Um país feliz com a paz dos cemitérios
29 de Junho de 2017, 20:16
Em 1964, quando o golpe militar acabou com a democracia no Brasil, eu tinha 10 anos e vivia em Jundiaí, hoje um município com mais de 400 mil habitantes, a 60 quilômetros da capital paulista.
Na época, Jundiaí era uma típica cidade de porte médio do interior, tranquila, conservadora, sem nenhum grande atrativo, a não ser um parque onde se realizavam as "festas da uva", e um ginásio de esportes de formato arredondado, que todos conheciam como "Bolão".
A sociedade jundiaiense daquele tempo obedecia a uma rígida hierarquia: havia os milionários, poucos, uma ampla classe média, que reunia desde os remediados, que moravam "de aluguel" ou em pequenas casas mais afastadas do Centro, até aqueles que, aos nossos olhos, eram ricos - ou quase -, e os pobres, a maioria.
Minha família pertencia à classe média-média - meu pai era capitão reformado do Exército, e minha mãe trabalhou muitos anos como supervisora de vendas de empresas de produtos de beleza.
Morávamos num sobrado de 140 metros quadrados numa ruazinha sem saída, que meu pai havia comprado, a prestações, por meio de um programa habitacional de cujo nome não lembro mais. E tínhamos um carro, com o qual minha mãe percorria a cidade toda e um bom número de outros municípios vizinhos para visitar as vendedoras.
O primeiro foi um Renault Dauphine, seminovo, que vivia quebrando. Depois dele veio uma sucessão de Fuscas, menos charmosos, mas mais confiáveis.
Na minha casa e em muitas outras de classe média, os serviços domésticos, limpeza, cozinha, lavagem de roupas, eram feitos por mulheres que ganhavam pouco, mas se conformavam em pelo menos ter um trabalho.
E era um trabalho e tanto.
As que não dormiam em quartos minúsculos nas casas dos patrões chegavam cedo para o serviço, que só acabava quando começava a anoitecer.
Saí de Jundiaí pouco depois de os militares se cansarem da brincadeira de tomar conta do país.
Ou seja, passei parte da infância, toda a adolescência e um pedaço da vida adulta sob a ditadura, numa cidade onde quase nada de extraordinário acontecia e o tempo parecia congelado.
Quando me mudei para a capital, a Jundiaí de então era praticamente a mesma de quando tinha 10 anos de idade - as únicas transformações foram a ampliação do parque industrial, com a consequente migração de pessoas em busca de emprego, o aumento da pobreza, e os primeiros sinais de uma desenfreada especulação imobiliária.
Vou à cidade pelo menos uma vez por mês para visitar familiares.
E tudo parece alterado em sua paisagem.
Há mais carros, mais gente, mais barulho, mais poluição, mais bares e restaurantes, dois grandes shopping centers, mais violência, uma agitação que se assemelha à da capital.
Mas sei que, no fundo, em sua alma, em sua essência, a cidade ainda vive como nos anos 60, 70 e 80 do século passado, com um medo terrível de que alguma mudança afete a sua aparente tranquilidade.
Quando chego em Jundiaí sinto que sou jogado na triste realidade do Brasil, um Brasil que se agarra com a força dos desesperados na preservação de um status quo em que cada um se conforma com o seu lugar na sociedade.
"Você tem de concordar que está quase impossível arranjar uma empregada doméstica", escreveu, para mim, alguns anos atrás, uma jundiaiense que conheço desde a mocidade.
Ela agora deve se sentir mais aliviada.
Afinal, tudo indica que não só Jundiaí, mas grande porção do país, está contente com a possibilidade de voltar ao passado, à vida sob a vigilância não mais dos militares, mas da meganhagem, feliz com o retorno a uma paz que não vem da felicidade, mas dos cemitérios. (Carlos Motta)
Pobre Chico do Brasil doente
29 de Junho de 2017, 20:16
"Acabaram as boquinhas no MINC. Hora de trabalhar!"
