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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
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A mídia criminaliza o PT porque ela faz parte de grandes corporações favoráveis a uma agenda neoliberal e menos redistributiva possível

8 de Dezembro de 2013, 12:12, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Por que a criminalização da política interessa às grandes corporações?

Os grandes veículos são grandes corporações favoráveis a uma agenda de corte liberal e o menos redistributivista possível. Isso explica a criminalização.

Por: Fabiano Santos, Carta Maior

07/12/2012

Arquivo

O equívoco da criminalização da política brasileira, promovida pela cobertura diária da grande imprensa, e direcionada, sobretudo, para lideranças do Partido dos Trabalhadores, não decorre apenas da desinformação e de um possível viés ideológico em favor de oposicionistas ao governo. Decorre principalmente do fato de serem os grandes veículos de comunicação no país, grandes corporações e, como tal, favoráveis a uma agenda de corte liberal, tanto menos redistributivista quanto possível.
Por este motivo, o PT passa a ser o grande inimigo, porque é a mais bem sucedida experiência institucional brasileira de aliar democracia e alocação política, leia-se, através da ação governamental, de bens e valores econômicos e sociais. Ao mesmo tempo, seu relativo sucesso explica resultados de diversas sondagens, segundo as quais a taxa de identificação partidária com o PT, sempre rondando os 25%, é alta, seja em termos internacionais, seja levando-se em consideração a história brasileira.

A presença do tema da corrupção nas eleições e no debate político, neste sentido, é essencial para o campo conservador brasileiro. É imprescindível transmitir a informação de que toda forma de ação governamental é suspeita, por envolver quase que por definição desvio de recursos escassos, extraídos das famílias e das empresas. Trata-se, contudo, de estratégia perigosa, tanto mais perigosa, quanto mais consciente for a respeito de seus possíveis efeitos sobre a natureza democrática do nosso regime. Senão vejamos.

Em linhas gerais, duas correntes antagônicas buscam explicar o comportamento político em sociedades de massas, sociedades que aliam capitalismo e democracia: um primeiro conjunto de autores defende a hipótese de acordo com a qual as decisões a serem tomadas em uma democracia de massa são mais complexas do que a capacidade cognitiva do cidadão comum pode suportar; o segundo grupo é mais otimista quanto à competência política dos eleitores, ao enfatizar o papel que as instituições, como os partidos, cumprem no sentido de auxiliá-los no exercício da racionalidade em momentos de decisão política.

No primeiro caso, os eleitores são representados como seres voláteis, que consomem informação e respondem a ela de maneira afetiva, sem filtros capazes de associar a produção dos dados a seus interesses de mais longo prazo, bem como a relação destes mesmos dados com os temas fundamentais da agenda pública. Esta é a teoria do eleitor impressionista, instável, que encontra dificuldades quase que intransponíveis para exercer graus razoáveis de racionalidade em seu processo decisório. No segundo caso, os eleitores são representados como seres que selecionam as fontes de informação política e são capazes, em determinadas circunstâncias, de fazê-lo de maneira minimamente eficiente – isto é, optando por aquelas ações e decisões que melhor traduzem seus interesses.
Controvérsias à parte, algum consenso entre estas linhas existe quanto ao fato de sermos mais consistentes em nossas decisões quando decidimos em torno de fatores mais estruturais da vida política, tais como partidos, grupos sociais, ideologia e lideranças bem estabelecidas, e menos consistentes quando construímos juízos com base em variáveis mais restritivas e de curto prazo. Por exemplo, nós, cidadãos, seriamos mais ponderados na ocasião em que chamados a escolher representantes e governantes do que quando convocados a decidir sobre questões específicas da agenda pública, como ocorre nas ocasiões de plebiscitos e referendos.

