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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
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Colégio Pedro II: Racismo é crime, não é brincadeira é preciso discutir e combater

16 de Maio de 2015, 12:30, por MariaFrô

Recebi este documentário do professor Cristiano Campos, do Colégio Pedro II, Humaitá II. Ele é autor do roteiro, diretor, foi o cinegrafista e o editor do vídeo. Fico muito feliz de um colégio federal reagir à prática do racismo em seu espaço com debate, com reflexão, com ações concretas.

O Pedro II adotou a minha coleção voltada para o ensino de História, intitulada História em Projetos, prêmio Jabuti em 2008.

O documentário é muito interessante, são vários depoimentos de alunos, professores e trabalhadores do colégio, negros e brancos discutindo abertamente o problema.

Longa vida para atividades produtivas como este projeto desenvolvido no Pedro II que contribuem  pra construção da cidadania plena e uma verdadeira igualdade étnico-racial.

depoimentos

Documentário: Ninguém Nasce Assim – Documentário sobre racismo

10/05/2015

O racismo é um dos problemas mais graves do nosso país. No entanto, é recorrente, na sociedade em que vivemos, atitudes que tentam minimizar ou negar esta prática quando ela ocorre. Como um dos nossos alunos enxergou muito bem, o “movimento” do racismo envolve “o silêncio e a tensão”.

O objetivo deste documentário (curta-metragem) feito no final de 2014, a partir de um fato de discriminação racial, ou melhor, de um crime de racismo ocorrido no Colégio Pedro II, Campus Humaitá II (e que continua ocorrendo de forma silenciosa na nossa escola e em outros espaços sociais do Brasil), é de promover o debate em torno de questões como:

- O Racismo é algo que nasce com o ser humano ou é uma construção histórico-social?

- O Racismo se restringe à utilização de determinadas palavras para “ofender” o outro ou se refere a um sistema de exclusão, da maior parte da população negra, dos espaços sociais, intelectuais, culturais, econômicos e físicos mais importantes do país? Lembrando ainda o fato concreto do extermínio (genocídio!) dos jovens negros do país que aumenta a cada ano…

- Por fim, a escola é um ambiente social que realmente promove a transformação da sociedade ou ela, através de sua lógica de ensino e dos conteúdos oferecidos (ou impostos?) aos jovens, é um dos principais fatores de reprodução desta prática cruel e violenta, que é o racismo?

Produção: Prof. Cristiano Campos (Departamento de História)

Apoio:
Equipe de História
Equipe de Sociologia
Equipe de Geografia
Equipe de Filosofia

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Na longuíssima tradição escravocrata da elite brasileira, a moda agora é importar filipinas

10 de Maio de 2015, 14:35, por MariaFrô

O professor Wagner Iglecias comenta a notícia da Folha, sobre a importação de filipinas para o trabalho doméstico no Brasil pela classe média alta brasileira:

CRISE? QUE CRISE?
O Brasil começa a regulamentar os direitos das empregadas domésticas, a meu ver um notável avanço nas relações de trabalho entre estas profissionais e seus patrões. Mas então o que acontece? Começa-se a importar empregadas domésticas filipinas, consideradas mais polivalentes. Os custos logísticos de trazer alguém do outro lado do planeta parecem ser mais baixos do que os relativos ao pagamento dos direitos de nossas compatriotas brasileiras.

Penso que a elite de herança escravocrata brasileira é incorrigível.

O tráfico de escravos durou 300 anos, depois manteve-se o trabalho análogo à escravidão.

A partir de 1850, a elite escravista do centro sul ampliou sobremaneira o tráfico interno de escravizados do Nordeste para as áreas cafeeiras.

Em 1850, para não deixar dúvidas de que a riqueza não seria dividida nem com preto ou carcamano, ela aprova a Lei de Terras e impede que trabalhadores tenha acesso à terra. A elite escravocrata e racista brasileira não parou por aí: trouxe imigrantes europeus matando dois coelhos em uma cajadada: o branqueamento da população brasileira e a ampliação do mercado de mão de obra pra negar qualquer direito ao trabalhador nacional.

Aboliu-se formalmente a escravidão em 1888, mas não a sua prática, o trabalho análogo à escravidão está aí pra ninguém duvidar, assim com o longo caminho da PEC do trabalho escravo no Congresso Nacional e o da PEC das domésticas.

No século XX, durante décadas, os nordestinos foram semi escravizados para erguer a São Paulo locomotiva do progresso, depois foram as vezes dos bolivianos, haitianos…

No século XXI quando finalmente se cogita regular a PEC das domésticas – a verdadeira abolição dos escravos da Casa Grande e dos quartinhos de empregada-, a elite escravocrata que bate palma para a terceirização muda o fluxo da escravidão doméstica para outro continente.

Eu tenho verdadeiro asco desta elite.

 

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Governador catarinense usa sistema jurídico para tornar inconstitucional a lei estadual de combate ao racismo nas empresas

9 de Maio de 2015, 19:13, por MariaFrô

É lamentável que o povo brasileiro escolha representantes que ao invés de ampliar direitos se dê ao trabalho de ir até o STF para tornar inconstitucional em seu estado uma lei que pune empresas racistas.

O que move o uso cínico do sistema jurídico, com argumento de que a lei ‘invade’ esfera de competências?  Se a lei estadual desse licença para a prática da discriminação o governador Colombo se mobilizaria até o STF?

O que reza a Constituição:

Estados e os Municípios podem votar e aprovar “Leis Complementares” De modo geral a Lei Orgânica dos municípios ou as constituições estaduais preveem esta possibilidade sem contudo contrariar a  Constituição Federal.
Há inúmeras leis estaduais e municipais complementares que reforçam leis federais e elas não são motivos de ações de inconstitucionalidade no STF. Haveria justificativa se a lei complementar fosse oposta ao que prega a lei federal, mas não é o caso da Lei Complementar 527/2010.

