Lele Teles: Retrospectiva 2014
31 de Dezembro de 2014, 18:072014, O ANO QUE NUNCA VAI ACABAR
Por: Lelê Teles
O ano em que o Brasil sediou, mais uma vez, uma copa do mundo e tomou uma surra em casa, é um ano para nunca mais se esquecer.
Mesmo porque é inútil tentar apagar a história.
Foi no ano da graça de 2014 que o mundo assistiu, estarrecido, ao desaparecimento de um gigantesco boing 777, lotado de passageiros.
Embora vivamos vigiados diuturnamente, com câmeras em satélites, drones, câmeras subaquáticas, em shoppings, ruas, praças, banheiros e até a novíssima e exclusiva glande angular, que criei para ser usada e introduzida em filmes pornôs, a aeronave esvaiu-se sem deixar rastro.
Com mil diabos!
Mas o Brasil, meus amigos, não ficou pra trás. Na terra do jabuti e da jabuticaba, um helicóptero com meia tonelada de cocaína também virou pó e desapareceu do mapa, embora tenha deixado muitos rastros.
Coisa do capeta.
O ANO DA DECADÊNCIA
A revistaveja, todos sabemos, em 2006 abandonou de vez o jornalismo e entrou no ramo do marketing, pessoal e político, construindo e destruindo reputações. Lembro-me de Alckmin, então candidato à presidência, na capa da revistona, estampada panfleticamente em todas as bancas de jornais e em outdoors, às vésperas das eleições.Propaganda disfarçada de jornalismo. Mas deram com os burros n’água. Lula meteu vexosos 7×1 em Alckmin.
Em 2010, a revistona foi de Serra. Também na capa, foto meiga, mão no rosto, um doce; um leão comendo alface.
E com esse santinho do santíssimo Serra, deram novamente com os burros n’água. O careca foi surrado por Dilma com o mesmo placar de 7×1.
E em 2014, a superação.
Aécio na capa, olhos esbugalhados e fixos, dentes brancos, riso careta, rasgando a blusa e mostrando no peito a tecla verde das urnas.
Era só confirmar.
Às vésperas do pleito, os descarados mandaram, descaradamente imprimir e distribuir a mais abjeta de todas as capas, só a capa, uma vez que não tinha conteúdo jornalístico a peça, tratava-se simplesmente de um endiabrado santinho.
Com esse inusitado panfleto, a revistaveja esticou a corda, testou até o limite o seu poder de influência e manipulação.
E, novamente, deu com os burros n’água.
Este ano, o PT chegou à quarta vitória consecutiva. Da varanda de casa dava pra ouvir Galvão Bueno gritar eufórico, abraçado ao Rei Pelé: “É tetraaaa, é tetraaaa”.
Durma com um barulho desses.
BARRIGAS, DEMISSÕES E SABOTAGENS
2014 também foi o ano das barrigas e das demissões.A CNN matou Pelé, depois o ressuscitou. E quando o Ministério da Justiça recomendou o fim da revista íntima nos presídios, um jornal do interior de São Paulo achou que se tratava da proibição de magazines com mulheres nuas dentro das celas.
Sabe de nada, inocente. Diria Cumpadi Uóshto, o poeta.
A inefável Leilane Neubarth, do sotaque carioquíssimo, disse que Venina, a venenosa, metida até o pescoço nas falcatruas do escroque Paulo Roberto Costa, “nos enche de orgulho”.
Ao ler isso, ouvi novamente a inconfundível voz de Cumpadi Uóshto.
Tucanhêde, porta-voz da massa cheirosa, foi demitida da Folha.
Danusa Leão, que odeia pobre, foi demitida d’O Globo.
Fernando Rodrigues, foi demitido da Folha.
Em apenas uma semana, a Folha demitiu 25 jornalistas.
Xico Sá demitiu-se.
O patético Rodrigo Constantino virou piada internacional ao associar uma cor vermelha na taça da FIFA ao terrível comunismo.
A editora Abril começa a desistir de algumas publicações e embora tenha anunciado acabar até com a Playboy, a pornográfica revistaveja se mantém de pé.
Até quando?
2014 foi o ano em que Patrícia “calada é uma” Poeta botou o dedinho na cara da presidenta e foi parar no olho da rua. Seus patrões queriam que ela tivesse esbofeteado a candidata.