Mas voltemos ao exemplo do partido político. Por que é tão fundamental no regime representativo? Basicamente porque as agremiações partidárias são uma das fontes centrais de estabilização das decisões e identidades políticas dos cidadãos numa democracia. O partido cumpre a relevante função de associar o voto dado pelo eleitor  a uma agenda de políticas públicas a ser seguida por um candidato. A informação sintetizada no partido é um dos veículos mediante os quais os eleitores são levados a apoiar os diversos candidatos em pugnas eleitorais.
Quando os partidos parecem falhar, por exemplo, quando suas lideranças são vítimas de uma cobertura monotemática em torno da corrupção, o ambiente das decisões políticas se torna mais errático e os eleitores mais sujeitos a adotar cursos de ação prejudiciais, com base em informações de curto prazo, aí sim impressionistas, em temas específicos, desprovidos de relações mais estruturais com a agenda pública. Por isso, é tão importante preservar os partidos no contexto de uma disputa eleitoral, pois eles estabilizam o processo decisório do cidadão comum, em geral desinteressado em buscar todas as evidências necessárias ao reconhecimento dos mecanismos de causa e efeito característicos do mundo político.

Ora, crises desencadeadas por denúncias de corrupção nada tem a ver com aspectos estruturais da vida política. Aliás, o tema corrupção é apenas um tema, um “tema sujo”, como diriam os teóricos da comunicação política, a partir do qual o eleitor não é capaz de derivar políticas para o país. Em outras palavras, uma campanha eleitoral cujo mote principal é a corrupção assume contorno plebiscitário, em um contexto no qual o eleitor se torna menos ponderado, mais afetivo do que propriamente capaz de associar o posicionamento dos diversos candidatos a questões centrais da agenda. O PT, em coalizão com diversas outras forças, várias das quais conservadoras, tem apresentado suas prioridades aos eleitores.
Inclusão, redução da pobreza e crescimento econômico com forte presença do estado têm sido os fundamentos de sua ação como partido do governo e no poder. Se é importante uma alternativa democrática, esta certamente não se encontra na criminalização da política e do PT, sobretudo, se pensamos em uma alternativa democrática. Boa para gerar crises, e desacreditar governos de perfil mais popular, a criminalização da política é, essencialmente, péssimo meio de pedagogia democrática.

(*) Cientista político, professor e pesquisador do IESP/UERJ



No Brasil governado pelo PT desigualdade cai, em São Paulo governada pelo PSDB não!

8 de Dezembro de 2013, 10:33, por Desconhecido - 0sem comentários ainda





Folha fica para trás na cobertura do cartel do metrô e enfrenta acusações de que protege o PSDB

8 de Dezembro de 2013, 10:22, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Mudou de nome o partidarismo de extrema-direita da Folha Ditabranda, o jornal que defende abertamente o banditismo de máfias e quadrilhas ao desinformar a população e atribuir os crimes delas aos governos petistas.

Perder esse trem

Por: SUZANA SINGER, Folha

Folha fica para trás na cobertura do cartel do metrô e enfrenta acusações de que protege o PSDB

“Coisa feia, hein, FSP? Sempre a reboque do concorrente ‘OESP’. Todo dia o ‘Estadão’ descobre algo e publica. A FSP apenas reporta. Das duas, uma: ou tem péssimos repórteres investigativos, ou não quer mexer com o P$DB. A segunda hipótese me parece mais certa.”

O comentário, postado no site da Folha na quinta-feira, resume uma cobrança que vem sendo feita quase diariamente ao jornal sobre a cobertura do cartel de trens e metrô em São Paulo.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que integra o coro dos descontentes, disse de forma educada praticamente a mesma coisa que o internauta: “Você compara o tratamento que a imprensa tem dado ao caso de São Paulo e ao caso do pessoal do PT, veja a diferença. Tirando ‘O Estado de S. Paulo’, não se pergunta pelo crime, recrimina-se o acusador”.

De fato, a Folha não está indo bem nessa cobertura. O jornal tem o mérito de ter dado o chute inicial da grande mídia, ao revelar, em julho, a existência de um acordo de leniência da Siemens no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A multinacional, em troca de imunidade nas investigações, delatou às autoridades antitruste brasileiras um conluio em licitações de São Paulo, que envolvia partilha de encomendas e elevação dos preços.

O jornal teve outro bom momento ao mostrar que investigações, já existentes em 2011, não prosperaram, apesar do pedido de colaboração das autoridades suíças, porque o gabinete de um procurador do Ministério Público Federal “arquivou o caso na pasta errada”.

Foram dois “furos” (informações exclusivas) importantes, mas agora o jornal parece estar perdendo esse trem. Foi o “Estado” que revelou, em outubro, mensagens de 2004 em que o então presidente da Alstom no Brasil recomendava o uso de lobistas para obter contratos no governo de São Paulo.