Interromperam a conexão amazônica
27 de Junho de 2017, 21:40Conexão Amazônica
Legião Urbana
Estou cansado de ouvir falar
Em Freud, Jung, Engels, Marx
Intrigas intelectuais
Rodando em mesa de bar
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
O que eu quero eu não tenho
O que eu não tenho eu quero ter
Não posso ter o que eu quero
E acho que isso não tem nada a ver
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Os tambores da selva já começaram a rufar
Os tambores da selva já começaram a rufar
A cocaína não vai chegar
A cocaína não vai chegar
Conexão amazônica está interrompida
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
E você quer ficar maluco sem dinheiro e acha que está tudo bem
Mas alimento pra cabeça nunca vai matar a fome de ninguém
Uma peregrinação involuntária talvez fosse a solução
Auto-exílio nada mais é do que ter seu coração na solidão
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Estou cansado de ouvir falar
Em Freud, Jung, Engels, Marx
Intrigas intelectuais
Rodando em mesa de bar
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
O velho conhecido e o bilhete premiado
27 de Junho de 2017, 21:40
A pequena, religiosa e conservadora Serra Negra, interior de São Paulo, onde moro, tem apenas duas casas lotéricas no Centro.
Uma delas está sempre cheia, muitas vezes com fila na calçada, prova de que as pessoas acreditam que a vida delas pode mudar num instante, não importa o quanto humildes, pobres e desesperadas elas sejam.
Gente de todo o tipo vai fazer a sua fezinha: até os que são vistos como bem-sucedidos aguardam com paciência a sua hora de entregar à moça do outro lado do vidro o seu volante da Mega-Sena, o jogo mais comum e generoso, ou mesmo da Lotofácil, de prêmio inferior, mas de maior probabilidade de acerto.
Outro dia vi um velho conhecido bem no meio da fila.
Ele parecia mais cansado, mais acabado, dava até para perceber algumas olheiras em seu rosto de traços fortes e duros.
Seu cabelo, antes vasto e negríssimo, já se mostrava grisalho, com os primeiros sinais de calvície.
Estava também mais magro, um pouco curvado - nem parecia ter os quase 2 metros de altura que o destacavam em qualquer lugar onde estivesse.
Vestia uma roupa bem mais simples das de antigamente - ele sempre foi o típico classe média, cheio de preocupações com o julgamento que os outros faziam dele.
Foi uma visão rápida, mas suficiente para que de imediato viesse à minha cabeça um paralelo entre esse meu velho conhecido e o Brasil de hoje.
Os dois, pensei, se encontram na iminência de decidir o seu destino, aguardam na fila o bilhete de loteria que pode mudar completamente a sua situação.
São três situações: o bilhete premiado, que levará ao Executivo central um novo presidente da República eleito pelo voto popular, soberano, numa eleição da qual participem todas as forças políticas; o bilhete que passa longe do prêmio, ou seja, que manterá o país nas mãos dos golpistas, interditando a democracia; e o bilhete que dá um prêmio menor, uma eleição presidencial sem a participação da mais expressiva liderança política do país, o ex-presidente Lula.
Metros adiante da casa lotérica, virei a cabeça para dar uma última olhada no meu velho conhecido.
Não estava mais na fila, tinha sumido.
Fiquei na dúvida se o forte sol invernal que iluminava aquela tarde fria não havia ofuscado os meus olhos e eu, na verdade, tivesse confundido esse velho conhecido com outra pessoa qualquer - um brasileiro qualquer.
Talvez, refleti mais tarde, tivesse visto o Brasil inteiro, uma triste figura, naquela fila à espera da sorte grande. (Carlos Motta)
As sentenças da justiça doida
27 de Junho de 2017, 21:40Quando soube que o ex-presidente Lula estava sendo processado por causa de um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia, que, na cabeça dos acusadores, eram produtos de propina, achei que tudo se resolveria em questão de alguns dias, pois pensava que uma simples ida ao cartório de registro de imóveis seria suficiente para determinar a posse dos ditos cujos.
