Do ponto de vista pessoal só tenho a agradecer. Afinal 2014 foi um ano e tanto. Não ganhei dinheiro, mas me empenhei no trabalho da Fundação Perseu Abramo e apesar de algumas pedras no caminho, ministrei 23 cursos em 8 estados, com 44 prefeituras presentes e 852 gestores. Juntando o trabalho de 2013 com 2014, agora já são quase 1600 gestores, técnicos, servidores, conselheiros, militantes políticos e lideranças comunitárias, que entraram na discussão do Plano de Governo e Ações para Governar e sonharam juntos por uma Nova Forma de Governar.
Ao fazer um balanço do ano de 2014 do ponto de vista político, vejo que os brasileiros mais ganharam do que perderam, mas, no entanto, após o período de democracia pós-golpe militar de 64, nunca tivemos um retrocesso político tão grande como o que tivemos esse ano. Realmente os monstros saíram da toca.
Vamos terminar ano de 2014 sem saber como será o comportamento em 2015 em termos políticos, econômicos e sociais. Quem de fato é de esquerda? Quem é de direita assumida? Quem está travestido só para confundir a população? Como conviver pacificamente com a ultradireita golpista que resolveu ir para as ruas pedir golpe militar e derrubar uma presidenta eleita democraticamente? Quais são de fato os governos que tem a coragem de governar com a população? Quem usa os mandatos para se beneficiar? O que fazer com o PIG – Partido da Imprensa Golpista, que tem lado e partido? Enfim... São muitas perguntas sem respostas precisas.
Eu diria que 2014 foi um ano para não ser esquecido durante um bom tempo. Porém, mesmo com o sufoco que foi o processo eleitoral, com características golpistas, hoje sabemos claramente quem tem compromisso com a democracia e quer um país livre das amarras dos EUA e do FMI e quem são os sabotadores da liberdade, os adeptos do nazi-fascismo e principalmente quem odeia pobres, nordestinos, homossexuais, etc.
Em regras gerais era um ano, apenas para estarmos comorando mais uma vitória popular e dessa vez da única mulher que conseguiu se eleger e se reeleger Presidenta da Brasil e do outro a oposição decepcionada, mas, no entanto conformada com a derrota, afinal isso é a democracia. Porém, em nome da democracia (que deve ser avaliada de que democracia estamos falando), estamos comemorando sim esse grande feito, mas também em pé de guerra contra os habitantes das trevas, aqueles que querem golpe, impeachment e intervenção no processo democrático brasileiro, que já custou a vida de pelo menos algumas centenas de pessoas, além de termos esgotado todas as forças na luta contra a corrupção, que parece que se institucionalizou de vez.
Uma coisa é certa, na política não tem espaço para ingenuidade e muito menos para ingênuos. As regras são claras e esse sistema está falido. Ou se tem o povo participando do processo antes, durante e pós-eleitoral, ou terão que ter muito dinheiro para nutrir a indústria da eleição, com seus marqueteiros, os cabos eleitorais pagos e os seguradores de bandeiras. Chega a ser uma cena deprimente, pois muitos políticos chegam a dispensar os militantes para não serem incomodados na disputa interna e preferem as “garrafinhas”.
Enquanto não houver uma profunda Reforma Política, ampla, geral e irrestrita, que abale as estruturas corruptas do sistema e intervenha no custo das campanhas eleitorais, o chamado “Caixa Dois” será o único instrumento que a maioria dos políticos conhece para o alinhamento das disputas, apesar de ter algo novo no ar, além dos aviões de carreira, como bem dizia o Barão de Itararé. A lei anticorrupção (12.846/14) veio para punir corruptos e corruptores. Quem não acreditar é só ver como foi possível prender os donos das maiores empreiteiras do país. Foi e é fruto da lei sancionada pela Presidenta.