Mais recentemente, o concorrente divulgou documento que teria sido escrito pelo primeiro delator do caso, um ex-executivo da Siemens, que citava o envolvimento de políticos tucanos. Na semana passada, publicou primeiro um depoimento de outro funcionário da empresa sobre uma conta secreta usada para o pagamento de propina e para fazer remessas a doleiros.

Engana-se, porém, quem atribui o mau desempenho recente da Folha a preferências partidárias. As investigações sobre o cartel do metrô, conduzidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Cade, ainda estão em curso e o que já foi apurado deveria ser mantido em sigilo. Só que, a conta-gotas, documentos têm sido vazados, quase sempre para o “Estado”.

Trata-se de uma falha da reportagem, que precisa ser sanada rapidamente, mas não há nada que indique corpo mole com o objetivo de proteger “a” ou “b”. É bom lembrar que a Folha publicou, há três meses, uma manchete (infundada) que dizia “Serra sugeriu que Siemens fizesse acordo, diz e-mail”.

Em novembro, o jornal expôs a fragilidade das iniciativas tomadas pelo governador Geraldo Alckmin para investigar o caso. Em editorial, afirmou-se que, “nas investigações sobre a CPTM, um escândalo engata-se a outro, e a omissão das autoridades paulistas tem garantido a impunidade geral”.

Aos que me acusarão, ao final de leitura deste texto, de aliviar a barra do jornal, adianto que nenhuma Redação gosta de ver escancaradas suas deficiências em coberturas importantes. E essa, que envolve um desvio de dinheiro bem maior que o do mensalão petista, é uma delas.



Victor Farinelli: SOBRE MÉDICOS E JORNALISTAS

8 de Dezembro de 2013, 9:54, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

SOBRE MÉDICOS E JORNALISTAS

Victor Farinelli

Esse reconhecimento vêm dos médicos que desde o começo foram contra o ódio exalado pelos líderes corporativos, daqueles que tentaram inutilmente ser a voz dissonante, ou que se omitiram diante de uma maioria racista e classista, que insiste em ser racista e classista. Não, eu não acredito no mea culpa dos figurões, embora gostaria de estar enganado.

E não acredito porque tampouco vejo isso dos jornalistas. Assim como os médicos, nós jornalistas precisamos reconhecer o nosso classismo, o nosso racismo, como deixamos de ser defensores incondicionais da verdade factual para sermos advogados da visão de mundo dos poderosos. Aceitamos passivamente que os interesses políticos determine a repercussão de cada notícia, ou mesmo a omissão jornalística sobre certos fatos.

Somos tão ridiculamente contraditórios que quando um jogador de futebol argentino chama um brasileiro de “macaquito” nós fazemos um tremendo escândalo e pedimos prisão do cara, mas quando um suposto colega e suposto humorista diz a um músico negro “vai comer bananas”, nós dizemos que é só “polêmico”, e o colocamos na lista dos mais influentes.

A venda de jornais e a audiência dos canais em queda livre não nos leva a nenhuma autocrítica na grande mídia, assim como o CFM tampouco faz um mea culpa pelo espetáculo lamentável que eles lideraram em 2013. A vergonha se resume aqueles muitos sujeitos desconhecidos cujas vozes são silenciadas, ou por uns poucos destacados que foram devidamente isolados pelas grandes associações.

Também entre os jornalistas, estamos os pé-rapados como eu e alguns grandes jornalistas que foram isolados pelos colunistas da Casa Grande, rotulados como “sujos”, porque sua opinião tem que ser classificada como proibida, para que um leitor desavisado tenha medo de acessar essa opinião.

Por isso, esta matéria me despertou uma única reação, quando li, de um médico entrevistado, a frase “tive vergonha da minha categoria”. Eu também sinto isso, o tempo todo.

 

“Erramos. A população ficou contra a gente”, dizem médicos

Por: Cláudia Collucci, Folha 

08/12/2013

“Erramos. Não soubemos fazer o diagnóstico da situação. A população ficou contra a gente”.

Ouvi a frase acima de um médico após debate sobre mercado de trabalho médico, promovido na noite de ontem pelo núcleo da GVSaúde, da Fundação Getulio Vargas.

