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PL 4330: Submissão absoluta dos trabalhadores aos desígnios do capital

29 de Abril de 2015, 16:59, por MariaFrô

PL 4330: Submissão absoluta dos trabalhadores aos desígnios do capital

Entrevista especial com José Dari Krein

Instituto Humanitas Unisinos

29/04/2015

“O fato novo é que, na atual crise política e econômica, ganha força, inclusive nas políticas do governo, a tese de diminuir a proteção como forma de realizar o ajuste fiscal”, analisa o sociólogo.
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Foto: www.coopermanjf.com.br

Projeto de Lei 4330, que torna ainda mais agudo o processo e flexibilização dos direitos trabalhista e da terceirização nas empresas, é uma espécie de abalo sísmico à permanente construção civilizatória do mundo do trabalho. Frente a um contexto de absoluta instabilidade política e econômica, a classe trabalhadora torna-se ainda mais vulnerável. “O fato novo é que, na atual crise política e econômica, ganha força, inclusive nas políticas do governo, a tese de diminuir a proteção como forma de realizar o ajuste fiscal, como mostram as iniciativas das MPs 664 e 665”, avalia José Dari Krein, em entrevista por telefone à IHU On-Line.

O que ocorre de maneira explícita é a retomada dodiscurso liberal de que as terceirizações gerariam mais empregos, quando, na verdade, a prática demonstra o contrário. “O PL 4330 é encaminhado, sob a justificativa de criar emprego e “proteger” os terceirizados, recuperando o mito que vem desde os anos 1990, de que a redução de custos cria emprego. Mito, pois a experiência brasileira e internacional mostrou que não existem evidências empíricas na realidade concreta do mercado de trabalho”, critica o pesquisador.

O retrocesso de uma construção civilizatória do mundo do trabalho para um estado de barbárie social ultrapassa a dinâmica do trabalho e produz subjetividades que são capazes apenas de operar a partir da lógica capitalista. “Astransformações no mundo do trabalho, apesar dos fantásticos ganhos de produtividade e das novas possibilidades de produção de bens e serviços e da necessidade de a população alterar o padrão de consumo em função do problema ambiental, vão no caminho mais da barbárie, em que a concorrência de todos contra todos vai se colocando, e o Capital ganhou força para estabelecer uma ordem social, política e econômica mais próxima de seus interesses”, constata Krein.

Graduado em Filosofia pela PUC-PRJosé Dari Krein (foto) tem mestrado e doutorado em Economia Social e do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, onde atualmente é professor no Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho – CESIT.

Confira a entrevista.

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Fonte: unicamp.br

IHU On-Line – O que ocorre com o trabalho no Brasil? Que mudanças estruturais têm ocorrido no mundo do trabalho?

José Dari Krein – Há um conjunto expressivo de mudanças no mundo do trabalho nos últimos anos. Em primeiro lugar é necessário destacar que os trabalhadores estão com uma espada sobre a cabeça com o Projeto de Lei 4330, que libera de forma indiscriminada a terceirização. Caso sua aprovação se concretize, teremos no Brasil uma brutal regressão social, um aprofundamento da precariedade, uma diminuição da proteção social, uma fragilização da ação coletiva, um aumento da desigualdade social, uma maior insegurança, uma fragilização das fontes de sustentação da seguridade social. Barrar essa iniciativa é uma tarefa de todos que pretendem pelo menos construir uma nação democrática.

É importante ressaltar que as características do capitalismo contemporâneo (configurado após a crise dos anos 1970) são extremamente desfavoráveis ao trabalho e à organização coletiva dos trabalhadores. O movimento de liberação do capital traz como corolário um mercado de trabalho mais precário, inseguro, com menor proteção social, mais desigual e flexível nos países centrais.

Reconfiguração

Assim como há uma reconfiguração importante do trabalho, tornando a classe trabalhadora mais complexa e heterogênea – com cadeias produtivas globais e o aumento das ocupações precárias de maior segmentação da classe trabalhadora – , há, ao mesmo tempo, o crescimento das atividades de serviços, resultantes da terceirização, da reestruturação produtiva e até do aumento da desigualdade de renda.

É possível identificar resistência a esse movimento de precarização e fragilização da organização da classe trabalhadora em diferentes espaços, mas a tendência é de avanço da desconstrução dos direitos dos trabalhadores. A questão fundamental é que houve uma reconfiguração da classe trabalhadora, deixando-a muito mais segmentada, em que o trabalho fica cada vez mais pulverizado.

Brasil

No caso brasileiro, os anos recentes apresentaram tendências contraditórias, por um lado, com a melhora de indicadores no mercado de trabalho e, por outro, com o avanço da flexibilidade e a criação de muitas ocupações precárias. Apesar das mudanças significativas, não houve uma reversão das características estruturais do mercado de trabalho brasileiro, que continua tendo excedente estrutural de força de trabalho, baixos salários, grande flexibilidade, imensa desigualdade, alta rotatividade, forte insegurança social e condições de trabalho muito ruins.

crise econômica e política recente está sepultando as perspectivas de avançar na estruturação do mercado de trabalho (emprego com acesso à seguridade social) e aponta para um período de regressão dos indicadores do emprego e renda do trabalho, especialmente com o avanço do desemprego e diminuição do poder de compra dos salários.

IHU On-Line – Que mudanças são evidenciáveis no mercado de trabalho considerando os primeiros 15 anos do século XXI?
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“O mundo do trabalho está criando uma sociedade doente”

José Dari Krein – Apesar da nebulosidade nas perspectivas, a crise ocorre em um mercado de trabalho distinto do que havia no início do século XXI. Dentro da perspectiva de indicar os movimentos contraditórios, faz-se necessário destacar algumas mudanças:

1) um forte crescimento do emprego no setor de serviços, especialmente no comércio, educação, saúde, vigilância, serviços pessoais e para as empresas;

2) uma forte expansão da terceirização, que pula de 4 para mais de 12 milhões nos últimos 20 anos;

3) um retardamento na entrada dos jovens no mercado de trabalho;

4) uma diminuição na taxa de natalidade e um consequente envelhecimento dos ocupados;

5) uma elevação da formalização dos contratos;

6) uma diminuição do desemprego;

7) uma elevação dos salários e uma diminuição da desigualdade dos rendimentos do trabalho em favor dos que estão na base da pirâmide social, especialmente pela política de valorização do salário mínimo e pela dinâmica do mercado de trabalho com a criação de novas ocupações.

Ou seja, há uma reconfiguração do mercado de trabalho, em que a crise atual pode explicitar os aspectos regressivos, mas também gerar tensões sociais. A política econômica dos últimos anos não promoveu mudanças estruturais, mas assegurou até 2014 o emprego e renda de uma parcela importante dos trabalhadores, é o que explica — junto com a questão demográfica — as razões de o desemprego ter permanecido em patamares baixos nos padrões do mercado de trabalho brasileiro.

