei hoje cercado por beatos nas redes sociais. todos rezando por Paris.
curioso e incréu, fui checar as razões dessa repentina e genuflexa beatificação da humanidade.
e qual não foi minha surpresa.
um odioso ataque à Cidade Luz, metralhadoras fuzilando metaleiros numa boate, sons de bombas estragando uma partida de futebol, mais de cem pessoas mortas, centenas de feridos.
isso é rotina na maior parte do mundo, como se sabe.
mas o barulho de ontem foi imediatamente descrito como o maior ataque terrorista desde o 11 de setembro?
sério, cara?
e aquele atentado no qual morreram 140 pessoas numa escola no Paquistão, por que não entrou no ranking?
e os milhares de civis, crianças, mulheres, velhos e enfermos em hospitais assassinados pelos mísseis israelenses, tão no ranking?
as vítimas inocentes dos drones assassinos tão nesse ranking?
é possível, é humano, orar pela morte de uns e nem sequer chorar pela morte de outros?
quando caiu um avião russo, com mais de 200 pessoas, na Península do Sinai, os chargistas franceses fizeram graça.
graça também fizeram dos refugiados sírios que corriam pra lá com medo dos barbudos malvados.
qual é a graça agora? teremos charges ou só orações?
Quanto ao avião russo, tem dois artigos de Valentin Vacilescu aqui e aqui, pra quem lê em francês, que mostram razões para todos começarmos a rezar.
Obama diz que agora todos vão investir contra o Estado Islâmico. antes, claro, era tudo de mentirinha.
aqueles drones jogando bomba na cabeça de crianças era pura mise-en-scène.
não faltam os que falam que foi um crime perpetrado por muçulmanos, sem se dar conta de que esses barbudos malvados já mataram mais de 100 mil muçulmanos só nos últimos dois anos.
é como dizer que são cristãos os que soltam bombas a partir de drones na cabeça de crianças afegãs.
essa própria conversa mole de reza já é um agendamento com viés político-religioso, o tal choque de civilização; isso é ideologia na veia.
como diz Vacilescu isso é intoxicação.
e por falar em intoxicação, lembrem-se, o Rio Doce tá morrendo, bem aqui diante de seus olhos, suas lágrimas podem ajudar a limpar aquela sujeira.
e oh, aos que estão rezando por Paris, parem.
é por causa de rezas que essas porras estão acontecendo.
Palavra da salvação.
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Minas Gerais: três séculos matando gente e o meio ambiente com a mineração
17 de Novembro de 2015, 14:29Mineração e tragédias em Minas Gerais. Até quando?
Promotor Marcos Paulo Miranda* – MG, Saúde do Meio
Minas Gerais tem o seu próprio nome ligado à mineração, atividade que durante o apogeu do ouro e do diamante sustentou, em boa parte, a economia de Portugal. Nos dias de hoje, sem a fartura de pedras e metais preciosos, o minério de ferro é uma das bases da economia do Estado. Mas um lado funesto decorrente das atividades minerárias ao longo de mais de três séculos de exploração é ainda pouco conhecido: a perda de vidas humanas e a destruição do meio ambiente em episódios recorrentes na história do povo mineiro.
Tratando sobre a extração de ouro no Morro de Pascoal da Silva, em Vila Rica, em 1717, o Conde de Assumar deixou registrado em seu diário que os negros faziam “huns buracos mui profundos aonde se metem, e pouco a pouco vão tirando a terra para a lavar; porém esta sorte de tirar ouro he mui arriscado, porque sucede muitas vezes cahir a terra e apanhar os negros debayxo deitando-os enterrados vivos”.
O Barão de Langsdorff, ao percorrer região de Mariana em 1824, registrou: “passamos por um vale pobre e árido, por onde ocorre o rio São José, turvo pela lavação do ouro e em cujas margens se veem montes de cascalhos, alguns até já cobertos de capim. É difícil imaginar uma visão mais triste do que a deste vale, outrora tão rico em ouro”.
Em meados de 1844, na Mina de Cata Branca, município de Itabirito, à época alvo da exploração aurífera por uma empresa britânica, houve o desabamento da galeria explorada e soterramento de dezenas de operários escravos. Segundo os registros, dias depois do acidente ainda eram ouvidas vozes e gemidos dos negros em meio aos escombros. Ante a dificuldade de resgate, foi tomada a decisão de se desviar um curso d’água para inundar a mina, matando os pobres trabalhadores sobreviventes afogados, ao invés de espera-los morrer de fome.
Sobre o fato, José Pedro Xavier da Veiga deixou registrado nas suas célebres Efemérides Mineiras: “E lá estão enterradas naquele gigantesco túmulo da rocha as centenas de mineiros infelizes, que encontraram a morte perfurando as entranhas da terra para lhe aproveitar os tesouros. A mina conserva escancarada para o espaço uma boca enorme rodeada de rochas negras e como que aberta numa contorção de agonia”.