Antes disso, outros médicos, inclusive um dos palestrantes, Miguel Srougi, professor titular de urologia da USP, já havia manifestado sua insatisfação sobre a maneira como as entidades médicas conduziram o debate sobre o programa Mais Médicos até agora.

Ele lembrou que foi perdido tempo demais na defesa de que o país não precisava de mais médicos ou de mais escolas médicas, quando agora existe uma unanimidade de que não só o Brasil como o resto do mundo vive uma escassez de médicos.

Outros médicos avaliaram como “um grande equívoco” os protestos contra os cubanos, considerada a cereja do bolo da antipatia médica perante a população.

Em debate na USP na semana passada, Paulo Saldiva, professor de patologia da USP, resumiu a insatisfação numa frase. “Tive vergonha da minha categoria”, comentou, quando se referiu às vaias recebidas pelos cubanos ao chegarem ao Brasil.

Drauzio Varella, na sua coluna do último sábado, também já tinha ido na mesma linha: “O que ganhamos com essas reações equivocadas? A antipatia da população e a acusação de defendermos interesses corporativistas.”

Embora essa não seja a opinião oficial das entidades de classe que os representam, esses médicos estão certos em relação a que lado a população está agora. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada ontem, apontou que 73,9% dos brasileiros se declararam favoráveis à importação dos profissionais formados no exterior. Em julho, esse percentual era de 49,7%.

O número de entrevistados que disse ser contra o programa caiu de 47,4% em julho para 23,8% em setembro.

Talvez os médicos tirem uma lição disso tudo: a necessidade de se colocarem na pele de quem vive nos rincões sem assistência médica. Essa população não quer saber se a União está se esquivando de investir os 10% em saúde ou de que os estrangeiros teriam que passar por exames de revalidação do diploma antes de começarem a atuar no país. Ela só quer um médico por perto.

Essa resposta imediata as entidades médicas não deram. O governo federal, com mais erros do que acertos, deu.

Que a medida do governo Dilma é eleitoreira, tomada às pressas como resposta às manifestações das ruas, ninguém duvida disso. Tampouco há dúvidas sobre a insustentabilidade do programa a médio e longo prazo.

Sem mais recursos para a saúde, sem uma gestão eficiente do SUS, sem equipes multidisciplinares e sem um plano consistente para reter os médicos em regiões longínquas, há pouquíssimas chances de alguma coisa dar certo. Outros países como Canadá e Inglaterra já fizeram essa lição e deveríamos ter aprendido alguma coisa com eles.

Mas o ministro Alexandre Padilha, apontado pelo ex-presidente Lula como candidato ao governo de São Paulo nas eleições do próximo ano, não se lembra disso quando busca nesses países álibis para justificar a importação de médicos. E já colhe os frutos da iniciativa, com o aumento da aprovação popular. E agora, doutores?

Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?” e coautora de “Experimentos e Experimentações”. Escreve às quartas, no site.

 



Victor Farinelli: SOBRE MÉDICOS E JORNALISTAS

8 de Dezembro de 2013, 9:54, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

SOBRE MÉDICOS E JORNALISTAS

Victor Farinelli

Esse reconhecimento vêm dos médicos que desde o começo foram contra o ódio exalado pelos líderes corporativos, daqueles que tentaram inutilmente ser a voz dissonante, ou que se omitiram diante de uma maioria racista e classista, que insiste em ser racista e classista. Não, eu não acredito no mea culpa dos figurões, embora gostaria de estar enganado.

E não acredito porque tampouco vejo isso dos jornalistas. Assim como os médicos, nós jornalistas precisamos reconhecer o nosso classismo, o nosso racismo, como deixamos de ser defensores incondicionais da verdade factual para sermos advogados da visão de mundo dos poderosos. Aceitamos passivamente que os interesses políticos determine a repercussão de cada notícia, ou mesmo a omissão jornalística sobre certos fatos.

Somos tão ridiculamente contraditórios que quando um jogador de futebol argentino chama um brasileiro de “macaquito” nós fazemos um tremendo escândalo e pedimos prisão do cara, mas quando um suposto colega e suposto humorista diz a um músico negro “vai comer bananas”, nós dizemos que é só “polêmico”, e o colocamos na lista dos mais influentes.