Mas ninguém superou o experiente Sérgio Conti. O jornalista entrevistou o famoso sósia de Felipão, dentro de uma aeronave comercial em plena copa do mundo, como se fosse o próprio Big Phill.
Esse também foi o ano da metamorfose. Reinaldo Azevedo, conhecido como PitBull, recebeu da ombudsman da Folha a alcunha de Rottweiler, um cão maior e mais feio.
E ao criticar a misoginia de Bolsonaro, os seguidores de Azevedo passaram a ser seus perseguidores. Em uma enxurrada de críticas e xingamentos, chamaram-no de Petralha.
Durma com uma dessa.
Jô, o gordo magro, que vinha usando seu programa como escada para umas senhoras atacarem o PT, de repente, sem mais nem menos, petralhou.
Elogiou Evo Morales, criticou os que pediam o impeachment da presidenta e deu umas chineladas em um garoto que defendeu o indefensável Bolsonaro.
Por petralhar, seus patões lhe tiraram o sexteto, a plateia, a caneca e o garçom chileno.
HOMEM AO MAR
E 2014, que parecia ser o ano da glória de Aécio, termina de forma melancólica para o senador mineiro. Aécio cumpriu à risca o que toda a mídia familiar queria, repetiu o avô.Tancredo Neves, todos sabemos, é aquele que foi sem nunca ter sido.
Às 19:30 do dia 26 de outubro, tocou o telefone na casa de Andréia Neves, aquela que amou estar em Cuba, e uma voz anunciou que Aécio vencera o pleito.
Todos gritaram eufóricos. TucanoHuck ligou pra Angélica, Aloísio Nunes sorriu pela primeira vez em sua vida. O apartamento virou arquibancada.
Mas em seguida veio o balde de gelo.
Era pegadinha do Mallandro.
Desesperado, Aécio lutou até o dia da diplomação de Dilma, bradando aos quatro ventos que era ele o vencedor, era ele o presidente.
Convocou o povo às ruas, mas nem ele apareceu. Lobão, Bolsonaro Kid e o Revoltados Online o representaram. Abraçados a um grupo de lunáticos fundamentalistas, um bando de analfabetos políticos e um punhado de midiotas. Definitivamente, Aécio está em más companhias.
É chegada a hora de lançá-lo ao mar.
Lembremos que ainda em setembro, quando Marina Silva marcava 20 pontos à frente de Aécio, FHC e outros caciques de alta plumagem simularam abandoná-lo, chegaram a pedir pra ele desistir.
Mas o mineiro lutou obstinadamente e conseguiu ir ao segundo turno. Só que do segundo não passou.
Agora, a mesma revistaveja que o estampava em capas, otimista e sorridente, o mesmo pasquim panfletário que o apontava como o salvador da pátria, o mais preparado, o competente, exibe um ranking em que ele aparece em último lugar, levando nota zero por sua atuação parlamentar.
Antes, Perillo e Alckmin já haviam se descolado de sua obstinação insana por golpe, agora é o veículo oficial do PSDB que o lança aos tubarões.
No senado, Serra roubará a cena.
Aécio terminará na pista de pouso de Cláudio, brincando de aeromodelismo, cara pra cima, sonhando em voar.
Um trapo, um traste, um triste pássaro sem asas.
Palavra da salvação.
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Lelê Teles: A ração do midiota
27 de Dezembro de 2014, 10:59O MIDIOTA
Por: Lelê Teles
O midiota, você sabe, é aquele cabra que não consegue pensar fora da caixa. Me refiro àquela caixa de 50 e tantas polegadas que fica de frente ao sofazão retrátil.
Willian Bonner, chegado a referências gringas, classificou – para o estarrecimento dos pesquisadores em comunicação que o ouvia – o telespectador do Jornal Nacional como um Homer Simpson; aquele gordinho preguiçoso e obtuso que vive o simulacro da TV como se realidade fosse.
Vai vendo.
Em 2013, pesquisa feita pelo DataFolha mostrou que 48% dos eleitores se declaravam conservadores sobre temas como drogas, aborto e políticas sociais; ou seja, uma gente predisposta a sair às ruas vestida de verde e amarelo, cantando o hino, rezando uma Ave Maria (que ave seria essa?) e pedindo uma intervenção militar.
Na época, Reinaldo Azevedo se animou e, ao comentar a pesquisa, disse que eleitores de direita e centro-direita eram a maioria no Brasil, mas não tinham em quem votar. E reclamava, ainda, a falta de um partido que tivesse coragem de se declarar destro para pegar esse eleitorado.
