TEM DE SER NACIONAL, ESTÚPIDO!
Arnaldo Ferreira Marques, em seu Facebook
“A exportação [brasileira] de celulares [para a Argentina], por exemplo, que chegou a US$ 740 milhões, despencou para US$ 200 mil em 2013. Segundo a Abinee, que representa o setor, multinacionais como Nokia e Samsung, que usavam o Brasil como base para a região, agora atendem só o mercado doméstico.”
Folha de S.Paulo – Cotidiano – “China abocanha fatia do Brasil nas importações da Argentina” – 19/04/2014.
O que é o que é? Único país grande consumidor de automóveis (4º do mundo) que não possui montadora nacional?
Adivinhou?
Pois é, senhores. Não existe a “Samba Motores”.
Não existe uma indústria automobilística com matriz brasileira que forme um enorme centro de planejamento, pesquisa e projeto, cheio de engenheiros cumprindo uma ordem: pesquisem as necessidades e gostos dos brasileiros e projetem automóveis sob medida para eles.
Tudo seria muito diferente no Brasil com uma Samba Motores.
Incluindo as exportações. Principalmente as exportações.
Porque em um dado momento, com a necessidade de aumentar a escala da produção, os dirigentes da Samba Motores certamente enviariam uma nova ordem aos seus engenheiros: agora pesquisem as necessidades e gostos dos argentinos. Vamos lançar por lá o Tango em três versões. E logo os navios roll-on-roll-off começariam a sair carregados para Buenos Aires.
Depois dos hermanos, por que não o consumidor dos EUA? Da península Ibérica? Da Rússia? Da própria Europa automobilística (Alemanha, França, Itália, Inglaterra)?
Pesquisando e produzindo automóveis que só ela projetou, focando as necessidades de cada mercado no exterior, a Samba Motores seria dona de seu nariz e teria um enorme ímpeto exportador.
Afinal, se o consumidor internacional se encantou pelo Porto Belo, pelo Itapoã, pelo Vitória, o que a Volkswagen pode fazer? Ou a Fiat? Ou a Ford? O conceito é nosso, a marca é nossa, a mística é nossa. Quem quiser ter um deles na garagem, vai ter de pagar à Samba Motores.
A fábrica da VW no Brasil (ou da Fiat, Ford, Renault etc.) não tem como missão conquistar a todo custo os mercados externos. Ela é apenas uma peça da imensa estrutura internacional que obedece aos interesses e necessidades da matriz na Alemanha. Deve abastecer o mercado local com projetos de fora e, quando muito, exportar para a América do Sul.
Você acredita que, se algum engenheiro da VW Brasil criar uma super inovação de projeto, essa inovação gerará modelos brasileiros ultracompetitivos que desbancarão a produção da fábrica alemã da VW ou de outras fábricas VW ao redor do mundo? Nem em sonho, não é?
Não adianta termos montes de fábricas montadas no Brasil: só com uma Samba Motores poderíamos ser um verdadeiro exportador de automóveis.E quem diz automóveis, diz qualquer produto industrial. Telefones celulares. Alimentos de todo tipo.
Importamos da Itália caixas com uma massa endurecida de farinha de trigo e água (Barilla, Divella). Por que a Itália não importa do Brasil caixas com pães de queijo congelados, potes de geleia de jabuticaba, rolhas de paçoca de amendoim?
Nada disso é sonho. Tudo o que eu disse em relação à imaginária Samba Motores é real no mais inusitado dos produtos industriais: aviões.
A Samba Motores não existe (e deveria existir, dado que nenhum país sem fábrica própria de automóveis possui o corpo de engenheiros automobilísticos ultra formados que o Brasil tem).
Mas a Embraer existe.
E faz exatamente o que a Samba deveria fazer, projetando produtos inovadores e ultra competitivos focados para exportação, que avançam nos mercados mais ricos e exigentes.
Da próxima vez que você ler ou ouvir que “a indústria brasileira não exporta”, pense na única resposta real a esse problema: não existe indústria brasileira.
Esse é o problema central.
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