A venda de jornais e a audiência dos canais em queda livre não nos leva a nenhuma autocrítica na grande mídia, assim como o CFM tampouco faz um mea culpa pelo espetáculo lamentável que eles lideraram em 2013. A vergonha se resume aqueles muitos sujeitos desconhecidos cujas vozes são silenciadas, ou por uns poucos destacados que foram devidamente isolados pelas grandes associações.

Também entre os jornalistas, estamos os pé-rapados como eu e alguns grandes jornalistas que foram isolados pelos colunistas da Casa Grande, rotulados como “sujos”, porque sua opinião tem que ser classificada como proibida, para que um leitor desavisado tenha medo de acessar essa opinião.

Por isso, esta matéria me despertou uma única reação, quando li, de um médico entrevistado, a frase “tive vergonha da minha categoria”. Eu também sinto isso, o tempo todo.

 

“Erramos. A população ficou contra a gente”, dizem médicos

Por: Cláudia Collucci, Folha 

08/12/2013

“Erramos. Não soubemos fazer o diagnóstico da situação. A população ficou contra a gente”.

Ouvi a frase acima de um médico após debate sobre mercado de trabalho médico, promovido na noite de ontem pelo núcleo da GVSaúde, da Fundação Getulio Vargas.

Antes disso, outros médicos, inclusive um dos palestrantes, Miguel Srougi, professor titular de urologia da USP, já havia manifestado sua insatisfação sobre a maneira como as entidades médicas conduziram o debate sobre o programa Mais Médicos até agora.

Ele lembrou que foi perdido tempo demais na defesa de que o país não precisava de mais médicos ou de mais escolas médicas, quando agora existe uma unanimidade de que não só o Brasil como o resto do mundo vive uma escassez de médicos.

Outros médicos avaliaram como “um grande equívoco” os protestos contra os cubanos, considerada a cereja do bolo da antipatia médica perante a população.

Em debate na USP na semana passada, Paulo Saldiva, professor de patologia da USP, resumiu a insatisfação numa frase. “Tive vergonha da minha categoria”, comentou, quando se referiu às vaias recebidas pelos cubanos ao chegarem ao Brasil.

Drauzio Varella, na sua coluna do último sábado, também já tinha ido na mesma linha: “O que ganhamos com essas reações equivocadas? A antipatia da população e a acusação de defendermos interesses corporativistas.”

Embora essa não seja a opinião oficial das entidades de classe que os representam, esses médicos estão certos em relação a que lado a população está agora. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada ontem, apontou que 73,9% dos brasileiros se declararam favoráveis à importação dos profissionais formados no exterior. Em julho, esse percentual era de 49,7%.

O número de entrevistados que disse ser contra o programa caiu de 47,4% em julho para 23,8% em setembro.

Talvez os médicos tirem uma lição disso tudo: a necessidade de se colocarem na pele de quem vive nos rincões sem assistência médica. Essa população não quer saber se a União está se esquivando de investir os 10% em saúde ou de que os estrangeiros teriam que passar por exames de revalidação do diploma antes de começarem a atuar no país. Ela só quer um médico por perto.

Essa resposta imediata as entidades médicas não deram. O governo federal, com mais erros do que acertos, deu.

Que a medida do governo Dilma é eleitoreira, tomada às pressas como resposta às manifestações das ruas, ninguém duvida disso. Tampouco há dúvidas sobre a insustentabilidade do programa a médio e longo prazo.

Sem mais recursos para a saúde, sem uma gestão eficiente do SUS, sem equipes multidisciplinares e sem um plano consistente para reter os médicos em regiões longínquas, há pouquíssimas chances de alguma coisa dar certo. Outros países como Canadá e Inglaterra já fizeram essa lição e deveríamos ter aprendido alguma coisa com eles.

Mas o ministro Alexandre Padilha, apontado pelo ex-presidente Lula como candidato ao governo de São Paulo nas eleições do próximo ano, não se lembra disso quando busca nesses países álibis para justificar a importação de médicos. E já colhe os frutos da iniciativa, com o aumento da aprovação popular. E agora, doutores?

Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?” e coautora de “Experimentos e Experimentações”. Escreve às quartas, no site.