Relações de Trabalho

Do ponto de vista das relações de trabalho, não ocorreram mudanças estruturais, mas pontuais. Algumas medidas diminuíram a proteção social e aumentaram a flexibilidade, tais como, por exemplo, a reforma da previdência, a lei das falências. Outras avançaram no aumento da proteção social, tais como a política de valorização do salário-mínimo e a incorporação — ainda não regulamentada — das domésticas no mesmo patamar de direitos dos demais trabalhadores. A questão da reforma trabalhista continuou em disputa, em que nem os trabalhadores conseguiram viabilizar as suas bandeiras e nem os empresários moldaram um sistema totalmente à sua feição.

Na perspectiva sindical, há um aumento das greves, um resultado favorável nas negociações salariais e até um aumento do número de sindicalizados, mas com uma queda da taxa de sindicalização, pois o emprego cresceu de forma muito mais intensa. Por outro lado, o grau de confiança da sociedade na instituição sindicato caiu expressivamente após 2006. Apesar disso, há um aumento das mobilizações, inclusive muitas passando por cima dos sindicatos oficiais. A reforma sindical não foi viabilizada, mas houve, sim, um arranjo que legitimou o sistema oficial existente ao incorporar as centrais sindicais.

Tendências

Apesar das melhoras nos anos recentes, permanece um mercado de trabalho muito desfavorável aos que são obrigados a vender a sua força de trabalho. Há um contingente muito expressivo de pessoas que estão fora da tela de proteção dos direitos, o número de pessoas sem carteira de trabalho é muito elevado — em torno de 15 milhões —, há um número muito substantivo de pessoas que estão trabalhando por conta própria (que é mera questão de sobrevivência, sem ocupações muito sofisticadas), e há 6,7 milhões de pessoas em empregos domésticos — o que é expressão de uma sociedade serviçal. Há também um contingente imenso de pessoas que recebem entre um e dois salários-mínimos, a taxa de rotatividade da força de trabalho é extremamente elevada, a grande maioria das pessoas entra em pequenas empresas poucos estruturadas cujas perspectivas profissionais são muito pequenas. Então, no mercado de trabalho, os problemas estruturais continuam acontecendo, não houve reversão, ainda que alguns pontos tenham melhorado.

Perspectivas

As perspectivas, no momento, não são animadoras. Por um lado, a crise, como afirmado acima, tende a piorar os indicadores do mercado de trabalho e há um aumento da pressão pela flexibilização, e a redução de custos será mais intensa, colocando novamente na pauta a agenda patronal de flexibilização dos direitos, como será analisado abaixo. Por outro lado, é um quadro que deve aumentar a conflitualidade no mundo laboral, como já é possível observar com a elevação das mobilizações e um fortalecimento da resistência dos trabalhadores contra a perda de direitos e dos salários, como demonstraram, por exemplo, as manifestações expressivas de 15 de abril último, as greves dos servidores públicos no Paraná, etc.
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“Além de ganhar menos e trabalhar mais e em piores condições, o terceirizado é discriminado dentro das empresas”O mundo do trabalho está criando uma sociedade doente”

IHU On-Line – Dentro deste contexto, quais os impactos da aprovação do PL 4330 e das MPs 664 e 665?

José Dari Krein – Temos que pensar o mercado de trabalho não somente com tendências lineares, mas contraditórias. Nos anos 1990, o discurso focava na necessidade de reformar a legislação trabalhista, que era muito rígida, como condição para diminuir a informalidade e o desemprego. As teses da flexibilização tornaram-se hegemônicas e muitas iniciativas de diminuição da tela de proteção do trabalhador e de possibilitar uma maior liberdade às empresas para manejar as condições de contratação, uso e remuneração do trabalho foram implementadas.

Esse discurso, por um período, ficou um pouco desmoralizado, pois houve melhora do mercado do emprego e avanço da formalização sem que as proposições mais contundentes dos empregadores e dos defensores neoliberais tivessem se efetivado do ponto de vista formal. Para exemplificar, cito a regulamentação da terceirizaçãoe a constituição de um modelo em que prevalecesse o negociado sobre o legislado. Isso sem que no mundo real as iniciativas de flexibilização parassem de ocorrer, como pode ser observado pelo forte crescimento da terceirização, do avanço da remuneração variável e das multiplicidades de formas de reorganização das jornadas.

Peso do reajuste fiscal

O fato novo é que, na atual crise política e econômica, ganha força, inclusive nas políticas do governo, a tese de diminuir a proteção como forma de realizar o ajuste fiscal, como mostram as iniciativas das MPs 664 e 665. Elas dificultam o acesso dos trabalhadores ao seguro-desemprego, ampliando enormemente as exigências, praticamente alijando os jovens do benefício e diminuindo o valor do abano salarial, além de reduzir o valor e limitar o período das pensões. É uma retomada do discurso liberal de ajustar a crise de financiamento do governo em cima dos trabalhadores, em um contexto em que o desemprego está apresentando crescimento. A motivação é fiscalista, pura e simplesmente. As fraudes podem ser combatidas ampliando a fiscalização, o que exige fortalecer e recuperar o Ministério do Trabalho, entre outras políticas.

Na mesma perspectiva, o PL 4330 é encaminhado, sob a justificativa de criar emprego e “proteger” os terceirizados, recuperando o mito que vem desde os anos 1990, de que a redução de custos cria emprego. Mito, pois a experiência brasileira e internacional mostrou que não existem evidências empíricas na realidade concreta do mercado de trabalho. A segunda justificativa é uma ilusão para enganar desavisados, pois as pesquisas mostram que terceirização é sinônimo de precarização do trabalho, fazendo com que — a partir da aprovação da liberação da terceirização — todos os trabalhadores fiquem vulneráveis. É a reafirmação, de forma mais escancarada, da flexibilização do mercado de trabalho e de reduzir o trabalhador à mercadoria, a ser usado e descartado conforme as necessidades das empresas.

IHU On-Line – Por que as pautas da redução da jornada de trabalho, do aumento da licença-maternidade, da não terceirização foram abandonadas? De que forma isso se relaciona ao contexto político e social que vivenciamos?
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“A terceirização é uma expressão visível das características do capitalismo contemporâneo”

José Dari Krein – Em síntese, nos anos 2000 (até 2014) houve um processo de disputa política, sobretudo no Congresso Nacional, em que os trabalhadores não tiveram força para fazer valer seus direitos, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho, que até foi colocada na agenda, mas não prosperou.

É o caso do fator previdenciário, a introdução de mecanismos contra a dispensa imotivada e a defesa de um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho. Assim como não se avançou, com exceções de medidas pontuais, na ampliação da proteção social e de direitos. Mas as questões centrais da agenda de redefinição do marco legal institucional do trabalho propostas pelas entidades patronais também não foram adiante, tais como a questão da liberalização da terceirização, a prevalência do negociado sobre o legislado, a fragilização da Justiça do Trabalho, da fiscalização, a redefinição do trabalho análogo ao escravo, etc.

Essa agenda pode ser verificada na pauta legislativa da Confederação Nacional da Indústria – CNI e daConfederação Nacional da Agricultura – CNA, que é extremamente agressiva na desconstrução dos direitos dos trabalhadores. Na mesma perspectiva pode ser observada a campanha massiva que as entidades empresariais, com apoio da grande mídia, estão desenvolvendo desde o começo de abril para a aprovação da liberação indiscriminada da terceirização, sustentadas pelo imposto sindical.

