Xico Sá: Lulu e a sacanagem desautorizada
27 de Novembro de 2013, 21:29 - sem comentários aindaLulu e a sacanagem desautorizada
Por: Xico Sá em sua coluna
27/11/2013
É, velho Crumb (ilustração), aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha.
Repare nessa história.
Vingativa, ela queimou o filme dele, um reles ficante –status “rolinho primavera”- no Lulu, o aplicativo que funciona como um clube onde as garotas avaliam os rapazes do desempenho sexual ao caráter propriamente dito.
Ô mundão objetivo e sem porteira. Mas pensando como cronista de costumes, Lulu é apenas uma vingança tardia das velhas notas masculinas para as moças na escola. Vingança lupicinicamente machista, óbvio,só vingança, vingança, vingança aos deuses clamar.
O Lulu é um SPC, um Serasa moral, um cadastro geral dos marmanjos para consumo.
Reproduz, para todas as mulheres do mundo, o que já se faz em pequenas rodas femininas.
Calma, meu rapaz, é só um banheiro ampliado, um tricô ao infinito, um fuxico hiperbólico.
Não vale pedir para as amigas lavar a sua honra, tornando-lhe um homem de qualidades. Relaxa. Leva na esportiva, fair play, brother, fair play.
Deu pra maldizer o nosso lar, pra sujar meu nome, me humilhar… Não passa nada.
O Lulu é a verdadeira biografia desautorizada. O Rei deve ser contra. Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer.
A avaliação de usos e costumes também está valendo: #UsaRider. Melhor ainda é o critério estético: #CurteRomeroBritto. Essa é genial.
Sim, falam até de pau pequeno (#NãoFazNemCosca é a hashtag maldita), mas, meu amigo, você também acha que tem, por mais que normal ou saído à semelhança do “jumento na sacristia”, como no conto do gênio cearense Moreira Campos. O primeiro insatisfeito nessa parada é você mesmo.
Relax, meu rapaz, leve na buena onda, no humor, na graça, ser maldito também tem seu charme e a vida é sempre mais subjetiva do que sugere o vão aplicativo. Como diz a lírica do Conde do Brega: ninguém é perfeito e a vida é assim.
AOS QUE SE FORAM DEVIDO A MINHA DEFESA IRRESTRITA A GENOINO
16 de Novembro de 2013, 10:15 - sem comentários aindaÍcones como Genoino que pegaram em armas para lutar contra a ditadura militar sempre foram referências em minha vida desde que comecei a me interessar pela história que não era contada na escola. Sim, porque todos como eu que nasceram durante a ditadura militar não tiveram acesso a um currículo livre de história, aliás eu não tive história nos meus primeiros 8 anos escolares, só ‘estudos sociais’ e ‘educação moral e cívica’. Não me tornei historiadora impunemente, acho que a escolha de modo inconsciente era para sanar a angústia de querer saber e não ter como.
Quando começaram as lutas pela anistia não entendia direito os noticiários, mas os atuais tucanos como Edmur Mesquita (vejam vocês, eles não nasceram escrotos), frequentavam as comunidades de base e líamos vorazmente e discutíamos vorazmente e ouvíamos os primeiros presos políticos libertos que haviam sido torturados e outros que voltavam do exílio. Chegou até a minha mão 1984 de George Orwell e eu tinha certeza qual seria a tortura da sala 101, ouvi e li depoimentos de mulheres que haviam sido torturadas como o protagonista de 1984.
E padre Porfírio nos alimentava com mais e mais livros de filosofia e um mundo angustiante e solidário se descortinava para aquela adolescente ávida de informação. A mãe se angustiava com meus sumiços e conversas, o Lula apareceu e com ele tantos outros adultos que fariam parte da minha trajetória de formação como ser humano, como cidadã, como sujeito político.
Ao final da adolescência e a entrada na História em 1984 (olha que coincidência) me levou para a luta das Diretas-Já e a manter o forte vínculo com as lutas da Baixada Santista. O movimento estudantil não me atraía, havia tucanos demais na minha universidade, eram nas favelas de Cubatão que eu via a luta acontecer que gostava de discutir o Homem que virou suco, que lutávamos contra a poluição e as crianças que nasciam anencefálicas. Minhas batalhas foram ficando cada vez mais amplas: lutar pelo socialismo, lutar contra o machismo, lutar contra o racismo, lutar pelos direitos humanos.