Um governo estadual justificar a recusa em aceitar leis civilizatórias que reforçam a Constituição em seu estado fazendo uso  do juridiquês para justificar sua ação não me me parece acertado. Insisto, se a lei estadual permitisse que empresas praticassem racismo e outras formas de discriminação, o governador teria toda esta energia para ir ao STF?

bobageira

Veja aqui os processos relacionados: ADI 5307

Governador de SC propõe ADI contra lei que pune empresas em caso de discriminação

 Do site do STJ

01/05/2015

O governador de Santa Catarina, João Raimundo Colombo, ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5307 no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei Complementar estadual 527/2010, que definiu penalidades a serem aplicadas às pessoas jurídicas de direito privado que permitirem ou tolerarem a prática de atos atentatórios e discriminatórios em razão de preconceitos de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero ou orientação sexual.

O governador argumentou que a lei invadiu a esfera de competência da União, a quem cabe legislar privativamente sobre direito do trabalho, nos termos do inciso I do artigo 22 da Constituição Federal.

As sanções administrativas às empresas em caso de demissão, rescisão indireta do contrato de trabalho ou impedimento de acesso profissional em decorrência de preconceitos, previstas nos incisos VI e VII do artigo 2º da Lei Complementar 527/2010, também incidem em inconstitucionalidade por violação ao inciso XXIV do artigo 21 da Constituição Federal, segundo a ADI.

Raimundo Colombo pede liminar para suspender a eficácia da lei até o julgamento do mérito da ADI, quando pretende que o STF declare a inconstitucionalidade da norma. O relator da ADI é o ministro Teori Zavascki.

VP/CR

 

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Clemente Ganz Lúcio: Impor limites para as terceirizações é o que está em jogo

9 de Maio de 2015, 18:42, por MariaFrô

Impor limites para as terceirizações é o que está em jogo. Entrevista especial com Clemente Ganz Lúcio

Por Leslie Chaves

“Os direitos que foram consignados na negociação para os trabalhadores terceirizados podem virar pó se a legislação disser que pode se terceirizar qualquer coisa”, avalia o sociólogo.

Cercado de embates e discussões a respeito dos pontos que devem regulamentar o regime de terceirizações no país, o Projeto de Lei 4330 segue para o Senado depois de ter sido aprovado em votação realizada dia 22-04-2015 na Câmara dos Deputados.

Em trâmite há dez anos, o projeto volta para a pauta do governo cheio de pontos dissonantes, de acordo com as visões do governo, de empresários e trabalhadores. Um dos pontos mais nevrálgicos é a limitação da quantidade e dos tipos de serviços que podem ser terceirizados. “O resultado desse processo decorre de uma pressão do setor empresarial para a votação e, ao mesmo tempo, de umaresistência colocada pelos movimentos sociais, especialmente pelo movimento sindical, para que não houvesse essa votação, ou para que a votação não referendasse essa posição de total liberdade para a terceirização de qualquer tipo de atividade”, afirma Clemente Ganz Lúcio em entrevista por telefone à IHU On-line.

A partir de sua experiência no acompanhamento de pesquisas como diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESEClemente Ganz Lúcio analisa os entraves e avanços que a possível aprovação do PL 4330 pode trazer para o contexto do mundo do trabalho e, de uma maneira geral, para a conjuntura social e econômica do Brasil. O sociólogo avalia que as mobilizações do movimento sindical, dos trabalhadores e dos movimentos sociais estão gerando um efeito positivo nas pressões para o governo incorporar pontos importantes no projeto que protejam a classe trabalhista. Uma reivindicação fundamental para que traga benefícios ao contexto socioeconômico do país. “Se nós queremos uma lei que crie um ambiente favorável, ela precisa ser alterada. Do jeito que está posta, no meu entendimento, ela acirrará os conflitos, que já não são pequenos nesse campo, e provavelmente continuará gerando insegurança para as empresas e precarização para os trabalhadores”, frisa.

Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do DIEESE e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES.

Confira a entrevista.

IHU On-line – A que o senhor atribui a aprovação desse projeto de lei depois de dez anos de tramitação no congresso?

Clemente Ganz Lúcio – Ela é resultado de uma pressão que o setor empresarial fez sobre o Congresso para que este desse prosseguimento ao processo legislativo. Essa pressão já vem desde 2012, e ela foi suspensa por uma pressão dos movimentos, especialmente do movimento sindical, que pressionou o Congresso para que houvesse, por um lado, um processo de debate, de negociação, que em parte foi feito; e, por outro lado, que a medida não fosse colocada em votação antes que houvesse uma conclusão, uma tentativa de um acordo para a formulação do projeto como um todo.

Avançou-se na negociação em alguns aspectos importantes, entretanto, em relação ao ponto considerado pelo movimento sindical e por várias organizações como central, que é o limite para a terceirização, não houve acordo. O que houve, na verdade, foi o debate no processo de votação na Câmara dos Deputados.

Portanto, o resultado desse processo decorre de uma pressão do setor empresarial para a votação e, ao mesmo tempo, de uma resistência colocada pelos movimentos sociais, especialmente pelo movimento sindical, para que não houvesse essa votação, ou para que a votação não referendasse essa posição de total liberdade para a terceirização de qualquer tipo de atividade. Então esse é o resultado de um processo legislativo que vem desde meados dos anos 1990, mas que adquire um trâmite específico a partir de 2004, e nesses últimos dois anos volta a ser discutido na comissão que tratou da análise do projeto na Câmara dos Deputados, o que agora resultou nesta votação.

IHU On-line – Como a regulamentação das terceirizações pode trazer mudanças para a organização da classe trabalhadora, na medida em que vai provocar uma segmentação dos grupos de trabalhadores?

