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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
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Paulo Teixeira: Financiamento Público de Campanha – Igualdade para todos

3 de Novembro de 2015, 14:23, por MariaFrô

reformapolítica

Igualdade para todos

TEMA EM DISCUSSÃO: Financiamento de empresas a campanhas políticas

POR OUTRA OPINIÃO

PAULO TEIXEIRA*,  O Globo

03/11/2015 0:00

Ao vetar o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e partidos políticos, a presidente Dilma Rousseff demonstrou profundo respeito à democracia, à Constituição e às decisões tomadas anteriormente no STF e no Senado.

O fim do financiamento empresarial é bandeira antiga da sociedade. Em julho, uma pesquisa realizada pelo DataFolha, por iniciativa da OAB, mostrou que três em cada quatro brasileiros rejeitam as doações eleitorais de empresas. Para 79%, elas estimulam a corrupção.

Nos últimos meses, um axioma foi muito repetido pelos que percebem os efeitos nocivos dessas doações: “Empresa não vota, investe”. De fato, o que se sucede a cada dois anos é um círculo vicioso perverso. Empresas fazem apostas, escolhem seus donatários como quem opta por um fundo de investimento e, muitas vezes, cobram a fatura ao longo dos quatro anos seguintes. Por melhor que seja a atuação da Polícia Federal, do Ministério Público e da Procuradoria Geral da República, não se elimina a corrupção sem mexer na raiz do problema. E há indícios palpáveis de que as doações empresariais sejam a origem da maioria dos malfeitos. O combate à corrupção é um dos muitos efeitos positivos do fim do financiamento empresarial. Há outros. Talvez o mais importante seja preservar a isonomia no processo eleitoral. Em 2014, apenas 3% dos candidatos a deputado federal que arrecadaram menos de R$ 500 mil foram eleitos. Já a taxa de aproveitamento dos candidatos que arrecadaram mais de R$ 5 milhões foi de 100%. Sem o capital das empresas, essa distância não seria tão grande.

Por que isso é importante? Em primeiro lugar, porque torna mais equilibrada a disputa eleitoral, coibindo a concorrência desleal entre setores beneficiados pelo poder econômico e setores mais identificados com as minorias e os trabalhadores. Quantos são, hoje, os indígenas com assento no Legislativo? Quantos são os lavradores, os metalúrgicos?

A proibição do financiamento empresarial também pode melhorar a qualidade da representação. “Todo poder emana do povo, e empresas não são o povo”, lembrou a ministra Cármen Lúcia, citando o artigo 1º da Constituição ao proferir seu voto no STF. Rosa Weber, por sua vez, recorreu ao artigo 14, parágrafo 9º, para lembrar que é preciso proteger “a legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico”. Os políticos devem ser sempre representantes do povo, e não das empresas que os patrocinam. É este o prognóstico positivo para as próximas eleições. Graças ao fim do financiamento empresarial, a intermediação do poder econômico cederá espaço à mediação direta entre candidato e eleitor, com diálogo, propostas, transparência. Resgatar a qualidade da relação entre representante e representado fará um bem enorme ao Brasil. Inclusive às empresas.

*Paulo Teixeira é deputado federal (PT-SP)

 

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Lelê Teles: Contra as armas

3 de Novembro de 2015, 9:43, por MariaFrô

Ontem fui ao supermercado e presenciei uma cena dantesca: uma fechada, um bate boca, uma mulher contra quatro (uma família – esposo/genro, esposa/filha, sogra do esposo e mãe da esposa e avó da neta e a neta, filha do casal).

A mulher sozinha parece ter pego uma vaga que a sogra estava guardando para o genro, a mulher sozinha parece ter agredido verbalmente a sogra. A filha/esposa, o genro/marido, a sogra/avó e a filha/neta foram para cima da mulher ‘ladra de vaga’.

A filha/esposa, em defesa da honra da mãe, agarra os cabelos da mulher sozinha, chuta, finca suas unhas na cara da mulher sozinha que sangra.

Seguranças, gerente, tentam separá-las e sobra sopapo pra todo lado. Eu tentando chamá-las à razão, nenhum efeito. A razão não existe quando as pessoas abrem mão dela para resolverem conflitos no tacape. Era chave para debaixo do carro, bolsa atirada para o outro lado e todos que se aproximavam, poderiam levar um golpe. Multidão em volta, celulares gravando tudo e mais um vexame com muitas visitas no youtube.