Tornei-me professora desde o primeiro ano da universidade, foi como sobrevivi em São Paulo, dando aula de educação de adultos e depois para crianças e adolescentes.
E foi na Vila, em 1993 que conheci mais de perto um dos meus ídolos de adolescência: José Genoino, o guerrilheiro do Araguaia. Genoíno, pai de meu aluno Ronan.
Lembro de histórias engraçadas de sala de aula , pelas intervenções que Ronan fazia, eu dizia a ele: você só poderia ser filho do Genoino.
Em 2005 como todos que lutaram arduamente para ver o PT no poder eu chorei. Chorava de raiva por ver o nome de toda uma luta na lama, chorava de raiva porque eu já sabia que sem democratização das comunicações o discurso único que criminaliza a luta dos trabalhadores seria o maior inimigo da classe trabalhadora. Chorava de raiva porque já havia Orkut e eu avaliava o estrago que isso faria à esquerda, à luta à esquerda.
No Orkut via companheiros de esquerda putos da vida e xingando muito. Xingando Dirceu, xingando Genoino, como vejo até hoje e não era o discurso raivoso da direita, mas de todo modo era um discurso raivoso.
Comecei a blogar por causa da cobertura porca feita na imprensa sobre o Caixa 2 do PT.
Não consigo aceitar que uma pessoa seja condenada por ocupar a presidência do partido, como no caso de Genoino. Não há nada que o incrimine, nada, só a teoria porcamente lida pelo STF do ‘domínio do fato’ que só serve pra condenar políticos petistas.
Li todo o processo do Dirceu, condenado pela mesma teoria, o processo do Dirceu está na rede para qualquer um ler, não há um documento assinado por ele, nada.
Li as reportagens de Conceição Lemes que mostra que Pizzolato também não poderia ter praticado o que STF o acusa de praticar, há documentos, datas, nada bate.
Um julgamento de exceção, um julgamento partidário, um julgamento vergonhoso para história da Justiça brasileira onde até juristas da direta reconhecem que réus foram condenados sem provas.
Por causa deste julgamento de exceção perdi o meu trabalho. Fui demitida. Sofri assédio moral por ser uma professora de história que não faz concessões, por não repetir o discurso da Veja, por ousar manter a integridade, o compromisso com os fatos, doa a quem doer.
Portanto, perder alguns ‘amigos’ no Facebook ou twitter por defender incondicionalmente o direito dos réus à ampla defesa (e foram injustiçados porque foram condenados sem provas e não tiveram direito à ampla defesa), não é nada pra mim.
Pior é perder o senso de justiça e agir feito manada repetindo rottweiler raivoso sem ao menos se dar ao trabalho de se informar.
No futuro, distante deste transe midiático, espetacularizado nas tevês, rádios e jornalões, historiadores sérios mostrarão como este julgamento foi de exceção e como se condenou, torturou e encarcerou mil vezes os rebeldes que ousaram resistir à ditadura militar.
Atualização: O dia que o jornalismo emporcalhou a história: UOL e “a capa de Genoino”
15 de Novembro de 2013, 18:39 - sem comentários aindaHoje a jornalista Ana Helena Tavares escreveu:
Um dia triste para quem escolheu o jornalismo como forma de luta e não como forma de luz. A sociedade do espetáculo se regozija com sua própria desgraça. A República é apunhalada no dia de sua proclamação. E o Brasil permanece o país do faz-de-conta. Tristes lentes as dos repórteres que estão em frente à casa de Genoíno. Queriam registrar ali um palácio, mas só o que veem é uma casa simples. As imagens serão achincalhadas pela História.
Daí abro a página da uol pra ver uma foto de Genoino postada por uma amigo no Face e fico estarrecida com a desinformação da legenda:
Esta chamada e legenda devem entrar para a história da vergonha alheia da fotolegenda do fotojornalismo. Daquelas imensas mesmo, praticadas por aqueles da imprensa que não fazem a menor questão de lidar com a realidade.