Tolo engano.
O caso do triplex e do sítio tomou proporções gigantescas, virou uma novela, e fez com que tudo aquilo que eu sabia sobre o direito da propriedade - e sobre a justiça do meu país - desaparecesse.
Com o passar do tempo percebi que a rapaziada do Paraná, tal a ousadia em aplicar métodos para lá de estranhos, misturando alhos com bugalhos, botando fé na palavra de dedos-duros, implicando apenas com gente de determinados partidos político, preservando tipos mais que suspeitos de outros, e usando métodos do tempo em que os animais falavam, para arrancar confissões, ou estava lelé da cuca ou então atendia interesses que não têm nada a ver com justiça.
Era inevitável que, diante de tantos disparates, me lembrasse do "Samba do Crioulo Doido", do imortal cronista Sergio Porto, que também atendia pelo nome de Stanislaw Ponte Preta - o criador do Festival de Besteiras que Assola o País, ou Febeapá -, que fez sucesso nas vozes do Quarteto em Cy, lá pelo fim dos anos 60 do século passado.
A música imita um samba-enredo, em cujos versos Chica da Silva obriga a princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes, que, por sua vez, se elege Pedro II, o qual, aliado ao padre Anchieta, proclama a escravidão no Brasil - uma confusão só:
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a princesa Leopoldina
Arresolveu se casar
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar
Com Tiradentes...
Lá! Iá! Lá Iá! Lá Iá!
O bode que deu
Vou te contar...
Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada
A escravidão
E foi proclamada
A escravidão...
Assim se conta
Essa história
Que é dos dois
A maior glória
A Leopoldina virou trem
E Dom Pedro
É uma estação também...
Oh Oh! Oh Oh Oh Oh!
O trem tá atrasado
Ou já passou...
Agora, depois de ler alguns trechos da sentença que condena o ex-ministro Palocci a 12 anos de prisão, fiquei com a certeza de que esse pessoal da chamada Lava-Jato de louco não tem nada, já nem mesmo o mais compenetrado Napoleão de hospício seria capaz de afrontar de maneira tão ousada tudo o que se entende por justiça neste Brasilzão de tantas dores e esperanças.
Tudo isso dá uma saudade imensa do crioulo doido, de tia Zulmira, do Altamirando, do Rosamundo, de tantos personagens criados pela genialidade de Sergio Porto, que, se ainda estivessem na ativa, com certeza se perguntariam de onde vem essa fantástica capacidade da justiceira rapaziada paranaense de criar uma realidade apenas com as suas convicções. (Carlos Motta)
Uma repactuação social necessária
26 de Junho de 2017, 15:48O atual presidente não mostra nenhuma grandeza, pois não pensa no povo e nas graves consequências de suas medidas sociais
Por Leonardo Boff – do Rio de Janeiro:
Seguramente não estou enganado se disser o que se está passando na cabeça das pessoas e se ouve por todas as partes: assim como está, o Brasil não pode continuar. A corrupção generalizada, porque foi naturalizada, contaminou todas as instâncias públicas e privadas. A política apodreceu. A maioria dos parlamentares não representa o povo, mas os interesses das empresas que financiaram suas campanhas eleitorais. São velhistas, perpetuando a política tradicional das coligações espúrias, das negociatas e dos conchavos a céu aberto.
O Brasil não pode continuar do jeito que está
O atual presidente não mostra nenhuma grandeza, pois não pensa no povo e nas graves consequências de suas medidas sociais. Mas em sua biografia. Entrará seguramente na história. Mas como o presidente das anti-reformas. O presidente ilegítimo do anti-povo que desmantelou os poucos avanços sociais que beneficiavam as grandes maiorias sempre maltratadas.
O projeto dos que deram o golpe parlamentar é do mais radical neoliberalismo. Em crise no mundo inteiro, que se expressa pelas aceleradas. Privatizações e pelo atrelamento do Brasil ao projeto-mundo. Para o qual o povo e os pobres são estorvo e peso morto. Esta maldição eles não merecem. Lutaremos para que haja ainda um mínimo de compaixão. E de humanidade que sempre faltou por parte dos herdeiros da Casa Grande.