Desmobilização de trabalhadores

Analisando do ponto de vista dos trabalhadores, o que chama atenção é a incapacidade de realizar grandes mobilizações e de trabalhar na perspectiva de ganhar a sociedade em torno da agenda apresentada pelo movimento sindical. Por exemplo, a campanha em torno da redução da jornada foi esvaziada e as mobilizações aglutinaram poucas pessoas. Além disso, como já destacado, o movimento sindical foi perdendo sustentação social e sua capacidade de construir bandeiras de caráter mais universal, dada a sua estratégia de ação em um contexto econômico e político marcado pelas disputadas conjunturais e de pulverização do trabalho.

Uma ressalva se faz necessário. A licença-maternidade, depois da aprovação da lei, em 2008, que trouxe a possibilidade de sua ampliação para seis meses, se tornou um tema das negociações coletivas, em que muitos sindicatos de setores econômicos mais estruturados conseguiram efetivar.

IHU On-Line – O que está por trás do PL 4330? Como esse projeto nos ajuda a compreender o mundo do trabalho no Brasil atualmente?

José Dari Krein – A terceirização é uma expressão visível das características do capitalismo contemporâneo, pois contempla a ampliação do poder do capital de controlar a força de trabalho, expressa a lógica da financeirização, está coadunada com a internacionalização de produção de bens e serviços, é fundamentalmente uma estratégia de gestão da força de trabalho na perspectiva cega de viabilizar do capital a acumulação sem freios. É uma forma de “mercantilização” do trabalhador, coisificado na lei da oferta e procura, em que o “mercado’ (capital) estabelece o seu valor e a sua forma de uso. Com isso, o sentido da vida humana fica totalmente esvaziado.

O que ocorre é a submissão de forma absoluta dos trabalhadores aos desígnios do capital. Assim, busca estabelecer uma correspondência do padrão de regulação do trabalho com as características da ordem econômica e política, sob a hegemonia do neoliberalismo e de uma economia desregulamentada, de liberdade de movimento ao capital, em que as cartas são dadas pela dominância financeira.

Lógica da competividade

O problema adicional é que a sua lógica vai se impondo para todos os segmentos econômicos, ao estabelecer novos patamares de competitividade. Por exemplo, quando uma loja ou supermercado consegue abrir aos domingos, os demais vão adotar a mesma prática, pois, caso contrário, podem ser suplantados pelo concorrente, que terá vantagens competitivas espúrias. Ou seja, a resistência será muito difícil de ocorrer somente em uma categoria ou segmento. Por isso, a luta pela reprovação do PL 4330 é fundamental, pois dificilmente os trabalhadores terão força para resistir no âmbito de sua categoria.

Uma parte expressiva dos trabalhadores está percebendo a gravidade da medida. A força das mobilizações e das manifestações nas redes sociais mostrou que parte importante da opinião pública é sensível ao tema da retirada dos direitos. A terceirização na vida das pessoas é algo muito concreto e percebível nas experiências dos trabalhadores.

A resistência é uma questão relevante e nova no atual contexto. Se prestarmos atenção às manifestações do dia 15 de abril, convocadas em cima da hora, é impressionante a quantidade de mobilizações no país inteiro. Também é compreensível, pois a terceirização é efetivamente percebida como perversa. Além de ganhar menos e trabalhar mais e em piores condições, o terceirizado é discriminado dentro das empresas.

IHU On-Line – A pauta da terceirização no Congresso recai sobre os ombros da direita e dos setores mais conservadores. Entretanto, nos governos Lula e Dilma a terceirização saltou de 4 milhões para 12,7 milhões de trabalhadores. Como entender essa contradição e o que isso significa?

José Dari Krein – É um fato o crescimento da terceirização. Os limites da atual regulamentação são bastante tênues, facilitando a propagação da terceirização, em um contexto de reorganização do trabalho e ampliação imensa do poder do empregador em estabelecer as condições de contratação, uso e remuneração do trabalho. LembrandoEduardo Noronha, os empresários também são fonte de estabelecimento — de forma unilateral e discricionária — de normas e regras que regem a relação de emprego. Portanto, as condições objetivas possibilitaram o avanço da terceirização nas empresas e no Estado.

Ou seja, ela vai se tornando uma realidade a partir do momento em que um setor econômico a utiliza, pois consegue produzir a custos menores. Torna-se uma condição de competitividade para as empresas, daí a sua propagação. É importante ressaltar algo muito óbvio: as empresas sempre buscam melhores condições de retorno ao capital investido, de ter competitividade, assim adotam as estratégias que lhes são mais convenientes. É claro que nem sempre só o custo é considerado, pois há o problema da qualidade e do desenvolvimento dos produtos e processos.

Outro fator foi a criação de uma legislação favorável às micro e pequenas empresas. Ela paga menos impostos, o que lhe reduz custos, criando estímulo para a empresa principal subcontratar outras que podem ter incentivos fiscais, que ajuda na propagação da terceirização. Na mesma perspectiva, o Microempreendedor Individual – MEI, que tem uma intenção de incluir na seguridade os trabalhadores por conta própria, está sendo utilizada para baratear custos por meio do estabelecimento de uma relação de emprego simulada, que é uma forma de fraude. São medidas introduzidas para ajudar na formalização e na inclusão da seguridade, mas os incentivos também facilitam a propagação da terceirização.

IHU On-Line – De que maneira as transformações no mundo do trabalho nos levam ora a um processo civilizatório, ora para a barbárie?

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“O que chama atenção é a incapacidade de realizar grandes mobilizações”

José Dari Krein – As transformações no mundo do trabalho, apesar dos fantásticos ganhos de produtividade e das novas possibilidades de produção de bens e serviços e da necessidade de a população alterar o padrão de consumo em função do problema ambiental, vão no caminho mais da barbárie, em que a concorrência de todos contra todos vai se colocando, e o Capital ganhou força para estabelecer uma ordem social, política e econômica mais próxima de seus interesses. Por isso, a tendência de precarização, de redução de direitos, de maior insegurança e de aumento da desigualdade foi se acentuando mais para barbárie do que para um processo civilizatório. Uma sociedade funcionando na base da concorrência, exigindo que todos sejam vencedores, alcançando metas cada vez mais absurdas, afetam as condições de vida e de saúde da população.

No entanto, é preciso, ainda que na defensiva, considerar que há movimentos de resistência e novas formas de contestação e contraposição. As mobilizações tendem a acontecer na disputa de elementos muito concretos, que afetam as condições de vida das pessoas. O desafio é articular essas questões concretas com a defesa dereorganização da ordem social, condição para viabilizar um processo civilizatório.

Dadas as dificuldades, faz-se necessário valorizar os sinais de vida nos movimentos de resistência e de afirmação de direitos; assim, ficar atento aos sinais de revitalização de movimento de trabalhadores e de novas formas de organização e articulação entre movimentos sociais. As crescentes mobilizações e o posicionamento de parte importante do sindicalismo na contraposição do PL 4330 é um sinal de alento para criar condições pela luta contra a barbárie. O primeiro passo é barrar o PL, com alento para evitar a barbárie e para fortalecer o movimento sindical na sociedade, o que é uma condição da continuidade da democracia.

