Fátima Teles: Por um Brasil de todas as idades
15 de Junho de 2015, 15:19O protagonismo e empoderamento da pessoa idosa : Por um Brasil de todas as idades
Por Fátima Teles*, especial para o Maria Frô
15/06/2015
A polêmica criada em torno da atriz Betty Faria por causa do uso de biquíni em praia do Rio de Janeiro gerou revolta na terceira idade que se sentiu representada por ela naquele momento de lazer e pelo fato de ser discriminada pela sociedade que exige a ditadura da beleza.
O site Uol entretenimento publicou a resposta da atriz ao seu feito. Inconformada ela foi direta:“Velha baranga, sem espelho, e outras ofensas que, passada a raiva, me fizeram pensar na burca. Então querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que me envergonhe de ter envelhecido? E a minha liberdade? Depois de tantas restrições alimentares, remédios para tomar, exercícios a fazer, vícios a evitar, todos próprios da idade, ainda preciso andar de burca?
Idoso(a) tem que ter qualidade de vida sim!
Ter que tomar banho na praia, tem que fazer sexo, tem que dançar, tomar cerveja e quem não quiser ver que feche os olhos.Por um Brasil de todas as idades
Esse é o tema que será debatido nas Conferências Municipais e estaduais do Brasil neste ano de 2015.Como reconhecer e realizar esse protagonismo da pessoa idosa diante de tanta violência e desrespeito ao seu próprio estatuto?
A pessoa idosa é alvo de preconceito, uma vez que no nosso País a pessoa que não mais trabalhar não é vista como alguém que já contribuiu e construiu, mas como quem já não produz e está ocupando espaço que já não lhe pertence.Dentre os Países que estão em desenvolvimento o Brasil caminha para se tornar um País de população majoritariamente idosa.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos, representando 22% da população mundial.
A Política Nacional do Idoso, Lei nº 8.842, de 04 de Janeiro de 1994 tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
O Artigo 3º, Princípio I, diz:
A Família, a Sociedade e o Estado tem o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da Cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida.
Envelhecer com dignidade é um direito
Outra perspectiva de fortalecimento de garantia de direitos do idoso surgiu com a Lei 8.742, de 7 de Dezembro de 1993, que preza pela organização da Assistência Social – LOAS, com o objetivo de regular os artigos 203 e 204, defendidos na Constituição Federal : A assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social.
Objetivo V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal a pessoa portadora de Deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL,1993). Assim, percebe-se a participação do idoso no processo de construção e efetivação das garantias asseguradas em Lei, é essencial.
Esse direito é assegurado pela Assistência Social, por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), através do Artigo 20 da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), mas é preciso frisar que este é concedido à pessoa idosa, a partir dos 65 anos de idade, e que já existe uma luta nacional dos mesmos para que essa idade seja a partir dos 60 anos, idade em que o Estatuto do Idoso reconhece a pessoa idosa.
A LOAS estabelece diretrizes, objetivos e as ações quanto ao funcionamento da Assistência Social, consolidando-a enquanto direito.
A inscrição da Assistência Social no elenco dos direitos sociais constitutivos da cidadania configura-se como um marco histórico de grande importância. Isso significa que, do ponto de vista formal, a Assistência Social se converte em direito reclamável pelo cidadão, devendo ser encarada não mais como concessão de favores, mas sim como prestação de serviços socioassistenciais ao alcance do idoso.
Outro marco relevante é o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1º de Outubro de 2003, veio para consolidar os direitos prescritos na Política Nacional do Idoso e apontar mecanismos para sua efetivação.
Esta lei tem para o idoso representatividade ímpar no campo da conquista dos direitos, além de contemplar diferentes aspectos da vida cotidiana destacando ainda o papel da família enfatizando sua obrigação para com a pessoa idosa, bem como as responsabilidades da sociedade e do poder público, assegurando ainda os direitos e reafirmando o direito da proteção à vida, prevendo oportunidades para a preservação da saúde física e mental do idoso, onde deve ser competência do poder público a garantia ao acesso à saúde, ao atendimento preferencial em Instituições públicas e privadas, responsabilizando ainda o poder público pelo fornecimento de medicamentos gratuitamente, vacinas, bem como qualquer outro recurso relativo a sua qualidade de vida, se o mesmo ou se a sua família não puder prover naquele momento.