Clemente Ganz Lúcio – A posição do movimento sindical é contrária a uma legislação que regulamente a precarização. A terceirização considerada como uma relação entre empresas é algo permitido na nossa economia e que não pode ser proibido, pois a Constituição garante a livre relação entre empresas, desde que feita na legalidade. O que os trabalhadores estão dizendo é que não aceitam a dimensão de que uma relação entre empresas seja feita para precarizar as condições de trabalho, arrochar salários e, portanto, reduzir o custo do trabalho por conta da aplicação da redução dos salários e dos direitos trabalhistas.

Por isso, é importante que haja uma regulação específica para aquela situação onde a relação entre empresas visa ao estabelecimento de uma contratação de trabalho especificamente para uma prestação de serviços. Essa regulação não é simples, pelo contrário, é muito complexa, difícil de ser feita e que vem responder a um conjunto de problemas que foram apresentados na relação entre empresas, na relação de contrato de trabalho estabelecida pela empresa contratada, e na relação desses trabalhadores com a empresa contratante. Esses conflitos se consolidaram em um conjunto de ações na justiça. A Justiça do Trabalho se posicionou historicamente, inclusive editando uma súmula importante — a súmula 331 —, que define que não pode haver terceirização na atividade-fim, justamente impondo um limite, tendo esse papel de estabelecer regras para que a precarização não ocorra.

O que a legislação tenta fazer é, simultaneamente, e esta foi a estratégia sindical, olhar para o processo de regulamentação e dizer, primeiro, que não aceita a atuação de empresas de intermediação de mão de obra, que é a pior situação na terceirização. São as empresas que na verdade alocam mão de obra, o que a gente chama de “empresa gato”, que fazem a intermediação e na verdade vendem a força de trabalho. Pela proposta sindical, fica proibido esse tipo de atividade no Brasil; portanto, a gente ataca o problema mais nefasto na terceirização. Segundo, foi de aceitar a terceirização em várias atividades, como já ocorre hoje, por exemplo, na limpeza, vigilância, alimentação, desde que esses trabalhadores tenham um conjunto de direitos e um conjunto de mecanismos que os protejam da precarização. Isso também avançou no processo de debate que o movimento sindical fez com os deputados, com o Governo e com os próprios empresários.

Criou-se — há que se verificar se isso ficou na lei agora aprovada na Câmara — uma série de mecanismos, desde a responsabilidade solidária até um conjunto de outras definições que tentam qualificar de forma mais assertiva o que é uma empresa prestadora de serviço, não permitindo mais aquele leque onde uma empresa poderia vender, ao mesmo tempo, serviços de jardinagem, limpeza, alimentação e assessoria jurídica. Essa empresa não pode mais existir desse jeito. Cada uma dessas atividades, segundo essa proposta, se transforma em uma empresa que deverá ter seu enquadramento econômico no setor devido e, portanto, seguir a legislação daquele determinado setor a que ela se enquadra.

Isso altera a composição do enquadramento das empresas e trará para essas organizações também um novo enquadramento sindical. Portanto os trabalhadores dessas empresas não mais estarão representados por um sindicato genérico de entidades prestadoras de serviço, mas passam a ser trabalhadores de um determinado segmento. Isso também representa um avanço do ponto de vista do enquadramento das empresas e uma série de outros instrumentos que visam garantir a aplicação dos direitos dos trabalhadores.

Essas duas dimensões, que aparentemente nós avançamos — falo aparentemente porque agora precisa olhar como ficou o texto da lei —, não foram completadas pelo assunto principal, que era o limite. Em alguma medida os direitos que foram consignados na negociação para os trabalhadores terceirizados podem virar pó se a legislação disser que pode se terceirizar qualquer coisa; ou seja, o que nós estaríamos fazendo era garantindo uma série de direitos por um processo de amplificação da terceirização, que é algo que não interessa ao movimento sindical. Motivo pelo qual não houve acordo, mesmo tendo todo esse processo de discussão e de inclusão de medidas importantes por parte dos deputados na proposta de lei, porque, no ponto central, que era o limite da terceirização, o entendimento de parte importante do movimento sindical, eu diria a maioria, foi contrária a aceitar esse “liberou geral” da terceirização. Na visão sindical, tem que se ter uma limitação, que a lei tem que definir, e, combinado a isso, o conjunto de direitos que o movimento sindical discutiu no Congresso.

Busca da redução do número de terceirizados

Essa regulamentação envolve hoje mais de 12 milhões de trabalhadores. Outro objetivo do movimento sindical é reduzir o número de trabalhadores terceirizados, limitar esse processo de expansão, e onde houver terceirização que ela seja uma prática que não venha a aviltar direitos e reduzir salários. Essa é a estratégia sindical. Na votação na Câmara, o processo de debate caminhou até um certo momento, mas quando o deputado relator disse que não haveria acordo no que se refere ao limite na terceirização das atividades, e mesmo assim o processo de votação seria encaminhado, o movimento sindical forçou a disputa.

Na primeira etapa de votação, quando se tratou dos direitos, a grande maioria aprovou aquela parte — e eu também tenho grande concordância com o movimento sindical — mas, quando chegou para a votação o item que incluía olimite da terceirização, houve um embate muito mais forte. A diferença na votação que ganhou no processo na Câmara foi muito pequena, mostrando, na verdade, que o movimento sindical conseguiu recolocar a centralidade do problema no projeto.

Acho que com isso sobe para o Senado um projeto de lei que é bem diferente do original, de autoria de Sandro Mabel, mas ainda um projeto que tem muitos problemas e que precisará ter um bom debate público, e, provavelmente, uma pressão muito forte da sociedade para que os Senadores recepcionem mudanças que de fato ofereçam proteção aos trabalhadores e o que as empresas sérias querem, segurança jurídica para fazer contratos. Na nossa visão, que não sejam contratos que venham precarizar as condições de trabalho.

IHU On-Line – O principal impacto no mundo do trabalho será a precarização ou haverá outros problemas?