Valorizar as políticas

Assim como é preciso valorizar as políticas e iniciativas — ainda que não sejam estruturantes — de ampliação de direitos e proteção social, também temos que ter claro que a lógica de organização da economia, o modelo de desenvolvimento é um pressuposto para o tipo de emprego que será criado. Ou seja, a disputa não ocorre somente no âmbito dos direitos e proteção social, mas sobre o rumo do país. Se observarmos a política do atual governo, os sinais de preocupação crescem, pois estão sendo feitas concessões ao setor financeiro em detrimento de qualquer perspectiva de articulação de algum projeto de país. A inclusão social é importante, mas insuficiente para estruturar uma nação.

Mundo do trabalho

Entre muitas outras questões, o mundo do trabalho — na sua forma de organização — está criando uma sociedade doente, estressada, pois é movida pela lógica da competitividade e do produtivismo. Neste sentido, uma questão fundamental é travar a luta pela redução da jornada e uma melhor distribuição dos ganhos de produtividade, na perspectiva de viabilizar condições para as pessoas experimentarem as várias dimensões oferecidas pela vida, combinado com a incorporação da dimensão ambiental, que nos desafia a alterar o padrão de consumo, em que a prioridade é o atendimento das necessidades pela estruturação dos bens coletivos e públicos.

Enfim, a questão fundamental é constituir um movimento amplo que se contraponha à lógica hegemônica deestruturação do mundo do trabalho, fortalecendo as resistências e defendendo o que contribuiu para criação de uma nação civilizada e não somente um mercado.

Por Ricardo Machado e João Vitor Santos

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Lelê Teles: Dilma faz golaço no Primeiro de Maio

28 de Abril de 2015, 18:45, por MariaFrô

Discordo do Lelê Teles, 110 milhões de brasileiros não tem acesso à rede. Além disso, um pronunciamento em concessão pública em cadeia nacional além de ser direito constitucional e não significar um centavo para o bolso do trabalhador, não impede  a comunicação da Presidenta Dilma de fazer também pílulas para as redes sociais.

Dilma Rousseff até o momento está renunciando a uma ação simbólica desde os tempos de Getúlio: falar diretamente em cadeia nacional via rádio (e posteriormente televisão) a todos os trabalhadores brasileiros.

Fiquem com os argumentos de Lelê que parece concordar com o ministro da SECOM, aqui os meus: O 1º de Maio, o pronunciamento de Dilma, o Congresso e a Terceirização

Deixo aqui registrado aos leitores que estarei bem atenta à qualidade deste pronunciamento e voltaremos a falar dele, assim que for feito, pois nisso assino juntamente com Lelê: “Quando se tem um discurso forte, quando se tem algo a dizer e que seja algo que as pessoas precisam ouvir, elas escutarão. Principalmente se for em um meio em que elas também serão ouvidas.” Bóra ouvir o que Dilma tem a dizer.

DILMA FAZ UM GOLAÇO

Por: Lelê teles

28/04/2015

Dilma acaba de fazer um golaço, de placa. Vai se pronunciar, no dia 1º de Maio, pelas redes sociais.

Depois de várias bolas fora, agora Dilma manda bola na rede e dá uma banana para os bilionários que controlam os meios de comunicação no Brasil.

Durante todo o seu primeiro mandato, Dilma sofreu na comunicação o que chamo de Mal de Chagas, quando dona Helena usava de argumentos bisonhos para legitimar uma tal mídia técnica, que consistia em encher as burras dos insaciáveis bilionários, enquanto eles usavam seus ventríloquos para destruir a imagem do governo.

Dona Helena gostava da TV, aparecia quase sempre atrás da presidenta em coletivas, como uma arara de pirata. Helena Chagas se esforçava para legitimar um poder que a TV já não tem há muito tempo.

Os Racionais MC’s se tornaram um dos maiores fenômenos da música brasileira sem nunca ter participado de um programa de auditório, sem dar entrevistas para Nelson Mota ou fazer clipes para o Fantástico.

Deram uma banana para a TV ainda nos anos ’90, e usaram as redes sociais para se comunicar com o povo.

E olha que era uma rede analógica, era no boca a boca, de mano pra mano.

Em março de 1979, Lula falou pra 80 mil metalúrgicos sem usar microfone. Como ondas concêntricas formadas por uma pedra que atinge as águas calmas de um lago, sua fala ia sendo reproduzida de companheiro para companheiro.

Quando se tem um discurso forte, quando se tem algo a dizer e que seja algo que as pessoas precisam ouvir, elas escutarão. Principalmente se for em um meio em que elas também serão ouvidas.

Foi o que fizeram Lula em ’79 e os Racionais nos anos ’90. É o que deve fazer Dilma hoje, procurar o discurso dialógico, diretamente com o povo, ao invés do monólogo dos pronunciamentos televisivos, frio, distante e protocolar, e que só servem para encher os bolsos dos bilionários com dinheiro público.

Lula acaba de viralizar um vídeo em que ele demonstra estar se preparando para 2018. Fez isso nas redes sociais.

Todos nos lembramos que foi pelas redes que Obama venceu e é pelas redes que ele continua a se comunicar com os estadunidenses, dando uma banana pra Fox News.

No dia da mulher, a presidenta fez o seu monólogo na TV, a única coisa que restou dele foram os panelaços; pequenos, exíguos, mixurucos, mas amplificados pela TV, reverberados pelos ventríloquos e multiplicados pelas redes sociais.

A TV é o reduto dos golpistas. A TV está a apoiar a direita a mexer no direito dos trabalhadores. Na TV não tem povo.

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As redes sociais são a ágora moderna, é a praça pública, é a rua.

Primeiro de maio é feriado, as pessoas estarão se divertindo ou protestando, mas conectados ao mundo por meio de seus smartphones, seus tablets, seus laptops… quem vai estar prestando atenção na TV?

Dilma deveria fragmentar sua fala do Dia do Trabalhador, posteriormente, em pequenos vídeos temáticos de 3 a 5 minutos para serem disseminados pelo WhatsApp e afins.

Viralize, Dilma, agora que a senhora finalmente se curou do Mal de Chagas.

Palavra da salvação.

Lelê Teles

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O 1º de Maio, o pronunciamento de Dilma, o Congresso e a Terceirização

28 de Abril de 2015, 10:52, por MariaFrô

Durante toda a sua campanha, a presidenta Dilma Rousseff falou em alto e bom som, inclusive pra empresários, que em direitos trabalhistas seu governo não mexeria “Nem que a vaca tussa”.

Estamos aguardando o trâmite do famigerado PL 4330 até chegar à presidenta que se mantiver os absurdos criminosos aprovados pela bancada tucana pmdebista, pedetista e outros partidos de aluguel, para que finalmente Dilma diga de que lado está no maior ataque aos direitos trabalhistas da história brasileira.

A matéria do Valor, até o momento  é pura ficção e contradiz, inclusive, a fala que o próprio Valor destaca da presidenta ontem em Xanxerê:

“Existe uma área cinzenta que precisa ser regulamentada, mas isso não pode significar a perda de direitos dos trabalhadores, nem a perda de impostos”, afirmou a presidente, ressaltando que a terceirização precisa ser regulamentada com equilíbrio, “sem eliminar as diferenças entre atividade-fim e atividade-meio” Dilma Rousseff.