Aécio Neves, obcecado pelo poder, se apresentou, faca nos dentes, olhos esbugalhados e uma super dose de vacina para cavalos na veia.
Seu partido foi a reboque.
Mais animados ainda, Folha, Veja, Globo e seus inúmeros veículos, inundaram o país com articulistas, colunistas e comentaristas conservadores. Poetas, geógrafos, filósofos, psiquiatras e até jornalistas se revezavam no papel, na TV, na internet e no rádio, alimentando o Homer Simpson, fortalecendo o seu discurso.
Afinal, Homer estava lá, sentadão, pronto a ratificar posições anti gay, anti PT, anti cotas, antiquadas e a favor de um golpe.
Assim, os barões da mídia iam formando o seu exército de midiotas.
Na CBN, botavam a voz de Odorico Paraguaçu toda vez que íamos ouvir a voz do Governo Federal – “Povo de Sucupira!” – era assim que eles desdenhavam dos eleitores de esquerda e centro-esquerda.
Jabor, na sua ridícula tentativa de imitar Nelson Rodrigues, fazia farra na TV com seus comentários rasos, jocosos e cheios de ódio.
Aquela era a ração do midiota.
Em 2014, o manchetômetro, criado por pesquisadores em comunicação, revelou o massacre de manchetes contra o governo.
Muitas vezes o contexto destoava do que vinha no texto da manchete; mas o midiota tem dificuldade de interpretação; pra ele o que vale é o que vem em caixa alta.
Dessa forma, por meio de chamadas, capas e manchetes tendenciosas, TVzonas, jornalões e revistonas ditavam o assunto do dia, ou agendavam, como preferia Maccombs.
Nas redes sociais, o midiota, acrítico, reproduzia tudo o que lia e ouvia.
Mas é preciso que se diga, todo esse discurso de ódio, medo, caos, xenofobia e racismo, despreza a ideia de nação, de coletividade fraterna, de solidariedade, de pacto social.
O discurso que alimenta o midiota se presta, tão somente, a defender a existência de dois Brasis, onde um serve apenas para servir ao outro.
Heráclito definia como idiota todo aquele que vive somente para si e se desloca das questões importantes para a coletividade.
Etimologicamente, o idiota (idio), é o sujeito ensimesmado que está mais preocupado com seu próprio umbigo.
Na Idade Mídia, também conhecida como Idade de Trevas, ele se converte no midiota, esse oligofrênico animal de rebanho que vocaliza, ventriloquamente, o discurso dos barões donos dos conglomerados de comunicação.
Em outubro, foram todos derrotados.
Dilma acaba de ser diplomada, Aécio e seu partido tentaram, até o último segundo, impedir a diplomação.
Os barões da mídia não se conformam.
Nas ruas e nas redes, os midiotas espumam pela boca. Sentem como se a derrota de Aécio e dos bilionários conspiradores – que têm muito a perder com a vitória de Dilma – fosse uma derrota deles também, que não perdem nada com isso.
Joseph Politzer já havia alertado, “com o tempo, uma imprensa mercenária, demagógica e corrupta, formará um público tão vil como ela mesma”.
Ela falava, vaticinosamente, sobre a midiotia.
Palavra da salvação.
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Feliz Natal pra quem é de Natal
24 de Dezembro de 2014, 15:26Uma beleza este Natal contado em cordel.
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Depois de Aécio, agora o tesoureiro do PSDB é acusado de envolvimento com tráfico
24 de Dezembro de 2014, 11:45Por indicação de Sergio Mendes segue matéria com denúncias gravíssimas.
Leia também:
Documentos de Vilmar seriam falsos, suspeita Brasil
Senador Paraguaio denúncia Tesoureiro Nacional do PSDB por envolvimento com o tráfico internacional de drogas
17/12/2014
Tesoureiro Nacional do PSDB e Governador Eleito pelo MS, Reinaldo Azambuja e o atual Presidente do PSDB, Aécio Neves
Depois da repercussão nacional e internacional envolvendo o nome do Presidente do PSDB, Aécio Neves com helicóptero pertencente, a Agropecuária Limeira, preenchido com 450 quilos de cocaína, no qual foi divulgado amplamente pelo canal Telesur e um dos sites mais famosos dos EUA, o TMZ.