Clemente Ganz Lúcio – A legislação, na nossa visão, tem que ter um impacto positivo, por isso a disputa. Não é possível nós imaginarmos que a terceirização continue existindo no Brasil como uma prática de precarização. Então, a legislação tem que vir para coibir esse problema, delimitar o direito de terceirização e dar uma proteção a 12 milhões de trabalhadores que hoje não têm amparo. Os empresários querem, por outro lado, uma autorização para liberarem o que quiserem. Nós acreditamos que se houver essa resolução, poderá ser ampliada a precarização. Entretanto, em um sistema onde haverá mais proteção, porque espero que a legislação garanta isso, é muito difícil avaliar o resultado futuro, porque depende de um conjunto de elementos que vão estar postos na própria lei.

Por outro lado, se a lei garantir essa liberação geral que está prevista neste projeto aprovado na Câmara, acreditamos que o resultado possa ser ruim para os trabalhadores, porque nós poderemos ter mais proteção para os terceirizados, mas um volume maior de trabalhadores trabalhando sob esse regime. Então, não vemos vantagem nisso, ou seja, nós não concordamos que a prática da terceirização seja generalizada, principalmente porque ela tende a significar, dependendo da prática de terceirização, um rebatimento perverso para a vida sindical. Por exemplo, a possibilidade da chamada “pejotização”, que é transformar cada trabalhador em uma pessoa jurídica, esfacela e destrói a estrutura sindical, porque esses trabalhadores deixam de ser trabalhadores do ponto de vista formal e passam a ser microempresários; assim como a prestação de serviços como uma atividade regular, dentro das atividades-fim da empresa, provavelmente suscitará uma série de disputas de representação e dificuldades, inclusive para a organização sindical poder atuar do ponto de vista da mobilização dos próprios trabalhadores. Um exemplo: hoje é difícil para os bancários organizarem uma greve mobilizando, simultaneamente, todo o setor de vigilância, porque o vigilante não é bancário. O bancário faz a greve, mas o vigilante que cuida o banco não faz parte da categoria, aí os vigilantes irão fazer uma greve deles sozinhos, sem apoio dos bancários, e aí fica difícil de eles segurarem uma greve sozinhos.

Este tipo de coisa fragiliza a vida sindical, dificulta a representação porque o poder dos vigilantes é menor do que o poder dos bancários, e isso tudo atrapalha a luta. Ampliar a terceirização é ampliar estas dificuldades. Portanto, os trabalhadores consideram que seria importante que a legislação garantisse um amplo direito de representação sindical para que os sindicatos possam, de fato, manter a capacidade de representação e de construção da proteção sindical, que é feita por meio das convenções e acordos coletivos.

IHU On-Line – Qual sua avaliação em relação às mobilizações dos movimentos sociais e sindicais contra o PL 4330? Essas pressões podem refletir na votação do Senado?

Clemente Ganz Lúcio – Elas foram decisivas. Creio eu que o projeto incorporou uma série de mudanças importantes, bem como não houve uma vitória tranquila na votação, porque aconteceu de fato uma mobilização muito significativa, que recolocou para a sociedade o problema, manifestou uma preocupação e uma contrariedade em relação a esse“liberou geral” da terceirização. Houve ainda uma receptividade muito forte da sociedade. Então, simultaneamente, há uma compreensão de que os mecanismos de proteção são fundamentais, e uma manifestação de que não se aceita um posicionamento que libere de forma geral a terceirização. Acredito que isso criou sérias dificuldades ao processo de votação na Câmara. Trouxe o Governo Federal, várias organizações, a Justiça do Trabalho, as associações que representam magistrados, movimentos populares e especialmente o movimento sindical para uma frente de luta que repercutiu, do nosso ponto de vista, positivamente no Congresso. Os deputados, muitos deles que entendem pouco dessa matéria, passaram a ficar muito mais atentos e, portanto, preocupados com o que estavam votando e passaram a ser obrigados a compreender.

Por esse motivo, a segunda votação, que tratou da atividade-fim, foi muito diferente da primeira, e creio que agora os Senadores terão muito mais atenção e cuidado na condução desse processo. Espero que o Senado tenha o bom senso de propor o desenvolvimento de uma limitação clara na lei para terceirização, o que poderia fazer com que essa lei resolvesse os problemas dos trabalhadores nesse quesito.

IHU On-Line – O senhor acredita que as disputas foram acentuadas entre Renan Calheiros e Eduardo Cunha? Qual sua avaliação em relação a estes conflitos?

Clemente Ganz Lúcio – A regra sobre a legislação da terceirização afetará a vida de todos os trabalhadores se ela for uma regra que “libera geral”, porque qualquer trabalhador poderá ser transformado em um terceirizado. Portanto, os 50 milhões de trabalhadores com carteira assinada, e os 90 milhões de trabalhadores no mercado de trabalho, além das empresas — 3.800.000 de estabelecimentos no Brasil — estão no foco dessa regra. Desse modo, é um ponto que precisa ser cuidadosamente trabalhado, pois pode inviabilizar a vida sindical, pode fragilizar a vida dos trabalhadores, como pode também inviabilizar e fragilizar a própria vida das empresas, o que não interessa aos trabalhadores.

Assim, tem que ser uma legislação que recepcione, simultaneamente, a proteção ao trabalho, a proteção sindical, para a atividade sindical proteger os trabalhadores do ponto de vista sindical e ao mesmo tempo garantir segurança jurídica às empresas. Não é simples fazer isso. E, ao fazê-lo, o Congresso irá recepcionar as tensões e divisões que existem em relação a esta regulação, além das disputas normais, que já fazem parte do processo legislativo.

O que nós temos acentuado no debate é que o parlamento precisa estar aberto a ouvir a sociedade e recepcionar a divergência como elemento estruturante do debate e incorporá-la no processo legislativo, no sentido de que o Congresso tem que ser a casa na qual as escolhas sobre o nosso padrão civilizatório, sobre o tipo de mercado de trabalho e sobre o tipo de economia precisam ser repercutidas na legislação. Se nós queremos que o país se desenvolva, seja um país civilizado do ponto de vista das relações de trabalho, isso precisa ser recepcionado na legislação.