É inconcebível do ponto de vista humano, uma campanha eleitoral para deputado estadual custar entre 5 a 10 milhões de reais e para deputado federal de 10 a 15 nos grandes centros. Quem banca isso? De onde vem todo esse dinheiro? Como isso será pago? Quais os reais interesses dos financiadores? Para quem pensa assim e trilha por esse caminho, povo é a última palavra a ser pronunciada. Eleitores sim. Povo junto não! Cabos eleitorais sim. Militantes juntos jamais!
Vamos direto ao ponto. Um prefeito ou uma prefeita, de um partido que se diz de esquerda ou ainda popular, que não faz gestão participativa, ou seja, governa de gabinete, primeiro está traindo as convicções a que se propôs e segundo necessitará de muito dinheiro para tentar sua reeleição ou ainda para sua sucessão. A única forma de baixar o custo de uma campanha eleitoral é uma ampla aliança com a população. Essa aliança pode ser construída nos Fóruns Temáticos, nas Conferências, nos Encontros, nos Seminários, no Orçamento ou no PPA Participativos e em todos os canais criados para esse fim. O que não dá é ouvir que não se faz gestão participativa porque o povo não participa ou ainda porque não está preparado. A população não quer é ser enganada e espera o convite para participar.
Vou radicalizar ainda mais. Não dá para permitir que a velha mídia direitosa e partidária banalize a situação, que generalize afirmando que todos são iguais, ou ainda que todos roubem. Isso além de ser uma grande mentira, na verdade é um espelho da própria mídia, que morre de medo de ser avaliada e controlada por um conselho e que só defende quem na verdade se compromete financeiramente com ela. Tem muita gente séria querendo fazer o que é certo e sendo interrompida por lobistas ou aproveitadores de plantão. Além disso, tem muita gente fazendo belas coisas, gerando políticas públicas de alto valor social por esse Brasil afora. Só falta um espaço para ser divulgado.
Sem medo de errar posso afirmar que o ano de 2015 será muito melhor que 2014, pois a Presidenta Dilma foi reeleita, a expansão econômica continua e centenas de projetos já criados e outros em andamento ganharão vida nova e novos atores. Quem tem que fazer a parte deles é os prefeitos e prefeitas, governadores e governadoras, além do Congresso Nacional, que ao invés de surfar em ondas golpistas, poderá contribuir e muito para a melhoria da qualidade de vida da população, ao fazer novas leis e moralizar a casa expulsando figuras maléficas como esse deputado que se mostrou como um verdadeiro estuprador, por exemplo.
Imagino que a coisa será mais séria para os prefeitos e prefeitas, pois quem não fizer o que tem que ser feito nesse ano irá perder a reeleição ou a sucessão. Porém, para aqueles e aquelas que plantaram e continuarão a plantar, será o ano da preparação da colheita.
Termino o ano acreditando que dá para construir sonhos, tanto individuais como coletivos. Dá até para se comprometer com alguns deles, afinal todo militante de uma causa é antes de tudo um sonhador. O que não dá é para admitirmos e convivermos com pessoas que vendem ilusão, pois além de enganar muita gente, acaba matando talvez o último sonho de quem acabe de acordar para a realidade.
Do ponto de vista pessoal, vou entrar o ano novo entusiasmado, pois além do trabalho que faço atualmente de capacitação em gestão em determinadas prefeituras, irei prestar outros serviços de gestão e pesquisas, em parceria com outros profissionais, através da empresa A.L.C. Planejamento e Gestão, criada especificamente para esse fim.
Cada vez que ministro uma capacitação em alguma prefeitura do país, volto acreditando de fato que o melhor ainda está por vir, tamanho é o entusiasmo dos participantes.
Quero desejar a todos e todas que de alguma forma estiveram junto comigo nessa caminhada de militância de uma causa humanística, um Feliz Ano Novo de muita paz e de muitos projetos inovadores que possam incluir quem se encontram excluídos da sociedade.
Feliz 2015 para todos e para todas!
Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br