Agora é a vez do Tesoureiro Nacional do PSDB estar envolvido com o Narcotráfico Internacional de Drogas. A denúncia partiu do Senador Paraguaio Arnoldo Wiens, membro da comissão que investiga o assassinato do jornalista Pablo Medina e de sua assistente, Antônia Almada. Ele apontou o Tesoureiro Nacional do PSDB, e Governador eleito de Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja como alguém que tem muita amizade com clã liderado pelo ex-prefeito de Ypejhú , Vilmar “Neneco” Acosta Marques, fugitivo da Justiça.
O senador disse ainda que a Interpol está investigando o caso e analisou ser muito importante que a classe política brasileira também investigue. “E eu acho que seria muito interessante também para ver qual a reação da classe política brasileira, no sentido de que eles também querem que investiguem sua classe política , como estamos fazendo no Paraguai. Porque estamos diante de uma situação em que a sociedade , cidadãos , a mídia vai dizer: não quero um estado governado por traficantes de drogas”, justificou. O senador disse que já tem reunião marcada com o procurador-geral do Brasil.
Vilmar “Neneco” Acosta Marques é apontado como o maior contrabandista de maconha e cocaína para o Brasil, principalmente para as regiões Sul e Sudeste do País. “Neneco” também é acusado por diversos homicídios e chacinas no Paraguay.
DEA veio ao Brasil, após mídia internacional envolver Aécio Neves com tráfico internacional de drogas
Depois das denúncias a respeito das irregularidades em relação ao aeroporto de Cláudio (MG) envolvendo a polêmica pista de pouso com o tráfico de drogas, a Drug Enforcement Administration (DEA) esteve no Brasil no mês de novembro.
O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa do Espirito Santo, recebeu em seu gabinete o agente da Polícia Federal Rafael Pacheco. Ele estava acompanhado de dois homens que falavam português com sotaque.
Apresentaram-se ao juiz como agentes da DEA – a agência antidrogas americana. Os investigadores estrangeiros queriam saber o local do pouso do helicóptero que trouxe de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, pelo menos 445 quilos de pasta base de cocaína. O local do pouso estava registrado no GPS da aeronave.
A conversa era informal e se alongou. Os agentes da DEA contaram ao juiz que, assim como o México é a rota da droga para os Estados Unidos, o Brasil se transformou no principal corredor da cocaína exportada para a Europa, e assim como no México o tráfico de drogas alimenta a política, no Brasil não seria diferente, e essa especulação que envolve o nome do Senador Aécio Neves, “os interessa e muito”!
Os Estados de São Paulo (Alckimin), Paraná (Beto Richa), Minas (Aécio) e Mato Grosso do Sul (Azambuja), todos do PSDB, fazem parte da rota do tráfico internacional de drogas, acompanhe…
O Piloto Alexandres do conhecido “Helicoca de Minas” dá detalhes. Diz que o voo do helicoca saiu de São Paulo dia 19 de Novembro de 2013, foi para o aeroporto de Avaré, onde pernoitou.
Estive neste aeroporto, que é administrado pelo governo do Estado de São Paulo. Soube que o avião chegou perto do por do sol, ficou ali, enquanto os dois tripulantes foram levados de táxi para o hotel Vila Verde.
Na manhã seguinte, reabastecido, saíram. Num aeroporto privado, em Porecatu, no Paraná, fizeram escala para reabastecimento e partiram para a região da fronteira.
O GPS indica que pousaram em Pedro Juan Caballero, do lado paraguaio. Alexandre diz que foi em Ponta Porã, do lado brasileiro. Não é apenas um detalhe.
Se assumir que esteve no Paraguai, Alexandre estará confessando participação no tráfico internacional de entorpecentes, com pena mais severa.
Da fronteira, os dois voltaram para São Paulo, com duas paradas, uma em Porecatu e outra em Avaré, onde permitiram que um funcionário fizesse o reabastecimento, apesar do helicóptero estar abarrotado de sacolas com cocaína.
De Avaré, foram para Jarinu, na Grande São Paulo, num pouso que, apesar de muito importante, ainda não teve a investigação aprofundada pela Polícia Federal.
“Deixamos a droga num hotel fazenda, com três homens num jipe verde”. O hotel fazenda é o Parque Danape, um dos maiores da região, e um dos proprietários tem de fato um jipe verde.
Com o helicóptero vazio, foram para o Campo de Marte, onde o helicóptero pernoitou. Os dois foram para o apartamento de Alexandre.