Desta maneira é importante que a disputa venha no sentido de esclarecer o debate e as escolhas que os próprios deputados e senadores farão. Então, as divergências que existem entre deputados e senadores fazem parte da democracia e do debate público. O que nós queremos é que os Senadores e Deputados escutem a sociedade e que possam manifestar a visão que querem repercutir na lei para a sociedade, dizendo em que aspecto essa lei conduz, orienta e aponta o sentido do desenvolvimento do país.

Uma lei que libera a terceirização é um mau sinalizador para a sociedade sobre o tipo de mercado de trabalho que queremos ter. Assim, é uma legislação que fere boa parte da sociedade que não quer ver precarizadas suascondições de trabalho. Se a legislação aponta nesse sentido, não atende essa expectativa da sociedade que elegeu deputados e senadores, por conseguinte, esse diálogo precisa ser sintonizado para que o Congresso repercuta e responda qual é o limite e o sentido que a legislação trará à organização da vida econômica, política e social. Se a disputa entre as casas, de alguma maneira, manifesta essas divergências, acredito que faz parte da vida política, que é justamente uma vida dedicada às escolhas que a sociedade tem que fazer do ponto de vista normativo.

IHU On-Line – Quais serão os principais impactos para conjuntura social e econômica do país caso o PL 4300 seja aprovado?

Clemente Ganz Lúcio – Primeiro, a minha interpretação, mesmo sem conhecer ainda a versão final, mas sabendo que nessa versão há a aprovação de uma lei que não coloca limite à terceirização, considero que, aprovada desse jeito, essa lei criará mais tensão nas relações trabalhistas. Portanto, se um objetivo da lei era pacificar as relações de trabalho e os conflitos, nesse quesito, essa lei não resolve e continuará criando insegurança para os trabalhadores e empregadores.

Provavelmente continuarão sendo gerados processos na justiça, greves e pressões sindicais, o que me parece, não é o objetivo da legislação, nem o interesse dos empresários e trabalhadores. Se nós queremos uma lei que crie um ambiente favorável, ela precisa ser alterada. Do jeito que está posta, no meu entendimento, ela acirrará os conflitos, que já não são pequenos nesse campo, e provavelmente continuará gerando insegurança para as empresas e precarização para os trabalhadores.

IHU On-Line – As pesquisas apontam para recorrência do aumento da taxa de rotatividade nas empresas. Como a terceirização pode afetar esses índices da taxa de rotatividade?

Clemente Ganz Lúcio – Nossos estudos mostram que as empresas prestadoras de serviço, especialmente aquelas que nós queremos coibir com a lei — empresas que alocam mão de obra —, estão entre aquelas empresas com as maiores taxas de rotatividade. Uma boa regulação é um instrumento importante para apoiar uma perspectiva de redução da taxa de rotatividade. Uma regulação ruim poderá ampliar a rotatividade da força de trabalho. Muitas vezes pode ser até uma atividade formal, que ocorre hoje algumas vezes, na qual uma empresa desaparece e os trabalhadores daquela empresa são contratados por outra organização para prestar o mesmo serviço, assim o trabalhador só troca de patrão. Isso, do ponto de vista formal, é uma rotatividade, porque ele deixa de ter um empregador, é demitido, e passa a ser contratado por outro.

Esse tipo de prática, do ponto de vista do direito, é uma prática perversa, porque muitas vezes esse trabalhador que é contratado pela empresa primeira, que deixou de prestar aquele serviço, ao ter seu contrato interrompido perde o direito de férias, não tendo, muitas vezes, seus direitos recebidos em um tempo muito longo, por ações na justiça do trabalho. Todo mecanismo de terceirização regulado por uma lei que leve à proteção tenderá a inviabilizar este tipo de prática, e assim tenderá a criar uma condição muito mais segura para o trabalhador, impedindo que ocorram práticas como essa ou tantas outras comuns no âmbito das relações de terceirização. De alguma maneira, uma boa regulamentação da terceirização poderá favorecer também, de forma direta ou mesmo indireta, uma redução da rotatividade que é um problema grave do nosso mercado de trabalho, especialmente para os trabalhadores de empresas de prestação de serviços.

IHU On-Line – Quais iniciativas podem reduzir a taxa de rotatividade?

Clemente Ganz Lúcio – Uma delas é uma boa regulamentação da própria terceirização. Outras, são mecanismos que permitam uma adequação da proteção social e do próprio contrato de trabalho à diversidade de ocupações e de inspeções setoriais e econômicas dessa ocupação, e de características que essa função tem do ponto de vista da manutenção do emprego ou do posto de trabalho. Por exemplo, um trabalhador da construção trabalha em uma obra, ao se encerrar essa obra, encerra-se também aquele posto de trabalho. Muitas vezes esse trabalhador sai de uma obra para outra da mesma empresa, outras vezes, vai para outra empresa. Assim o trabalhador, em cada obra, tem muitas vezes diferentes empregadores.

Nossa legislação estabelece que cada obra dessas é um vínculo de emprego, desse modo, esse trabalhador tem vários vínculos de empregos ao longo do ano para cada obra que trabalha. Tem que haver uma adequação da legislação para que haja certa continuidade, do ponto de vista laboral, de um trabalhador que tem trabalho ao longo de todo ano para diferentes empregadores. O nosso sistema não recepciona nenhuma proteção para esse trabalhador, ele é inflexível nesse sentido, por isso precisamos ter uma legislação que seja adaptada a esta situação e dê proteção a este trabalhador. Esta flexibilidade é virtuosa, porque busca uma adequação a uma situação específica na qual o trabalhador não tem proteção.