A pergunta é: e se um dos envolvidos tivesse uma arma de fogo? Essa é a questão chave da crônica de hoje de Lelê Teles.

PORTE LEGAL DE ARMAS NÃO É NADA LEGAL

Por Lelê Teles

feriadão, casa do amigo arquiteto, arquitetonicamente bem desenhada, pé direito alto, vãos vestidos de ventos, excelente aproveitamento da luz e da refrigeração natural, plantas colorindo o ambiente, flores dando cores às janelas, canto de pássaros.

lá fora, nordestínico, o sol impiedoso açoitava o lombo dos viventes com sua língua de fogo, chicote dos banhistas.

à nossa volta, o vento amigo ventava fresco e abrigo.

soprando da praia, nos trazia murmúrios aquáticos e deliciosos cheiros d’África, odores marinhos, fragrâncias piscosas; algo de algas em seu perfume nos besuntava, brisicamente.

o churrasco crepitava em brasas, indiferente a brisas, cervas trincavam no iglu; o amigo arquitetava um drink, macerava gelo, açúcar e cachaça, caipirindo.

enquanto isso, Beatles bitavam na vitrola. à mesa, quatro cabras, três garotas, cigarros, copos, garrafas y otras cositas más.

como ocorre sempre nesses churrascos, quando todos já estão bêbados e o riso é fácil e gratuito, eu apresento meus stand ups cabeças, sobre drogas, religiões, coprofagias e outras bizarrices.

gargalhadas daqui, gargalhadas dali, conversa mole vai, conversa mole vem, o álcool entorpecendo todos e o amigo – só o diabo sabe por quê – elevou a voz em defesa do direito de todo cidadão de bem portar uma arma.

alto lá, disse eu – elevando uma deliciosíssima costela bovina dourada ao ar, ainda mastigando e com uma gordura líquida e morna escorrendo pelo canto da boca – cidadãos de bem ou cidadãos de bens?

você acha justo que os bandidos andem armados enquanto nós, cidadãos de bem, estejamos sempre vulneráveis?, perguntou o arquiteto.

se o bandido pode ter armas por que nós não podemos?, encorajou-se a nem sempre bondosa Juliana.

pra mim é simples, continuou a dentista belicosa, é fazer como nos Estados Unidos, permite-se o porte de armas para civis, dão a eles treinamentos em stands de tiros e todos têm o direito a proteger suas famílias. por isso que lá a classe média não é obrigada a viver cercada de grades como nós.

é isso, os assassinos estão livres, nós não estamos, disse Natália, citando Renato Russo.

nisso todos concordaram, menos eu.

amigos, vocês já andam armados, eu disse. veja o carrão de vocês aí na porta, nenhum corre menos que 200 km por hora, e quantas vezes vocês o dirigiram embriagados? agora mesmo você queria sair para comprar mais cigarros, Natália, eu é que sugeri um mototáxi.

onde você quer chegar com isso?, perguntou o dono da casa.

quero dizer que hoje a arma que mais mata no Brasil é o automóvel. e contra ele não adianta eu comprar outro carro para me defender. fora os valentões que partem para briga quando alguém lhe dá uma fechada, entra numa curva em dar a seta ou um banguelo pede para limpar o para-brisas do seu carro. imagine essa gente toda armada!

quando eu falei em homens de bens eu quis dizer que vocês estão a favor de armar a classe média, mas imagino que um porteiro, um pedreiro e um padeiro não vão tirar parte de seus salários para comprar uma ponto 40.

não entendi onde você quer chegar, cara. impacientou-se o amigo carioca, funcionário da Petrobrás e que reclamava da vida com os bolsos cheios de dinheiro. você é contra as pessoas de bem se defenderem dos bandidos ou você está defendendo bandidos?

amigo, defendo apenas o bom senso. e o bom senso me diz que quem quer se defender deve comprar um escudo e não uma arma. a arma foi projetada para atacar.

mas o ataque é a melhor defesa, disse o arquiteto com sangue nos olhos.

uma das garotas propôs um brinde e que maneirássemos nos argumentos para não perdermos a civilidade.

todos brindamos.

aproveitei a calmaria para expor meus argumentos. Juliana, os Estados Unidos têm a maior população carcerária do planeta, é o único país em que o assassinato em série é uma epidemia, o único país do mundo em que crianças pegam uma arma em casa e matam seus colegas na escola, às dúzias.