É uma matéria que deveria enrubescer a face de quem escreveu todo o texto com expressões como “deve mobilizar”, “Eduardo Cunha relatou a história a dois aliados” , “segundo esses relatos”…  As palavras de Arthur Maia e Eduardo Cunha são tão confiáveis como seus projetos em ~benefício aos trabalhadores~.

A presidenta Dilma Rousseff precisa dizer com todas as letras que a boataria de Cunha, reverberada pelo Valor é pura ficção, afinal, o jornal a colocou ao lado dos ladrões de direitos e sabemos que Dilma fez toda a sua campanha presidencial para a reeleição com o compromisso de refrear o roubo de direitos.
Ela tem um dia especial pra fazer isso, o Primeiro de Maio em cadeia nacional.
Vá à TV, presidenta, e mostre sua tradição trabalhista, honre Vargas, honre Brizola, honre Lula, honre a classe trabalhadora brasileira e reafirme seus compromissos com os trabalhadores que a elegeram.

Dilma mobiliza aliados para reincluir estatais na terceirização

Raphael Di Cunto | De Brasília, Valor

28/04/2015

Com medo de que as empresas públicas e sociedades de economia mista percam competitividade frente às companhias privadas com a regulamentação da contratação de serviços terceirizados, a presidente Dilma Rousseff deve mobilizar sua base aliada no Senado Federal para reincluir as estatais, retiradas do projeto por destaque do PSDB.

Sem a inclusão no projeto, as regras para a contratação de serviços por empresas estatais como a Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (BB) continuam as previstas em súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que proíbe a terceirização da atividade-fim (aquela que caracteriza a atividade principal da companhia).

A jurisprudência é contestada por empresários no Supremo Tribunal Federal (STF) com placar amplamente desfavorável ao TST – seis votos a zero, de 11 possíveis. Se a súmula cair, não haveria nenhuma regulamentação para a contratação de mão de obra terceirizada por empresas públicas e sociedades de economias mistas, além de suas subsidiárias e controladas. já que PL trata apenas das empresas privadas. Dos 446 mil funcionários da Petrobras, 360 mil são terceirizados.

A preocupação com a exclusão das estatais, como revelou na quinta-feira o Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, foi externada por Dilma em jantar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que relatou a história a pelo menos dois aliados durante a negociação de emendas ao texto.

Segundo estes relatos, Dilma perguntou a Cunha sobre detalhes da proposta, cuja votação ainda não tinha sido concluída pelos deputados, e questionou se não havia alguma forma de reincluir as empresas públicas e sociedades de economia mista no projeto, que ela considerava um erro deixar de fora. Cunha informou à Dilma que, como a Câmara já tinha deliberado sobre este tema, a mudança só poderia ocorrer no Senado.

O relator do projeto na Câmara, deputado Arthur Maia (SD-BA), diz que o governo tinha lhe pedido em 2012 para incluir as estatais no texto e que estranhou o voto do PT pela retirada. “Essas empresas disputam espaço com empresas privadas que têm todas as vantagens da lei e precisam da terceirização para poder competir em igualdade de condições no mercado”, afirma. “É muito injusto excluir a Petrobras desta lei, enquanto outras empresas de petróleo não têm estas amarras.”

Ao retirar as empresas públicas e sociedades de economia mista do projeto a oposição visava evitar que fosse possível contratar terceirizadas para as atividades principais do governo (também foram excluídas a administração direta e indireta) e de empresas como a Petrobras, o que acabaria com os concursos públicos e aumentaria as indicações políticas nas estatais.

A votação do requerimento do PSDB ocorreu em um ambiente de confusão, em que os líderes partidários, muitos dos quais assumiram a função pela primeira vez na nova legislatura, a menos de dois meses, se confundiram ao orientarem as bancadas. O destaque supressivo usado pelos tucanos serve para retirar um artigo do projeto, mas quem é a favor da exclusão do texto deve votar “não” ao requerimento.

Seis líderes da grandes partidos mudaram a orientação do voto das bancadas ao longo da discussão, em que o presidente da Câmara teve que corrigir por três vezes deputados que anunciavam ser favoráveis à manutenção do texto, mas orientavam a opção errada. O artigo foi suprimido por 360 votos a 47, votação que uniu PSDB e PT. O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), liberou a base aliada.

Dias depois, a Câmara aprovou emenda para que os trabalhadores terceirizados que prestarem serviços para a administração pública indireta tenham os mesmos direitos previstos no projeto, mas deputados avaliam que este trecho não ficou claro e, além de não prever os deveres das contratantes, como fiscalizar pagamento de encargos trabalhistas, pode gerar disputas jurídicas.

A posição do governo favorável à reinclusão das empresas públicas e sociedades de economia mista no texto deve contrastar com a postura do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de pedirem à Dilma o veto à terceirização ampla e irrestrita e de obstruírem a votação da proposta no Senado, onde contam com apoio do presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), para deixar o projeto parado.

Ontem, a presidente comentou o projeto de lei sobre a terceirização da mão de obra que tramita no Congresso Nacional, ao visitar o município de Xanxerê, no oeste de Santa Catarina. “Existe uma área cinzenta que precisa ser regulamentada, mas isso não pode significar a perda de direitos dos trabalhadores, nem a perda de impostos”, afirmou a presidente, ressaltando que a terceirização precisa ser regulamentada com equilíbrio, “sem eliminar as diferenças entre atividade-fim e atividade-meio”.

Questionada sobre a relação entre o governo e a base aliada no Congresso, a presidente Dilma minimizou as críticas de que seria refém do PMDB e disse que é normal a existência de conflitos e posições políticas distintas entre partidos diferentes. “O PMDB integra o meu governo e essa unidade tem como base a diversidade”, disse.

As cidades de Xanxerê e Ponte Serrada, no oeste de Santa Catarina, foram atingidas por um tornado no dia 20. Em visita a Xanxerê, a presidente anunciou a liberação de R$ 5,8 milhões em caráter emergencial para atender as vítimas do tornado. (Colaborou Dauro Veras, especial para o “Valor”, de Xanxerê – SC)

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Michele Lima: Denúncia, Beto Richa e Francischini atacam covardemente acampamento de servidores no Paraná

28 de Abril de 2015, 9:01, por MariaFrô

No Paraná a união de três poderes contra os servidores públicos: o executivo governado por Beto Richa, quer a força aprovar o pacote de maldades que joga na insegurança jurídica os servidores do estado, afetando principalmente suas aposentadorias, além de uma série de prejuízos diretos para a educação pública da rede do estado do Paraná.
Na Assembleia Legislativa, o governador tucano tem maioria e assim o Legislativo do Paraná, repetindo o que se faz no atual Congresso Nacional com maioria de 324 picaretas que não representa o povo, retira-lhe direito.
Finalmente o Judiciário que autorizou que a Assembleia Legislativa fosse cercada impedindo que servidores em protesto dela se aproximassem, impedindo um direito constitucional do povo chegar a casa do povo.
Como se não bastasse, o acampamento dos professores foi atacado na madrugada pelos mais de mil policiais destacados para reprimir os professores em luta.

