O Diretor da Faculdade de Direito da USP, José Rogério Cruz e Tucci, nomeou no dia 04 de abril de 2014, uma das comentaristas no Jornal da TV Cultura,a professora Maristela Basso, para coordenar a Comissão de Convênios Internacionais da Faculdade.
A professora Maristela Basso lembra tanto no tipo físico como em suas posições políticas conservadoras a polêmica Raquel Sheherazade do SBT.
No jornal da TV Cultura de 29/08/2013, Maristela Basso discutiu com o cientista Carlos Novaes o caso diplomático da transferência do senador Boliviano para o Brasil. Os comentários xenofóbicos e preconceituosos contra a Bolívia e os bolivianos desta professora espanta-nos e se não fosse o professor Carlos Novaes rebatê-los um a um com argumentos humanistas e mostrar as contradições dos argumentos da professora veríamos uma TV pública dar um show de barbárie e xenofobia.
À época deste show de argumentos preconceituosos contra um país vizinho latino-americano o centro acadêmico das Relações Internacionais da USP, Centro Acadêmico Guimarães Rosa, emitiu nota de repúdio:
Nota de repúdio às declarações da Profª. Maristela sobre a Bolívia
Com a mesma determinação, nos solidarizamos com a Bolívia, o povo boliviano e os imigrantes que aqui vivem e convidamos a todas as entidades interessadas a assinar e divulgar essa nota
02/09/2013
Centro Acadêmico Guimarães Rosa
O Centro Acadêmico Guimarães Rosa (Relações Internacionais – USP) vem a público manifestar seu amplo repúdio e indignação em relação às declarações da Professora de Direito Internacional da USP, Maristela Basso, sobre a Bolívia e o povo boliviano. Comentarista política do telejornal da TV Cultura, a docente disse no programa do dia 29/8/2013:
“A Bolívia é insignificante em todas as perspectivas, (…) nós não temos nenhuma relação estratégica com a Bolívia, nós não temos nenhum interesse comercial com a Bolívia, os brasileiros não querem ir para a Bolívia, os bolivianos que vêm de lá e vêm tentando uma vida melhor aqui não contribuem para o desenvolvimento tecnológico, cultural, social, desenvolvimentista do Brasil.”
O fato de a Bolívia supostamente não ter relevância econômico-comercial para o Brasil e ser um país pobre não a torna menos merecedora de nosso mais profundo respeito. Da mesma forma, os imigrantes bolivianos que vêm ao Brasil “tentar uma vida melhor” e que de maneira geral sofrem com as intempéries do trabalho precário e da subcidadania merecem no mínimo a nossa solidariedade.
Respeito e solidariedade foram conceitos que passaram longe da declaração da professora Maristela Basso. É estarrecedora a tranquilidade e a naturalidade com as quais ela fez o seu comentário explicitamente degradante e xenofóbico em relação a um país vizinho.
A fala da professora expressa o mesmo desprezo que um brasileiro ou qualquer outro latino-americano poderia sofrer por parte dos países “desenvolvidos” – muitos dos quais, não por coincidência, nossos colonizadores. Desconheceria a docente que nós também compartilhamos de um passado colonial? Ou talvez isso simplesmente não importe quando supostamente não existem “interesses estratégicos e comerciais”, o que nos faz pensar sobre o lugar que ocupam as temáticas de paz e direitos humanos nos estudos e preocupações da professora.
O fato é que nós temos muito mais a ver com a Bolívia do que quer dar a entender a fala de Maristela Basso. Compartilhamos com este país vizinho e o resto da América Latina de um passado de brutal exploração. Uma exploração que começou com a colonização, mas que não acabou com ela e cujos efeitos ainda tentamos superar. Exploração que ainda predomina na mente colonial dos “países desenvolvidos”, ao inferiorizar tanto os governos quanto a população latino-americanos, incluindo o Brasil. Não podemos nos tornar iguais àqueles que nos subjugam.
Há razões históricas para a Bolívia ser pobre como é hoje em dia e para haver tantos imigrantes bolivianos se arriscando no Brasil. São as mesmas razões pelas quais em toda América Latina, incluindo o Brasil – como se sabe ainda um dos países mais desiguais do mundo – há tanta pobreza. Uma delas certamente é a obra histórica da uma elite que descolonizou o continente em proveito próprio, mas jamais para emancipar de fato o seu país e o seu povo. Elite que, afinal, pensava como o colonizador. E que falava como Maristela Basso fala.
É, portanto, essa mentalidade negligente com o nosso passado e que subsidia com naturalidade a xenofobia o que de fato não contribui, em nenhuma perspectiva, para o nosso desenvolvimento. E é contra essa mentalidade – tão bem representada pela lamentável fala de Maristela Basso – que apresentamos todo nosso repúdio.
Com a mesma determinação, nos solidarizamos com a Bolívia, o povo boliviano e os imigrantes que aqui vivem e convidamos a todas as entidades interessadas a assinar e divulgar essa nota.
Atenciosamente,
Centro Acadêmico Guimarães Rosa
Ao fazer tal nomeação, qual é a intenção do diretor da Faculdade de Direito da USP? Privilegiar o pensamento metropolitano (estadunidense e europeu) em detrimento dos “insignificantes” latinos da Bolívia, Venezuela, Equador????
Não basta a Faculdade de Direito da USP abrigar nos seus quadros defensores colaboracionistas da Ditadura Militar?
Abaixo a reprodução da portaria de nomeação
Qual a razão de uma nomeação tão esdrúxula? Já não foi lamentável o fato de que nada foi feito pela instituição ao tempo destas declarações preconceituosas?
Há uma diferença marcante na postura da direção da Faculdade de Direito da USP de outras instituições universitárias que se pronunciam quando seus quadros expuseram publicamente seus preconceitos, lembrando que no caso da referida professora com o agravante que tais declarações foram feitas numa TV pública. Lembremos o que ocorreu com o promotor público e ex-professor do Mackenzie, Zagallo ou da postura da direção da PUC-RJ e do DCE-PUC-RJ em relação às declarações infelizes sobre aeroportos e rodoviárias feita por seus professores…
Nunca é demais lembrar que as declarações desta professora preconceituosa (e agora premiada pelo diretor da Faculdade de Direito-USP) são inconstitucionais sobre diferentes aspectos, destaco um deles: no seu Artigo 4, parágrafo único, nossa Constituição reza que: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”
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