lá nos Esteites, Juliana, o fetiche da arma é fruto de uma poderosa propaganda da indústria armamentista, não há um único estudo sério que associe um velho de 60 anos com um rifle em casa e a inexistência de assaltos e de assaltantes.

isso é mitificação.

e mais, Juliana, todos os especialistas em segurança aconselham a não reagir a assaltos.

então deixemos os assaltantes agirem livremente?, o petroleiro parecia querer me provocar.

com mil diabos, quem está a falar isso? um assaltante, cara – eu tentando manter a calma – chega sempre de surpresa, com uma meia calça na cabeça e os nervos à flor da pele, ele dá um susto em suas vítimas gritando com uma arma em punho: perdeu, perdeu.

o que você pensa que pode fazer em uma situação dessas? sacar do coldre sua arma cromada comprada no shopping e dá um tiro bem no meio dos olhos dele? você acha que a vida é um filme? você tá pensando que assalto de rua é bang bang de cinema antigo, cara, onde o malandro fica de costas para você e cada um conta cinco passos pra ver quem saca primeiro? você não acha que tá assistindo demais o desenho do pica pau, meu camarada?

nessa situação de rua tudo bem, disse ele, bastante nervoso, e dentro de casa, eu não posso me defender?

bom, cara, se você mora em um condomínio fechado não vai precisar de armas, pois o segurança armado tá lá para te proteger, já tá incluso no pacote. e depois que, acordar no meio da noite, de cuecas e com os olhos cheios de remela e trocar tiros com um bandido, só vai expor mais ainda sua família. não seja irresponsável.

e o que você sugere?, perguntou o do petróleo.

não sugiro nada, cara. quem tem que sugerir algo são os especialistas em segurança. o que digo é que você deve ter uma tara irrefreável por dar tiro em pobres, porque duvido muito que você iria à porta da Câmara Federal, com sua arma comprada num shopping, para dar um tiro na cabeça do Eduardo Cunha, mesmo sabendo que ele te assaltou e anda a sorrir de sua cara passeando em carros de luxo comprados com uma grana que ele bateu de sua carteira.

e você daria um tiro em alguém do PT ao saber que ele roubou a Petrobrás?

eu sou contra dar tiros, amigo. não sei se você percebeu. e já que você falou em PT e Petrobrás, imagina aquela louca que xingou o Suplicy numa livraria com uma pistola na mão, uma mulher que entra numa livraria com uma vuvuzela é capaz de tudo; imagina um rifle nas mãos do sicário que sacudiu um cadeirante na rua só porque ele usava uma blusa vermelha, pense num revoltado on ou offline com uma metralhadora em punho. o diabo, cara, que sua incapacidade de interpretação iria reprová-lo no exame do ENEM. pessoas como você já são perigosas demais desarmadas.

aí a chapa esquentou – ele já tentara discutir comigo antes sobre a frase de Simone de Beauvoir que ele não conseguiu compreender – aí, sentindo-se acuado e sem argumentos lógicos, ele virou hominho, tirou o imaginário macacão da Petrobrás e ficou sem camisa, me chamando para a briga.

mas mostrou um físico frágil, uma bunda mole e pouca agilidade para o pugilato. pensei em quebrar o nariz dele, mas preferi mostrar-lhe o óbvio.

enquanto a turma do deixa disso o segurava eu disse: já pensou, cara, se você tivesse com uma pistola na cintura e eu com outra?

nessa de olho por olho e dente por dente, seu bunda-mole, vamos acabar todos cegos e banguelos.

palavra da salvação.

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Utilidade Pública: Mais um mecanismo de comunicação de olho nas ações do Congresso

31 de Outubro de 2015, 11:45, por MariaFrô

No Brasil temos uma cultura de focar o executivo, especialmente as prefeituras e o governo federal. Por vezes, parece que não existe governo estadual (a não ser que sejam governadores petistas). Nunca se foca nas ações do Legislativo. Temos um jornalismo que além de monopolizado, partidarizado sequer contribui para o debate público informando sobre as ações do Legislativo.

Em São Paulo, o estado que vivo, a Assembleia Legislativa parece que não existe. Se fizermos uma pesquisa entre os paulistas, eles não saberão informar quantos deputados existem na ALESP e serão incapazes de relacionar pelo menos 10 nomes de deputados. Experimentem.