Estamos num voo cego em um avião sem piloto. Há poucos que ousam apresentar um novo sonho para o Brasil. Mas tenho para mim, que o cientista politico, de sólida formação acadêmica, Luiz Gonzaga de Sousa Lima, o tentou com seu livro
A refundação do Brasil: rumo a uma sociedade biocentrada (Rima, São Carlos 2011). Infelizmente até agora não recebeu o reconhecimento que merece. Mas aí se vislumbra uma visão atualizada com o discurso da nova cosmologia, da ecologia e contra o pensamento único, recolhendo as alternativas para um outro mundo possível.
Permito-me resumir seu instigante pensamento que o expus, com mais detalhes, neste Jornal do Brasil em maio de 2012.
O desafio
O desafio, para ele, consiste em gestar um outro software social que nos seja adequado e que nos desenhe um futuro diferente. A inspiração vem de algo bem nosso: a cultura brasileira. Esta foi elaborada mormente pelos escravos e seus descendentes, pelos indígenas que restaram, pelos mamelucos, pelos filhos e filhas da pobreza e da mestiçagem. Gestaram algo singular, não desejado pelos donos do poder que sempre os desprezaram e nunca os reconheceram como sujeitos de direitos e filhos e filhas de Deus.
O que se trata agora é refundar o Brasil, “construir, pela primeira vez. Uma sociedade humana neste território imenso e belo; é habitá-lo, pela primeira vez, por uma sociedade humana de verdade. O que nunca ocorreu em toda a era moderna, desde que o Brasil foi fundado como uma empresa mundializada.
Fundar uma sociedade é o único objetivo capaz de salvar nosso povo”.Trata-se de passar do Brasil como Estado economicamente globalizado. Como querem os atuais governantes depois do golpe parlamentar. Para o Brasil como sociedade biocentrada,vale dizer. Cujo eixo estruturador é a vida em toda sua diversidade; a ela se ordena tudo mais, mormente a economia e a política.
Ao refundar-se como sociedade humana biocentrada, o povo brasileiro deixará para trás a modernidade, apodrecida pela injustiça e pela ganância, e que está conduzindo a humanidade, por causa da falta de sentido ecológico, a um caminho sem retorno.
Não obstante, a modernidade entre nós, bem ou mal. Nos concedeu forjar uma infra-estrutura material que pode nos permitir a construção de uma biocivilização. Que ama avida humana e a comunidade de vida, que convive pacificamente com as diferenças. Dotada de incrível capacidade de integrar e de sintetizar os mais diferentes fatores e valores. Estes que estão sendo negados pela onda de ódio e de preconceito surgida nos últimos tempos e que contradiz nossa matriz fundamental.
Esperança
É neste contexto que Souza Lima associa a refundação do Brasil às promessas de um tipo novo de sociedade. Diferente daquela que herdamos do passado, agora com a atual crise, agonizando. Incapaz de projetar qualquer horizonte de esperança para o nosso povo. Para este propósito se faz urgente uma reforma política que embasará uma nova repactuação social.
Para esta repactuação dever-se-á colocar a nação como referência básica e não os partidos e contar com a boa-vontade de todos para, finalmente, gestar algo novo e promissor.
Minha esperança não arrefece e se traduz no verso de Thiago de Mello dos tempos sombrios da ditadura militar: ”faz escuro, mas eu canto”.
Leonardo Boff é teólogo, escritor e professor universitário, expoente mundial da Teologia da Libertação.
O post Uma repactuação social necessária apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.
O jovem e as velhas ideias
24 de Junho de 2017, 12:17Dia desses conversei com um jovem publicitário, bem informado, que vive, como muitos ligados a esse segmento profissional, de frilas, pequenos trabalhos, que, como disse, lhe pagam a gasolina e a cerveja.