Neste apartamento, Rogério trocou mensagem com um primo e contou que transportava “coca”.
No dia seguinte, Alexandre diz que voltou ao hotel fazenda, onde a droga foi novamente colocada no helicóptero. Ele conta que havia três sacolas a menos, coisa de 50 quilos de cocaína que teriam ficado nesta escala.
Numa investigação preliminar, agentes da Polícia Federal estiveram nas imediações do hotel sem se identificar e produziram uma informação técnica que foi juntada ao inquérito.
No relatório da investigação, a Polícia Federal recomenda outras diligências e, entre parênteses, registra que ali podem estar os proprietários da droga. É um registro curto, até agora sem desdobramento.
Do hotel em Jarinu, o helicóptero foi para Divinópolis, em Minas Gerais, onde houve novo reabastecimento, com a droga no bagageiro e no banco traseiro da aeronave. Em seguida, para Afonso Cláudio (MG), onde aconteceu a apreensão.
Rota do Pó
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Rebecca Garcia (PP-AM): ‘Fora Bolsonaro’!
18 de Dezembro de 2014, 12:57Somos todas Maria do Rosário
Em ato de solidariedade à deputada, até parlamentar do mesmo partido de Bolsonaro, pediu sua cassação
Por: Luiz Carvalho, de Brasília no site da Cut
Publicado em: 17/12/2014 – 23:34 • Última modificação: 18/12/2014 – 10:15
Preste atenção nestas palavras. “Estou aqui representando as mulheres do Partido Progressista, mas não só, também os homens de bem do PP. A tribuna do Congresso Nacional não deve ser usada para esse tipo pronunciamento (referindo-se a Jair Bolsonaro – PP-RJ). Ainda que defendamos a democracia, isso não é liberdade de expressão, é agressão às mulheres brasileiras. Nós não concordamos com nenhum pronunciamento nesse sentido e as mulheres têm no PP um apoio para acabar com todo o tipo de violência, inclusive a verbal. Precisamos, sim, passar uma régua nos políticos do nosso país e essa é uma oportunidade para mostrar que há políticos de bem, que querem construir uma sociedade melhor e uma vida melhor para nós, mulheres brasileiras. Fora Bolsonaro!”
Dia de ato dos movimentos sociais no Congresso é assim (Fotos: Guina Ferraz e Luiz Carvalho)
A frase poderia ser de um dos parlamentares presentes na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (17), para um ato em solidariedade à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Poderia também ser de qualquer uma das representantes das mais de 50 organizações que engrossaram a manifestação liderada pela CUT.
Mas veio da deputada federal Rebecca Garcia (PP-AM), da mesma sigla de Bolsonaro, e resumiu o espírito da manifestação que terminou com a própria Maria do Rosário em um discurso com olhos marejados e voz embargada, como as de muitas mulheres na plateia identificadas com a violência sofrida por ela.
No último dia 9, a parlamentar ouviu do deputado do PP, em discurso no plenário da Câmara, que não a “estupraria” porque ela não “merecia”. Dias depois, em entrevista ao Jornal Zero Hora, ele completou dizendo que não merecia “porque é muito feita”. A afirmação foi idêntica a que Bolsonaro fez em 2003, quando, nas galerias da Casa, também empurrou a ex-ministra dos Direitos Humanos e a chamou de “vagabunda.”
Mexeu com uma, mexeu com todas
Em um auditório Nereu Ramos sem sistema de som por conta das fortes chuvas que tomaram a capital federal na noite anterior, Maria do Rosário empunhou um megafone improvisado pelas mulheres e falou para centenas que usavam uma camiseta branca com os dizeres “Fora Bolsonaro, nenhuma mulher merece ser estuprada.”
“Há momentos que se transformam em um símbolo e esse símbolo não sou eu, mas este plenário cheio de mulheres lutadoras do Brasil. Não pensem que as vítimas calam. As mulheres que sofrem estupros e aquelas que lutam contra isso hoje falam por nossas vozes. Estamos aqui para lutar contra todas as formas de violência e contra aqueles que promovem a violência”, afirmou.
Para ela, a situação só deixa mais clara a urgência de transformar as relações no Congresso Nacional por meio de uma reforma política. “Se tivéssemos um parlamento com equidade isso aconteceria?”, questionou, para imediatamente ouvir um “não” em uníssono.