Esta legislatura do Congresso Nacional tem sido tão danosa ao país, retrocedendo tanto nos direitos conquistados que talvez provoque nas pessoas mais politizadas, nos movimentos sociais, nas centrais e sindicatos, nas universidades e em outras instituições importantes da sociedade civil uma reação à altura: focar nas próximas eleições quem elegeremos pra ocupar as Câmaras. Não adianta eleger um executivo progressista com câmaras reacionárias.

Neste sentido o LEMEP (Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do IESP-UERJ) vai prestar um serviço de utilidade pública: mapear semanalmente as ações do Congresso Nacional. Excelente iniciativa, vamos acompanhar e divulgar. Além do link da instituição, agora ela tem uma página no Facebook.

CONGRESSO EM NOTAS - LEMEP 

no.1, 29/10/2015

O Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do IESP-UERJ passa a divulgar notas sobre o cotidiano do Congresso Nacional. São informações públicas e relevantes, mas pouco noticiadas pela grande imprensa.

Resumo dessa semana: a bancada da Bíblia já havia aprovado na comissão especial o estatuto da família. Com a PEC 215 e o estatuto do desarmamento, a bancada BBB fechou sua conta nas comissões especiais da Câmara.

1. PAUTA INDÍGENA. Depois de dois anos e meio de resistência na comissão especial e de 15 anos tramitando na Câmara, a bancada ruralista conseguiu aprovar na comissão especial a PEC 215. Inicialmente a PEC previa simplesmente a competência do legislativo para demarcar terras – o que já impossibilitaria as futuras demarcações. A versão aprovada é ainda pior. Transforma, na prática, as terras tradicionais em qualquer outra propriedade rural; podem ser arrendadas, divididas, permutadas, receber empreendimentos econômicos. E estende o “marco temporal” (necessidade de se estar sobre a terra tradicional) também às comunidades quilombolas. Agora a PEC vai a Plenário. Alguns avaliam que isso não será votado em Plenário logo, mas essas são as mesmas pessoas que achavam que a comissão especial não aprovaria a proposta nessa semana… Na resistência, Padre Joao, Molon, Erika Kokay, Janete Capiberibe, Edmilson Rodrigues, Glauber Braga, Sarney Filho, Davidson e Nilto Tato.

2. ARMAMENTO. A comissão especial aprovou o que significa na prática a revogação do estatuto do desarmamento. Hoje o porte de armas, restrito a policiais e determinadas autoridades com juízes, a qualquer pessoa com requisitos mínimos. Destaque, na resistência, para Ivan Valente, Alessandro Molon e Glauber Braga.

3. TERRORISMO. Aqui não vale o bordão de que “não passa no Senado”, porque a derrota foi ali mesmo. O PL do Executivo, já aprovado na Câmara, foi aprovado no Senado. Em uma movimentação política surpreendente, o governo (Levy + Cardozo) se aliou a Aloysio Nunes (PSDB) para apoiar a proposta. Na oposição estava o PT, que chegou a emitir uma nota pedindo que sua bancada votasse contra a orientação do Executivo! O projeto criminaliza uma prática que não existe no Brasil, para uma pressão internacional irreal, de uma reunião de um organismo financeiro que já aconteceu na semana passada! Seu sentido verdadeiro é reprimir violentamente os movimentos sociais. A ressalva aos protestos populares, aliás, que estava no texto da Câmara e que já não valia grande coisa, foi retirada no Senado. Por isso, volta agora para a Câmara.

4. CPI DA FUNAI E DO INCRA. Foi criada no dia 28, às 14 horas, a CPI da FUNAI e do INCRA. Por enquanto ruralistas indicaram seus membros. Governo dormindo no ponto. Os líderes, pelo regimento, têm 48 horas para indicar membros. Isso pode ser flexibilizado, mas na atual conjuntura…

5. IMPEACHMENT. O Presidente da Câmara revogou no dia 29 a questão de ordem que o STF suspendeu. Ele provavelmente quer com isso se livrar das liminares do STF. Pelo regimento ele pode receber o pedido de impeachment.

6. CUNHA. A mesa, finalmente, numerou a representação contra o deputado, feita perante o Conselho de Ética. Os próximos passos, segundo o regimento: designação de relator; 10 dias úteis para Cunha apresentar defesa escrita; 15 dias para diligência (prorrogáveis); Conselho aprova parecer, remetido ao Plenário. Plenário da Câmara – maioria absoluta.