Tucano pede anulação, mas STF mantém validade de acordo de delação da JBS
23 de Junho de 2017, 10:29Tentativa de rever a colaboração homologada por Fachin, vista como um risco para o futuro das investigações, foi barrada pela Corte
Da CartaCapital
Em julgamento sobre o acordo de delação premiada da JBS, a maioria do Supremo Tribunal Federal decidiu que a homologação das colaborações dos irmãos Joesley e Wesley Batista e de executivos da empresa com a Procuradoria-Geral da República segue válida. A relatoria do caso permanece sob a condução de Edson Fachin, responsável pela decisão monocrática de aceitar o acordo. Restam ainda os votos de cinco magistrados.
Seis dos 11 ministros da Corte entenderam que a verificação inicial da legalidade da delação é competência do ministro-relator, no caso, Fachin, e não do plenário. Após esse controle monocrático, caberá ao STF analisar a eficácia da colaboração posteriormente, em um julgamento colegiado. A partir desse entendimento, o voto de Fachin foi seguido por Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli.
De acordo com essa interpretação, o ministro-relator deve analisar em um primeiro momento aspectos formais da delação, entre eles a impossibilidade de um líder de uma organização criminosa formalizar uma colaboração ou a necessidade da presença de um advogado no momento da celebração do acordo, além de outras exigências técnicas.
O julgamento reforça a validade dos acordos de delação premiada que têm sido firmados no País. Uma revisão da delação da JBS colocaria novas tratativas em risco, pois minaria a segurança jurídica do instrumento. Uma mudança nos acordos representaria uma importante derrota para Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Por ora, a decisão deu fôlego à PGR em seus inquéritos contra Temer, principal alvo do órgão de acusação atualmente.
A petição foi a plenário após o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), pedir a anulação da colaboração premiada da JBS e a retirada de Fachin como relator do caso, sob a tese de que as acusações não tinham relação com os casos investigados pela Lava Jato, sob responsabilidade do ministro-relator no STF.
Wesley Batista, irmão de Joesley, afirmou em sua delação que pagou propina a dois ex-governadores do estado, o deputado federal Zeca do PT e André Puccinelli (PMDB), e ao atual governador para obter incentivos fiscais. Azambuja negou as acusações e partiu para o ataque contra os irmãos Batista, ao pedir a anulação da colaboração dos empresários. As delações e as gravações da JBS constituem a base do inquérito da Polícia Federal contra Michel Temer, atualmente em fase de conclusão.
Em seu voto, Fachin argumentou que Teori Zavascki, relator da Lava Jato antes de sua morte, homologou 19 delações premiadas em decisões monocráticas, enquanto Cármen Lúcia, presidente da Corte, homologou as 78 delações da Odebrecht sem consultar o plenário. O ministro argumentou que na homologação "é vedada qualquer verificação de conveniência do negócio celebrado", mas apenas aspectos formais de sua legalidade.
Em meio ao voto de Alexandre de Moraes, favorável à relatoria de Fachin e sua decisão de homologar a delação, Gilmar Mendes fez um aparte e passou a questionar acordos de colaboração que supostamente ferem a legislação. "Está se reescrevendo a lei? a procuradoria assumiu a função legislativa nesses acordos?", questionou ironicamente o ministro, na presença de Rodrigo Janot. "A Procuradoria pode muito, mas pode tudo?"
Ao acompanhar o voto de Fachin e Moraes, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que a figura da colaboração premiada é nova e "por menos entusiasmo que se tenha (com os acordos), o instituto se impõe no quadro atual". Segundo o ministro, a colaboração, uma vez homologada, não será honrada se o colaborador não "cumprir com as obrigações". Sem muitas considerações, Rosa Weber seguiu o entendimento de seus colegas.
Em seu voto, Luiz Fux pediu esclarecimentos a Fachin sobre o que seria deliberado pela Corte. O ministro-relator argumentou que seu voto separava a homologação, a ser feita monocraticamente a partir de uma avaliação preliminar da delação, da eficácia do acordo, a ser analisada pelo plenário ou uma turma do STF no momento da sentença. Após os esclarecimentos, Fux seguiu o voto de Fachin.