Maria do Rosário apontou que, após avanços como a Lei Maria da Penha, de combate à violência contra as mulheres, é preciso luta para acabar com a cultura que faz da violência algo normal. “Vamos dar um basta na intolerância e no ódio com os quais somos tratadas nos espaços públicos como se eles não nos pertencessem”, falou.
“Era só o que faltava ouvir a palavra estupro associada a merecimento” Deputada federal Maria do Rosário
A ex-ministra dos Direitos Humanos atacou ainda a ideia que relaciona estupro à conduta da vítima.
“Os últimos dias foram especialmente difíceis para mim. Como mãe, filha, irmã e parte de uma comunidade, às vezes é duro para nós ficarmos expostas quando sofremos algum tipo de violência. Porque muitas pessoas olham perguntando, “mas será que não provocou?”A lógica da situação de estupro não é tantas vezes aquela de questionar, “aquela mulher se veste como”? Era só o que faltava, ouvir a palavra estupro associada a merecimento”, criticou.
Fora Bolsonaro
Repetido como um mantra a cada intervenção, o “Fora Bolsonaro”, também tema de adesivos que algumas mulheres carregavam no peito, soava como um basta para quem vê atitudes como a do parlamentar se repetirem no ambiente de trabalho, nos lares e bate-papos informais.
Secretária de Mulheres da CUT, Rosane Silva, apontou que não haverá descanso enquanto o deputado não for responsabilizado por suas declarações.
“Iremos às ruas pela cassação de Bolsonaro porque ele não agrediu só a Maria do Rosário, mas todas as mulheres. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.”
Para a coordenadora da União Brasileira de Mulheres (UBM), Elza Maria Campos, que lembrou a baixa representatividade feminina no Congresso – apenas 51 deputadas (9,9%) e 11 senadoras (13,6%) – o parlamentar é a personificação do racismo, machismo e homofobia presentes na sociedade brasileira.Para mulheres, falas de Bolsonaro incitam a violência (Fotos: Guina Ferraz)
O desserviço à sociedade, disse a presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Vic Barros, chega justamente num momento em que a principal universidade do país (USP) ganha os jornais com denúncias de estupro e homofobia contra estudantes, o que agrava ainda mais a situação.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) acredita que a cassação deve vir para que a atitude do congressista não incentive ações semelhantes pelo país. “O Bolsonaro é reincidente nesse tipo de agressão e continuará se não for punido.”
A deputada Érika Kokay (PT-DF) avalia que a atitude de Bolsonaro ajuda a entranhar e tornar algo comum a violência contra a mulher. “A violência foi a tônica do colonialismo, da escravidão e das salas escuras de tortura na ditadura. Não permitiremos que esse crime seja normalizado”, disse.
Ao contrário, defendeu a representante da Rede de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de Goiás, Roberta Vilela, o deputado deve servir como exemplo a não ser seguido. “Ele deve ser uma referência de pensamento que se transforma em violência física e psicológica para fazer com que isso não se repita.”
“Bolsonaro não sabe o que é um estupro. Mas muitas de nós sabemos e não o deixaremos impune”, complementou a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Para a também deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), não puni-lo desmoralizará a Câmara diante da sociedade.Da Articulação Brasileira de Mulheres (ABM), Kelly Gonçalves, definiu que Bolsonaro é o reflexo de um país complacente com a tortura e com a impunidade e que tem uma grande oportunidade de enfrentar esse instrumento adotado como prática de investigação na ditadura militar que assolou o país.“O relatório da Comissão da Verdade contra o qual o deputado estava se pronunciando quando agrediu a Maria do Rosário, relata os absurdos perpetrados pelas forças militares, pela ditadura, que não acabou. O estupro continua nas penitenciárias, a violência continua nos lares. A questão não é a ofensa e a ameaça à Maria do Rosário, mas a punição que não foi feita aos torturadores desse país. Bolsonaro é o porta-voz dos ditadores e dos torturadores.”Feminicídio no Código PenalAlém da organização das mulheres, a deputada Maria do Rosário protocolou uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e calúnia contra Bolsonaro.O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados também instaurou um processo de cassação de mandato e o Ministério Público, por meio da vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, apresentou uma denúncia no STF por suposta incitação ao crime de estupro.Outro avanço na luta contra a violência às mulheres veio do Senado, nesta quarta com a aprovação do substitutivo da senadora Gleise Hoffmann (PT-PR) ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 292/2013, que define o crime praticado contra a mulher motivado por questão de gênero como homicídio qualificado (com pena mais alta).
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