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Marcia Lia: A Construção da Intolerância

30 de Outubro de 2015, 12:20, por MariaFrô

A construção da intolerância

Marcia Lia*

Pouco a pouco estamos assistindo, no Brasil, a desconstrução de um elenco de direitos conquistados no período pós-democratização, especialmente nos últimos 13 anos, desde que Lula chegou à Presidência da República. E não tenham dúvidas: a desconstrução da imagem pessoal e institucional da presidenta Dilma serve também a esse propósito, com o agravante de servir a um projeto pessoal de poder e de sobrevida nele, no pós-operação-faxina bancada pelo governo Dilma.

Correlato a isso, avalio que está em curso um processo de ‘construção da intolerância’, onde a ira e a intransigência substituem qualquer possibilidade de diálogo como caminho para a solução de conflitos. É sintomático e preocupante, porque poderemos voltar rapidamente, enquanto Nação, a um desequilíbrio de forças sociais que marcou a própria colonização do país, por centenas de anos, com a já conhecida pilhagem dos nossos recursos naturais e com o boicote à luz que o verdadeiro ensino traz às pessoas permitindo transformar opressão em liberdade; carência em fartura; desrespeito em respeito; e país em Nação.

Está claro, a meu ver, que essa construção passa pela cessação de direitos legais, pela divisão objetiva ou subliminar da sociedade entre os que ‘merecem’ e os que ‘não merecem’, amplamente noticiados pela mídia comercial, e quase sempre sem questionamento. Prestem atenção: muitos dos comentários que lemos e ouvimos são uma homenagem à intolerância. E o pior é que as pessoas começam mesmo a se sentir superiores ou inferiores, onde quer que estejam: no cotidiano, nas instituições, na vida pública ou na vida privada. É como se acostumar com a dor mesmo sabendo que há remédio, mas este ‘não lhe pertence’. É como beber e matar no trânsito e saber que sua condição financeira ou seu sobrenome garantirá que a ‘pena lhe seja leve’.

Portanto, o muro da desigualdade de direitos está sendo erguido travestido de moralidade e de amor à Pátria, afetando diretamente as chamadas minorias: mulheres, crianças e adolescentes, negros, indígenas, população LGBT e quilombolas.

A revisão do Estatuto do Desarmamento atende muito mais aos interesses da indústria bélica do que aos interesses da sociedade em coibir a violência; na mesma toada, há o projeto da redução de maioridade penal, que na prática desobriga os governos a disputarem os jovens com o crime por meio de educação e políticas públicas inclusivas: ‘cadeia neles, ora bolas’. Ou, ressuscitar o projeto 4330/2004 que amplia a possibilidade terceirização da mão de obra. Interesse de quem?

Na pauta recente, a transferência da responsabilidade pela demarcação de terras indígenas do Governo Central para o Congresso e o projeto que regulariza ativos no exterior, não declarados, são sinais escandalosos dos interesses que pautam as discussões. São sintomas de uma doença que afetará a todos, porque não se iludam: O mal que atinge nosso vizinho nos atinge também, independente se concordamos ou não com ele, ou se gostamos ou não das mesmas coisas que ele.

Por trás da responsabilização e da criminalização de um único partido (que cometeu erros, sim), a impunidade e os interesses nada moralistas campeiam à nossa frente.

*Marcia Lia é Deputada estadual pelo PT em são Paulo

Leia também:
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Boaventura: ‘A crise sempre desacreditará a esquerda enquanto esta não aprender a desacreditar a crise’

No viveiro Brasil tem muito avestruz, muito pavão para pouco João de Barro

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Luis Felipe Miguel: A criminalização do pensamento crítico

30 de Outubro de 2015, 9:45, por MariaFrô

Há um vídeo circulando nas redes que faz as piores acusações ao ENEM, a Simone de Beauvoir chamada por esses aloprados de ‘nazista, pedófila’ e outras sandices. Ele é tão, mas tão absurdo, que queremos crer que se trata de uma produção realizada no hospício. Mas não nos enganemos, ele é profissional, gestado na mesma forma do fundamentalismo organizado nacionalmente que aprovou em todos os planos de educação municipais e estaduais a saída do debate da questão de gênero nas escolas. Ancorados no argumento falacioso da famigerada ‘ideologia de gênero’ – categoria inexistente em qualquer área do pensamento científico-, os fundamentalistas vem banindo das escolas (ao menos nos documentos legais) temas cruciais para a formação cidadã, como: violência contra a mulher, questão indígena, combate ao racismo entre outros.