Sexto ministro a votar, Dias Toffoli foi o relator, em 2015, de uma julgamento sobre a validade da delação do doleiro Alberto Yousseff, cuja homologação monocrática foi considerada legal pelo STF de forma unânime. Toffoli seguiu o mesmo entendimento no julgamento desta quinta-feira 22.
Rodrigo Janot
Em sua sustentação aos ministros do STF na quarta-feira 21, Janot afirmou que, diferentemente das demais colaborações firmadas no País recentemente, o acordo da JBS entrega altas autoridades públicas enquanto "cometem crimes em curso". "Tanto que alguns foram pilhados por ação controlada. Como pode se recusar acordo quando se tem conhecimento de crime em curso sendo praticado?", questionou o procurador-geral. "Permitir uma revisão terá consequência em vários outros acordos de delação."
Janot lembrou ainda que a imunidade penal conferida aos delatores da JBS não é inédita. "Seis colaboradores tiveram como premiação a não-denúncia. Todas homologadas no STF." Segundo o procurador-geral, a análise da concessão do benefício deve se dar apenas no momento em que é proferida a sentença. "Neste momento da delação, a esta altura a homologação verifica voluntariedade, legalidade e regularidade. Aspectos formais."
O barbeiro e a prisão do Lula
23 de Junho de 2017, 8:44
O meu barbeiro, aqui na pequena, religiosa e conservadora Serra Negra, tem uns 70 anos de idade, conhece um monte de gente, adora uma fofoca, está na posse de vários segredos da alta, média e baixa sociedade local, e conta "causos" com a naturalidade típica dos barbeiros de antigamente - quando barbeiros eram barbeiros, e não cabeleireiros.
Acredito em quase tudo o que fala, pois, afinal, ele é muito mais bem informado do que eu - sabe-se lá quantas pessoas sentam em sua cadeira diariamente, muitas ali apenas para fazer as mais íntimas confidências entre uma tesourada e outra?
Foi o meu barbeiro quem disse, por exemplo, que os negócios na cidade estão meio parados já há algum tempo.
Seu instituto de pesquisa são os restaurantes vizinhos, populares, que cobram uns R$ 15 a refeição completa, quantos pratos o freguês glutão quiser encher.
- O movimento caiu pela metade, me disse há pouco mais de mês.
Ontem, ele me contou a última, tão logo me assentei para que podasse minhas madeixas:
- O pessoal está falando que estão para prender o Lula, o Aécio e aquele outro...
- O Temer, completei.
- É, ele mesmo. O Lula, me disseram, está em não sei que lugar, nem um pouco preocupado com isso...
Depois, certamente com base em suas inúmeras fontes, disse que o pessoal da cidade estava sem dinheiro e coisa e tal.
Graças à sua perícia e aos meus ralos cabelos, a conversa acabou logo em seguida. Paguei os R$ 20 do serviço e nos despedimos.
Enquanto o "Nove Dedos" não vai preso, hoje, ao começar a ver as notícias na internet, fiquei sabendo que outra pesquisa eleitoral vê ele e aquele deputado fascista que odeia tudo o que não rende votos num eventual segundo turno da eleição presidencial de 2018.
A vontade de votar em Lula, segundo esse levantamento, cresceu ainda mais, na mesma proporção em que é massacrado pela mídia, pelos lava-jatos, por aspirantes a lava-jato, e por todos os que desejam, do fundo de seus bondosos corações, que o Brasil continue a ser, eternamente, o campeão mundial da desigualdade social.
Os outros candidatos da direita, de acordo com a pesquisa, estão no time dos nanicos: Geraldo, o nosso querido governador, segue firme em sua estratégia de aparecer o menos possível no noticiário para continuar no poder; Marina, a verde Marina, deve estar camuflada em alguma floresta que tanto adora; Aécio chora e bebe e jura aos seus, cada vez mais raros, amigos, que a sua carreira não terminou - e por aí vai.