Segundo o Estatuto do Idoso, é considerado idoso no Brasil toda pessoa com 60 anos ou mais.
O Artigo 2º do Estatuto do Idoso diz que o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando- lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
O artigo 3º diz que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do Direito à vida, à Saúde, à Alimentação, à educação, à cultura, ao Esporte, ao Lazer, ao trabalho, à Cidadania, à Liberdade, à Dignidade, ao respeito e à Convivência familiar e comunitária.
É preciso que a sociedade acorde para se reconhecer na pessoa idosa, pois assim ficará mais fácil cuidar dos seus e buscar garantir seus direitos, já que são direitos garantidos por lei e essa população é ativa e busca não ser cuidada apenas, mas ter qualidade de vida para viver com dignidade e respeito.
Referências
FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. Os direitos sociais e sua regulamentação : Coletânea de leis/Luiz Antonio Miguel Ferreira. São Paulo: Cortez, 2011.
Vade Mecum do Serviço Social/Organizado por Cinthia Fonseca Lopes e Erivânia Bernardino Cruz. 4ª Edição.Fortaleza: Premuis, 2013.
SERRA, Maria Tereza de Araújo. Sistema de Garantia de Direitos Humanos
Querem que eu vá à praia de burca
*Fátima Teles é Assistente Social
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Lelê Teles: Gil e Caetano em Israel: Elementar, meu caro Waters!
12 de Junho de 2015, 13:21ELEMENTAR, MEU CARO WATERS. (Gil e Caetano em Israel)
Por Lelê Teles
Rogério Águas, o imortal baixista e compositor do também imortal Pink Floyd, escreveu uma carta aberta a Gil e Caetano pedindo para que os brasileiros se juntassem a um grupo de artistas, de renome internacional, que já se recusaram a tocar em Israel ou cancelaram seus shows por apoio ao massacre de palestinos.
Laurin Hill, Crazy Horse, Neil Young e até os Back Street Boys – por algum motivo – já cancelaram shows em Israel. Mas os baianos não se sentiram melindrados e vão tropicalizar a terra de Bibi Netanyahu.
Afinal, atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Os palestinos não irão. Só no ano passado, os sinonistas mataram mais de 2 mil palestinos, inclusive crianças, mulheres e idosos, além de terem suas terras invadidas por colonos israelenses.
Assim como Eduardo Cunha, Joaquim Barbosa e uma caravana cada vez maior de evangélicos, a dupla baiana não se incomoda em legitimar um estado militar que não respeita as leis internacionais e mata por diversão.
Waters, é bom que se entenda, não está pedindo para que os tropicalistas não toquem para os israelenses, mas que recusem a tocar em um país cujos dirigentes promovem um genocídio contra um povo pobre.
Roger Waters, no passado, já pediu a derrubada de todos os muros. O Floyd fez um concerto apoteótico depois da queda do Muro de Berlim.
Mas os europeus agora instalados em Israel ergueram, sangue nos olhos, um vergonhoso muro para segregar o povo palestino, os morenos semitas.
Sem uma resposta concreta da dupla brasileira ao seu primeiro apelo, Waters reiterou o pedido em uma nova carta. Ali, Roger Waters tenta enternecer o coração dos baianos. Conta a emocionante história de dois garotos que foram alvejados, covardemente e nos pés, pelo exército de Israel.
Sem cometerem nenhum crime.
Eles mamavam o futebol talvez nunca mais chutarão uma bola.
Respeito e muito o trabalho de Gil e de Caetano, amo a arte destes dois imortais. Por isso, reconheço que eles estão sendo coerentes.
Os dois estão acostumados a tocarem onde existe um muro humano, um cordão que isola e espreme os pobres da diversão dos ricos. Na festa que distribui chiclete para os brancos e dá uma banana para os pretos.
Se os tropicalistas tivessem que parar de tocar em zonas de exclusão, conflito e massacres, nunca mais subiriam em um trio elétrico no carnaval de Salvador.
