A especulação imobiliária faz mais uma vítima: Bahia, líder da ocupação Vitória assassinado
2 de Abril de 2015, 20:43OCUPAÇÃO VITÓRIA
Por não permitir venda de lotes em ocupação, militante é assassinado
JULIANA BAETA
01/04/15
Ele foi morto na tarde dessa terça-feira (31/03) por três pessoas que queriam ficar com um terreno da ocupação, mesmo morando em Betim; os suspeitos seguem foragidos
Morte de Bahia chocou moradores da ocupação Vitória, que se mobilizam junto a movimentos populares e pedem pela prisão dos responsáveis
Um dos principais militantes e lideranças do local foi assassinado a machadadas e marteladas na tarde dessa terça-feira (31). O corpo de Manoel Ramos de Souza, de 26 anos, mais conhecido como Bahia – em referência a sua terra natal – é velado na ocupação Vitória desde as 15h desta quarta-feira (1°).
O movimento de luta pela moradia está de luto após o assassinato de Manoel Ramos, o Bahia, coordenador da Ocupação Vitória, com golpes de machado e facão, desferidas por três pessoas que pretendiam especular com lotes na comunidade. A região em que Bahia atuava fica na área conhecida como Mata do Isidora, que concentra ainda as ocupações Rosa Leão e Esperança, reunindo um total de 4.500 famílias nas três ocupações. A área é palco de intensa disputa entre as empreteiras e a Prefeitura de Belo Horizonte de um lado, que planejam um megaprojeto milionário de especulação imobiliária, e de outro, as milhares de famílias das ocupações, que resistem às constantes ameaças de despejo. O dia primeiro de abril foi de muita consternação, de denúncias e também de homenagens por parte dos movimentos e das comunidades de ocupação de BH. A seguir, reproduzimos nota dos movimentos de moradia sobre a luta do militante Bahia como exemplo da necessidade da reforma urbana e a garantia do direito à cidade.
A TARDE MAIS TRISTE: COMPANHEIRO BAHIA ASSASSINADO
Ontem, 31 de março de 2015, a tarde mais triste das ocupações da região da Isidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Morreu Manoel Ramos, o Bahia, coordenador da Ocupação Vitória e valoroso militante da luta das famílias sem-teto da capital de Minas Gerais e da Região Metropolitana de BH. Por volta das 15h foi assassinado a golpes de machado e facão por oportunistas infiltrados na comunidade Vitória, indivíduos que pretendiam lucrar com a luta de milhares de famílias que lutam aguerridamente por moradia própria, digna e adequada. Bahia tombou no lugar onde sonhou viver, um sonho que não era só dele, mas compartilhado por milhares de famílias que desejam se libertarem do aluguel e da humilhação de sobreviver de favor; um sonho de outras tantas pessoas, dentro ou fora das ocupações, que assumem o compromisso de construir uma cidade onde caibam todos e todas.
Bahia morreu impedindo que as áreas ocupadas não fossem griladas por aproveitadores e oportunistas que vivem às custas da batalha do povo pobre brasileiro. Morreu por ser justo e por fazer do princípio da igualdade seu maior estandarte. Foi vítima da cobiça intolerável de poucos, da intransigência dos poderes públicos em construir uma solução justa, pacífica, negociada e rápida para o maior conflito social urbano do Brasil, hoje instalado na Região do Isidora. Foi a ausência de uma política efetiva de Reforma Urbana que fez do Bahia uma vítima, e nos privou a todos da presença deste gigante em coragem e generosidade.
Bahia era há meses vítima de ameaças por seguir as determinações coletivas que impedem a venda de lotes em áreas ocupadas. Também foi sobrevivente de um atentado contra sua vida executado por PMs, fato que quase o levou à morte, isso por se opor às violações de direitos promovidas por policiais militares contra os moradores da Ocupação Vitória. Bahia nunca se intimidou. Seguiu lutando, denunciando e construindo o futuro de milhares. Um futuro que lhe pertence e que lhe foi negado.
Um pedaço de nós morreu com Bahia, porém aquilo que é vivo em nós se fortalece nesta dor.Não será inútil o sacrifício deste amigo e companheiro. Bahia morreu por defender a justa luta por dignidade, por uma cidade aberta, na qual todos/as e cada um/a possam conviver em plenitude. Diante de um gesto de tanta coragem, não temos o direito de desistir. Devemos levar às últimas consequências o exemplo deste extraordinário ser humano. Devemos lutar, resistir e vencer, coletivamente.
Se tentaram, pelo medo, impor uma ordem injusta, será pela coragem de moradores/as, apoiadores/as e organizações que prevalecerá a igualdade e a Vitória. Seguiremos combatendo toda e qualquer tentativa de utilização indevida da luta de tantos e tantas.
Cabe aos governos evitar que esta situação se repita, e que de uma vez por todas garanta o direito de todas as famílias sem-teto das ocupações urbanas de Minas Gerais.
Não toleramos mais pagar com sangue a intransigência dos governantes, a insensibilidade do judiciário e os interesses dos empresários.A tarde mais triste nos desola. Ontem a noite e hoje choramos sobre o corpo de um de nós. Amanhã nos daremos conta que estamos vivos, e que o tributo cobrado pelo que tombou, é a marcha firme dos que vivem. Nos manteremos sempre de pé.
Companheiro Bahia. PRESENTE!
Belo Horizonte, MG, Brasil, 31 de março de 2015
Assinam essa nota:
- Brigadas Populares;
- Comissão Pastoral da Terra (CPT);
- Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB);
- Coordenação das Ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão
-Rede de Apoio.
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Clemente Ganz: Para crescer, é preciso preservar empregos e salários
2 de Abril de 2015, 7:56Para crescer, é preciso preservar empregos e salários
Por: Clemente Ganz Lúcio*
Em 2014, apesar dos índices de inflação terem ficado mais próximos do teto da meta e do desaquecimento do mercado de trabalho, as negociações feitas pelo movimento sindical foram essenciais para o resultado positivo das campanhas salariais.
A análise dos resultados de acordos e convenções feitas pelo Dieese em 716 negociações de vários setores econômicos, categorias e regiões mostra que 92% das negociações resultaram em aumentos salariais – 6% conseguiram repor a inflação do período entre as datas-base e apenas 2% não conseguiram alcançar a reposição integral da inflação.
A média dos aumentos salariais foi de 1,39%, superior ao observado no ano anterior, quando ficou em 1,22%, e é um dos três melhores resultados da série histórica do levantamento. Cerca de 60% dos aumentos salariais estão na faixa entre 1% e 3%.
O contexto atual é de mais adversidade. Por um lado, porque os choques de oferta, a crise da água e elétrica, a desvalorização cambial, entre outros, pressionam os custos das empresas e a inflação. De outro lado, a performance do mercado de trabalho indica queda na geração de postos de trabalho e desemprego em alguns setores. Neste cenário, a estratégia sindical deverá comportar a indicação de prioridades que combinem a proteção dos empregos e dos salários.
Haverá dificuldades, que podem ser prolongadas, o que exige clareza nas estratégias. Na luta mais ampla e geral, será preciso pressionar por uma política econômica que promova a mais rápida transição possível para uma trajetória de crescimento econômico. Por outro viés, é necessário, deixar muito claro para os empresários que a preservação dos empregos e dos salários significa sustentar a demanda interna, elemento essencial para mobilizar a própria atividade das empresas, bem como sustentar um patamar de crescimento econômico.
*Clemente Ganz Lúcio - diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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