Além do abominável fascista, os anti-Lula têm outro nome para votar, se houver eleição no ano que vem, o do prefeito paulistano,esse incrível representante da espécie humana que respira marketing e vive acelerado.
No fundo, todo mundo sabe que a única diferença que os distingue são as blusas de cashmere e os tênis da badalada grife Osklen que o alcaide adora.
Pois é.
Na minha próxima ida ao barbeiro, o "Apedeuta" provavelmente já estará na cadeia, pagando pelo crime de possuir um apartamento "triplex" na badalada Guarujá, que nunca foi, não é, e nunca será, seu.
O deputado viúvo da ditadura e o prefeito almofadinha, em vista disso, se sentirão bem mais aliviados.
Afinal, seus projetos de transformar o Brasil num imenso Paraguai - não o atual, mas aquele do general Stroessner -, ou, parafraseando o poeta, num imenso Portugal - não o atual, social-democrata, mas aquele do carola Salazar -, estarão com o caminho livre para se concretizar.
Depois disso, quem sabe, os restaurantes vizinhos ao meu barbeiro poderão aumentar o preço de suas refeições, e ele mesmo cobrar mais pelo seu serviço - e suas preciosas informações. (Carlos Motta)
Buscamos uma Frente Ampla de União Nacional (Por Roberto Requião)
23 de Junho de 2017, 8:44Buscamos uma Frente Ampla de União Nacional
Roberto Requião*
Hoje é um dia simbólico. Faz 13 anos que faleceu um dos mais nacionalistas dos líderes brasileiros, Leonel Brizola. Hoje estamos lançando com aguerridos companheiros de vários partidos a Frente pela Soberania Nacional, nossa Frente Nacionalista para enfrentar este governo entreguista.
Essa Frente Nacionalista está aberta a todos os parlamentares que expressem uma genuína preocupação com os destinos da Nação, hoje claramente ameaçada por forças internas e externas.
Ela transcende a partidos, mas tem uma profunda marca ideológica de compromisso com a defesa da soberania nacional e com o nacionalismo.
Nacionalismo sem xenofobia. Nacionalismo que corresponda ao padrão histórico do brasileiro comum, orgulhoso de sua miscigenação e de sua múltipla religiosidade, aberto a todas as culturas, e integrado pelo desejo comum de promover o desenvolvimento sócio-econômico do país.
Não pretendemos ser uma plataforma retórica.
Pretendemos pôr os nossos esforços a serviço da defesa da nacionalidade e da construção de uma sociedade de bem-estar social que atenda a todos os brasileiros.
Não temos inimigos, exceto aqueles que colocam o poder econômico como instrumento de subordinação da política aos interesses do mercado e dos grandes capitais.
Hoje, a maior ameaça à soberania brasileira vem da financeirização da economia, na medida em que o sistema financeiro tornou-se um meio de escravização do nosso povo através de juros escorchantes e de escassez de crédito de longo prazo.
A economia e a sociedade estão sangrando. Pretendemos, com nossa união, acabar com isso.
Várias frentes da soberania nacional estão sendo agredidas pelo atual Governo numa velocidade espantosa. A Petrobrás, símbolo da nacionalidade, está sendo fatiada para efeito de privatização. Entrega-se ao capital privado a exploração da água, desconsiderando que esse dom de Deus não poderia ser transformado em base de negócios lucrativos.
Entregam-se ao capital privado, sem limites, grandes porções de nossas terras. Doa-se a base de Alcântara a uma potência estrangeira que espionou – e provavelmente ainda espiona – nossa maior empresa e o próprio Palácio do Planalto. Ataca-se e desvirtua-se o BNDES, âncora do financiamento público de longo prazo da economia, como alternativa ao capital vadio.
A abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e o estrangulamento da própria economia nos tornou uma área de caça de grande interesse para o capital vadio, cujo fluxo de entrada no país é festejado como se a desnacionalização acelerada fosse uma grande vantagem para o Brasil.