E nem teriam luxuosos camarotes na festa da apartação social.
Elementar, meu caro Waters.
Palavra da salvação.
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SP: enquanto bancada petista cede ao fundamentalismo, pastora defende questões de gênero na escola
12 de Junho de 2015, 11:56Ontem a bancada petista da Câmara Municipal de São Paulo tomou uma postura vergonhosa, tirou do debate dos planos de educação a discussão da questão de gênero. Indo contra a história do próprio partido, contra a defesa do Estado laico, cedendo à pressão fundamentalista, irresponsável e emburrecedora, mas acima de tudo, sem compromisso com a formação humanista.
Grata surpresa, portanto, quando vemos os próprios cristãos reagindo à barbárie.
Pastora defende a abordagem de questões de gênero na educação
Por Gabriel Maia Salgado*, Brasil de Fato
11/06/2015Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, a pastora Romi Bencke destaca importância da abordagem de questões de gênero na educação e analisa ações de grupos religiosos conservadores: “não podemos mais dizer o que é um modelo de família aceitável ou não aceitável. Se em uma determinada família há amor, respeito, carinho e diálogo, pode-se dizer que ali existe uma família”.
Grupos religiosos conservadores têm pressionado para que os Planos de Educação de estados e municípios de todo o país não contenham qualquer meta ou estratégia que promova a igualdade de gênero em seus textos. Ao analisar a ação destes setores e a importância de atividades relacionadas a esta temática, a secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a pastora Romi Bencke classifica como essencial a abordagem destas questões para o combate à violência e contra a exclusão escolar.
Documentos que devem ser construídos de maneira participativa e democrática, os Planos Municipais e Estaduais de Educação devem ser elaborados até junho deste ano, contendo metas e estratégias para garantir o direito à educação para a população de uma determinada cidade ou estado nos próximos dez anos.
“É lamentável e, ao mesmo tempo, assustador, que a violência contra a mulher não gere indignação. São casos e mais casos todos os dias e fica por isso mesmo. A mudança de cultura é gradativa, mas precisamos começar a falar abertamente sobre estes temas para substituirmos uma concepção de mundo patriarcal por uma visão de mundo diversificada. Essa conversa é necessária em todos os espaços, especialmente nas escolas”, destaca a pastora.
Sobre a ação dos grupos que têm feito pressão sistemática para que a palavra “gênero” sequer esteja mencionada nos Planos, Romi Bencke acredita que eles possuem dificuldade em aceitar as transformações da sociedade. “Há uma dificuldade em aceitar que nos tempos de hoje não cabe mais à religião normatizar a vida das pessoas. Lidar com as autonomias é difícil, mas as religiões precisam aceitar isso. A liberdade humana é um valor que também se relaciona com a fé”, defende.
Leia abaixo a entrevista completa com a pastora e Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), pastora Romi Bencke:
A abordagem de questões relacionadas ao gênero tem gerado polêmica na construção dos Planos de Educação em diferentes cidades do país. Como você avalia a abordagem destas temáticas nos Planos de Educação e, também, nas escolas?
A abordagem das questões relacionadas a gênero é essencial. É importante que educadores e educadoras sejam preparadas para abordar esses temas de forma madura e inclusiva.
“Não podemos dizer o que é um modelo de família aceitável ou não aceitável” | Foto: Divulgação
O Brasil é um país em que a violência está inserida no cotidiano e um número significativo de casos tem motivação sexista. Esse é o caso da violência contra a mulher e a população LGBTTs. É lamentável e, ao mesmo tempo, assustador, que a violência contra a mulher não gere indignação. São casos e mais casos todos os dias e fica por isso mesmo.
É necessária uma mudança cultural e a educação tem um papel estratégico nisso. A mudança de cultura é gradativa, mas precisamos começar a falar abertamente sobre estes temas para substituirmos uma concepção de mundo patriarcal por uma visão de mundo diversificada. Essa conversa é necessária em todos os espaços, especialmente nas escolas. Em nosso país prevalecem valores tradicionais que tendem a reforçar relações de poder desiguais e opressivas. Problematizar tais valores é também uma tarefa da educação.