Em boa parte, a nossa legislação trabalhista está estruturada para um emprego de longa duração em uma mesma empresa, entretanto vários postos de trabalho têm outras características e, quanto mais cresce o setor de serviços, menos aquele emprego clássico da indústria fordista está posto para esses trabalhadores. Portanto, temos que ter uma legislação que se adéque a uma mudança estrutural do mercado de trabalho, visando, nessa diversidade de ocupações, gerar uma proteção consistente com aquela característica econômica daquela atividade, permitindo que a proteção seja plena para situações diversas, com características diversas, do ponto de vista econômico e ocupacional. Não é uma tarefa simples, e isto é um elemento importante para darmos proteção.

A outra medida é mais coercitiva. Ou seja, empresas que trabalham com nível de rotatividade mais alto teriam uma contribuição específica a pagar para um fundo comum, e aquelas que trabalham com níveis mais baixos de rotatividade, por exemplo, poderiam ter um desconto em uma contribuição específica que elas fazem, como ao INSS, ou ao fundo do trabalho, ou qualquer que seja a contribuição. Semelhante àquela que foi feita no caso do acidente de trabalho, para que você tivesse também uma indução, do ponto de vista do próprio tributo, para que as empresas trabalhassem com menores taxas de rotatividade.

Então são várias as iniciativas que podem e devem ser tomadas para que a rotatividade seja reduzida. E há uma outra iniciativa importante, mas é uma iniciativa macroeconômica, que é apoiar o desenvolvimento de micro, pequenas e médias empresas, que são em boa parte responsáveis por altas taxas de rotatividade. Elas precisam ter uma eficiência econômica maior justamente para que seu negócio seja melhor viabilizado e não façam da rotatividade uma forma de ajuste de custo de produção. Logo, o sucesso econômico das micro, pequenas e médias empresas, portanto a vitalidade de seu empreendimento, também é um elemento importante para recepcionar uma política das empresas de retenção da força de trabalho e não de rotatividade para ajustar custos. Tudo isso faz parte de políticas, sejam elas setoriais e específicas, sejam elas de âmbito mais geral, para olhar para o mercado de trabalho e tentar responder positivamente para uma perspectiva de redução da rotatividade. Talvez a rotatividade seja uma coisa mais complexa que a própria terceirização, mas são dois elementos que estão relacionados e que precisam de um enfrentamento de médio e longo prazo para que nós tenhamos uma redução consistente das taxas de rotatividade.

IHU On-Line – Como a estrutura do mercado de trabalho brasileiro, que apresenta média salarial baixa, flexibilidade na formalização trabalhista, desigualdades e muitas vezes condições precárias de trabalho, pode ser afetada pela regulamentação das terceirizações?

Clemente Ganz Lúcio – Do modo que está posto, o grande receio é que a legislação consolide uma estratégia de maior flexibilidade, gerando maiores condições para as empresas ‘precarizarem’. Com isto, a preocupação do movimento sindical é de que uma má regulamentação da terceirização, na visão dos trabalhadores, venha a reforçar essa dominância desestruturante do mercado de trabalho, que já tem alta informalidade e muita desigualdade, inclusive na proteção sindical. Isso porque parte da força de trabalho não tem proteção sindical alguma, outra parte tem uma proteção parcial, pois muitas vezes o sindicato não consegue ter uma atuação adequada. Nós temos uma estrutura sindical, por exemplo, que não tem o direito de organização no local de trabalho, o que é uma debilidade muito significativa, que impede, muitas vezes, o sindicato de ser muito mais representativo e aguerrido na sua própria função.

Por isso, se a terceirização vem ao encontro de ações que aumentam essa insegurança, que impõem limites para a ação sindical, que favorecem a flexibilização de direitos e salários, isso vem ao encontro de um mercado de trabalho que já é desestruturado. O nosso papel é justamente o contrário, é o de diminuir essa precarização e aumentar a regulação do trabalho, e nós não queremos que a legislação venha para ampliar aquilo que nós lutamos para coibir. A preocupação é que a terceirização regulada não seja uma forma de legalizar um processo de ampliação da precarização.

IHU On-Line – O dia do trabalhador surgiu com a reivindicação de que a jornada de trabalho fosse diminuída. Fazendo um paralelo com a possível aprovação da lei da terceirização, como fica a discussão sobre as reivindicações históricas dos trabalhadores, como, por exemplo, a redução da jornada e a regulamentação de outros direitos? Ainda há espaço para esse tipo de discussão no mercado de trabalho?

Clemente Ganz Lúcio – O primeiro de maio é um momento para o movimento sindical e especialmente para os trabalhadores relembrarem que todas as suas conquistas foram resultados de lutas. Não há nada que os trabalhadores conquistaram ao longo da história, especialmente a partir do desenvolvimento do capitalismo e do surgimento dos sindicatos, que não tenha sido fruto do debate, das lutas dos movimentos, dos conflitos e das greves. Portanto, os avanços que os trabalhadores conquistaram, especificamente no âmbito do trabalho, e inclusive no âmbito geral, cultural e político, como a democracia, o direito ao voto, os partidos políticos, o próprio Estado moderno com as instituições de proteção, saúde, educação e previdência social, tudo isso, se formos olhar do ponto de vista histórico, tem a presença significativa, eu diria até determinante, do movimento sindical e dos trabalhadores.

Portanto, o olhar, do ponto de vista retrospectivo, do padrão civilizatório que a gente vai conquistando nas sociedades é, em grande medida, resultado das lutas dos trabalhadores e do movimento sindical e uma tarefa que o 1º de maiotraz o tempo todo em termos de recuperação. É necessário relembrar, contar essa história, informar para essas gerações que estão chegando e que às vezes olham para esse padrão que nós temos hoje como se fosse algo natural e não percebem que é resultado de longas lutas. É resultado da trajetória de milhões de pessoas que morreram enfrentando a repressão e colocaram sua vida dedicada a esses avanços, na redução da jornada de trabalho, na criação da previdência, na saúde e segurança, no salário, nas condições de trabalho. O 1º de maio é essa oportunidade para homenagear aqueles trabalhadores que tombaram nessas frentes de luta e principalmente para mostrar, e aí no caso hoje da disputa sobre a terceirização, que essa luta não acaba nunca, ou seja, nada está dado, nada está consolidado, tudo precisa ser o tempo todo defendido.