Essas ações são apoiadas por vereadores que chamam professoras de ‘vagabundas’, ‘idiotas’ e ‘débeis mentais, por deputados que agridem e ameaçam outros em pleno plenário, por corruptos cujo crimes de corrupção foram denunciados pelo Ministério Público da Suíça e cujo montante de dinheiro evadido do país são apontados pela Procuradoria Geral da República como produtos de crime.

Como comenta o leitor Rodrigo Sanches a respeito do texto de Luis Felipe, há uma “histeria em torno das questões humanistas discutidas pelo ENEM e o avanço de um pensamento autoritário, travestido de “neutro”, mas que na verdade deseja barrar qualquer forma de pensamento crítico, autônomo e libertário. Vide a guerra que esses grupos estão travando na construção dos Planos Municipais de Educação e no Congresso, por meio da apresentação de Projetos de Leis absurdos e retrógrados, baseados numa visão de mundo onde se condena a pluralidade de pensamento, a diversidade (cultural, sexual, social) e ataca os Direitos Humanos, sob a ridícula e obtusa ideia de “doutrinação”, como se a ideologia dominante não fosse igualmente doutrinária. Não vivemos hoje no Brasil somente uma crise politica e econômica, mas uma crise psiquiátrica, não é possível!!”

A luta dos ativistas pelos direitos humanos é hercúlea, acadêmicos, verdadeiros intelectuais precisam se unir a ela para que possamos fazer frente à produção da barbárie. Nenhum intelectual verdadeiramente sério deste país pode se dar ao luxo de não produzir narrativas para se contrapor à maioria dos desqualificados perigosos que ocupam hoje o legislativo desde o âmbito municipal até o federal. Está se tornando crime pensar criticamente e este baixo clero que ocupa as câmaras legislativas retrocedem direitos elementares do povo brasileiro conquistados desde 1940, como o das vítimas de estupro poderem interromper a gravidez fruto de estupro. Não há escolhas, é lutar ou lutar.

A criminalização do pensamento crítico

Por Luis Felipe Miguel, Boitempo

29/10/2015


Luis Felipe Miguel escola sem partido

Entre as múltiplas ameaças de retrocesso que surgem do Congresso Nacional hoje, uma das mais graves é a voltada à educação. O espantalho da “doutrinação” dos alunos por professores esquerdistas é um pretexto para a criminalização do pensamento crítico em sala de aula, frustrando o objetivo pedagógico de produzir cidadãos e cidadãs capazes de reflexão autônoma, respeitosos das diferenças, acostumados ao debate e à dissensão, conscientes de seu papel, individual e coletivo, na reprodução e na transformação do mundo social. Em seu lugar, voltamos à ultrapassada compreensão de uma educação limitada à transmissão de “conteúdos” factuais, dos quais o professor é um mero repetidor e o aluno, receptáculo passivo. O slogan vazio da “escola sem partido” busca passar a ideia de que o ensino acrítico é “neutro”, quando, na verdade, ao naturalizar o mundo existente e inibir a discussão sobre suas contradições internas, é um mecanismo poderoso de reprodução do status quo.

São diversos projetos em tramitação no Congresso, que partem do veredito comum de que haveria um esforço de doutrinamento em curso, seja pelo PT, seja pela esquerda de modo geral, que faria com que as escolas tivessem se tornado centros de difusão do socialismo e/ou do feminismo. É uma reação ao arejamento – na verdade, ainda muito insuficiente – das práticas pedagógicas; uma reação que não vem de hoje, mas que se intensificou com a ofensiva diretista dos últimos anos. Alguns talvez se lembrem que, nos anos finais da ditadura militar, pré-escolas alternativas eram acusadas de adotar cartilhas marxistas. É o mesmo tipo de paranoia, mas agora vendo o pretenso doutrinamento como política de Estado, que está por trás das fantasias do movimento Escola Sem Partido, do repúdio a Paulo Freire nas manifestações públicas da direita ou da reação histérica à recente prova do ENEM.