Como realizar atividades realizadas à questão de gênero pode influenciar na garantia do direito à educação?
A partir do momento em que o tema da diversidade for efetivamente trabalhado nas escolas, teremos dado passos concretos para a mudança de percepção de mundo. Para isso, podemos olhar para os valores presentes em décadas anteriores e compará-los com a atualidade de maneira que as pessoas vejam que a história é dinâmica. Nos últimos anos, o Brasil deu passos importantes para a superação da desigualdade econômica e precisamos agora dar outros para a superação de todas as formas de preconceito e discriminação.
Há muitas histórias de alunos que não querem mais ir à escola porque sofrem discriminações as mais variadas. É uma forma de evasão escolar que precisa ser superada. A escola precisa ser um espaço de exercício de democracia e convívio com o diferente. Um lugar aberto, que promova discussões aprofundadas sobre todos os temas. Isso é formar cidadãos e cidadãs.
Como pastora, como você avalia a posição dos grupos religiosos que têm se posicionado contra a abordagem das questões de gênero no ambiente escolar?
Uma das funções da religião é a preservação de tradições, no entanto, essa tarefa precisa ser feita em diálogo com o contexto histórico e social no qual se vive. Os papéis de gênero mudaram de forma muito forte e rápida. Logo, mudam também os papéis sociais dos homens e mulheres.
Os modelos de família de hoje são diferentes dos modelos de família do início do século XX, por exemplo. Não podemos mais dizer o que é um modelo de família aceitável ou não aceitável. Se em uma determinada família há amor, respeito, carinho e diálogo, pode-se dizer que ali existe uma família, independentemente ser forem dois homens, duas mulheres, uma mulher ou um homem. Agora, se em uma família tivermos desrespeito, agressões, dominação de poder, etc, pode-se dizer que ali temos uma família com problemas, independentemente de quem a compõe. É isso que a religião deveria avaliar e contribuir positivamente para transformar: as relações humanas. Contribuir positivamente para uma cultura de paz.
Nos grupos que atuam fortemente contra os temas de gênero percebo que há uma resistência em aceitar as transformações que ocorreram na sociedade e, em muitas delas, de maneira rápida. As mudanças desestabilizam. Para reencontrar a segurança, para manter o mundo organizado, é necessário apegar-se às concepções que causam sensação de segurança. Outra compreensão é a de que há uma dificuldade em aceitar que nos tempos de hoje não cabe mais à religião normatizar a vida das pessoas. Lidar com as autonomias é difícil, mas as religiões precisam aceitar isso. A liberdade humana é um valor que também se relaciona com a fé.
Muitos destes grupos criticam o que chamam de “ideologia de gênero”. O que este termo significa?
Ideologia é um conjunto de crenças e ideias que constituem a visão de mundo de um determinado grupo ou classe social. As práticas e valores sociais podem corresponder a uma ideologia, mas não são eles próprios uma ideologia. A ideologia é sempre uma representação social do mundo em um sentido mais amplo.
Assim, as relações de gênero e as suas representações sociais podem expressar parte de uma determinada ideologia. O que temos historicamente observado é que valores patriarcais têm fundamentado as relações de gênero. Por sua vez, tais valores pertencem a uma ideologia dominante.
Quando grupos propõe o debate sobre as relações de gênero e reivindicam mudanças estão problematizando uma ideologia que tem dominado e contribuído para relações humanas pautadas na desigualdade de poder entre os gêneros. A problematização das relações de poder é fundamental para que novas relações humanas e sociais sejam forjadas.
*Gabriel Maia Salgado é jornalista da iniciativa De Olho nos Planos
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Victor Farinelli: CRISTO HOJE É UMA TRAVESTI PREGADA NUMA CRUZ E UM NEGRINHO PELADO, ALGEMADO NUM POSTE
8 de Junho de 2015, 14:37CRISTO HOJE É UMA TRAVESTI PREGADA NUMA CRUZ E UM NEGRINHO PELADO, ALGEMADO NUM POSTE
Por Victor Farinelli em seu Facebook
08/06/2015
As imagens chocam, e muito, aqueles que foram educados pelo e para o ódio – ironicamente, através da religião que se distinguiu, ao longo dos séculos, por um profeta que pregava o amor.