Se nós estamos há 12 anos sem ter nenhuma medida do Congresso, nenhuma iniciativa do Governo Federal no sentido da precarização e da flexibilização, o que é um ótimo resultado para os trabalhadores, a vida mostra que isso não é eterno. Portanto, os problemas voltam à tona, os empresários reagem, o Governo e o Congresso atuam, e então aquilo que aparece como uma conquista consolidada pode ser destruída, pode ser desmobilizada, pode ser inclusive desqualificada. Portanto, é também o 1º de maio um momento para os trabalhadores retomarem um nível de compreensão de que a luta é permanente, ou seja, não tem folga para os trabalhadores preservarem seus direitos.

Não pode haver luta que não esteja assentada em uma boa organização sindical, em uma grande capacidade de mobilização, numa forte competência para negociação, mas assentada permanentemente numa grande capacidade de unidade da classe trabalhadora para fazer os grandes enfrentamentos, seja no local de trabalho, seja na categoria, seja em embates como esse da terceirização, um enfrentamento nacional em que toda a classe trabalhadora precisa estar unida. O que a experiência mostra nesses mais de 200 anos de luta sindical no capitalismo no mundo é que a classe trabalhadora só consegue avançar se estiver muito mobilizada, muito unida e com muita competência para desenvolver suas lutas. O 1º de maio é uma oportunidade e um desafio para relembrar essa trajetória. Daqui pra frente a perspectiva histórica de avanço dependerá em grande medida dessa capacidade de luta.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Clemente Ganz Lúcio – Eu gostaria só de deixar registrado um destaque para aproveitar a oportunidade. Eu trabalho no DIEESE, que é uma entidade criada pelo movimento sindical justamente para produzir conhecimento para esse movimento, assessorá-lo nas negociações coletivas e fazer o trabalho de formação sindical. Neste ano de 2015 o DIEESE completará, em dezembro, 60 anos de trabalho de apoio ao movimento sindical e à luta dos trabalhadores na defesa de seus direitos, buscando avanços na proteção, no desenvolvimento, no crescimento, na igualdade e na justiça. Gostaria de dizer que a instituição está ativa, viva, com muita força para continuar apoiando os trabalhadores e o movimento sindical nas suas lutas.

 

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Pedro Ekman: O governo enterrou de novo o debate da regulação da mídia?

9 de Maio de 2015, 18:31, por MariaFrô

O governo enterrou de novo o debate da regulação da mídia?

“A democracia existe no papel, mas não se realiza na prática. O artigo 220 da Constituição define que não pode haver monopólio ou oligopólio na comunicação social eletrônica. A Globo, no entanto, controla 70% do mercado, faturando sozinha mais do que todas as demais empresas de comunicação. Isso acontece porque o Congresso Nacional nunca elaborou leis definindo mecanismos que impedissem a formação de monopólio”, o comentário é de Pedro Ekman, do Coletivo Intervozes, em artigo publicado na Carta Capital, 30-04-2015.

Eis o artigo.

No segundo turno da campanha eleitoral do ano passado, Dilma Rousseff sinalizou que, finalmente, levaria ao debate público o tema da regulação da comunicação. Afirmou, inclusive, que faria a “regulação econômica da mídia”. Logo no início do novo governo, o novo ministro da pasta, Ricardo Berzoini, reiterou a proposta e chamou a sociedade civil para dialogar. Então, disse que as ações em torno do tema começariam em março. Mas parece que o que era um compromisso político mais uma vez foi abandonado.

Nesta quarta (29/04), o ministro participou de audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados. Por mais de duas horas, discursou sobre a agenda do Ministério das Comunicações. Ao ser questionado sobre a necessidade de um novo marco regulatório, o ministro respondeu apenas que a liberdade de expressão deve ser exercida em equilíbrio com os demais direitos consagrados na Constituição Federal. Ele não tocou no tema da abertura do debate com a sociedade, ausência que confirma o que a própria presidenta Dilma havia sinalizado no início deste mês. Então, em entrevista coletiva a blogueiros, ela afirmou que “não há a menor condição de abrirmos essa discussão neste momento, por conta de toda a situação”. A frase, registrada pela jornalista Cynara Menezes, foi seguida pela seguinte pérola: “Me disseram que vocês estão para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular, que estão colhendo assinaturas. Não sei como ele é, nunca vi mais gordo, mas acho que pode ser interessante”.

Pelo visto, mais uma vez, o governo abriu mão de travar o debate e promover políticas em uma área fundamental para qualquer sociedade democrática.

Ao mesmo tempo em que continuaremos cobrando os compromissos firmados anteriormente pelo governo, seguiremos a pautar a necessidade de regulação da mídia. Isso porque os meios de comunicação ocupam no sistema democrático, hoje, o lugar importante do debate sobre temas de interesse público. Em uma sociedade como a em que se vive em 2015, tomar decisões em praça pública com centenas de milhões de pessoas ao mesmo tempo não é algo factível. A Internet talvez um dia permita isso, mas, com o nível de exclusão digital que temos, este cenário continua distante. O papel de mediação ainda é desempenhado pelos meios tradicionais, como a televisão.

Aliás, foi para enfrentar o problema da impossibilidade de reunir todos fisicamente em um espaço público comum que inventamos dois instrumentos: o sistema de representação política e a comunicação social eletrônica, ambos descritos e definidos na Constituição Federal. O Congresso Nacional passa a ser o lugar central dos debates, do qual participam com direito a voto os representantes eleitos da sociedade. Já por meio do rádio e da TV, a sociedade obtém o conhecimento de informações para tomar suas decisões, como eleger representantes ou sair às ruas para protestar contra o que percebe estar errado.

