Sei que vivemos em uma sociedade conservadora, mas me chamou a atenção a chamada de todos os meios de comunicação, a de que 65% dos homens acham que mulheres que vestem roupas curtas merecem ser atacadas. Os dois gráficos abaixo foram a fonte para a chamada da matéria.
É grave que 42,7 % concorde totalmente e 22,4% concorde parcialmente com isso. É grave que a percepção social ainda culpabilize a mulher pela violência que ela é alvo.
Entretanto, a pesquisa é mais ampla que isso e traz muitas outras ambiguidades e complexidades. Valeria a pena ler toda o estudo (citado ao final deste post). Destaco um trecho do Relatório com alguns grifos, tirem suas próprias conclusões:
“A pesquisa aqui apresentada teve por objetivo apurar percepções da população brasileira acerca de temas afetos à violência contra as mulheres. O pressuposto é de que a adesão a alguns valores e ideias traduz posturas mais ou menos tolerantes a este tipo de violência.
Os principais resultados aqui apresentados indicam uma ambiguidade nos discursos. O primado do homem sobre a mulher ainda é bastante aceito pela população, mas a violência física não é tolerada. Ao mesmo tempo em que a privacidade do casal e a percepção de que desavenças havidas na família devem ser resolvidas privadamente surgem com grande aceitação, é majoritária a concordância com a punição de prisão para maridos agressores.
Um aspecto positivo é que parece haver um reconhecimento – que, na ausência de referências, pode-se apenas supor ser maior do que no passado – de outras formas de violência além da física, em particular a psicológica e a patrimonial. No entanto, no que toca à violência sexual, a maioria das pessoas continua a considerar as próprias mulheres responsáveis, seja por usarem roupas provocantes, seja por não se comportarem “adequadamente” – o que geralmente quer dizer “como uma respeitável mãe de família”. A questão do direito das mulheres sobre seus corpos segue sendo, portanto, uma fronteira a ser alcançada.
Não há características populacionais que determinem intensamente uma postura mais tolerante à violência, mas os primeiros resultados apontam que morar em metrópoles, nas regiões mais ricas do país, Sul e Sudeste, ter escolaridade mais alta e ser mais jovem são atributos que reforçam a probabilidade de uma adesão a valores mais igualitários, de respeito à diversidade, e de uma postura mais intolerante em relação à violência contra as mulheres.
Todavia, o que as investigações sugerem até o presente momento é que essas características não são tão relevantes para explicar a tolerância social à violência contra a mulher quanto a adesão a determinados valores. Assim, aqueles que consideram, por exemplo, que o homem deve ser a cabeça do lar, têm uma propensão maior a achar que a mulher é responsável pela violência sexual, independentemente de outras características, como ser evangélico. Mas esses são pontos a serem explorados por investigações futuras dos dados deste SIPS.
De maneira geral, os resultados apontam que parece estar havendo uma transformação nos discursos. Não há uma pesquisa equivalente anterior à promulgação da Lei Maria da Penha, contudo, é possível supor que o advento da lei, e toda a visibilidade que ganhou.”
IPEA Pesquisas analisam a violência contra a mulher
Leia o texto (SIPS): Tolerância social à violência contra as mulheres
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