Cada vez que a escola se desloca, por pouco que seja, de seu papel tradicional de aparelho ideológico reprodutor da ordem social, erguem-se as bandeiras de “doutrinamento”. A manobra argumentativa é evidente. A reprodução transita como “não ideológica” porque a ordem social vigente é naturalizada. É como se ela não fosse o fruto de processos históricos, de conflitos sociais com ganhadores e perdedores, mas um dado da realidade que existe por si só. A “neutralidade” do discurso que não questiona o porquê do mundo social ser como é, nem indica que essa ordenação não é uma necessidade, é falsa: ele é um elemento ativo de perpetuação, uma maneira de bloquear as potencialidades de mudança presentes do mundo em que vivemos.

Na atual ofensiva da direita brasileira, há dois alvos simultâneos. Permanece o ódio ao marxismo e, de modo mais geral, a qualquer forma de questionamento à desigualdade de classe. É sustentado por uma leitura delirante da teoria de Gramsci, difundida pelo astrólogo Olavo de Carvalho, em que a ideia de uma luta pela produção de sentido no mundo social é transformada num plano diabólico de lavagem cerebral em massa.

Mas há uma grande ênfase também na denúncia contra qualquer tentativa de desnaturalizar os papéis estereotipados atribuídos a mulheres e homens. É a “ideologia de gênero”, termo que foi cunhado pelos setores conservadores da Igreja Católica, mas adotado também por denominações protestantes, e colocada em curso em vários países do mundo, entre eles o Brasil, como forma de organizar a oposição aos avanços – mais lentos do que gostaríamos, mas inquestionáveis – na direção de maior igualdade entre os sexos e maior respeito a gays e lésbicas. Ao afirmar que “ideológica” é a luta contra a discriminação de gênero, fica implícito que a desigualdade e a intolerância seriam naturais.

O rótulo “ideologia de gênero” foi rapidamente incorporado à linguagem destes grupos. Sintético, ele permite que se descarte, sem discussão, tudo aquilo que já se sabe sobre a produção social do feminino e do masculino. Quando militantes conservadores reagem à frase de Simone de Beauvoir incluída na prova do ENEM escrevendo coisas como “eu nasci mulher sim, nasci com vagina”, como se viu nas redes sociais, revelam, mais do que apenas uma ignorância brutal e constrangedora, uma impermeabilidade deliberada a qualquer discussão sobre o tema.

Ao lado da ameaça que a emancipação feminina e a conquista dos direitos degays e lésbicas de fato representa aos privilégios de homens e de heterossexuais, e ao lado também do fundamentalismo religioso de alguns, há no destaque dado à “ideologia de gênero” uma demonstração de oportunismo político. Como afirmei em outro lugar, hoje a homofobia é o ópio do povo. Deslocando o eixo do conflito para as questões “morais” (que, na verdade, são questões de direitos individuais), a direita se põe em sintonia com uma parcela do eleitorado que, sobretudo a partir das políticas compensatórias do governo Lula, se movimentava na direção de seus adversários. Também por isso, para as forças da esquerda a luta pela igualdade de gênero e contra a homofobia não pode ser considerada uma pauta secundária.

Entre os projetos em tramitação no Congresso, vários têm o fantasma da “ideologia de gênero” como alvo. O PL 7180/2014 e o PL 7181/2014, ambos de autoria de Erivelton Santana (PSC/BA), determinam a mesma coisa: que “os valores de ordem familiar [têm] precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa, vedada a transversalidade ou técnicas subliminares no ensino desses temas”. O primeiro projeto visa instituir esta regra na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o outro, redundantemente, quer torná-la obrigatória nos parâmetros curriculares (que já devem obedecer à LDBE).

A intocabilidade da família, como sujeito coletivo com direitos próprios, irredutíveis aos de seus integrantes, é o que fundamenta tal proposta. Muitas vezes, mesmo os grupos mais progressistas têm receio de discutir o statusatribuído à unidade familiar, preferindo deslocar a luta para a necessidade de pluralizar o entendimento do que é família. Claro que que é importante dar a todos que o queiram a possibilidade de buscar formar famílias, no formato que desejem, mas ainda precisamos dessacralizar a “família”. A família é também um lugar de opressão e de violência. A defesa de uma concepção plural de família não pode colocar em segundo plano a ideia de que, em primeiro lugar, estão os direitos individuais dos seus integrantes. E entre estes direitos está o de ter acesso a uma pluralidade de visões de mundo, a fim de ampliar a possibilidade de produção autônoma de suas próprias ideias.