Em 21 de novembro de 1867, na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, um desabamento matou dezessete escravos e um trabalhador inglês. Dezenove anos mais tarde, em 10 de novembro de 1886, a história se repetiu em Morro Velho. Mais recentemente, rompimentos de barragens nas minas de Fernandinho (1986) e Herculano (2014), em Itabirito; Rio Verde (2001), no Distrito de Macacos, em Nova Lima; e da Mineração Rio Pomba (2008), em Miraí, redundaram em dezenas de outras mortes e prejuízos irreversíveis ao meio ambiente.
No último dia 05 de novembro de 2015, em Mariana, o rompimento de duas barragens da empresa Samarco soterrou quase integralmente o Distrito de Bento Rodrigues, ceifou vidas, destruiu dezenas de bens culturais e danificou de forma severa os recursos ambientais de vasta extensão da Bacia do Rio Doce. Todos sabem que a história é mestra da vida e os fatos adversos por ela registrados devem servir de alerta para o futuro, para que os erros não sejam repetidos.
O aprendizado com os equívocos de antanho deveria impor ao setor minerário da atualidade uma completa mudança de paradigmas. Afinal, temos condições de sermos autores da nossa própria história e não podemos admitir a repetição reiterada desses desastres como algo normal, inerente às atividades econômicas de Minas Gerais.
Entretanto, percebemos que ainda se avultam as inconsequentes condutas induzidas pela ambição do lucro fácil e pelo desdém aos direitos alheios, não raras vezes secundadas pela omissão ou incompetência de autoridades públicas responsáveis pelos processos de licenciamento ambiental, que se contentam com a adoção de tecnologias ultrapassadas em empreendimentos de alto risco, que raramente são fiscalizados.
A anunciada flexibilização do licenciamento ambiental pelo Governo de Minas, com o nítido propósito de beneficiar, entre outros, o seguimento dos empreendimentos de mineração, segue na contramão do que a sociedade mineira espera e precisa: segurança e respeito aos seus direitos.
É hora de dizer um basta.
.*Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Sugestão de publicação do artigo e compilação de artigos de Acauã R. dos Santos.
Tragédia em Mariana mostra que barragens são bombas armadas
A lama da Samarco e o jornalismo que não dá nome aos bois
O Mito da demora no Licenciamento Ambiental
Quem é Quem nas Discussões do Novo Código de Mineração
Minas Gerais: onde estão Ana Clara, Mateus, Yuri e Thiago?
Licenciamento de barragem em Mariana está vencido há dois anos
Ambientalistas querem maior rigor em novo código de mineração
Basta! Chega de mortes, destruição e sofrimento para saciar a voracidade da mineração!
Governo de Minas Gerais perdoa 120 mil multas ambientais
Fotos revelam rachadura em outra barragem em Mariana
Da lama ao caos: o País que não queremos
Rompimento de barragem pode impactar vida marinha por cem anos
“Lama de Mariana pavimentou rios por onde passou. Dano é irreversível”
O rompimento da barragem da Samarco e a enxurrada de culpados
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‘Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece’
16 de Novembro de 2015, 10:13Este blog argumenta questões como as expostas pelo colunista da BBC no texto reproduzido abaixo há muito tempo: uma boa dose do ódio contra o PT e seus membros vem do fato de termos uma classe média com valores escravistas, bem representada no comentário do conterrâneo britânico que Tim Vickery encontra no Rio de Janeiro.
Talvez, lendo o testemunho de Vickery parte desta classe média irracional se dê conta que nunca fará parte de um país desenvolvido se não permitir a ascensão social dos mais pobres que os governos progressistas como os da coalização do PT vem promovendo no país desde 2003.
Há outra aspecto bastante interessante na fala de Tim, o papel da mídia em amplificar o ódio desta classe média cheia de ódio. O ex-jornalista da Globo News, Sidney Rezende deixa isso muito claro em seu último post.
Tim Vickery: Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60
Por Tim Vickery* BBC Brasil
13/11/2015
Foto: Eduardo Martino
Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.
Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.
Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.
Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.
Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?
Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.
Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: “nunca foi tão bom para você” (“you’ve never had it so good”, em inglês).
É a versão britânica do “nunca antes na história desse país”. Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um “estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país” (“a state of prosperity such as we have never had in the history of this country”, em inglês).
Arquivo Pessoal: Vickery volta ao local onde passou sua infância
Macmillan, “Supermac” na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.
Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou “a raiva da classe média” e temeu uma “luta de classes”. Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da “revolta da classe média e da classe média baixa”, que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada “classe trabalhadora” (“working class”, em inglês) na Inglaterra.
Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.
Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?
Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.
No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos “nobres”? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.
Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.
Getty: ‘Parte da crise política da Inglaterra foi vista como protesto contra o progresso entre os mais pobres’, diz Vickery
Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.
No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.
A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: “de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?”.
Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.
*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick
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