Estamos destruindo empresas e empregos em detrimento da sociedade.
O agronegócio se tornou a aparente âncora da economia, como não se soubesse, pela história, que confiar exclusivamente na exportação de commodities é um risco tremendo para a economia, que fica à mercê de grandes carteis de comercialização e de financeirização global.
Tenho assinalado insistentemente que há formas diferenciadas de globalização, algumas virtuosas, como a industrial, quando gera empregos internamente e é submetida a forte controle doméstico com vistas à afirmação de objetivos nacionais.
Só os néscios não perceberam o caráter de pilhagem da globalização financeira que se tornou um instrumento de neo-colonização, com a subordinação dos sistemas financeiros nacionais aos centros financeiros hegemônicos, especialmente Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, com seus sócios menores nos países em desenvolvimento, como o nosso.
Não somos hostis ao capital estrangeiro, ou ao capital em geral.
Somos hostis à exploração desenfreada da classe trabalhadora, independentemente da origem do capital.
Nisso me coloco alinhado ao Papa Francisco, na predicação moral mais importante de um papa neste século: a firme condenação da busca obsessiva pelo dinheiro em si, por múltiplos expedientes, inclusive de corrupção, espalhando em contrapartida a miséria por amplas camadas da sociedade.
Dessa forma, o capital predatório é um típico adorador de Mamom, o deus dinheiro, sendo responsável por inédita concentração de renda na história mundial.
O povo tem dificuldades de identificar os inimigos mais inescrupulosos da Nação, representado pelo capital financeiro, porque vivemos numa sociedade de desinformação.
A grande mídia, comprada pelos financistas, desinforma pelo que diz e pelo que deixa de dizer. Daí nossa responsabilidade estratégica nessa Frente, no sentido de fazer chegar à sociedade uma crítica honesta e corajosa em relação ao funcionamento da economia e, insista-se, ao processo de financeirização e desnacionalização.
Sem uma sociedade informada, os nossos esforços em defesa de uma economia não apenas nacional, mas nacionalista serão em vão. Entretanto, gostaria de expressar também a nossa opinião sobre outro tema relacionado com a globalização e a integração regional que circula há anos no mundo e na América do Sul. É a questão da integração comercial. Muitos a defendem por analogia com o processo original de integração na Europa. Esquecem-se de que, no pós-guerra, quando se colocou a proposta de integração comercial europeia, os seis países membros, saídos da guerra, apresentavam bases industriais similares ou complementares, sem grandes desníveis. A desgraça europeia foi o euro, instituído numa época em que a Alemanha assumira, inequivocamente, a hegemonia monetária e financeira no continente. Isso liquidou com a soberania fiscal de grande parte dos países europeus, sobretudo do sul da Europa.
Na América do Sul, tem-se aventado insistentemente a hipótese de uma integração comercial do Mercosul com a Europa. Por trás do comércio querem nos impor goela abaixo o livre trânsito de investimentos, de propriedade intelectual, de serviços. É a união do lobo com o cordeiro. E não me venham dizer que isso é nacionalismo exacerbado. É defesa da economia nacional.
Vários trabalhos acadêmicos têm demonstrado que a proteção industrial é fundamental para o desenvolvimento. “Chutando a escada”, do coreano Ha Joon Chang, mostra de forma inequívoca que todos os países hoje desenvolvidos recorreram a medidas protecionistas na época de sua decolagem.
E esses mesmos países, ao se tornarem desenvolvidos, passaram a pregar o liberalismo econômico para os outros. As posições ideológicas, claro, se movem segundo os interesses nacionais deles.
Portanto, convido meus pares dessa Frente a fazerem uma reflexão a respeito e ajudarem a tomarmos posições comuns.
A chama que moveu Leonel Brizola por suas longas décadas de luta continua viva.
*Roberto Requião, senador pelo PMDB do Paraná, é presidente da Frente Ampla Nacional.