Por Michele Lima

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A polícia do (des)governador Beto Richa e do secretário de (in)segurança Fernando Francischini atacou covardemente o acampamento dos professores e demais servidores públicos na madrugada de hoje. Guincharam os caminhões de som, agrediram professores e demais servidores públicos com gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. Arrastaram professores e demais servidores públicos de dentro das barracas.
Essa é a “abertura ao diálogo” deste governo! Covarde! Fascista!
Mais do que nunca, hoje TODOS/TODAS PRO CENTRO CÍVICO!‪#‎eutonaluta‬

 

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Morre Inês Etienne: única sobrevivente das torturas da Casa da Morte durante a Ditadura

27 de Abril de 2015, 15:08, por MariaFrô
Dia triste para a esquerda brasileira, mais uma guerreira que lutou contra a ditadura militar partiu.
Conheci Inês em fins da década de 1980, eu bem jovem, sempre me emocionada quando conhecia alguém que teve a coragem de enfrentar a ditadura militar. Inês foi barbaramente torturada, estuprada seguidas vezes, passou mais de 3 meses sob tortura na Casa da Morte. Trazia a dor da tortura e dos estupros nos ombros.
Descanse em paz, Inês, por aqui, continuaremos a resistir e lembrar todos os que resistiram à barbárie e foram para a luta contra o horror da tortura e da covardia em nome do Estado.
#torturanuncamais
No Volume 3 do Relatório da Comissão da Verdade, dez/2014, temos algumas informações , destaco alguns trechos:
“É também ilustrativa a prisão de Inês Etienne Romeu, em 5 de maio de 1971, na cidade de São Paulo, por agentes comandados pelo delegado Sérgio Fleury, sem ordem judicial. Inês foi levada para o Rio de Janeiro, onde ficou detida em uma delegacia de polícia em Cascadura. Em razão de seu estado de saúde e de uma tentativa de suicídio em decorrência da tortura sofrida, foi encaminhada ao Hospital Carlos Chagas e, em seguida, internada no Hospital Central do Exército. No dia 8 de maio, foi conduzida, de carro, para a “Casa da Morte”, em Petrópolis, local onde enfrentou todos os tipos de tortura e onde permaneceu incomunicável por mais de três meses, até 11 de agosto de 1971. A prisão de Etienne Romeu somente foi oficializada em 7 de novembro desse ano, e ela permaneceu em unidade penitenciária regular até 29 de agosto de 1979.
P. 377: Inês Etienne, integrante da VPR e da POLOP – a única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis –, foi internada em razão das torturas em clínica de saúde em agosto de 1981 e era visitada periodicamente por agentes de segurança, “que insistem que eu me torne uma colaboracionista, em troca de minha liberdade, por dinheiro e com ameaças sobre meus familiares”.215 Inês também sofria constantes ameaças de morte: Meus carrascos afirmaram que “me suicidariam” na prisão, caso eu revelasse os fatos que ouvi, vi e que me contaram durante os três meses de minha prisão, pois reconhecem que “sei demais”. Querem que eu morra “naturalmente”, sem que sejam responsabilizados pela morte que me impingirem. [...] Se eu morrer, quero que todas as circunstâncias de minha morte sejam esclarecidas, ainda que demande tempo, trabalho e sacrifício, menos em minha memória, mais em nome da honra do país em que nasci, muito pela decência de minha pátria e de meus compatriotas.
p. 420/421
 Muitas vítimas fatais da ditadura foram submetidas à violência sexual antes de desaparecer ou de ser assassinadas. Emmanuel Bezerra dos Santos é um desses casos. Em 1973, segundo denúncia feita por outros presos políticos, antes de ser morto sob tortura, no DOI-CODI de São Paulo, o jovem de 26 anos teve seu pênis e testículos arrancados, junto com dedos e umbigo.61 Conforme 421 comissão nacional da verdade – relatório – volume i – dezembro de 2014 relato de Inês Etienne Romeu, sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis, antes de sumir, em julho de 1971, Heleny Ferreira Telles Guariba também sofreu violência sexual. Foi torturada durante três dias, “inclusive com choques elétricos na vagina”.
Anatália de Souza Melo Alves teve seus órgãos genitais queimados, antes de sua morte, em janeiro de 1973, no local em que funcionava a Seção de Comissariado da Delegacia de Segurança Social da Secretaria de Estado dos Negócios de Segurança Pública, em Pernambuco.
p. 532: 1. Casa da Morte de Petrópolis
A Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), foi um dos principais centros clandestinos utilizados pelo regime militar para a prática de graves violações de direitos humanos: detenção ilegal e arbitrária, tortura, execução e desaparecimento forçado. As informações mais importantes a seu respeito têm origem no depoimento de sua única sobrevivente, Inês Etienne Romeu, e são complementadas e corroboradas por documentos produzidos pelo próprio Estado, bem como por testemunhos de ex-presos políticos e depoimentos de agentes da repressão.
p. 533 Em 1989, Inês Etienne procurou o jurista Fábio Konder Comparato e contou-lhe o calvário que sofreu durante os 96 dias em que esteve detida na Casa da Morte. Comparato explicou- -lhe que a jurisprudência à época não admitia ações de indenização por causa da prescrição. Segundo relato do jurista à Câmara dos Deputados, em 24 de setembro de 2009, em audiência pública conjunta da Comissão de Direitos Humanos e de Legislação Participativa, Inês aclarou:
 [...] professor, eu não quero um tostão de indenização. Esse dinheiro de indenização vem do povo e a grande vítima é o povo. [...] O que eu quero é que a Justiça do meu país reconheça oficialmente que eu fui sequestrada, mantida em cárcere privado, estuprada três vezes por agentes públicos federais pagos com o dinheiro do povo brasileiro.
Comparato apresentou ação judicial à 17a vara de Justiça Federal de São Paulo, que, em dezembro de 2002, julgou procedente a ação,
[...] para o fim de declarar a existência de relação jurídica entre Inês Etienne Romeu e a União federal, por conta dos atos ilícitos de cárcere privado e de tortura praticados por servidores militares no período compreendido entre 05 de maio e 11 de agosto de 1971, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.13
Em 2007, a União desistiu do recurso de apelação, e o Tribunal Regional Federal da 3a região manteve a sentença.
Nascida em Pouso Alegre (MG) em 1942, Inês – que viria a receber o Prêmio Nacional de Direitos Humanos de 2009, na categoria de “Direito à memória e à verdade” – foi bancária, líder estudantil e dirigente da VPR. Foi sequestrada em 5 de maio de 1971 na avenida Santo Amaro, em São Paulo, às 9h da manhã, por agentes comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, conforme relatório de 18 de setembro de 1971 entregue por Inês ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 5 de setembro de 1979.
Nesse documento, Inês diz que estava “em companhia de um velho camponês, de codinome ‘Primo’, com quem tinha encontro marcado desde abril” e que “assistiu impassível” à sua prisão: O camponês, que era da região de Imperatriz, já havia denunciado um encontro marcado entre ele e José Raimundo da Costa, no qual compareceria também Palhano, ex-líder dos bancários do Rio de Janeiro, para o dia seguinte. Confirmei a informação e disse que desde o dia 10 de março deste ano [1971] estava desligada do movimento e me preparava para deixar o país.
Segundo o documento, a militante foi, em seguida, levada ao DOPS/SP, em cuja sala de tortura foi interrogada. Inês foi colocada no pau de arara e espancada. Recebeu choques elétricos na cabeça, pés e mãos. Os agentes queriam saber seu endereço no então estado da Guanabara, o qual conseguiu ocultar, “para proteger uma pessoa que lá se encontrava”.
Em 5 de maio, Inês foi levada ao Rio de Janeiro de automóvel:
[...] Chegamos por volta de 21 horas, parando, inicialmente, em frente ao Ministério da Guerra, na avenida Presidente Vargas, quando, do carro, desceu um indivíduo que se dirigiu ao interior do ministério, pela entrada destinada aos carros, e de lá regressou em companhia de um outro, à paisana, que se incorporou ao grupo. Seguimos, então, para uma delegacia situada na avenida Suburbana, próxima ao largo dos Pilares, onde fui colocada numa cela. Meia hora depois, levaram-me para fazer o reconhecimento do local do “encontro” [o qual havia mencionado para evitar a continuação da tortura]. Eu havia dito que teria que andar uns 300 metros, atravessando, inclusive, o viaduto de Cascadura. Retornei à delegacia, onde passei a noite, ouvindo gritos e espancamentos de presos comuns que lá se encontravam. Em seguinte, 6 de maio, ao me aprontar para o “encontro”, fizeram-me calçar meias para ocultar as marcas de espancamento, bem visíveis, em minhas pernas.