A ‘capa’ que o/a desinformado/a da UOL se refere é um painel bordado por Rioco em 2012* (durante o julgamento da AP470) e simboliza a solidariedade dos companheiros que visitaram Genoino quando ele passou um longo tempo sem sair de casa após o achincalhe do jornalixo produzido pela grande mídia. Genoino, que sempre viveu no mesmo bairro, não podia nem ir à padaria próxima a sua casa sem ser hostilizado.
**Rioco fez então muito pássaros, um para cada amigo que não o abandonou, que não achou que a solidariedade fosse coisa privada. Rioco fez uma releitura de Mario Quintana: ‘eles passarão, eu passarinho’.
Por isso Genoino se cobriu com este manto de solidariedade de seus companheiros de luta e demonstração de amor da sua companheira de uma vida inteira.
E UOL, pelo amor, deixa de ignorância, punhos cerrados levantados para a geração da esquerda da década de 1960 é sinal de luta, de resistência a tudo que vocês representam, seus energúmenos!
A dupla – Smith e John Carlos que levantou os punhos cerrados com luvas pretas, repetindo o gesto dos “panteras negras”. Naquele momento a ação dos atletas simbolizava a luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses nos pódios olímpicos. Pelo ato político a dupla foi expulsa das olimpíadas.
Não é gratuito, portanto, o fato de José Dirceu repetir o mesmo gesto de sua geração ao ser preso no mesmo dia que Genoino.
Não é gratuito que Joaquim Barbosa tenha feito isso em 15 de novembro.
Atualização: Quem me contou a história da confecção do painel foi Débora Cruz, também autora da foto. Mas dois leitores que participaram da confecção corrigiram a informação, reproduzo o depoimento deles:
*Por C. Nicolau
“O bordado foi feito em 2012, como solidariedade ao momento que passava, durante o julgamento (?). Eu estava lá.”
**Por Natalina Ribeiro:
Apenas um retoque: a ideia e a iniciativa do painel foi da Rioko. Os pássaros foram bordados por inúmeras mãos de pessoas solidárias ao Genoino e sua família, durante o julgamento do STF – mulheres, homens, crianças. Muitos, mesmo não sabendo bordar, deram sua contribuição para a confecção deste painel. Genoino, estamos aqui!
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O dia que o jornalismo emporcalhou a história: UOL e “a capa de Genoino”
15 de Novembro de 2013, 18:39 - sem comentários aindaHoje a jornalista Ana Helena Tavares escreveu:
Um dia triste para quem escolheu o jornalismo como forma de luta e não como forma de luz. A sociedade do espetáculo se regozija com sua própria desgraça. A República é apunhalada no dia de sua proclamação. E o Brasil permanece o país do faz-de-conta. Tristes lentes as dos repórteres que estão em frente à casa de Genoíno. Queriam registrar ali um palácio, mas só o que veem é uma casa simples. As imagens serão achincalhadas pela História.
Daí abro a página da uol pra ver uma foto de Genoino postada por uma amigo no Face e fico estarrecida com a desinformação da legenda:
Esta chamada e legenda devem entrar para a história da vergonha alheia da fotolegenda do fotojornalismo. Daquelas imensas mesmo, praticadas por aqueles da imprensa que não fazem a menor questão de lidar com a realidade.
A ‘capa’ que o/a desinformado/a da UOL se refere é um painel bordado por Rioco em 2005/2006 e simboliza a solidariedade dos companheiros que visitaram Genoino quando ele passou um longo tempo sem sair de casa após o achincalhe do jornalixo produzido pela grande mídia. Genoino, que sempre viveu no mesmo bairro, não podia nem ir à padaria próxima a sua casa sem ser hostilizado.
Rioco fez então muito pássaros, um para cada amigo que não o abandonou, que não achou que a solidariedade fosse coisa privada. Rioco fez uma releitura de Mario Quintana: ‘eles passarão, eu passarinho’.
Por isso Genoino se cobriu com este manto de solidariedade de seus companheiros de luta e demonstração de amor da sua companheira de uma vida inteira.