As propostas do deputado baiano impedem a educação sexual e o combate ao preconceito e à intolerância nas escolas, sob o argumento de preservar a soberania da família na formação “moral” dos mais novos. Com isso, retiram da escola a possibilidade de contribuir para disseminar os valores de igualdade e de respeito à diferença, que são cruciais para uma sociedade democrática. E retiram dos jovens o direito de ter acesso a informações que são necessárias para que eles possam refletir sobre sua própria posição nesse mundo e avançar de maneira segura para a vida adulta.

Ainda mais bisonho, o PL 1859/2015, de autoria de Izalci Lucas (PSDB/DF), Givaldo Carimbão (PROS/AL) e outros, propõe que a LDBE inclua dispositivo que proíba as escolas de apresentar conteúdo “que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou ‘orientação sexual’”. A política linguística destes deputados incorpora ao vocabulário legislativo o termo “ideologia de gênero”, inventado recentemente pela direita fundamentalista, e veta do vocabulário escolar os termos “gênero” e “orientação sexual”, impedindo assim que vastos setores do conhecimento produzido na sociologia e na psicologia cheguem ao ensino. O objetivo é evitar qualquer questionamento da percepção naturalizada dos papéis sexuais. É por isso que, quase 70 anos depois, Simone de Beauvoir ainda causa arrepios.

Na mesma linha, o PL 2731/2015, de Eros Biondini (PTB/MG), quer incluir, no Plano Nacional de Educação, uma proibição à “utilização de qualquer tipo de ideologia na educação nacional, em especial o uso da ideologia de gênero, orientação sexual, identidade de gênero e seus derivados, sob qualquer pretexto”. Para além do absurdo do texto (uma “ideologia” é “utilizada” na “educação nacional”?), o PL é significativo pelas punições previstas. O profissional de educação que descumprir a norma, isto é, que tematizar a desigualdade de gênero ou a homofobia, ou mesmo que apresente qualquer raciocínio crítico que seja rotulado como “ideológico”, perderá o cargo e estará sujeito às punições previstas, no Estatuto da Criança e do Adolescente, àqueles que submetem “criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento ilegal”: seis meses a dois anos de prisão.

O projeto mais ambicioso, porém, é o PL 867/2015, novamente de Izalci Lucas, que é representante da ala do PSDB mais despreparada intelectualmente e retrógrada politicamente. Seu objetivo é incluir, nas diretrizes e bases da educação nacional, um programa intitulado “Escola sem Partido”. De fato, o deputado simplesmente apõe seu nome à iniciativa do “movimento” de mesmo nome. Assim, a educação deve ser baseada na “neutralidade política” e a escola não pode desenvolver nenhuma atividade que possa “estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes”. Embora escolas confessionais privadas possam exercer seu proselitismo, desde que contem com a anuência dos pais. O artigo 5º prevê que serão afixados cartazes nas escolas para que os estudantes saibam que podem denunciar seus professores. O programa se aplica ao material didático e a todos os níveis de ensino, incluindo o superior.

Os dois pilares são, portanto, a soberania da família, que se sobrepõe ao direito do estudante de obter elementos para produzir de forma autônoma sua visão de mundo, e uma ideia de “neutralidade” que se baseia na ficção de um conhecimento que não é situado socialmente. Um relato da história do Brasil ou do mundo que se limite a nomes ou datas, como no ensino do regime militar, pode parecer “neutro”, por não assumir expressamente juízos de valor. Mas, ao negar ao aluno as condições de situar os processos históricos e de compreender os interesses em conflito, cumpre um inegável papel conservador.

Se a “neutralidade” não existe, uma vez que toda produção de conhecimento parte de um lugar social específico, qual é o contrário da doutrinação? É o pensamento crítico, aquele que permite que os estudantes sejam não objetos, mas sujeitos da aprendizagem, refletindo sobre os conteúdos e construindo suas próprias percepções, no diálogo com professores e colegas. É esse pensamento crítico que assusta os promotores da “Escola sem Partido”. Seu discurso ensaiado não disfarça o fato de que são eles que desejam uma escola doutrinária, que imponha aos estudantes um pensamento fechado – o conformismo – e os impeça de pensar com as próprias cabeças e, pensando, quem sabe inventar um mundo novo.

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Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. Autor, entre outros, de Democracia e representação: territórias em disputa (Editora Unesp, 2014), e, junto com Flávia Biroli, de Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). Ambos colaboram com o Blog da Boitempo mensalmente às sextas.

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