Às 12h foi conduzida até o local do “encontro”, e lá se atirou sob as rodas de um ônibus. Os policiais levaram-na então para o Hospital da Vila Militar, onde recebeu transfusão de sangue. Pouco depois, foi transferida ao Hospital Carlos Chagas: Ao ser feita a ficha de entrada, disse o meu nome e declinei minha condição de presa política. Fui desmentida por um policial que disse ser meu parente e que eu me chamava Maristela de Castro, fornecendo, inclusive, minha filiação. Neste hospital permaneci somente o tempo necessário aos primeiros socorros (suturas etc.). Logo fui transportada para o Hospital Central do Exército [HCE], onde tiraram radiografias de minha bacia, constatando-se não haver fraturas e que os ferimentos que tinha no corpo, queimaduras de terceiro grau, foram consequência de ter sido arrastada pela roda traseira do ônibus. Quando do preenchimento da ficha no HCE forneci meu nome verdadeiro, filiação, idade etc., novamente declinando minha condição de presa política e as circunstâncias do acidente.
Depois de medicada, foi informada de que receberia alta em cinco dias. Apesar de seu estado de saúde precário, agentes invadiram seu quarto naquela noite de 6 de maio para interrogá-la, mas foram impedidos pelo médico:
[...] Dialogaram asperamente e um dos agentes disse aos berros que “estávamos em guerra” e que não poderia haver obstáculos legais para o que faziam. Mas o médico proibiu o interrogatório dizendo que só poderiam fazê-lo com permissão do diretor do HCE. Em 7 de maio fui visitada, em horários alternados, pelo diretor do HCE, por um psiquiatra e por um capitão do Exército, que queriam saber sobre a minha saúde.
Internada no HCE, Inês ouviu de um médico o relato da noite em que ele estava de plantão e Marilena Villas Boas Pinto teria chegado, já sem vida, ao hospital. Mais tarde, “doutor Pepe”, carcereiro da Casa da Morte, disse a Inês que Marilena ali estivera e que “havia morrido na mesma cama de campanha” que ela ocupava. A pedido da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Inês ratificou essa denúncia em abril de 1997.
Nascida em 8 de julho de 1948 no Rio de Janeiro, Marilena era estudante de psicologia na Universidade Santa Úrsula. Militou na ALN e, depois, ligou-se ao MR-8. Segundo seu atestado de óbito, morreu em 3 de abril de 1971, no HCE, em decorrência de “ferimento penetrante do tórax com lesões do pulmão direito e hemorragia interna”.
Após muitas dificuldades, em 8 de abril de 1971, a família de Marilena resgatou seu corpo do hospital. Seu caixão foi entregue lacrado e o seu enterro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, teve presença de militares à paisana que intimidaram familiares e amigos. 115. Em 8 de maio, Inês foi retirada à força do hospital e, vendada, foi levada a uma casa cuja localização não conseguiu identificar naquele momento. O interrogatório iniciou-se a caminho do local, com a advertência de que receberia “o mesmo tipo de tratamento dado pelo Esquadrão da Morte: sevícia e morte”. Ao chegar ao local foi colocada em uma cama de campanha que tinha as iniciais do Centro de Informações do Exército (CIE). O interrogatório continuou “sob a direção de um dos elementos que me torturara em São Paulo”.
Inês permaneceu naquele lugar por 96 dias. Segundo sua irmã Lúcia Romeu, em entrevista para a reportagem “A casa dos horrores”, da revista IstoÉ de 11 de fevereiro de 1981, Inês “foi torturada, estuprada, submetida ao pentotal sódico, o chamado ‘soro da verdade’ e, depois de cada uma de suas duas tentativas de suicídio, medicada para recuperar as forças e ser de novo supliciada”.
Quando a Lei de Anistia foi aprovada, em 1979, Inês havia cumprido oito anos de pena. Foi libertada em 29 de agosto de 1979. Uma semana depois, compareceu à sede do Conselho Federal da OAB, no Rio de Janeiro, para registrar sua denúncia.
Na ocasião, listou nove nomes de desaparecidos sobre os quais teve notícia durante os três meses na Casa da Morte. Destes, seis teriam sido assassinados em Petrópolis: Carlos Alberto Soares de Freitas, Mariano Joaquim da Silva, Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, Heleny Ferreira Telles Guariba, Walter Ribeiro Novaes e Paulo de Tarso Celestino da Silva. Etienne citou ainda Ivan Mota Dias, José Raimundo da Costa e o deputado Rubens Paiva. A CNV não conseguiu comprovar a passagem dos três últimos pela Casa da Morte. 117. Quase dez anos após sua prisão, em 1981, Inês reconheceu, com a ajuda de Sérgio Ferreira, primo de Carlos Alberto Soares de Freitas, o local da Casa da Morte, ao procurar o endereço relativo a um número de telefone que ouvira durante o cativeiro. O centro clandestino situava-se na rua Arthur Barbosa, no 668, em Petrópolis. Segundo o depoimento de Inês no relatório entregue à OAB em 1979, creio ser uma extensão do telefone do vizinho, ao que parece o locador da casa. Diariamente, este indivíduo, a quem os agentes chamavam Mário, visitava o local e mantinha relações cordiais com os seus moradores. Mário é estrangeiro – possivelmente um alemão – e vive em companhia de uma irmã. Possui um cão dinamarquês, cujo nome é Kill; embora não participe pessoalmente das atividades e das atrocidades cometidas naquele local, tem delas pleno conhecimento. Seu nome é Mario Lodders.
P. 536:  Quando Inês Etienne conversou a sós com Mariano Joaquim da Silva, na Casa de Petrópolis, este mencionou a prisão de Carlos Alberto Soares de Freitas. À época de sua prisão, Mariano Joaquim também integrava o comando nacional da VAR-Palmares, junto de com Carlos Alberto Soares de Freitas e Carlos Franklin Paixão de Araújo. 121. O torturador “doutor Pepe”, suposto codinome do tenente-coronel do CIE Orlando de Souza Rangel, confirmou a Inês que ele fora o responsável pela prisão de Carlos Alberto Soares de Freitas, em fevereiro de 1971, e que seu grupo o executara. Ele disse que à sua equipe não interessava ter líderes presos, e que todos os “cabeças” seriam sumariamente mortos, após interrogatório. 122. Na Casa da Morte, Inês ouviu do então sargento Ubirajara Ribeiro de Souza que Carlos Alberto Soares de Freitas o tinha reconhecido, pois ambos haviam se conhecido jogando basquete em Minas Gerais. Ubirajara disse a Inês: “Seu amigo esteve aqui. Ele me reconheceu”.
p. 539:  Em setembro de 1970, Mariano reuniu-se com a esposa e os filhos pela última vez e, em 20 de abril de 1971, encontrou-se no Recife com o irmão, o ex-preso político Arlindo Felipe da Silva. Após esse encontro, a família foi informada da prisão de Mariano Joaquim na rodoviária do Recife, em 1o de maio de 1971. Conduzido por agentes do DOI-CODI/RJ ao Rio de Janeiro e depois a São Paulo, foi levado de volta ao Rio, onde desapareceu. De acordo com Inês Etienne, Mariano esteve na Casa da Morte entre 2 e 31 de maio de 1971. Ainda segundo seu depoimento, foi obrigado a realizar serviços domésticos durante a prisão e torturado por quatro dias ininterruptos, quando não pôde comer, dormir ou beber água. Ela o viu pela última vez em 31 de maio, quando percebeu que o retiravam da cela. No começo de julho, o “doutor Teixeira”, codinome do major Rubens Paim Sampaio, disse a Inês que Mariano teria sido executado.158 Até hoje seu corpo não foi encontrado.
p. 541  Em julho de 1971, segundo depoimento de Inês, estiveram na casa de Petrópolis Walter Ribeiro Novaes, da VPR, e Paulo de Tarso Celestino da Silva, dirigente da ALN, além de uma mulher que Inês acreditava ser Heleny Ferreira Telles Guariba, da VPR. O agente “Márcio” afirmou a Inês que Walter Ribeiro Novaes, salva-vidas do Serviço de Salvamento Marítimo do Rio de Janeiro, teria sido morto. Ela se recorda que entre 8 e 14 de julho houve uma ruidosa comemoração na casa, em virtude de sua morte. Inês também revela que os oficiais Freddie Perdigão Pereira (“doutor Roberto”), Rubens Paim Sampaio (“doutor Teixeira”) e “doutor Guilherme”, e os agentes Rubens Gomes Carneiro (o “Laecato” ou “BoaMorte”), Ubirajara Ribeiro de Souza (“Zé Gomes”) e Antônio Waneir Pinheiro de Lima (“Camarão”), participaram da tortura do dirigente da ALN Paulo de Tarso Celestino da Silva. Segundo Inês, Paulo foi torturado por 48 horas: “Colocaram-no no pau de arara, deram-lhe choques elétricos, obrigaramno a ingerir uma quantidade grande de sal. Durante muitas horas eu o ouvi suplicando por um pouco d’água”. Heleny, torturada por três dias, teria inclusive recebido choques na vagina.
p. 553 Em maio de 1971, o major Belham deixou o comando do DOI-CODI/RJ, assumido pelo coronel João Pinto Pacca, até 27 de setembro de 1971. Entre julho e outubro desse ano desapareceram Walter Ribeiro Novaes (em 12 de julho), José Raimundo da Costa (em 5 de agosto) e Félix Escobar (entre setembro e outubro de 1971). O caso de Walter Ribeiro Novaes foi comentado neste capítulo. José Raimundo da Costa, ex-sargento da Marinha e dirigente da VPR, teria sido preso pelo DOI-CODI/ RJ em 4 de agosto de 1971, data em que Inês Etienne Romeu ouviu o carcereiro “Laurindo” dizer aos agentes policiais “Bruno” e “Cesar” que José Raimundo havia sido preso em uma barreira. Mais tarde, outro carcereiro, “doutor Pepe”, informou a Inês que o ex-sargento havia sido morto 24 horas após sua prisão, em encenação montada em uma rua da cidade. Segundo versão oficial, José Raimundo teria sido morto por agentes do CIE ao reagir à prisão, em 5 de agosto de 1971, no bairro de Pilares, Rio de Janeiro. José Raimundo também foi vítima do agente infiltrado José Anselmo dos Santos, o “cabo Anselmo”, fato comprovado por documento do DOPS/SP em que o “cabo” menciona seus encontros com o militante.