E UOL, pelo amor, deixa de ignorância, punhos cerrados levantados para a geração da esquerda da década de 1960 é sinal de luta, de resistência a tudo que vocês representam, seus energúmenos!
A dupla – Smith e John Carlos que levantou os punhos serrados com luvas pretas, repetindo o gesto dos “panteras negras”. Naquele momento a ação dos atletas simbolizava a luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses nos pódios olímpicos. Pelo ato político a dupla foi expulsa das olimpíadas.
Não é gratuito, portanto, o fato de José Dirceu repetir o mesmo gesto de sua geração ao ser preso no mesmo dia que Genoino.
Não é gratuito que Joaquim Barbosa tenha feito isso em 15 de novembro.
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Não existe ‘se’ na história, mas o passado está sempre em disputa (e o presente também)
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Genoino resiste!
15 de Novembro de 2013, 17:44 - sem comentários aindaConvivi com Genoíno como pai, pois fui professora de seu filho no sexto e sétimo ano, ele prestigiava as apresentações das crianças. Sempre morou no mesmo lugar, rodeado por livros. Passei longos anos sem encontrá-lo, até que fui buscar minha amiga Débora Cruz na residência dele meses atrás.
Foto: Débora Cruz
Sua disciplina é algo impressionante. Rara.
Ele estava abatido mas não havia perdido a sua verve e me disse algo mais ou menos assim “Descobri que há um esforço público por destruir reputações, mas a solidariedade é privada” enquanto lia para mim uma carta de uma amigo que preferiu não tornar pública a solidariedade prestada. Pois, Genoino, minha solidariedade a você é pública, admiro sua história na luta contra a ditadura militar e acho que você tem direito a um julgamento justo e à ampla defesa, o que foi negado a você pelo STF.
De uma coisa tenho certeza, Genoíno que foi torturado pela ditadura militar e nunca enriqueceu com a política será absolvido pela História, o mesmo não posso garantir de quem o condenou sem direito a uma defesa ampla e por meio de um julgamento espetacularizado.
Reproduzo sua nota, publicada ontem.
Aonde for e quando for defenderei minha trajetória de luta permanente por um Brasil mais justo, democrático e soberano
Com indignação, cumpro as decisões do STF e reitero que sou inocente, não tendo praticado nenhum crime. Fui condenado porque estava exercendo a presidência do PT. Do que me acusam, não existem provas. O empréstimo que avalizei foi registrado e quitado.
Fui condenado previamente numa operação midiática inédita na história do Brasil. E me julgaram num processo marcado por injustiças e desrespeito às regras do Estado democrático de direito.
Por tudo isso, considero-me preso político.Aonde for e quando for defenderei minha trajetória de luta permanente por um Brasil mais justo, democrático e soberano.
José Genoino
Abaixo a nota assinada pelo presidente do PT na tarde de hoje:
Nota assinada pelo presidente Rui Falcão sobre as decisões do STF a respeito da Ação Penal 470
Do site do Partido dos Trabalhadores
15/11/13 – 16h15A determinação do STF para a execução imediata das penas de companheiros condenados na Ação Penal 470, antes mesmo que seus recursos (embargos infringentes) tenham sido julgados, constitui casuísmo jurídico e fere o princípio da ampla defesa.
Embora caiba aos companheiros acatar a decisão, o PT reafirma a posição anteriormente manifestada em nota da Comissão Executiva Nacional, em novembro de 2012, que considerou o julgamento injusto, nitidamente político, e alheio a provas dos autos. Com a mesma postura equilibrada e serena do momento do início do julgamento, o PT reitera sua convicção de que nenhum de nossos filiados comprou votos no Congresso Nacional, nem tampouco houve pagamento de mesada a parlamentares. Reafirmamos, também, que não houve da parte dos petistas condenados, utilização de recursos públicos, nem apropriação privada e pessoal para enriquecimento.
Expressamos novamente nossa solidariedade aos companheiros injustiçados e conclamamos nossa militância a mobilizar-se contra as tentativas de criminalização do PT.
Rui Falcão
Presidente Nacional do PT