Tive aulas de catecismo que me ensinaram sobre a figura de Jesus na cruz como a representação de sua luta pelos perseguidos da época. “Por isso ele é o salvador da humanidade”, dizia a professora.
Jesus Cristo foi crucificado porque defendeu os trabalhadores explorados, os miseráveis, as prostitutas, os leprosos e até mesmo os que não acreditavam em sua palavra.Tudo isso está nas escrituras. Pode ser somente uma metáfora. Não sou um religioso, tampouco ateu – tenho uma maneira estranha de acreditar, por exemplo, no Cristo histórico e outras coisas que fazem sentido pra mim –, mas sempre vi sua história como algo muito presente no mundo ao meu redor, e por isso acho o cristianismo uma ideia com muito sentido.
Acredite nele ou não, a história de Jesus é a da vítima do ódio mais conhecida pela humanidade.Também aprendi de pequeno que os cristãos creem no retorno de Cristo ao mundo dos mortais. Lá pelos Anos 90, se dizia que isso aconteceria dois mil anos depois da sua morte.
Onde estaria hoje esse Cristo que renasceu? Levando em conta o ensinado nas aulas de catecismo, Cristo seria uma transexual pregada numa cruz na parada gay, simbolizando as travestis que são espancadas, humilhadas e assassinadas com requintes de crueldade no Brasil e em vários outros lugares assolados pelo fanatismo religioso. No caso brasileiro, pasmem, pelo fanatismo cristão.
Talvez Cristo tenha renascido milhões de vezes no mundo atual, para ser novamente crucificado. Ele foi um homem atropelado por um caminhoneiro em Goiás, porque um cristão homofóbico não gostou de vê-lo abraçado a outro homem. Foi um mendigo humilhado na rua com um balde d´água, e um frentista haitiano acossado por cristãos. Ele foi aquela menina do Piauí morta após um estupro coletivo, pelos cristãos que a crucificaram. Foi aquele negrinho que batia carteiras, ou furtava galinhas, e terminou nu e algemado ao um poste – as imagens de sua crucificação são conhecidas, não foram encenadas, mas sim comemoradas por uma jornalista cristã e seus seguidores também fiéis.
O Cristo crucificado hoje é uma travesti, um homossexual, um palestino, um imigrante africano ou haitiano, um negro das favelas brasileiras, um índio da Amazônia, ou da Bolívia, ou um mapuche, um nordestino, um menino de rua, uma mulher que sonha em chegar em casa logo, antes que algo aconteça – ou em ter pra onde sair de casa logo, antes que algo aconteça.
As imagens de Cristo como uma travesti pregada na cruz choca parte da comunidade cristã brasileira, tanto quanto os primeiros cristãos que pregavam o amor ao próximo como princípio fundamental de difusão de sua crença chocavam os romanos. Talvez porque entenderam isso, alguns evangélicos participaram desta última parada gay defendendo o lema “Jesus cura a homofobia”.
A tal da blasfêmia, reclamada por alguns pastores oportunistas, certamente não levará nenhum homossexual a atacar evangélicos física ou psicologicamente, muitas vezes com resultado de morte. O contrário, o uso da pregação bíblica para justificar a perseguição e assassinato de homossexuais e transgêneros, por ódio puro e simples, é coisa frequente em nosso país.
Penso naquela pobre professora de catecismo, sem ter como saber se ela aderiu aos novos tempos em que os cristãos são os que odeiam os demais, ou se continua ensinando o mesmo que ensinou a mim. Na segunda hipótese, temo que ela possa ter sido linchada por outros cristãos, acusada de comunista, gayzista e até mesmo ateia.
Nesse momento, sinto que o juiz que condenou Cristo foi o grande vencedor da História.
Eis o homem.