Única sobrevivente da Casa da Morte morre em Niterói

Inês Etienne Romeu tinha 72 anos e faleceu em casa, na manhã desta segunda-feira

JULIANA DAL PIVA, O Dia

27/04/2015

Rio – A ex-líder da Vanguarda Revolucionária Palmares (VPR) e única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis, Inês Etienne Romeu, de 72 anos, morreu no início da manhã desta segunda-feira, em Niterói, na Região Metropolitana. Segundo informações, ela estava em casa e faleceu enquanto dormia.

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Inês foi presa pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury em São Paulo, no dia 5 de maio de 1971. Depois foi levada à Casa da Morte, onde ficou presa por 96 dias, sendo submetida a torturas e estupros. Ela foi libertada em Belo Horizonte em agosto de 1971. O imóvel, onde funcionou o centro clandestino, existe até hoje na Rua Arthur Barbosa 668, no bairro Caxambu, em Petrópolis. O proprietário atual é Renato Noronha, que comprou a casa em 1978.

Ao chegar na casa de uma pessoa da família, Inês resolveu se entregar na mesma hora às autoridades oficialmente para garantir sua vida. Condenada, ela ficou presa até 1979, e dois anos depois conseguiu localizar a casa onde esteve presa em Petrópolis. Ela foi a última a deixar a prisão após a anistia. Livre, Inês denunciou a existência do centro clandestino em 1981 e a atuação do médico Amilcar Lobo nas torturas.

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Através de uma nota oficial, o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, lamentou a morte de Inês Etienne: “Ela (Inês), como única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis, centro de tortura e desaparecimento forçado montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), permitiu que a sociedade brasileira ficasse sabendo da existência do local e dos horrores a que eram submetidos os presos políticos”.

Damous pede, ainda, que Inês Etienne seja homenageada pelo Estado. “Cabe ao Estado transformar a Casa da Morte de Petrópolis em um Espaço de Memória para fomentar uma cultura de direitos humanos na cidade. A história por ela já foi contada, mas é necessário que os Arquivos do CIE sejam abertos e que os agentes torturadores sejam ouvidos e responsabilizados por seus atos”.

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