Vale notar que tanto o Congresso como os canais de rádio e TV são espaços públicos. A Constituição Federal fez questão de defini-los assim, pois eles são estruturantes do sistema democrático representativo. O problema é que a política brasileira privatizou o espaço público ao longo de sua história, favorecendo os interesses privados em detrimento dos interesses públicos e republicanos. Os representantes do nosso Parlamento são eleitos comcampanhas milionárias, financiadas por corporações que passam a ter seus interesses verdadeiramente representados no Congresso. As cédulas de dólares e reais substituem as de votação em importância, corrompendo a estrutura do sistema. Da mesma forma, os canais de rádio e TV são entregues a poucas empresas privadas, quedefinem o debate político e cultural do país.

Para termos ideia do impacto da concentração de mercado no debate público, podemos analisar a discussão que ocorre neste momento sobre a possibilidade da redução da maioridade penal. Como será a reação de uma sociedade que é bombardeada diariamente por programas policialescos e telejornais que veiculam crimes cruéis supostamente cometidos apenas por adolescentes? Com adolescentes condenados na praça pública da TV, sem sequer ter o direito constitucional da presunção da inocência, a sociedade se vê impelida a apoiar a redução da maioridade penal, já que esse é o caminho mostrado como razoável diante dos fatos que foram selecionados para serem levados ao debate.

Não à toa, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)171/93, que propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, aprovou esta semana a convocação dos jornalistas Marcelo Rezende (TV Record), José Luiz Datena (Bandeirantes), Rachel Sheherazade (SBT) e Caco Barcellos (Globo) para uma audiência pública sobre o tema. Os três primeiros são recorrentes defensores da mudança e usam a televisão para divulgar suas ideias com veemência. Isso sem que o Ministério das Comunicações, por exemplo, os puna por, entre outros casos, incitar à violência, como feito por Sheherazade ao comentar ação de “justiceiros”, no ano passado. A falta de vontade política do governo, aliás, se dá não apenas quando ele se nega a travar o debate estrutural da comunicação, mas também quando se nega a fazer o que deveria e já pode ser feito com as leis existentes no país.

Diante desse cenário, a democracia existe no papel, mas não se realiza na prática. O artigo 220 da Constituição define que não pode haver monopólio ou oligopólio na comunicação social eletrônica. A Globo, no entanto, controla 70% do mercado, faturando sozinha mais do que todas as demais empresas de comunicação. Isso acontece porque o Congresso Nacional nunca elaborou leis definindo mecanismos que impedissem a formação de monopólio. Por que o Congresso tem sido omisso nas suas obrigações? O artigo 54 da mesma Carta Magna determina que deputados e senadores não podem ser donos de concessionárias de serviço público (o que inclui canais de rádio e TV). No entanto, a família Sarney, os senadores Fernando CollorAécio NevesAgripino Maia e Edson Lobão Filhosão apenas exemplos das dezenas parlamentares que controlam inúmeras emissoras em seus estados.

Criar leis que tornem viáveis os objetivos constitucionais é justamente o que se chama de regulamentar a Constituição, um passo fundamental para a regulação do sistema de comunicações do país, para que o jogo democrático possa ser justo e equilibrado. No entanto, congressistas e grandes emissoras de TV definem a regulação da mídia como cerceamento da liberdade de expressão e como um ataque de um suposto governo autoritário, que quer impedir críticas à sua gestão. Isso acontece porque as corporações de mídia, ao reconhecerem a possibilidade de um cenário em que terão que dividir o bolo que sempre comeram sozinhas, atacam a proposta e provocam medo na sociedade, para que ela também reaja contra a medida.

“Podemos tirar, se achar melhor”

Muitas vezes, o mais importante não é o que se comunica, mas aquilo que se deixa de comunicar. Recentemente, as redes sociais foram surpreendidas por uma notícia que foi ao ar com uma nota do jornalista ao editor que dizia: “Podemos tirar, se achar melhor”. A frase estava inserida após um trecho da reportagem que ligava o esquema decorrupção da Petrobras ao governo FHC. O diálogo entre um jornalista e um editor é algo absolutamente trivial mas, ao expor a preferência de se levar ao debate público algumas informações e não outras, ele provocou a reflexão sobre quantas notas não foram tornadas públicas e quantas informações foram simplesmente retiradas do debate. O fato de que a mídia tem lado, posicionamento e opinião contraria o discurso corrente de que os meios são técnicos e sempre optam pela melhor forma de informar. Tendo isso claro, fica fácil perceber que um cenário de mercado altamente concentrado, onde apenas poucos empresários decidem o que toda a sociedade vai debater, é algo mortal para uma sociedade que se pretende democrática.

Regular a mídia não é censura e nem coisa de comunista. Países não comunistas como a Inglaterra, a França, a Alemanha e até os Estados Unidos regulam as comunicações de maneira mais determinada que o Brasil. Enquanto os donos do The New York Times não podem ser os mesmos donos de uma emissora de TV, em Nova York, porque a regulação americana coloca limites à propriedade cruzada dos meios de comunicação, aqui os donos da Globo podem ter canais de TV, rádio, jornais, editoras, gravadoras e outros tantos veículos, sem qualquer limite. Se, no Brasil, as emissoras de TV questionam na Justiça a Classificação Indicativa (mecanismo de regulação de conteúdo para proteger as crianças de cenas impróprias), na Suécia a publicidade infantil é absolutamente proibida. Estados Unidos e Suécia estão longe do projeto comunista e nem por isso definem regulação como censura.

Entendendo que a solução para esse problema não virá espontaneamente do Congresso Nacional e cansada de esperar por um governo que decida enfrentar a questão de fato, a sociedade civil brasileira elaborou e colhe assinaturas para o Projeto de Lei da Mídia Democrática (aquele que a Presidenta disse desconhecer). Vários meios alternativos e outras iniciativas de comunicação, além de ações diversas das organizações sociais, buscam fomentar esse debate. Se, com todo o esforço da sociedade em pautar o assunto, ele não aparece na TV e no rádio, é porque certamente alguém achou melhor tirar. E isso sim é praticar censura.

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