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Vitor Farinelli: CRISTO HOJE É UMA TRAVESTI PREGADA NUMA CRUZ E UM NEGRINHO PELADO, ALGEMADO NUM POSTE
8 de Junho de 2015, 14:37CRISTO HOJE É UMA TRAVESTI PREGADA NUMA CRUZ E UM NEGRINHO PELADO, ALGEMADO NUM POSTE
Por Victor Farinelli em seu Facebook
08/06/2015
As imagens chocam, e muito, aqueles que foram educados pelo e para o ódio – ironicamente, através da religião que se distinguiu, ao longo dos séculos, por um profeta que pregava o amor.
Tive aulas de catecismo que me ensinaram sobre a figura de Jesus na cruz como a representação de sua luta pelos perseguidos da época. “Por isso ele é o salvador da humanidade”, dizia a professora.
Jesus Cristo foi crucificado porque defendeu os trabalhadores explorados, os miseráveis, as prostitutas, os leprosos e até mesmo os que não acreditavam em sua palavra.Tudo isso está nas escrituras. Pode ser somente uma metáfora. Não sou um religioso, tampouco ateu – tenho uma maneira estranha de acreditar, por exemplo, no Cristo histórico e outras coisas que fazem sentido pra mim –, mas sempre vi sua história como algo muito presente no mundo ao meu redor, e por isso acho o cristianismo uma ideia com muito sentido.
Acredite nele ou não, a história de Jesus é a da vítima do ódio mais conhecida pela humanidade.Também aprendi de pequeno que os cristãos creem no retorno de Cristo ao mundo dos mortais. Lá pelos Anos 90, se dizia que isso aconteceria dois mil anos depois da sua morte.
Onde estaria hoje esse Cristo que renasceu? Levando em conta o ensinado nas aulas de catecismo, Cristo seria uma transexual pregada numa cruz na parada gay, simbolizando as travestis que são espancadas, humilhadas e assassinadas com requintes de crueldade no Brasil e em vários outros lugares assolados pelo fanatismo religioso. No caso brasileiro, pasmem, pelo fanatismo cristão.
Talvez Cristo tenha renascido milhões de vezes no mundo atual, para ser novamente crucificado. Ele foi um homem atropelado por um caminhoneiro em Goiás, porque um cristão homofóbico não gostou de vê-lo abraçado a outro homem. Foi um mendigo humilhado na rua com um balde d´água, e um frentista haitiano acossado por cristãos. Ele foi aquela menina do Piauí morta após um estupro coletivo, pelos cristãos que a crucificaram. Foi aquele negrinho que batia carteiras, ou furtava galinhas, e terminou nu e algemado ao um poste – as imagens de sua crucificação são conhecidas, não foram encenadas, mas sim comemoradas por uma jornalista cristã e seus seguidores também fiéis.
O Cristo crucificado hoje é uma travesti, um homossexual, um palestino, um imigrante africano ou haitiano, um negro das favelas brasileiras, um índio da Amazônia, ou da Bolívia, ou um mapuche, um nordestino, um menino de rua, uma mulher que sonha em chegar em casa logo, antes que algo aconteça – ou em ter pra onde sair de casa logo, antes que algo aconteça.
As imagens de Cristo como uma travesti pregada na cruz choca parte da comunidade cristã brasileira, tanto quanto os primeiros cristãos que pregavam o amor ao próximo como princípio fundamental de difusão de sua crença chocavam os romanos. Talvez porque entenderam isso, alguns evangélicos participaram desta última parada gay defendendo o lema “Jesus cura a homofobia”.
A tal da blasfêmia, reclamada por alguns pastores oportunistas, certamente não levará nenhum homossexual a atacar evangélicos física ou psicologicamente, muitas vezes com resultado de morte. O contrário, o uso da pregação bíblica para justificar a perseguição e assassinato de homossexuais e transgêneros, por ódio puro e simples, é coisa frequente em nosso país.
Penso naquela pobre professora de catecismo, sem ter como saber se ela aderiu aos novos tempos em que os cristãos são os que odeiam os demais, ou se continua ensinando o mesmo que ensinou a mim. Na segunda hipótese, temo que ela possa ter sido linchada por outros cristãos, acusada de comunista, gayzista e até mesmo ateia.
Nesse momento, sinto que o juiz que condenou Cristo foi o grande vencedor da História.
Eis o homem.
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